Díli, 29 Fev (Lusa) - O chefe do Estado-Maior-general das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), brigadeiro-general Taur Matan Ruak, afirmou hoje que "quem não investiga, não tem direito a falar", referindo-se ao chefe da missão da ONU no país.
Taur Matan Ruak referia-se a declarações que terão sido proferidas pelo representante especial do secretário-geral das Nações Unidas em Timor-Leste, Atul Khare, sobre um incidente no aeroporto internacional de Díli.
"Atul Khare ouviu uma parte. Devia ouvir a outra", afirmou Taur Matan Ruak em resposta à agência Lusa numa conferência de imprensa do Comando Conjunto da operação "Halibur" de captura do ex-tenente Gastão Salsinha.
Em causa está o incidente, noticiado pela Lusa, entre elementos da Polícia das Nações Unidas e militares das F-FDTL, quarta-feira.
Militares das F-FDTL retiraram à UNPol um elemento do antigo grupo de Alfredo Reinado que se tinha rendido no enclave de Oécussi, na parte oeste da Ilha de Timor, e que foi transportado para Díli num helicóptero ao serviço da Missão Integrada da ONU em Timor-Leste (UNMIT).
O episódio foi considerado "muito grave" pela missão internacional, segundo fontes ouvidas pela Lusa, e foi objecto de várias "reuniões de crise", em torno da preocupação com as garantias de segurança e legalidade dos suspeitos que se renderam ou poderão render à UNPol.
No entanto, nem as F-FDTL nem a UNMIT comentaram oficialmente o incidente durante três dias.
A situação foi ultrapassada com o próprio processo dos cinco elementos do antigo grupo de Alfredo Reinado, em que se inclui o prisioneiro que a UNPol trouxe de Oécussi.
Os cinco elementos, co-arguidos no processo em que o principal acusado era Alfredo Reinado, foram entregues quinta-feira à noite à UNPol pela Polícia Nacional (PNTL), segundo explica um comunicado emitido hoje pela UNMIT.
"A UNPol deteve formalmente os cinco elementos e apresentou-os ao Tribunal Distrital de Díli", acrescenta o comunicado, o primeiro da UNMIT na sequência do incidente de quarta-feira.
"O tribunal ordenou que os elementos ficassem durante a noite à guarda da UNPol e que fossem presentes ao tribunal de novo às 10:00 da manhã de hoje", afirmou a UNMIT.
"A PNTL e a UNPOl, assim como as F-FDTL e as Forças de Estabilização Internacionais (ISF), estão todos a desempenhar um papel nas operações para apreender as pessoas envolvidas nos ataques de Reinado e seus homens", afirmou Atul Khare no comunicado da UNMIT.
Atul Khare aplaude, de resto, "os esforços da PNTL e de todos os outros envolvidos que tornaram possível esta rendição pacífica à justiça".
Os cinco elementos (e mais dois co-arguidos que estavam na prisão de Becora) vão aguardar em liberdade o julgamento, marcado para 02 de Abril, depois de o juiz do processo ter hoje revogado a prisão preventiva que tinha imposto anteriormente, decidindo por uma medida de coacção mais leve, o termo de identidade e residência.
Falando sobre os resultados da operação "Halibur", o comandante-interino da PNTL, inspector Afonso de Jesus, renovou o apelo a Gastão Salsinha e seus homens "para se juntarem aos camaradas e amigos que já se encontram no campo de Aitarak Laran", em Díli.
O número oficial de peticionários acantonados em Díli é de 550, segundo divulgou hoje o porta-voz do Governo e secretário de Estado do Conselho de Ministros, Hermenegildo "Agio" Pereira.
Questionado sobre o tratamento a dar a Gastão Salsinha e a Kaer Susar, outro elemento do antigo grupo do major Reinado, Taur Matan Ruak deixou clara a distinção entre a operação "Halibur" e os processos judiciais que existem contra os dois fugitivos.
"Uma coisa são as mensagens dirigidas a Salsinha e os outros. Outra coisa é aquilo por que ele tem que responder perante a justiça. Isso é competência da justiça e não tenho que adiantar nada", afirmou o brigadeiro-general Ruak na conferência de imprensa.
"Não lhe peço que se renda. Peço-lhe que reconsidere a sua posição e coopere", explicou o general timorense.
Taur Matan Ruak declarou que "o Comando Conjunto só tem a agradecer aos peticionários acantonados".
"Foram magníficos, foram corajosos e estamos muito sensibilizados", frisou.
"Os outros, já não têm mais tempo a perder. E Timor também não", concluiu o CEMGFA timorense.
PRM
Lusa/Fim
NOTA DE RODAPÉ:
Apesar de não termos ficado esclarecidos sobre o incidente entre militares das FDTL e polícias da UNPOL, relativamente à situação de Gastão Salsinha e do seu grupo, o General Matan Ruak mostrou bem o sentido de Estado que tem.
A cada um sua responsabilidade.
Muito bem, General.
sábado, março 01, 2008
Quem não investiga, não tem direito a falar" - CEMGFA Taur Matan Ruak
Por Malai Azul 2 à(s) 01:46
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
4 comentários:
Pelos vistos, a situação de Timor leste revela uma falta de confiança entre as várias entidades existentes no país. E isto é muito mau, pois se entre as autoridades competentes existe o desentendimento e a falta de um comando único central, como pode o povo confiar nas promessas de paz e estabilidade?
Senhor General Matan Ruak,
Estou de acordo que haja justiça e que as pessoas saibam distinguir entre o que é um acto isolado e um acto colectivo. Obvio que para Gastão Salsinha, não haja dúvidas que irá ser julgado segundo os seus crimes. Contudo, existe o grupo e todos aqueles que andaram a apoiar ou a suportar todas as barbaridades cometidas desde o ano de 2006. Qualé então a sua posição perante os crimes cometidos em grupos ou colectivamente por todos eles?
Lembre-se do provérbio, Senhor General Matan Ruak, " Chuva civil não molha militar" e " quem vai a guerra dá e leva. O Gastão Salsinha foi também militar, por isso,também sabe alguma coisa de militares. A justiça não pode ser aplicada por autoridades civis mas sim por um tribunal militar.
Psst... Psst...
Não existem tribunais militares em Timor-Leste.
Os militares das FDTL que estão presos na sequência de crimes cometidos durante a crise de 2006, foram condenados por um "tribunal civil" e cumprem pena na prisão de Becora.
E nunca fugiram da Justiça.
Enviar um comentário