terça-feira, setembro 26, 2006

Mascarenhas Monteiro declina convite para ir para Timor-Leste

Notícias Lusófonas
25.06.2006

O ex-Presidente cabo-verdiano António Mascarenhas Monteiro acaba de anunciar que já não vai para Timor-Leste. Monteiro decidiu declinar o convite que lhe foi feito por Kofi Annan para ser seu representante especial e chefiar a missão da ONU em Díli. Por trás dessa recusa, estão «reservas» por parte de alguns dos implicados no processo timorense.


Em conferência de imprensa convocada hoje para o efeito, António Mascarenhas Monteiro relatou como foi envolvido no processo timorense, aceitando o «honroso convite» que lhe foi formulado depois de várias rondas negociais com os responsáveis da ONU, a começar pelo secretário-geral da instituição, Kofi Annan.

O último teste nesse sentido, segundo ele, aconteceu na semana passada, no dia 18, em Nova Iorque, quando manteve encontros em separado com Annan e com o seu secretário-geral-adjunto, o francês Jean-Marie Gueheno, responsável para Operações de Manutenção de Paz.

Ao contrário do acertado no dia seguinte não surgiu o anúncio da nomeação do antigo Presidente cabo-verdiano, tendo este viajado para Cabo Verde, aonde chegou na passada sexta-feira.

Neste dia, por volta das 13 horas, recebeu um telefonema de Gueheno, pedindo-lhe mais algum tempo para que a ONU pudesse «resolver pequenos problemas» que surgiram devido à nomeação.

«Eu disse», conta MM, «Eu já sei quais são os problemas: surgiram reservas em relação ao meu nome. Sei que algumas das partes envolvidas e interessadas no processo em curso em Timor não estão muito contentes com a designação do secretário-geral’. (...) Da minha parte não lhes dou tempo algum. Vou dar uma conferência de imprensa na segunda-feira para anunciar que já não estou interessado no exercício dessas funções’.»

Para Mascarenhas Monteiro, diante das «reservas» surgidas, não lhe restava outra atitude. «As funções de representante do SG da ONU são muito amplas, que só podem ser exercidas quando haja boa-vontade de todos os interlocutores. Não havendo essa boa vontade, havendo já um clima de desconfiança, eu não vou entrar nessa», sublinha.

Dando por encerrada a sua «missão» em Timor-Leste, MM salienta que não está «à procura de trabalho» e que neste processo entrou «pela porta grande» e sai «por uma porta ainda muito maior».

Isto não obstante os apelos tanto dos responsáveis da ONU, como dos dirigentes timorenses e do primeiro-ministro de Cabo Verde com quem se encontrou hoje, às nove horas, a pedido de José Maria Neves, para que revisse a sua decisão.

MM afirma ainda que a sua atitude surge por uma questão de honra e dignidade pessoal, bem como pelo respeito que deve ao povo cabo-verdiano.

Questionado por «asemanaonline» se não é pedir de mais num processo como este que haja unanimidade em torno da sua pessoa, MM respondeu: «Eu não queria unanimidade, mas também não quero reservas. Havendo reservas em relação à minha pessoa penso que deixo de ter condições para exercer funções tão importantes como as de representante especial do secretário-geral da ONU».

Embora não tenha sido dito textualmente de onde terão surgido as «reservas», facilmente se conclui que elas partem da Austrália, uma potência que tem dado as cartas na região asiática de que faz parte, em especial em Timor-Leste. Camberra mantém neste momento vários efectivos no terreno para manter a paz e a segurança em Díli.

Não será certamente do seu agrado submeter os seus efectivos ao comando de um lusófono, no caso, António Mascarenhas Monteiro. Isto para não falar dos interesses económicos em jogo: Timor-Leste poderá transformar-se nos próximos anos num grande produtor de petróleo e gás natural.

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2 comentários:

Anónimo disse...

"Da minha parte não lhes dou tempo algum. Vou dar uma conferência de imprensa na segunda-feira para anunciar que já não estou interessado no exercício dessas funções’.»
(...)
MM salienta que não está «à procura de trabalho» e que neste processo entrou «pela porta grande» e sai «por uma porta ainda muito maior»."

GRANDE HOMEM!

Anónimo disse...

É importante ter presente o que recentemente foi escrito num Jornal em Portugal, que de certa forma vai ao encontro dos meus últimos comentários, que não devem agradar muito aos australianos e a alguns timorenses:
“……NÃO ENTENDEM ESSAS PESSOAS QUE APENAS ESTÃO A INVIABILIZAR UM PAÍS? A HIPOTECAR O SEU FUTURO E O FUTURO DOS SEUS FILHOS? A SEMEAR O SOFRIMENTO, A MORTE E A DESTRUIÇÃO? E QUE OS MOTIVOS INVOCADOS SÃO GRATUITOS, PRIMÁRIOS E INCONSEQUENTES? …..NÃO ENTENDEM ESSAS PESSOAS QUE UM ESTADO, PARA SUBSISTIR, PRECISA DE (UM MÍNIMO DE) PAZ, LEI E ORDEM? QUE A VIOLÊNCIA APENAS GERA MAIS VIOLÊNCIA?.....”;

Este vosso servo acrescenta: NUNCA HAVERÁ DESENVOLVIMENTO SEM SEGURANÇA E QUE PARA OS TIMORENSES VIVEREM EM SEGURANÇA O PAÍS TERÁ DE SE DESENVOLVER DE FORMA SUSTENTADA E SEM INTERFERÊNCIAS EXTERNAS QUE CONDICIONEM A VONTADE NACIONAL!

Assim, tudo o que se tem passado recentemente justifica perfeitamente o comentário efectuado no seu excelente Blog, que fico satisfeito estar a incomodar e por isso aqui reitero apesar de alguns “chicos espertos” timorenses e internacionais terem a mania que são donos da verdade e que os outros são todos um cambada de estúpidos e ignorantes! ATENÇÃO AO VELHO DITADO “ VERDADE É COMO O AZEITE, VEM SEMPRE AO DE CIMA”. Conheço em detalhe todos os pormenores da actual crise politico-militar e, por isso, o tempo vai encarregar-se de me dar razão como, aliás, aconteceu até à data com os tristes desenvolvimentos desta crise, que só aconteceu porque os timorenses estão desavindos desde há muitos anos (os intervenientes sabem do que falo). Julgo que seria importante na actual conjuntura dar algum destaque a este comentário (não tiro nem uma virgula):

O que se passa em Timor é um escândalo e uma vergonha patrocinada pelo PR e seus amigos australianos (através de alguns pontas de lança como a sua linda e simpática mulher bem conhecida do também seu especial amigo RH!!!!! e do distinto chefe de gabinete, AP, que tem feito toda a ligação com a oposição e também os amigos australianos – será preciso relatar em pormenor todos os passos que tem dado?) com a utilização e manipulação de Reinado e companhia o que não dignifica o Estado de Direito e a imagem do país e dos timorenses perante a Comunidade Internacional. Já não existe a mesma onda de solidariedade e respeito pelos líderes timorenses, que demonstram não merecer o seu povo nem o sacrifício de todos os que lutaram pela independência. Será que o PR, RH e os restantes intervenientes no golpe institucional ainda não perceberam que podem existir provas muito grave e comprometedoras? E que estão a ser usados pelos políticos do país dos “cangurus” com apoio dos “cowboys”? O PR deixou de estar lúcido e hipotecou todo o crédito e prestigio internacional e mesmo a nível nacional!!! Quando se aperceberem já será tarde porque os australianos vão descartá-los ou fazê-los desaparecer…. Existem de facto essas provas, pois não são apenas os australianos com capacidade de trabalhar “underground”, que serão entregues no momento, local próprios e instâncias internacionais adequadas para evitar manipulações, tendo em vista o processo de impunidade em curso com o patrocínio de alguns responsáveis do sistema judicial e das NU, que também terão de prestar contas!! Já foram enviadas algumas das provas para a sede da ONU, através de canais especiais.

Francamente não está em causa o dever, muito menos o direito, de se tomar firme partido nesta triste e selvática crise politico-militar em que não se olharam a meios para atingir os fins! Eu próprio apesar de dúvidas que subsistem, não me isento de ter opinião e já transmiti a quem de direito tudo o que sabia com as respectivas provas. Este Blog pode incomodar muita gente, mas tem a virtude de permitir a expressão de opiniões, que devem ser respeitadas e não atacadas de forma suspeita e pouco democrática por alguns dos comentadores, que estão perfeitamente cristalizados. Em verdadeira democracia não existe nada tão perigoso como a falta de opinião esclarecida e empenhada. A grande questão que se coloca é muito objectiva! É simplesmente a de saber se a indesmentível e indisfarçável coerência ideológica com que se organizam os campos de opinião numa questão que, na sua essência, pouco tem de ideológico não revela antes de mais uma preocupante facilidade de alinhamento preconceituoso dos políticos e pseudo-intelectuais timorenses. E sobretudo uma perigosa carência de verdadeiros livres-pensadores na sociedade timorense actual. A mim, tanto e tão espontâneo maniqueísmo deixa-me preocupado enquanto cidadão do mundo (como dizia Sócrates, o filosofo) e da lusofonia.

Convém acentuar, que existem muitas instâncias que nos querem por detrás de actores visíveis. ASSIM, RECUSAR TOMAR PARTIDO PELAS FACÇÕES OU INTERVENIENTES DESTA CRISE SIGNIFICA: NÃO TOMAR PARTIDO PARA TOMAR O VERDADEIRO PARTIDO – PELA PAZ E PELAS FORÇAS DA VIDA.

Em síntese e para terminar, podemos dizer que TERÁ DE SER O POVO TIMORENSE, ATRAVÉS DE UMA EFECTIVA MOBILIZAÇÃO NACIONAL E VERDADEIRO SENTIDO DE CIDADDANIA E PATRIOTISMO, a proceder com urgência a uma verdadeira triagem daqueles que não interessam ao país e a encontrar a solução justa e adequada, QUE NÃO PASSE APENAS PELAS VISÕES LUNÁTICAS E UTÓPICAS, DO PR E SEUS AMIGOS, RELACIONADAS COM A FAMOSA BANALIZAÇÃO DA “RECONCILIAÇÃO”, FECHANDO OS OLHOS À JUSTIÇA, TENDO EM VISTA A TOTAL IMPUNIDADE DOS VERDADEIROS RESPONSÁVEIS! NÃO HAVERÁ VERDADEIRA RECONCILIAÇÃO SEM APLICAÇÃO DA JUSTIÇA E DA LEI.
(Convém lembrar o que já foi referido por alguém: “…na questão da reconciliação, sobressairá sempre a permanente duvida sobre a força rectificativa do resultado alcançado. A reconciliação deixa efeitos retroactivos que a seu tempo se farão sentir – isto se não for alcançada com o caminho da justiça e da paz…” Parte dos actuais problemas em Timor estão relacionados com a deficiente gestão do processo de reconciliação conduzido por Xanana!
Este vosso servo continua a acompanhar a situação com muita atenção e voltará a dar notícias. CHACAL

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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