segunda-feira, maio 19, 2008

Viúva do poeta Borja da Costa recorda a clandestinidade e a tortura

Díli, 17 Mai (Lusa) - Para Maria Genoveva da Costa Martins, caminhar nas sombras do Jardim Borja da Costa, em Motael, Díli, é um passeio de três décadas a uma tragédia pessoal e à História de Timor-Leste.

Francisco Borja da Costa, nascido em 1946, poeta e militante independentista, era o marido de Genoveva. Foi morto no primeiro dia da invasão indonésia, a 07 de Dezembro de 1975, não longe do jardim que hoje lhe presta homenagem como mártir da luta timorense.

O relato da viúva de Borja da Costa, nascida em Ermera em 1956, é o mais recente testemunho recolhido em filme pela associação Memória Viva, fundada pela jornalista australiana Jill Jolliffe e dedicada aos ex-prisioneiros políticos timorenses.

Genoveva Martins sobreviveu à invasão mas passou duas vezes pela prisão e a tortura, em Outubro de 1979 e em Dezembro de 1991.

A viúva passeando em paz no Jardim Borja da Costa em Díli é a primeira imagem do filme.

O trabalho, apresentado e debatido na Sala de Leitura Xanana Gusmão, em Díli, foi visto à mesma hora que Xanana Gusmão, actual primeiro-ministro, abria a reunião dos ministros da Defesa lusófonos, com um coro cantando o hino "Pátria".

Os versos do hino nacional timorense foram escritos por Borja da Costa, que também redigiu o manifesto da Fretilin (Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente) e o poema-hino do partido, "Foho Ramelau".

Os percursos do poeta, da sua mulher e do futuro guerrilheiro cruzaram-se, muitas vezes, no início do movimento independentista timorense e da convulsão política em Timor após a Revolução de 25 de Abril de 1974 em Portugal.

Genoveva Martins contou à agência Lusa que foi desde cedo militante da Fretilin, privando, pela mão de Borja da Costa, com dirigentes como Nicolau Lobato e Vicente Reis "Sahe", que também seriam mortos após a invasão.

No 07 de Dezembro de 1975, Genoveva Martins não foi apanhada com o marido porque tinha ido dias antes a Baucau (leste), em trabalho do partido.

Borja da Costa, que estava em Díli, "foi arrastado para a ponte cais e daí atiraram(-no) ao mar não sei onde. Até aqui, não sabemos, a própria família, o próprio filho não sabe o sítio onde ele foi enterrado", relata a viúva do poeta no filme hoje exibido em dupla sessão.

Nos anos da ocupação indonésia, Genoveva Martins usou a sua profissão de professora numa área rural para servir a rede clandestina da Resistência.

A primeira detenção, durante oito meses, foi a pior, contou Genoveva Martins à Lusa. Foi torturada em sessões onde, na sua expressão, a "incendiavam" com pontas de cigarro.

"Mas eu graças a Deus como tive, tenho famílias que são da Apodeti, que são defensores da integração, daí é que eu fiquei presa só durante oito meses. Salvaram-me no sentido de não continuar a ter mais violências físicas. E então fiquei detida não já dentro da prisão mas fora, durante um ano", conta a viúva de Borja da Costa no filme-testemunho.

Em Ermera (oeste), região montanhosa e de plantações de café, Genoveva Martins escondeu Xanana Gusmão em sua casa.

"Vieram dizer-me que Xanana estaria num lugar a certa hora, para eu vir buscar. Eu desconfiava que era uma armadilha dos indonésios para me fazerem dizer onde ele estava. Mandei o estafeta pedir um papelinho, uma assinatura, de Xanana. E ele mandou-me uma assinatura", contou Genoveva Martins à Lusa.

"À hora combinada, ele veio. A primeira coisa que me disse foi: 'São Tomé!' Ver para crer. E fiquei com esse nome na (rede) clandestina" acrescentou Genoveva Martins.

"Nós éramos as mulheres que arrumavam o mantimento, medicamentos, roupas, continuamos a dar o nosso apoio às Falintil", conta também a viúva de Borja da Costa.

"E nós tínhamos também o plano de localizar as mulheres em sítios onde o inimigo tinha os seus postos de vigia. Daí colhíamos informações através das nossas velhas que iam para lá", recorda Genoveva Martins no seu filme.

"Faziam-se de mensageiras, colhiam as informações e chegavam até nós".

Foi com o primeiro marido que Genoveva Martins diz ter aprendido a importância da participação da mulher na luta timorense.

A professora voltou a ser presa após a captura de Xanana Gusmão pelas forças indonésias em Díli.

"Em (19)91, eles tinham os instrumentos todos. Os instrumentos de choques e electricidade aí ao pé. Mas assim como eu disse, naquela altura quando fui capturada, esses nossos familiares que continuavam a dar apoio em (19)75, eles também continuaram a dar apoio", conta Genoveva Martins sobre o "cerco" que sofreu em Ermera.

"E então houve uma pessoa amiga que é agora polícia, conseguiu meter-me no carro da Polícia e levar-me para Atambua, Kupang. E fiquei à sombra da segurança deles, até os meus familiares da integração conseguirem descobrir o sítio", no lado ocidental da ilha.

Genoveva Martins pretende que filmes com o testemunho de ex-prisioneiros políticos "sirvam para a nova geração aprender as experiências duras que passámos e a viver em paz, sem violência e sem discriminação".

O seu poema preferido de Borja da Costa não é "Pátria". Prefere "Um Minuto de Silêncio", onde o seu marido escreveu que "É tempo de silêncio/ No silêncio do tempo".

A Associação Memória Viva já registou 52 testemunhos de ex-prisioneiros em filme, 12 dos quais estão editados e cerca de 40 transcritos para português, a língua de trabalho do projecto.


Lusa /fim

1 comentário:

Anónimo disse...

Ola, genevova e muita mentirosa... sabe quem escondeu xanana pergunte ao Padre Mario, ou Pr Domingos Maubere ou lideres de ermera ... a parvinha comesa a deturpar a historia...orgulhosa e arrogante.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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