terça-feira, outubro 10, 2006

Notícias LUSA


Hospital e ONU têm planos contingência devido receio mais violência

Díli, 10 Out (Lusa) - O Hospital Nacional Guido Valadares (HNGV), em Díli, e as Nações Unidas elaboraram planos de contingência para enfrentar a eventual deterioração do clima de segurança na capital de Timor-Leste, disseram hoje à Lusa diversas fontes.

A divulgação dentro de dias do relatório da Comissão de Inquérito Independente da ONU, em que serão identificados os culpados pela violência registada em Abril e Maio, está a ser antecedida de medidas para contrariar uma eventual escalada da violência.

Segundo António Caleres Júnior, director do HNGV, "foram reservadas 60 camas de emergência", avaliados os medicamentos em armazém e redefinidas escalas de serviço de médicos e enfermeiros.

"Avaliámos também a capacidade do bloco operatório e estamos a consertar os aparelhos de ar condicionado que estavam avariados, bem como a inventariar os meios de transporte disponíveis", disse António Caleres Júnior.

As medidas de contingência foram adoptadas pelo HNGV durante uma reunião da Comissão de Emergência daquela unidade, que tentou antecipar a resposta para os próximos dias, precisou.

Para António Caleres Júnior, o problema mais complicado de resolver é o da falta de sangue.

"Há problemas no banco de sangue. A situação é mesmo alarmante para que se possa actuar em qualquer situação", acrescentou.

A nível das forças de segurança, as funções e operações previstos nos planos de contingência já estão distribuídas e visam lidar com situações que vão desde a escalada da violência até ataques seleccionados, disse o comissário Antero Lopes, comandante dos actuais menos de 500 efectivos da UNPOL (Polícia das Nações Unidas).

"Estamos preparados para qualquer situação de contingência, nomeadamente a divulgação do relatório. Fizemos vários cenários de contingência. Pode haver um oportunismo (no aproveitamento de actos de violência), mas estou confiante com os recursos que temos, entre efectivos da UNPOL, da Polícia Nacional de Timor-Leste e das forças internacionais, que totalizam cerca de 3.500 efectivos", precisou.

"Estou confiante que com os mecanismos de coordenação e a colaboração da liderança timorense podemos conter eventuais actos de violência", acrescentou Antero Lopes.

A Comissão de Inquérito foi criada pela ONU a 12 de Junho, na sequência de um pedido nesse sentido enviado quatro dias antes pelo então ministro dos Negócios Estrangeiros, hoje primeiro-ministro de Timor-Leste, José Ramos-Horta.

Presidida pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, a Comissão integra ainda a sul-africana Zelda Holtzman e o britânico Ralph Zacklin.

O relatório, que fonte das Nações Unidas disse à Lusa ter sido já entregue ao secretário-geral da ONU, Kofi Annan, vai identificar os responsáveis pela violência registada em Abril e Maio, no âmbito do mandato para estabelecer os factos e circunstâncias relevantes da crise político-militar timorense.

A divulgação pública do texto não tem ainda data marcada, em virtude de estarem ainda a ser feitas as traduções para tétum, português e bahasa indonésio.

Ao longo dos três meses de mandato conferido pelo secretário-geral da ONU, a Comissão ouviu cerca de 200 pessoas e consultou mais de 3 mil documentos.

O relatório incluirá os depoimentos daquelas fontes, e, sobretudo, recomendações que reforcem a responsabilidade, tendo em conta os mecanismos jurídico-legais existentes em Timor-Leste, pelos crimes e violações de direitos humanos alegadamente cometidos particularmente nos dias 28 e 29 de Abril e entre 23 e 25 de Maio.

Nestas datas, a crise político-militar timorense foi marcada por confrontos armados entre facções da polícia e das forças armadas, a que se associaram grupos de civis, armados pelas duas partes beligerantes.

No passado dia 27 de Setembro, ao discursar perante a Assembleia Geral da ONU, o ministro dos Negócios Estrangeiros timorense, José Luís Guterres, afirmou que desde o início da crise, morreram cerca de 100 pessoas em Timor-Leste.

A violência então registada provocou ainda cerca de 180 mil deslocados internos e tem vindo a ser alimentada por confrontos entre bandos rivais, sobretudo na capital, Díli, com efeitos na destruição de propriedade privada e do Estado.

Em resultado da crise, o antigo primeiro-ministro Mari Alkatiri pediu a demissão do cargo, tendo sido substituído por José Ramos-Horta.

Nos dias 28 e 29 de Abril, no final de uma manifestação patrocinada por ex-militares, efectivos das forças armadas enviados pelo então governo liderado por Mari Alkatiri substituíram a Polícia Nacional na contenção dos manifestantes, e nos dias 23, 24 e 25 de Maio registaram-se combates entre efectivos das forças armadas e militares sublevados, em vários pontos de Díli.

EL-Lusa/Fim

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Mais de 2 mil casas destruídas entre Abril e Setembro - Governo

Mais de 2 mil casas destruídas entre Abril e Setembro - Governo

Díli, 10 Out (Lusa) - Mais de 2 mil casas foram destruídas em Timor-Leste entre Abril e Setembro, tendo o governo preparado uma política de reabilitação habitacional que inclui a construção de seis novos bairros, disse hoje o ministro Arsénio Bano.

Em declarações à Lusa, o ministro do Trabalho e Reinserção Comunitária timorense referiu que o governo pretende, em primeiro lugar, "concentrar essa política nos timorenses que continuam nos campos de desalojados e que não possuem meios financeiros para reabilitar ou reconstruir as suas casas".

"A iniciativa política do governo tem três níveis: reabilitação de casas em terrenos privados, reabilitação de casas em terrenos do Estado e reabilitação de casas, pertencentes ao Estado, e que estavam ilegalmente ocupadas", explicou.

Para executar este programa, as autoridades timorenses vão canalizar 10 milhões de dólares (7,9 milhões de euros), previstos no Orçamento de Estado em vigor, e mais 2 milhões de dólares (1,5 milhões de euros) prometidos pela Noruega.

"O objectivo é conseguir que os deslocados que ainda se encontram nos campos regressem às suas áreas de residência", salientou.

Quatro dos seis novos bairros serão edificados em Díli, nomeadamente nas traseiras do mercado de Taibessi, em Quintal Boot, no ex-quartel militar indonésio em Bécora e em Caicoli.

Serão ainda construídos novos bairros em Metinaro, a leste de Díli, e em Liquiçá, a oeste da capital.

A destruição das casas ocorreu durante os dias de violência entre grupos rivais, na sequência da crise iniciada em Abril.

A violência que atingiu Timor-Leste provocou ainda uma centena de mortos, segundo anunciou o ministro dos Negócios Estrangeiros timorense, José Luís Guterres, ao discursar, a 27 de Setembro, perante a Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque.

Devido ao clima de violência e instabilidade, cerca de 180 mil pessoas (18 por cento dos cerca de um milhão de habitantes do país) vivem actualmente em campos de deslocados internos, espalhados por Díli e nos distritos do interior do país.

O número de cerca de 180 mil deslocados é fornecido pelas agências das Nações Unidas e é calculado a partir do total de timorenses que são abrangidos naqueles campos pela distribuição de assistência alimentar.

"A situação de segurança tem dado sinais de melhoria, pelo que a manter-se vamos até ao final deste mês avaliar o verdadeiro número de deslocados e rever as políticas de distribuição de assistência alimentar", anunciou Arsénio Bano .

Muitos dos deslocados deslocam-se durante o dia para as suas casas, ou para o trabalho, e à noite regressam aos campos de acolhimento.

"Queremos saber se o regresso aos campos se deve à distribuição de alimentos ou se continuam a sentir-se inseguros nas suas áreas de residência", acrescentou o ministro.

Para potenciar o diálogo inter-comunitário, o governo, através do Ministério do Trabalho e da Reinserção Comunitária, lançou o Programa "Simu Malu" (expressão em tétum que em português significa "Acolhimento Recíproco"), para o que
envolveu as autoridades locais, designadamente os chefes de "suco" (aldeia) e os líderes dos grupos juvenis existentes em cada das áreas mais afectadas pela violência em Díli.

"Os incidentes que há cerca de duas a três semanas ocorriam com regularidade, por exemplo, na zona do aeroporto, em Comoro, deixaram de se verificar. O mesmo se passa na zona do Hospital Nacional, em Bidau, e na parte de cima do bairro
de Bebonuk, na Rainha da Paz. Agora estamos a trabalhar, envolvendo sempre as autoridades locais, no mercado de Comoro, e em seguida passamos à parte de baixo de Bebonuk, Caicoli e Colmera", destacou.

"Os timorenses têm que começar a respeitar-se uns aos outros. Se existe um problema entre dois timorenses, os outros não se devem intrometer.

Mas vamos precisar de tempo para falar disto com as comunidades", vincou.

EL-Lusa/Fim

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Polícia da ONU só contará com total de efectivos em Janeiro

Díli, 10 Out (Lusa) - A Polícia das Nações Unidas (UNPOL) em Timor-Lest e só contará com a totalidade do seu contingente, de mais de 1.600 efectivos, em Janeiro de 2007, disse hoje à Lusa o comissário português Antero Lopes, comanda nte daquela força.

Aquele contingente deveria estar em Timor-Leste até ao final do ano, ma s atrasos imputáveis às Nações Unidas, na aprovação dos processos de candidatura apresentados pelos países que se disponibilizaram em enviar efectivos, levam a que agora, os 1.608 elementos da UNPOL apenas estejam no país em meados de Janei ro.

Comandante da UNPOL e, interinamente, da Polícia Nacional de Timor-Lest e (PNTL), Antero Lopes conta actualmente com menos de 500 efectivos na força da polícia das Nações Unidas, distribuídos por 11 nacionalidades, mas manifestou-se confiante no continuação do reforço daquele número.

"No final da próxima semana já seremos 600 e na outra semana totalizare mos 800", disse.

Além de Antero Lopes, da PSP, Portugal mantém na UNPOL 127 militares da GNR e cinco da PSP.

Nos próximos dias, referiu Antero Lopes, cerca de 40 efectivos da GNR e da PSP chegarão a Timor-Leste para reforçar a UNPOL.

"O objectivo é termos os 1.608 efectivos previstos na resolução [1704, de 25 Agosto] do Conselho de Segurança da ONU até meados de Janeiro de 2007, mas em Dezembro já devemos ter dois terços daquele total", acrescentou.

Relativamente à PNTL, na sequência da desagregação daquela força de seg urança, relacionada com a crise político-militar desencadeada em Abril passado, em que vários agentes foram mortos em confrontos com militares timorenses, Anter o Lopes recordou o reinício do trabalho dos primeiros efectivos, na última semana de Setembro.

"Os primeiros 50 agentes, do total de cerca de mil registados somente e m Díli que calculamos poderem retomar as suas funções, estão já a prestar serviç o, integrados em equipas com outros elementos da UNPOL", salientou.

Os efectivos da PNTL estão a ser escrutinados para avaliar se não participaram nos actos de violência de Abril e Maio, e se sobre cada um deles não existe nenhuma queixa por violações aos direitos humanos e prática de crimes.

O processo de selecção está a ser feito em conjunto pela Missão Integra da da ONU em Timor-Leste (UNMIT), Procuradoria-Geral da República, Provedoria de Direitos Humanos e organizações não-governamentais, após o que são submetidos a uma formação intensiva de seis semanas.

Neste momento, a manutenção da ordem pública em Timor-Leste é assegurad a por 3.500 efectivos, provenientes da UNPOL, PNTL e forças internacionais.

Segundo Antero Lopes, desde Junho passado, foram já detidas cerca de 500 pessoas envolvidas na prática de crimes violentos e em confrontos opondo grupos rivais.

Estes actos de violência provocaram, nos últimos três meses, pelo menos 10 mortos, disse à Lusa o director do Hospital Nacional Guido Valadares, António Caleres Júnior.

Desde o início da crise, em Abril, foram mortas cerca de 100 pessoas, s egundo afirmou recentemente o ministro dos Negócios Estrangeiros timorense, José Luís Guterres, ao discursar perante a Assembleia Geral da ONU.

No mesmo período, o hospital recebeu 246 casos, entre mortos e feridos, em que a maioria, 87, apresentou sinais de facadas, mas também acorreram, ou fo ram transportados pessoas com ferimentos resultantes de balas (11), flechas (40) ou catanas (23), entre outros.

EL-Lusa/Fim

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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