quarta-feira, outubro 11, 2006

Ramos Horta: Os Australianos não devem ser acusados do golpe

Tradução da Margarida.


ABC/AFP – Quarta-feira, Outubro 11, 2006. 5:04am (AEST)

O Primeiro-Ministro de Timor-Leste, José Ramos Horta, diz que os relatos de que a Austrália teve um papel no golpe contra o seu antecessor, Mari Alkatiri, são disparates.

O Dr Alkatiri foi forçado a sair do cargo no fim de Maio quando o líder amotinado Alfredo Reinado liderou os colegas da polícia militar para as montanhas por detrás de Dili.

Os amotinados recusaram-se a renderem-se até o Dr Alkatiri ter resignado.

A televisão SBS emitiu uma reportagem afirmando que dois estrangeiros de língua Inglesa e dois soldados Timorenses contactaram dois oficiais Timorenses de topo e encorajaram-nos a montar um golpe.

O Dr Ramos Horta disse no programa Lateline da ABC TV que a reportagem não é credível.

"Como digo, (é um) disparate absoluto," disse. "Apontar imediatamente o dedo à Austrália ou a qualquer outro vizinho nosso é simplesmente um erro. "Eu sabê-lo-ia e eu sei que não houve envolvimento da Austrália, dos USA ou da Indonésia nos nossos problemas."

O Dr Ramos Horta diz que não sabe porque é que a Austrália teria querido o Dr Alkatiri fora da liderança.

"Fui um membro do gabinete de Alkatiri," disse. "Foi ele que garantiu o sucesso de dois acordos importantes, tornando-nos financeiramente independentes, e ele foi louvado por isso por isso não vejo porque razão é que a Austrália quereria que ele saísse."

Entretanto, o International Crisis Group emitiu um relatório dizendo que Timor-Leste precisará de empreender a reforma do sector da segurança para entrar nos carris depois do desassossego que culminou na resignação do Dr Alkatiri.

A pequena nação de quatro anos de idade caiu no caos em Abril e Maio depois do Governo ter demitido mais do que um terço das suas forças armadas.

As tropas desertaram dos seus quartéis queixando-se de discriminação.

Os protestos degeneraram em batalhas entre facções rivais dos militares e dos polícias e gangs de rua rivais.

O ICG põe a contagem (de mortes) em mais de 30 pessoas.

Mais de 3,200 tropas, a maioria delas Australianas, foram despachadas para restaurar a segurança.

"Resolver a crise dependerá duma reforma compreensiva do sector da segurança e de melhor fiscalização dos tribunais," disse um relatório do think tank com base em Bruxelas.

"Mas com eleições previstas em Maio de 2007, dependerá também das reformas no seio do partido no poder, a Fretilin, e da vontade de actores políticos chave para se sentarem e acordarem nas soluções."

Robert Templer, o director do programa da Ásia do ICG, diz que a "crise escalou em parte porque não houve controlo sobre indivíduos com interesses pessoais e bases de poder privado ".

"A saída é através da construção de instituições de modo que as acções de indivíduos não tenham tanto peso," disse.

Causas históricas

O relatório diz que as raízes da crise então parcialmente nas tensões no seio da Fretilin antes e durante a ocupação de Timor-Leste pela Indonésia.

Os Timorenses votaram pela independência da Indonésia em 1999.

"Disputas ideológicas e políticas nos anos 1980s e 1990s, particularmente entre membros do comité central da Fretilin e [o agora Presidente] Xanana Gusmão, então comandante do exército de guerrilha Falintil, transmitiram-se ao governo do póst-conflito," disse.

O relatório diz que outra semente foi plantada quando os lutadores das Falintil foram desmobilizado em 2000.

Uma nova Força de Defesa absorveu alguns mas deixou outros desempregados e ressentidos ao mesmo tempo que a comunidade internacional se focava na criação de uma nova força de polícia.

"Que muitos dos polícias, checados e re-treinados, tivessem trabalhado para a administração Indonésia, foi mais sal nas feridas dos ex-lutadores," disse o relatório.

O ICG diz que a rivalidade entre o largamente sem poderes Sr Gusmão, que está comprometido com o pluralismo democrático, e um partido no poder com tendências autoritárias é um outro factor.

Lobato criticado

O antigo ministro do interior Rogério Lobato, que enfrenta agora acusações por distribuição de armas, foi apontado pelo ICG pele sua manipulação de tensões.

"Como ministro do interior, controlou a força da polícia, encorajou a rivalidade com a Força de Defesa, a maioria dos quais eram pessoalmente leais com Xanana Gusmão, e criou unidades de polícia especializadas que efectivamente se tornaram uma força de segurança privada," diz o ICG.

"A polícia sob seu controlo estava encarregada da lei e da ordem, do patrulhamento da fronteira, do controlo de motins e da imigração.

"Nunca ficou claro qual era o papel da Força da Defesa."

O relatório saiu à frente da emissão do da Comissão Especial Independente de Inquérito da ONU, que é esperado mais tarde este mês.

O inquérito provavelmente indicará os nomes dos que estiveram por detrás dos piores incidentes de violência este ano.

O relatório do ICG avisa que a emissão do relatório da ONU pode desencadear pedidos de justiça instantânea que os tribunais de Dili estão mal preparados para prestarem.

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3 comentários:

Anónimo disse...

Toda a história deste blog, vê-se à vista desarmada, a sua génese. O timing em que apareceu, a publicidade que teve nos órgãos de comunicação social (ainda bem), o "apoio" que teve de fazedores de opinião e sobretudo, vê-se, o trabalhinho de formiguinha que uma série de gente "instalada" desde sempre fez e faz no mesmo.

Desde sempre, aqui, se colocou a culpa e "o golpe" nas costas de Xanana Gusmão "vendido" e "eleito pelos australianos". É vergonhoso pois ele sempre disse que antes do que quer que seja é aos Timorenses que dará resposta e eleito, que eu saiba, foi-o esmagadoramente pelos Timorenses! A campanha para a desacreditação de Xanana Gusmão é, esse sim, "o golpe" dos peões ao serviço do núcleo duro da FRETILIN. Veremos qual o resultado desta estratégia. O feitiço pode muito bem virar-se contra o feiticeiro.

Já se questionaram porque razão não tem também este Governo a capacidade de devolver a paz a Dili bem como fazer com que os deslocados voltem a ter uma vida normal? É simples: não têm essa capacidade de facto bem como, não acreditam os deslocados, nos políticos que os comandam. Exceptuando alguns, mantiveram-se os mesmo que não controlaram esta crise na sua origem.
A exemplo, com as devidas distâncias mas talvez bem mais preocupante, como se dizia em 1999 - entregar a segurança do Povo aos "lobos"? Pois o Povo não acredita e não sairá dos abrigos antes de haver "limpeza" total no topo das estruturas do Estado. Vai uma aposta?
Sem falar no óbvio que é - sem segurança os confrontos de arruaça continuarão. As forças da ONU já deveriam estar no terreno em força e em número para que os deslocados não receassem pelas suas vidas e para que toda e qualquer desordem não tivesse possibilidade de se desenvolver.

Lamentavelmente não é assim. Mas vai ter de ser.

Estar a falar-se de soberania, de democraticamente eleitos etc, com o país neste estado é mesmo daqueles que adoram chafurdar na m**** para daí terem dividendos políticos com o sofrimento e a miséria do Povo.

A desordem não é global. É localizada sobretudo em Dili. Isto só pode ser feito porque obviamente a anormalidade dos políticos existentes em Timor-Leste que alinham neste modo de estar não têm de facto a postura para estarem à altura da solução dos problemas levantados. Por isso demitam-se! Não enrolem mais a corda. Ela estica mas vai ter de rebentar. A limpeza tem de ser feita por dentro da própria FRETILIN e não uma vez mais, como se de santinhos se tratassem, no pendurar constante de que em eleições livres é que saberão a escolha certa. Estaria de acordo caso a situação não fosse a que se vive à longos meses.
Será fácil a um partido, o único com muito dinheiro, fazer a sua campanha à sombra de que agora "o ocupante" são "os outros", sobretudo e inacreditavelmente o grande responsável - Xanana, para desferirem nele o golpe que até hoje não se atreveram a fazer pois não terão o apoio popular.

Em caso de dúvida, agita-se, não é? Não é essa a teoria?

Quarta-feira, Outubro 11, 2006 9:39:55 PM

Anónimo disse...

O relatório da ICG é tendencioso! O relatório da ONU "vai" ser tendencioso! O Estado Democrático (sic) da RDTL é tendencioso! O Xanana Gusmão é tendencioso! O RH idem! Os bispos idem! O Parlamento Nacional idem! O sr. Alkatir é tendencioso! Os representantes de todos os partidos políticos em Timor-Leste são tendenciosos! Nós somos tendenciosos!

Ficará alguém de fora? Só se forem "os outros"! Os que não são tendenciosos. Onde estão esses?

Anónimo disse...

Vale a pena ver o que é esse "International Crisis Group" - ICG. Não é "independente" e muito menos "não-governamental" (fonte: http://www.sourcewatch.org/index.php?title=International_Crisis_Group):

FUNDING
"ICG raises funds from GOVERNMENTS, charitable foundations, COMPANIES and individual donors. The following GOVERNMENTS currently provide FUNDING: AUSTRALIA, Austria, Canada, Denmark, Finland, France, Germany, Ireland, JAPAN, Luxembourg, The Netherlands, NEW ZEALAND, Norway, Republic of China (Taiwan), Sweden, Switzerland, Turkey, UNITED KINGDOM and UNITED STATES."

ICG BOARD
"[...] its President and Chief Executive since January 2000 has been former AUSTRALIAN Foreign Minister GARETH EVANS."

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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