segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Viúvas "loromonu" azedas com Ramos-Horta

*** Pedro Rosa Mendes, da Agência Lusa ***

Díli, 08 Fev (Lusa) - A vida de Natália Bonifácio ficou tão marcada pela morte de Alfredo Reinado que todas as semanas ela põe flores ao major rebelde, em Díli, Timor-Leste.

Na campa de Reinado, num quintal do bairro Marconi, repousa também o marido de Natália, Leopoldino Exposto. O major e o soldado da Polícia Militar morreram juntos no ataque à residência do Presidente da República, José Ramos-Horta.

"Venho aqui todas as quintas-feiras porque foi esse o dia do funeral, no 14 de Fevereiro de 2008", dia de São Valentim e também o dia de aniversário de Natália. A viúva vai fazer esta semana 22 anos.

Natália Bonifácio olha para o 11 de Fevereiro de 2008 de um ângulo oposto ao de José Ramos-Horta, a principal vítima e o principal sobrevivente dos acontecimentos.

É um olhar muito azedo.

"O Presidente fez muitas reuniões e muitas comissões para amansar as pessoas. Qual foi o resultado? Essas pessoas acabaram mortas, como o meu marido", acusou a jovem Natália em entrevista à Agência Lusa.

O azedume de Natália Bonifácio é partilhado por outras dezassete viúvas de militares e polícias mortos, desde 2006, em diferentes incidentes protagonizados por Alfredo Reinado, pelo ex-tenente Gastão Salsinha e pelos peticionários das Forças Armadas.

Os incidentes que deixaram estas mulheres viúvas formam a narrativa "loromonu" (designação dos originários dos distritos ocidentais de Timor-Leste) desde a crise de 2006.

Ali estão "representados" os ataques do grupo de Alfredo Reinado em Abril e Maio desse ano, em Fatuahi e Tíbar, o massacre de polícias em Caicoli, o cerco pelas tropas australianas em Same, em Março de 2007, e os acontecimentos do 11 de Fevereiro de 2008.

"É tudo o mesmo caso", resumem as viúvas ouvidas pela Lusa.

Quatro viúvas, representando quatro datas em nome das outras datas e dos outros mortos, foram recebidas na Presidência da República, em 11 de Novembro de 2008.

"Correu muito mal e o Presidente tratou-nos muito mal", segundo as viúvas, incluindo Natália, entrevistadas pela Lusa em Díli.

"Fomos agradecer a colaboração do Governo pela boa intenção de nos dar apoio em dinheiro. Fomos também perguntar a razão da diferença de compensação entre várias de nós, umas com três e outras com quatro mil dólares, e o que foi recebido pelos peticionários, que levaram oito mil dólares", explicou Laurinda Gomes de Fátima à Lusa.

"Os que morreram já não prestam e os que estão vivos é que são bons?", resumiu Natália.

"Perguntámos também qual era o significado da compensação pela viuvez. Queria dizer que os nossos maridos fizeram bem ou que fizeram mal?", contou Laurinda.

A reunião começou então "a dar para o torto", recorda Laurinda, viúva do soldado Deolindo, um dos quatro homens de Alfredo Reinado mortos no assalto à vila de Same por tropas australianas.

"O Presidente disse-nos que os nossos maridos mereceram morrer porque pegaram em armas contra a nação e por isso eram criminosos", acrescentou a viúva de Deolindo.

"A reunião correu mal assim que a Natália tocou no 11 de Fevereiro", recordou outra das jovens viúvas, Olga do Carmo.

"É uma grande dor e uma grande ferida que não fecha. A nossa última esperança era o Presidente, que é a autoridade superior. Se ele tratou mal viúvas como nós, a quem vamos pedir justiça?", interroga Olga, cujo marido, Isidoro de Jesus Chaves, "que não era peticionário", morreu no confronto em Tíbar, em Maio de 2006.

Olga do Carmo "deu um murro na mesa" na discussão com o Presidente, contam as suas companheiras.

"Os nossos maridos não tiveram culpa pela crise de 2006. Foi culpa dos líderes que criaram o divisionismo", afirmou Olga à Lusa.

"O 11 de Fevereiro foi uma manobra arranjada para os matar. E quero que o Governo pelo menos respeite o nome deles", frisou Natália Bonifácio na entrevista.

"Quero que o governo reconheça que eles morreram pela paz", acrescentou.

Além do grupo das 18 viúvas, há outro grupo organizado com viúvas de civis e com mulheres de arguidos do 11 de Fevereiro, como a de Gastão Salsinha.

A Lusa não obteve resposta a um pedido de entrevista ao Presidente da República sobre os acontecimentos de há um ano.

Lusa/fim

1 comentário:

Anónimo disse...

Quem semeia ventos, colhe tempestades...

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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