segunda-feira, outubro 13, 2008

"Só um ateu ou idiota governaria contra a Igreja", diz Ramos-Horta

Díli, 13 Out (Lusa) - O Presidente da República, José Ramos-Horta, afirmou este fim-de-semana à Agência Lusa que "só um ateu ou um idota governaria contra a Igreja" em Timor-Leste.

"Não é possível nem deveria ser", respondeu José Ramos-Horta quando questionado pela Lusa sobre a hipótese de alguém governar em Timor-Leste afrontando a Igreja Católica.

"Só um ateu ou um idiota é que faria isso", sublinhou José Ramos-Horta numa entrevista realizada este fim-de-semana durante uma peregrinação em Soibada, Manatuto (centro).

José Ramos-Horta declarou também que o conflito entre o Governo de Mari Alkatiri e a Igreja, em 2004, foi "totalmente desnecessário".

"Eu defendi sempre, desde o início, parceria, parceria, parceria com a igreja", explicou o chefe de Estado timorense à Lusa.

"Não vou nada nessas cantigas da Europa, do Estado secular. Temos uma realidade bem diferente. A Igreja faz parte da História, da tradição, da identidade e da realidade corrente de hoje em Timor-Leste", acrescentou José Ramos-Horta.

"O país, para andar para a frente, tem que ser apoiado pela Igreja e o Estado deve apoiar a Igreja nas suas próprias missões nesta terra", defendeu também o Presidente da República.

"Para além da missão espiritual, a Igreja tem outras responsabilidades: na saúde, educação cultura, promoção da paz, no desenvolvimento técnico-científico, até no desenvolvimento rural", afirmou.

"Nós somos como alunos comparados com a experiência da Igreja. Temos que desenvolver uma parceria sólida com a Igreja", frisou José Ramos-Horta.

Questionado sobre o conflito entre o Governo de Mari Alkatiri e da Fretilin com a hierarquia católica, no final de 2004, José Ramos-Horta defendeu o ex-primeiro-ministro e responsabilizou "alguns ministros".

O Presidente da República recordou que "a ideia de abrir uma embaixada no Vaticano veio de Mari Alkatiri, nem sequer de mim".

"Amo o Santo Padre, os bispos, mas a prioridade para mim era abrir a embaixada em Berlim e noutras capitais", recordou o chefe de Estado, que integrava o I Governo Constitucional.

Mari Alkatiri, "pelo contrário, viu a importância da embaixada no Vaticano e foi ele, também, o primeiro a falar da importância da concordata, há cerca de três anos".

"Mari Alkatiri na realidade era extremamente sensível à Igreja católica", defendeu José Ramos-Horta sobre o ex-primeiro-ministro, membro da min emoria muçulmana timorense.

"Alguns ministros é que queriam ser mais papistas que o Papa e armavam-se em ser mais seculares que o próprio Alkatiri", adiantou o chefe de Estado, e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, sem referir nomes.

"Talvez pensando agradar a Mari Alkatiri, esses ministros tinham posições incompreensíveis em relação à Igreja", recordou ainda o Presidente da República.

"Garanto que todo o conflito com a Igreja 2004 não foi responsabilidade de Alkatiri", disse José Ramos-Horta.

"Mari Alkatiri deu ordens em Outubro de 2004 para um determinado membro do Governo encetar negociações com a Igreja sobre o currículo escolar e o ensino de religião e moral, sobre quem ia ensinar e quem fornecia os professores", disse o chefe de Estado.

"Mas esse membro do Governo não fez nada", declarou o Presidente da República à Lusa.

"Como não houve diálogo, começaram a surgir rumores, totalmente mal-entendidos, dizendo que o ensino de religião não iria ser contemplado e coisas assim".

"Quando o conflito rebentou, eu, que estava em Jacarta, dispus-me a começar o diálogo com a Igreja", contou o Presidente da República.

"Fui eu que trabalhei com o bispo Basílio do Nascimento, até altas horas da noite, para chegar a um acordo. Depois fui à residência de Mari Alkatiri e, com ele ao meu lado, telefonámos a dom Basílio para finalizar o acordo quue pôs termo a um mês de manifestações", contou José Ramos-Horta.

"Foi mesmo embaraçoso para todos, incluindo a Igreja e o Estado, e foi totalmente desnecessário", concluiu José Ramos-Horta.

PRM
Lusa/fim

1 comentário:

Anónimo disse...

Concerteza de que o Sr Presidente ja se deu conta de que para ganhar as eleicoes presidentiais em TL nao basta andar com a camisola de Cristo ao peito!

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

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Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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