Tradução da Margarida.
The Sydney Morning Herald – Segunda-feira, Janeiro 1, 2007
Como a Austrália temerosa abandonou Timor-Leste
Por Tony Stephens
Somente três anos depois de da Indonésia ter invadido Timor-Leste há 30 anos atrás, o governo Australiano do primeiro-ministro, Malcolm Fraser, estava a apoiar encobertamente a total integração da pequena colónia no seu vizinho gigante, de acordo com documentos do gabinete de 1976, liberados.
Os documentos de 1976 do gabinete, liberados sob a lei que os mantém secretos durante 30 anos, mostra que ao mesmo tempo que o ministro dos estrangeiros, Andrew Peacock, dizia publicamente que as forças Indonésias se deviam retirar e que devia haver um acto genuíno de auto-determinação, os chefes de defesa da Austrália estavam a tomar uma visão de política real.
Um relatório do comité de defesa de 5 de Fevereiro anotava que apesar de ser improvável que a Indonésia desenvolvesse qualquer acção militar contra a Austrália ou a Papua Nova Guiné, "a Indonésia é um poder com potencial a longo prazo para um assalto significativo contra a Austrália".
O relatório continuava: "Tentativas para negar à Indonésia os seus objectivos e para garantir a sua co-operação numa retirada militar de Timor-Leste e num acto genuíno de auto–determinação vão por isso provavelmente encontrar dificuldades políticas e práticas intratáveis e no final vão provar que são fúteis."
Paradoxalmente, mais de duas décadas depois, em 1998, um membro desse ministério original de Coligação, o Primeiro-Ministro, John Howard, foi um autor chave em garantir que Timor-Leste ganhasse a independência num referendo.
O comité de 1976 compreendia Sir Arthur Tange, o responsável do Departamento da Defesa, General Sir Francis Hassett, o chefe de pessoal das forças de defesa, Alan Renouf, o responsável dos negócios estrangeiros, e Gordon Jockel, o director da Organização Conjunta dos Serviços de Informações. Disseram que a Austrália podia objectar o uso da força, mas que era do melhor interesse da nação manter um perfil baixo sobre o assunto. E avisaram contra o apoio à “liderança de centro duro” da Fretilin, que tinha ligações com "elementos radicais internacionais ".
Secretamente, o governo aceitou a integração de Timor-Leste na Indonésia como um facto consumado. Uma revisão da defesa estratégica em Setembro argumentava: "Dado que a alternativa é no essencial um Estado fraco, aberto à interferência do exterior, os interesses de defesa são servidos melhor pela incorporação de Timor-Leste na Indonésia."
Peacock tinha recomendado ao Gabinete, em Fevereiro, que o governo continuasse a criticar o uso da força, "peça a retirada das forças Indonésias " e "peça (com pouca esperança) um processo genuíno de auto -determinação". O seu documento de desistência dizia: "As forças Indonésias já se dirigem bem no caminho de integrar Timor-Leste na Indonésia. A tragédia é que a integração podia ter sido alcançada de modo mais pacífico mas isso já pertence à história”.
"Não há nenhum interesse nacional Australiano real, isto é de comércio ou de segurança, envolvido directamente em Timor-Leste. Se (não há) nenhum, a preferência estratégica será a integração … a capacidade da Austrália para alterar o rumo dos eventos em Timor era limitada e agora é na verdade muito limitada."
Os documentos da defesa não resolverão o debate sobre talvez o mais doloroso exercício Australiano em negócios estrangeiros desde a II Guerra Mundial, até ao envolvimento do país no Iraque. A maioria dos documentos relevantes foram liberados em 2000, no seguimento de pressão pública e com o apoio de Gough Whitlam.
Críticos afirmam que Whitlam deu ao presidente Soeharto da Indonésia uma "luz verde " para ocupar a antiga colónia Portuguesa pela força. As próprias anotações de Whitlam remontam à correspondência entre António Salazar, o ditador Português, e Robert Menzies, onde Menzies parece não reagir à contenção de Salazar de que Timor-Leste era inviável económica e politicamente.
Arquivos de encontros entre Whitlam e Soeharto mostram que os dois pontos básicos de Whitlam eram que Timor-Leste devia tornar-se parte da Indonésia mas que "isso devia acontecer de acordo com o desejo do seu povo de modo adequadamente expresso …"
Uma questão é se Whitlam fez força suficiente para um acto de auto -determinação. Os documentos de Peacock criticam a opção de Whitlam como sendo de política real. Contudo a linha Fraser-Peacock mostram poucas diferenças. Peacock rejeitou a opção de cortar a ajuda económica e militar e de retirar o embaixador, argumentando: "conquanto tais passos seriam aplaudidos publicamente por alguns sectores de opinião na Austrália, os prejuízos que podiam causar às relações com a Indonésia tornam-nos inviáveis."
The Age (Melbourne) – Segunda-feira, Janeiro 1, 2007
Receada a intervenção da China em Timor
Por Russell Skelton, Canberra
O gabinete de Fraser foi avisado por um comité poderoso de chefes de defesa que uma guerra de independência prolongada pelos rebeldes da Fretilin podia levar à intervenção pelo Vietname ou pela China em Timor-Leste.
Uma avaliação dos serviços de informação nacionais, apresentada ao Gabinete dois meses depois da brutal incorporação de Timor-Leste, urgia o Governo a tranquilizar os interesses Indonésios, dizendo que a auto-determinação Timorense era um objectivo irrealista.
O documento de 26-páginas, que delineia claramente a política em relação a Timor, não teve em consideração os abusos dos direitos ou o problema de 140,000 Timorenses deslocados.
Em vez disso a avaliação dizia: "Não será do interesse estratégico da Austrália que a Indonésia seja frustrada da absorção de Timor-Leste ou que o processo seja complicado ou atrasado. "Isso fortalecerá o estatuto político do grupo da Fretilin e encorajará e facilitará o desenvolvimento das suas ligações com países interessados em apoiá-lo contra a Indonésia."
Acautelava também o gabinete para não se associar a qualquer força de manutenção da paz da ONU ou a qualquer acto de auto-determinação.
A história mostra que a avaliação estava bem longe do alvo. Em 30 de Agosto de 2001, dois anos depois de ter votado pela independência num referendo patrocinado pela ONU, Timor-Leste realizou as primeiras eleições democráticas. Apesar da intervenção da Austrália no processo, as relações entre Canberra e Jacarta, apesar de tensas, não se romperam.
A avaliação de 1976 foi preparada pelo Comité de Defesa, que incluía as figuras mais influentes do campo da defesa e civis. Presidido por Sir Arthur Tange, os seus membros incluíam o director da Organização Conjunta dos Serviços de Informações Gordon Jockel.
Incluída na análise de alto-nível estava um aviso de que a China e o Vietname podiam vir em socorro da Fretilin. A avaliação dizia que "o centro duro da liderança da Fretilin " tinha-se alinhado com movimentos de "libertação nacional " e procurava ajuda de Pequim e Hanói para uma luta armada.
Expressava preocupação que a Indonésia pudesse ter um papel desestabilizador na Papua Nova Guiné se as relações entre Canberra e Jacarta se azedassem por causa de Timor.
A avaliação do comité incluía ainda um documento esboçado por Jockel, enquanto presidente do Comité Nacional dos Serviços de Informações, que revela que o público Australiano estava mantido no escuro sobre as actividades secretas da Indonésia em Timor que levou à invasão armada da antiga colónia Portuguesa. Os serviços de informações Australianos sabiam o seguinte:
* Um ano antes da invasão Indonésia de 1975, o Presidente Soeharto tinha aprovado a introdução de forças especiais em Timor e estava a planear opções secretas para a intervenção militar.
* A Indonésia já tinha 2500 tropas em Timor-Leste quase oito semanas antes da declaração unilateral de independência da Fretilin em 28 de Novembro de 1975, e que Jacarta usou para justificar a sua invasão.
* Em Fevereiro de 1976 cerca de 200 tropas Indonésias já tinham morrido ao lado de 600 lutadores de resistência da Fretilin. A luta tinha deslocado mais de 100,000 pessoas e criado mais de 40,000 refugiados.
Apesar destes factos, o governo de Fraser aceitou o conselho de que eventualmente Jacarta pacificaria Timor-Leste e que havia pouco que a Austrália pudesse fazer.
Na improvável eventualidade de que um governo da Fretilin emergisse, o comité dos serviços de informações acreditava que seria "pobre e fraco " e que promoveria instabilidade regional.
Em 9 de Fevereiro, o gabinete decidiu continuar a política do antigo primeiro-ministro Gough Whitlam de se dobrar aos interesses da Indonésia não pressionando pela auto-determinação Timorense. O gabinete, temendo que a Austrália se pudesse tornar uma base do governo da Fretilin no exílio, ordenou ainda posições contra as actividades e as visitas do grupo.
A decisão 200 do gabinete diz em parte: "em relação ao possível envolvimento em qualquer eventual processo de auto-determinação do povo de Timor-Leste, os (Comité dos Assuntos Estrangeiros e de Defesa do Gabinete) concordaram em não tomar qualquer decisão nesta altura …"
O impulso do conselho dos serviços de informações apresentado ao gabinete dizia respeito à necessidade de preservar os interesses Australianos, o que significava manter Soeharto no poder e as relações com a Indonésia numas base sólida. Havia preocupações que um grupo de generais de linha dura pudesse emergir para derrubar Soeharto, substituindo-o por um “líder mais combativo”.
O Comité de Defesa disse que de um ponto de vista estratégico partilhava as preocupações da Indonésia quanto ao futuro de Timor-Leste, mas não aceitou que as preocupações eram suficientemente urgentes para ter descartado a gestão política da situação ou assegurado a tomada do território pela força.
The Australian – Segunda-feira, Janeiro 1, 2007
Tomada de Timor-Leste inquietou Peacock
Patrick Walters, editor de segurança nacional
Há trinta anos atrás o governo de Fraser lutou com as consequências da tomada da Indonésia de Timor-Leste.
Documentos do gabinete de 1976 mostram que o novo governo teve de se reconciliar com o facto que nada podia fazer para alterar a integração de Timor-Leste na Indonésia. O governo tinha de determinar se tomaria uma forte atitude moral de condenação da invasão Indonésia – arriscando romper as relações com Jacarta – ou se adoptava uma posição mais pragmática.
"É uma escolha entre o que pode ser descrito entre idealismo Wilsoniano ou realismo Kissingerniano" escreveu o embaixador da Austrália na Indonésia, Richard Woolcott, num telegrama que enviou em Janeiro de 1976.
"O primeiro é mais adequado e com mais princípios mas os interesses nacionais a longo prazo pode ser bem servidos pelo último. Não pensamos que podemos avançar nos dois caminhos."
Em Fevereiro de 1976, o gabinete considerou um documento do ministro dos estrangeiros Andrew Peacock, que na sua essência aceitava a linha de Woolcott mas que tentava em vão salvar alguma rectidão moral.
"A capacidade da Austrália para alterar o rumo dos eventos em Timor era limitada e é agora muito limitada na verdade. Contudo, o governo não deve ser conivente com uma tomada pela força Indonésia," reconheceu o Sr Peacock'.
O Sr Peacock disse que o governo deve expressar a sua oposição ao uso da força para resolver um problema, "especialmente um tão perto das suas fronteiras ".
Anotou que em breve a Austrália seria chamada para emitir a sua opinião sobre Timor-Leste no Conselho de Segurança da ONU.
A posição do governo de Fraser tinha sido criticar publicamente e em privado o uso da força pela Indonésia, pedir a retirada das tropas de Jacarta, pedir um processo genuíno de auto-determinação, e "mostrar em privado a disponibilidade para considerar favoravelmente a participação da Austrália em qualquer presença internacional que possa substituir a presença Indonésia em Timor-Leste (a possibilidade de se vir a estabelecer tal presença é muito pequena)".
"Decidi esta política ao mesmo tempo que admitia que muito provavelmente a Indonésia não se desviaria do seu rumo presente e que é muito provável que aconteça a incorporação de Timor-Leste na Indonésia," admitiu Mr Peacock. O ministro dos estrangeiros disse que tinha tomado na devida consideração a "grande importância" da Indonésia para a Austrália e que tinha procurado limitar os estragos nas relações com Jacarta. A Austrália concordou calada com a tomada de Timor-Leste pela Indonésia e em breve mexeu-se para reconhecer de facto a incorporação.
The Australian – Segunda-feira, Janeiro 1, 2006
Recusados vistos à Fretilin
Patrick Walters
O governo de Fraser recusou vistos a proeminentes membros de esquerda Timoreses forçados ao exílio depois da invasão Indonésia da antiga colónia Portuguesa nos finais de 1975.
Os membros da Fretilin incluíam Mari Alkatiri, que no ano passado se demitiu do cargo de primeiro-ministro de Timor-Leste, e Rogério Lobato, que recentemente serviu como ministro do interior no governo de Alkatiri.
Há trinta anos atrás, o governo de Coligação de Malcolm Fraser estava preocupado com a possibilidade da Austrália ser usada pelo movimento de resistência Fretilin como a base para um governo no exílio.
O conselho dos Departamentos da Defesa e dos Negócios Estrangeiros foi de não dar nenhum oxigénio político à Fretilin, então engajada numa guerra de libertação contra as forças armadas da Indonésia.
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quinta-feira, janeiro 04, 2007
Notícias de 1 e 2 de Dezembro de 2006 - traduzidas pela Margarida
Por Malai Azul 2 à(s) 13:32
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
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Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
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