segunda-feira, abril 09, 2007

Entrevista com Francisco Guterres Lu-Olo: Presidente deve respeitar esfera do governo

Público – 08 de Abril de 2007

"Nunca pensei vir a ser Presidente"

08.04.2007, Paulo Moura, Em Díli

O Presidente não deve interferir nas competências do Governo. A divisão leste-oeste é artificial. Timor deve ter relações privilegiadas com Portugal.

Na impossibilidade de candidatar Mari Alkatiri, a Fretilin escolheu Francisco Guterres Lu-Olo, presidente do Parlamento, ex-guerrilheiro e figura pouco carismática e pouco conhecida.

Público - Qual é a sua interpretação dos poderes do Presidente?

Durante os cinco anos em que fui presidente do Parlamento, tentei aprender quais devem ser os poderes dos vários órgãos de soberania. Durante a crise do ano passado, cheguei a várias conclusões sobre como devem ser assumidas as várias competências

Público - A que conclusões chegou?

Que não deve haver interferências de uns órgãos de soberania sobre os outros, como aconteceu com o Presidente Xanana Gusmão, que é muito respeitado porque foi comandante das Falintil, mas cuja atitude provocou um choque entre as instituições do Estado.

Público - Foi um erro dele, ou falta de definição das funções presidenciais?

Não. A Constituição define muito bem as competências. Estão previstas várias formas de os órgãos de soberania encontrarem soluções. Mas isso não aconteceu e o primeiro-ministro, Mari Alkatiri, teve de demitir-se das suas funções, para ultrapassar a situação.

Público - O que deveria ter feito o Presidente?

Não devia ter vindo a público atacar outros órgãos de soberania. A cena de ele sair do seu gabinete para ir falar às pessoas que se manifestavam em frente do palácio foi lamentável. Ele incitou as pessoas a fazerem manifestações.

Público - A crise agravou-se por causa dessa atitude?

Sim, ele dividiu o país. Disse que os de Loromono nunca fizeram a guerra, o que não é verdade.

Público - Essa divisão leste-oeste nunca existiu, é artificial?

Essa divisão nunca existiu, foi inventada. Eu fui responsável pela frente clandestina nas montanhas, para além de ser guerrilheiro, no mato. Conheço as pessoas. No Leste e no Oeste, todos eles fizeram a luta e estavam unidos. O sofrimento, a morte uniram o nosso povo.

Público - Na área da economia, o que pode fazer o Presidente?

Isso é da competência do Governo. Darei o meu apoio no sentido de melhorar as condições de vida da população. Timor tem grandes potencialidades, devido ao petróleo, mas acho que não devemos depender apenas desse recurso. Devemos desenvolver a pesca, o turismo, a agricultura. Devem ser definidas prioridades estratégicas.

Público - O presidente deve defini-las?

Não. Isso é competência do Governo. Mas há interdependência entre os vários órgãos de soberania e o Presidente deve dar o seu contributo.

Público - As relações externas de Timor-Leste devem privilegiar Portugal ou abrir-se à colaboração com a Austrália e países vizinhos?

Temos uma relação especial com Portugal devido aos nossos laços históricos e culturais, e isso deve manter-se. Vamos precisar ainda mais de Portugal, para o ensino da língua. Temos também uma relação especial com os países da CPLP.
Quanto aos outros países, vamos manter boas relações com todos.

Público - Não prevê um relacionamento especial com a Austrália?

Especial não digo. Mas vamos ter boas relações com a Austrália.

Público - A língua portuguesa não é um factor de divisão do país?

Não. Daqui a uns cinco anos, toda a gente falará o português. Há apenas aquela geração intermédia, que estudou no tempo da ocupação indonésia, que não sabe português.

Público - É uma geração que ficou desenraizada?

Não. Têm uma boa formação. Só terão de transportar os conhecimentos que têm para a língua portuguesa, que irão aprender.

Público - As forças internacionais devem permanecer no país?

Se ficarem menos tempo, é melhor.

Público - Menos do que quê?

Ainda não tenho propostas concretas quanto a isso. O importante é que as nossas instituições voltem a funcionar. E que a Polícia entre em funções, para podermos ter a certeza de garantir a nossa segurança.

Público - Isso será quando? Depois das legislativas?

Vamos continuar a trabalhar para que as pessoas respeitem a lei. Nesse momento estaremos em condições de apresentar os nossos agradecimentos às forças internacionais.

Público - Um guerrilheiro será a pessoa mais indicada para ser Presidente da república?

Eu não fui apenas guerrilheiro. Comecei por ser quadro inferior, depois médio, depois quadro superior do partido. Fi-lo para servir o meu povo. Agora, aceitei esta missão, também para servir o meu povo. Nunca pensei vir a ser Presidente da República, nem presidente do Parlamento. O que eu quero é dar o meu contributo. Não tenho qualquer ambição. Se ganhar ou perder, para mim tanto faz.

Público - Se for eleito, com que primeiro--ministro gostaria de trabalhar?

Alguém com uma visão clara para o país, como Mari Alkatiri.

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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