segunda-feira, novembro 13, 2006

Notícias - em português


Agência EFE - 11 Novembro 2006. 06:15

Ramos Horta pede que rebeldes timorenses entreguem suas armas


O primeiro-ministro timorense, José Ramos Horta, pediu hoje aos líderes dos protestos que afundaram o Timor Leste no caos em maio que entreguem as armas que ainda estão em seu poder.

"Para evitar o derramamento de sangue no futuro, peço que cedam à Unpol (força internacional sob comando das Nações Unidas) as armas que ainda estejam em seu poder", declarou o governante timorense, durante um fórum nacional, em Díli.

Ramos Horta afirmou que recebeu informação segura de que o major Alfredo Reinado, um dos militares que lideraram a insurreição, e o ex-guerrilheiro Vicente da Conceição ainda têm armas automáticas.

"As tropas internacionais agirão com o maior rigor se os seus grupos se recusarem a entregar as armas", ameaçou o prêmio Nobel da Paz de 1996.

Conceição rejeitou as acusações e garantiu que seu grupo entregou todas as armas às tropas internacionais, na presença do próprio primeiro-ministro. "Respeito Horta por seus esforços em nossa luta contra a Indonésia, mas ele não tem a vontade política para resolver os problemas do país, e ainda me acusa de fugir da justiça e de ter armas, sem provas", disse ele à Efe, por telefone.

Conceição acusou o ex-primeiro-ministro Mari Alkatiri de fornecer armas a um grupo comandado por ele para eliminar rivais políticos do antigo Governo.

O major Reinado foi detido em julho, com mais 20 homens, após liderar um grupo de membros da Polícia que se negava a entregar suas armas enquanto Alkatiri não renunciasse.

Alkatiri deixou o cargo e foi substituído por Ramos Horta, o que acalmou a onda de violência no país. Reinado fugiu da prisão em 30 de agosto, com mais 54 homens.

***

Moçambique: Mari Alkatiri elogia a solidariedade de Samora Machel

Lisboa, 11 Out (Lusa) - O ex-primeiro-ministro timorense, Mari Alkatiri elogiou, em declarações à Agência Lusa em Lisboa, o papel solidário com os povos em luta, de Samora Machel, o ex-Presidente moçambicano que morreu há 20 anos.


O secretário-geral da Frente Timorense de Libertação Nacional (FRETILI N), o principal partido de Timor-Leste, chegou a ponderar a hipótese de estar presente no congresso da FRELIMO em Moçambique, que começou na sexta-feira, em Quelimane, e decorre até quarta-feira, mas acabou por passar primeiro por Portugal, antes de ir para aquele país africano "descansar".

Numa entrevista à Agência Lusa, em Lisboa, Alkatiri lembrou que tem "uma relação próxima com Moçambique", país que o acolheu depois da invasão indonésia de Timor-Leste e onde viveu quase 24 anos.

Por causa disso, é que muitas vezes se diz que a FRETILIN foi feita à imagem e semelhança da FRELIMO, o principal partido moçambicano fundado por Eduardo Mondlane, facto que o ex-primeiro-ministro timorense não confirma.

"Quando iniciámos todo o processo de organização para a luta, em 1970, os maiores contactos eram com o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) e com o PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde). Com a FRELIMO tínhamos muito menos. Aliás, quando saí de Timor-Leste, em 1970, fui para Angola estudar", esclareceu.

"A ter influência, a FRETILIN tem mais do MPLA que da FRELIMO", referiu .

No entanto, depois de 1975, quando a Indonésia invadiu Timor-Leste, Alkatiri e outros dirigentes acabaram por se instalar em Moçambique, a convite do Presidente Samora Machel.

Angola estava em guerra, Portugal atravessava o período conturbado do pós-25 de Abril e os dirigentes da FRETILIN escolheram o território moçambicano para se radicarem.

Foi "a partir daí que comecei a compreender melhor a FRELIMO e o processo em Moçambique, as suas contradições, sucessos, fracassos", confessou Alkatiri .

Sobre o então Presidente Samora Machel, falecido num desastre de avião a 19 de Outubro de 1986, o ex-primeiro-ministro timorense guarda boas recordações.

"Conheci o valor de Samora Machel - no sentido da solidariedade humana internacional com os povos em luta. Foi das pessoas mais solidárias que já conheci na minha vida", afirmou Alkatiri.

"Tenho Samora Machel em boa conta, porque foi uma pessoa que partilhou os seus parcos recursos com as lutas de libertação", acrescentou.

Apesar de tudo isso, Mari Alkatiri fica com "vontade de rir" quando diz em que os dirigentes da FRETILIN que viveram em território moçambicano estão a " levar a experiência de Moçambique para Timor-Leste".

"São caminhos completamente diferentes: Moçambique saiu de um regime de partido único para um processo de democratização e nós começámos logo com o processo de democratização", frisou.

AR-Lusa/Fim

***

"Não basta marchar e rezar o terço" - Gregório Saldanha

Díli, 11 Nov (Lusa) - A comemoração do massacre de Santa Cruz "não deve ficar apenas por uma marcha e reza do terço", defendeu hoje à agência Lusa um dos organizadores da manifestação que relançou em 1991 o debate sobre a ocupação indonésia de Timor-Leste.


Gregório Saldanha, hoje deputado eleito nas listas do partido maioritário, a FRETILIN, não tem ilusões: "a melhor maneira de comemorar o 12 de Novembro é reflectir nesse sacrifício e construir o futuro".

Em entrevista à agência Lusa, Gregório Saldanha recorda o que se passou , e como, há 15 anos atrás.

"Nós estávamos preparados para a chegada da delegação dos deputados portugueses. Mas a visita foi cancelada porque Jacarta vetou a entrada da [jornalista] Jill Jolliffe", disse.

Escondido na casa de José Alves Lay, no bairro de Audian, Gregório Saldanha teve a confirmação que a rede clandestina da resistência à ocupação deveria actuar no momento em que recebeu uma carta do comandante em chefe, Xanana Gusmão.

"Foi o ex-coordenador do Comité Executivo da rede clandestina, Constânc io Pinto, que me trouxe a carta, do nosso comandante em chefe, Xanana, mandando organizar a manifestação", recordou.

Os dias que antecederam a manifestação foram febris. Havia que preparar cartazes e ao mesmo tempo furtarem-se à vigilância da Intel, a agência de contra-inteligência indonésia, e dos seus informadores.

Dias antes, a 28 de Outubro, um grupo de jovens tinha sido atacado na igreja de Motael, e da refrega resultaram dois mortos.

"Atacaram a igreja e mataram o Sebastião Gomes. Houve outro morto, do lado deles. Os atacantes eram milicianos timorenses, agentes dos indonésios", acrescentou.

"Recebi a carta [de Xanana Gusmão] no dia 08 e a 10 fizemos uma reunião da rede clandestina para preparar a manifestação. Na noite anterior do massacre fiz várias visitas para confirmar que tudo estava preparado", evocou.

Nessa terça-feira, logo pela manhã eram já cerca de mil as pessoas que se concentraram na igreja de Motael, para acompanhar o funeral de Sebastião Gomes até ao cemitério de Santa Cruz.

Depois de celebrada a missa pelo pároco de Motael, padre Alberto Ricardo da Silva, actual bispo de Díli, os jovens iniciaram a marcha até Santa Cruz.

"A inteligência e a coragem dos jovens tinha permitido ultrapassar os constrangimentos, a vigilância e as intimidações", salientou.

Aproveitando a presença de jornalistas estrangeiros, que tinham entrado em Díli para cobrir a visita da delegação parlamentar portuguesa, o comando da luta tinha decidido avançar com a manifestação.

A história do que se passou em Santa Cruz é conhecida.

Segundo dados divulgados posteriormente, a intervenção repressiva do oc upante provocou 271 mortos, 382 feridos e 250 desaparecidos.

A acção indonésia serviu, contudo, para relançar a questão da ocupação sangrenta de Timor-Leste, depois das imagens do massacre, do britânico Max Stahl , terem sido divulgadas a nível mundial, insuflando novo vigor nos esforços dipl omáticos pela independência.

Em Portugal, as imagens de timorenses a rezar, em português, sacudiram as consciências, e gerou um movimento de solidariedade para com a resistência e de boicote aos produtos "made in Indonésia".

Quinze anos depois, Gregório Saldanha defende que o exemplo do sacrifício consentido em Santa Cruz deve ser vir de reflexão à actual juventude timorense.

País com cerca de um milhão de habitantes, 44 por cento dos quais têm menos de 15 anos, Timor-Leste debate-se com muito escassas oportunidades de emprego para os mais de 15 mil jovens adultos que anualmente entram no mercado de trabalho.

A crise político-militar, desencadeada em Abril passado, intensificou as dificuldades para arranjar emprego.

"Há 15 anos, durante a luta, sempre pensámos que íamos vencer. Tínhamos essa convicção. Libertar a nossa terra, libertar o nosso povo e podermos andar livremente, com a juventude a conseguir encontrar trabalho e estudar", destacou.

"Mas, desgraçadamente, hoje não conseguimos. Alguns podem, outros não. Alguns estão em campos de deslocados. Todos nós, todos os timorenses, têm que reflectir no que aconteceu [com a crise de Abril]. Não é bom apontar o dedo a qual quer pessoa. Temos de trabalhar", defendeu.

Gregório Saldanha também não quer que cada 12 de Novembro seja apenas uma ocasião para "gritar palavras de ordem, imitar a marcha heróica daquele dia e rezar o terço pelo caminho. Se vamos comemorar a nos esquecemos do sentido da data, então não vale a pena. Isso não basta", frisou.

"Temos que olhar para o passado, perceber o que se passou e construir o futuro", repetiu.

EL-Lusa/Fim

***

Massacre Santa Cruz serviu objectivos da resistência e indonésios

Eduardo Lobão, da Agência Lusa Díli, 11 Nov (Lusa) - O massacre no cemitério de Santa Cruz, em que pod erão ter sido mortos mais de 500 timorenses, serviu os interesses da resistência e da linha dura do regime em Jacarta, disse hoje à agência Lusa o ex-governador Mário Carrascalão.


Na entrevista, a propósito da passagem do 15º aniversário do massacre, que se assinala domingo, Mário Carrascalão lamenta ainda que as valas comuns abe rtas no dia seguinte ao massacre, em Tibar, a cerca de 15 quilómetros de Díli, c ontinuem sem ser descobertas.

"O processo que conduz ao 12 de Novembro é um acidente histórico, uma c asualidade, provocada pelo cancelamento da visita de uma delegação parlamentar p ortuguesa", recordou.

Convicto que o cancelamento da visita dos deputados pelo regime indonés io constituiu uma medida acertada - "porque iria provocar um banho de sangue ain da maior do que o que se verificou em Santa Cruz" -, Mário Carrascalão acredita que a realização da manifestação dos jovens em direcção ao cemitério resultou de uma convergência de interesses, ditados por razões diversas, da resistência e d a linha dura do regime em Jacarta.

A visita de uma delegação parlamentar portuguesa foi cancelada por Lisb oa depois de Jacarta ter vetado a inclusão de três jornalistas na delegação, ent re os quais o da australiana Jill Jolliffe.

"Do ponto de vista indonésio, o dia 12 de Novembro marcou uma viragem, com o reforço das posições da linha dura, e do ponto de vista timorense, relanço u a nível mundial o debate sobre a ocupação de Timor, devido às imagens que corr eram mundo", salientou.

Números oficiais apontam para 271 mortos, 382 feridos e 250 desaparecid os entre as mais de mil pessoas que se calcula tenham integrado ou participado a manifestação que saiu da igreja de Motael, no centro de Díli, até Santa Cruz.

A marcha até ao cemitério tinha como pretexto homenagear o jovem Sebast ião Gomes, morto a 28 de Outubro de 1991 durante um ataque de milícias timorense s pró-integracionistas, enquadrados por agentes da Intel, serviços de contra-int eligência indonésios, à igreja de Motael.

No ataque morreu ainda um dos atacantes.

"Quando digo que o 12 de Novembro foi um acidente histórico, justifico com o facto de ninguém pensar que o Sebastião Gomes seria morto", disse.

Segundo Mário Carrascalão, os preparativos da resistência para aproveit ar a visita dos parlamentares portugueses mantiveram-se mesmo depois do cancelam ento da deslocação, e a morte de Sebastião Gomes foi o pretexto, igualmente apro veitado pela Intel.

"Depois do massacre perguntei a um timorense que era agente da Intel qu al o interesse de tanta morte, por que fizeram o massacre, ele respondeu-me que era para acabar de vez com a rede clandestina", referiu.

"A Intel tinha-se infiltrado entre a rede clandestina e nada fez para e vitar a manifestação. Eles queriam tirar partido da cerimónia no cemitério", sal ientou.

É que a rede clandestina tinha já experiência de organização de acções de protesto contra a ocupação, tendo a primeira destas acções sido encenada em T aci Tolu, na saída oeste de Díli, a 12 de Outubro de 1989, no final da missa cam pal celebrada pelo papa João Paulo II.

O reforço da rede clandestina estava relacionado com o progressivo "def inhamento" das acções da guerrilha.

"Nessa altura, Xanana Gusmão já não via as coisas como via anteriorment e. O 12 de Novembro é um aproveitamento, quanto a mim muito bem feito, sabendo-s e de antemão que haveria vítimas e aproveitar o que estava previsto para a visit a dos parlamentares", sustentou.

Mário Carrascalão, de 69 anos, exerceu o cargo de governador da então p rovíncia indonésia de Timor entre 1982 e 1992.

Actualmente lidera o terceiro maior partido com representação parlament ar em Díli, o Partido Social Democrata (PSD).

"Eles (os indonésios) precisavam de mim, porque eu era a imagem positiv a da ocupação indonésia", explicou.

No dia do massacre, Mário Carrascalão, ao dirigir-se para o seu gabinet e de trabalho, no edifício em que hoje funciona o Palácio do Governo, passou por Motael e apercebeu-se da concentração de centenas de pessoas.

"Estava mais ou menos a par do que iria acontecer no dia 12. Na noite a nterior recebi a informação de que estava a preparar-se uma grande manifestação para o dia 12. Soube da realização de várias reuniões preparatórias para a manif estação. A Intel também sabia e não se mexeu. Deixou acontecer", evocou.

Mais tarde, já no seu gabinete, viu-os passar, "de forma ordeira, com c artazes e fotos de Xanana".

Uma primeira acção de repressão, com tiros, verificou-se logo na Avenid a Bispo Medeiros, adjacente ao edifício do governo.

"Logo aí houve tiros e muita confusão. Um major indonésio foi atacado, mas não foi pelos manifestantes, foi por um miliciano pró-integração, para provo car uma reacção", adiantou.

Os manifestantes progrediram em direcção a Santa Cruz, concentrando-se aí muitas centenas de pessoas.

"Estava ainda no meu gabinete e apesar do aparelho de ar condicionado q ue lá tinha, e que fazia muito barulho, ouvi rajadas contínuas de armas automáti cas. Saí do gabinete e disseram-me que havia muitos mortos e feridos no cemitéri o", disse.

Dirigindo-se à residência do bispo Ximenes Belo, em Lecidere, Mário Car rascalão deparou com mais de uma centena de jovens que ali tinham procurado refú gio.

"Depois de ir ao antigo hospital central, na saída de Díli para Lahane, onde vi vários feridos graves, dirigi-me ao cemitério e surpreendi indivíduos c ivis armados, mas que não eram timorenses, e que me viraram as costas, tentando esconder as armas", salientou.

à frente do cemitério reparou que estavam a deitar areia sobre as muita s poças de sangue e surpreendeu também três camiões de caixa aberta, alinhados, junto à entrada.

"O que estava do lado de fora estava cheio de corpos, Empilhados uns em cima dos outros", recordou.

De regresso ao seu gabinete enviou imediatamente um fax para Jacarta, d irigido ao Ministério do Interior, a denunciar o que se tinha passado e a exigir que fossem tomadas providências para responsabilizar os autores das mortes.

"Nada fizeram. Os indonésios quiseram convencer-me que só havia 19 mort os. Neguei imediatamente e disse que tinha visto um camião, pelo menos um, cheio de corpos", destacou.

"Era um número fabricado. O incrível é que disseram que havia 19 mortos e 91 feridos. Devia ser para não haver versões contraditórias da versão oficial . Nessa mesma noite a electricidade foi cortada. De vez em quando havia cortes, mas era raro. Deve ter sido para que os camiões com os corpos atravessassem a ci dade sem serem vistos", destacou.

Dois ou três dias depois do massacre Mário Carrascalão recebe a visita de um jovem, ajudante de um dos condutores dos camiões.

"Gravei o depoimento dele. Disse que tinham levado os corpos para Tibar , junto à lixeira e que tinham aberto uma vala comum", afirmou.

A existência dessa vala, e porventura de outras, ainda não foi descober ta.

"Tenho um esboço da área, que me foi enviado, e dei esse documento aos elementos enviados por Jacarta para investigarem o sucedido em Santa Cruz. Eles foram escavar, acompanhados de agentes da Intel, mas abriram os buracos centenas de metros antes do local referenciado", acrescentou.

Para Mário Carrascalão, o massacre de Santa Cruz não foi obra dos milit ares. Tratou-se de uma acção levada a cabo pela Intel, apoiada pelo KOPASSUS, o corpo especial de intervenção da polícia indonésia.

Lusa/Fim

***

Massacre de Santa Cruz pode ajudar a compreender a crise - Alkatiri

Lisboa, 11 Nov (Lusa) - O ex-primeiro-ministro timorense Mari Alkatiri considera que a passagem do 15º aniversário do Massacre de Santa Cruz, que se assinala domingo, deve servir como "data de reflexão para compreender a actual crise".

"O Massacre de Santa Cruz é uma demonstração da unidade de toda a juven tude timorense em torno de uma causa comum que é a da libertação nacional", disse à Agência Lusa o actual secretário-geral do principal partido timorense, FRETILIN.

Considerando que esta efeméride deve ser vista como "data de unidade da juventude", Alkatiri espera que "neste momento de crise", este "exemplo" ajude "agora e no futuro".

"É um dia de reflexão para se compreender a actual crise", concluiu o ex-chefe do Governo, que se encontra em Portugal para fazer exames e tratamentos médicos.

AR-Lusa/Fim

***

Crise condiciona celebração 15º aniversário massacre de Santa Cruz

Díli, 12 Nov (Lusa) - A crise por que passa Timor-Leste condicionou hoje em Díli as comemorações do 15º aniversário do massacre do cemitério de Santa Cruz, marcadas por menor afluência popular, comparativamente a 2005, e de convidados.


As comemorações iniciaram-se logo pela manhã (hora local) e repetiram a missa de há 15 anos, celebrada pelo mesmo padre, hoje bispo de Díli, D. Alberto Ricardo da Silva.

Depois da missa, os fiéis efectuarem uma marcha a pé em direcção ao cemitério de Santa Cruz, onde estava montado um palco para manifestações artísticas e discursos.

As manifestações realizaram-se como previa o programa, mas dos discursos esperados apenas se ouviu o vice primeiro-ministro, Estanislau da Silva, pois o Presidente Xanana Gusmão não compareceu.

Também não estiveram presentes muitos dos convidados, como membros do governo e embaixadores.

João "Choque" da Silva, presidente da Comissão Organizadora e um dos sobreviventes do massacre de há 15 anos, justificou as ausências com "a crise em que o país ainda se encontra".

"Realmente este ano veio menos gente, porque o país está a atravessar uma crise, e as pessoas têm receio, mas o importante é que também mais uma vez homenageámos os que deram a vida em sacrifício pela libertação de Timor-Leste", disse João "Choque" da Silva à Lusa.

"Faltaram alguns dos convidados, mas isso não é importante. O importante é que estamos aqui juntos a fazer uma homenagem", destacou.

Estanislau da Silva, que representou o primeiro-ministro José Ramos Horta, ausente de Díli em virtude de uma deslocação a Baucau, na ponta leste do país, coincidiu na justificação da crise como motivo que explica a menor afluência popular nas comemorações.

"O dia 12 de Novembro é uma data importante, um marco histórico, que relançou o caso de Timor-Leste na arena internacional, mostrando a muitos países o que então a Indonésia estava verdadeiramente a fazer na nossa terra", disse.

Passados 15 anos, Timor-Leste mudou, é independente, mas persiste a presença no país de forças militares estrangeiras, que Estanislau da Silva considerou terem agora uma missão completamente diferente.

"As forças militares que agora estão cá vieram a pedido das autoridades timorenses, por um período definido e ajudar-nos a ultrapassar a crise", salientou.

País jovem, em que 44 por cento dos cerca de 950 mil habitantes têm menos de 15 anos, Timor-Leste precisa de novas políticas para a juventude.

"Este governo deve encarar os problemas da juventude de outra forma, envolvendo os jovens em actividades concretas, que respeitem os sacrifícios do passado e ajudem a construir o futuro", frisou.

As comemorações foram ainda marcadas pela deposição de coroas de flores na cruz alta, um espaço do cemitério em que são homenageadas as vítimas do massacre, perpetrado pelo ocupante indonésio e em que morreram 271 pessoas, 382 ficaram feridas e 250 estão ainda dadas como desaparecidas.

A presença, discreta, de vários efectivos da polícia da ONU e militares australianos completou o quadro de festa desenhado no espaço situado defronte da entrada do cemitério, em que muitos jovens envergavam camisolas com a inscrição "Timor-Leste ida deit" (expressão em tétum que em português se pode traduzir por "Timor-Leste é só um").

No interior do cemitério, três homens, com uma fotografia emoldurada, prestavam também a sua homenagem às vítimas do massacre, concretamente a Sebastião Rangel Gomes, cujo funeral a 12 de Novembro de 1991 espoletou a acção repressiva indonésia.

Jorge Rangel, primo de Sebastião, confessou a sua tristeza com a situação de crise em que o país se encontra, e que considera ter desmotivado muitas pessoas de este ano visitarem o cemitério.

"Estou triste, porque os jovens deram a sua vida por este país, mas agora não respeitam esse sacrifício e são outros jovens que estão agora na base da crise", salientou.

EL-Lusa/Fim

***

Jornal de Noticias - Domingo, 12 de Novembro de 2006

Alkatiri diz que há planos para o matar

O ex-primeiro-ministro de Timor-Leste, Mari Alkatiri, revelou a existência de planos para o assassinar. "Não tenho dúvidas que esse plano exista. Não digo que irá acontecer mas pode acontecer. Eu sou um dos alvos. Mas não tenho medo de ser vítima de um atentado, se tivesse medo já não estaria em Timor-Leste", denunciou o secretário-geral da FRETILIN, principal partido timorense.

"Sei quem são [os alvos] mas não vou dizer. Também não tenho dúvidas que uma das instituições que todos têm como objectivo de, pelo menos, reduzir a sua influência, é a FRETILIN", disse Mari Alkatir. Em Lisboa para tratamentos médicos, negou que tenha fugido de Timor-Leste e garantiu que irá regressar a Díli, o mais tardar, na primeira semana de Dezembro. "Não fujo, não fugirei nunca de Timor-Leste", afirmou. "Se quisesse fugir já o teria feito há muito tempo. Enfrentei tudo no momento mais difícil, não é agora, quando as coisas parecem clarificar-se, que vou fugir", sublinhou.

Entretanto, o ex-governador de Timor, Mário Carrascalão, disse que o massacre no cemitério de Santa Cruz, em que poderão ter sido mortos mais de 500 timorenses, serviu os interesses da resistência e da linha dura do regime em Jacarta. Em entrevista à Lusa, a propósito do 15º aniversário do massacre, que se assinala hoje, lamentou ainda que as valas comuns abertas na altura, em Tibar, a cerca de 15 quilómetros de Díli, continuem sem ser descobertas.

.

Sem comentários:

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
This is my blogchalk: Timor, Timor-Leste, East Timor, Dili, Portuguese, English, Malai Azul, politica, situação, Xanana, Ramos-Horta, Alkatiri, Conflito, Crise, ISF, GNR, UNPOL, UNMIT, ONU, UN.