Pedro Rosa Mendes, da Agência Lusa
Díli, 08 Fev (Lusa) - Angelita Pires, ex-companheira do major Reinado, afirmou numa entrevista à Agência Lusa em Díli que "Alfredo gostava muito do Presidente da República".
Alfredo Reinado "preocupava-se muito quando tinha reuniões com o Presidente" José Ramos-Horta, recordou Angelita Pires numa longa entrevista.
"Quantas vezes o Alfredo me ligava?, 'Honey (sic) eu preciso de cinquenta dólares para comprar café e bolachas, ele (José Ramos-Horta) não pode beber água da torneira ou lá do rio'", recorda Angelita Pires.
"Alfredo estava à espera de uma resposta (no dia 10 de Fevereiro). Se ele tivesse intenções de magoar (José Ramos-Horta), poderia tê-lo feito em Maubisse, no Suai, nos distritos", nota a ex-companheira do major rebelde.
Alfredo Reinado foi morto a 11 de Fevereiro de 2008 na residência de José Ramos-Horta, em Metihaut, Díli, pouco depois de entrar no perímetro com um grupo de homens armados.
Angelita Pires, ex-intérprete e funcionária da Procuradoria-geral da República, "estudante de Direito", é co-arguida no processo aberto na sequência do ataque de Metihaut e de um outro, na mesma manhã, contra a caravana do primeiro-ministro Xanana Gusmão, a sul da capital.
Angelita Pires insiste que "Alfredo não foi a Metihaut para eliminar ninguém mas para ser eliminado". Afirma também que "o Presidente da República foi vítima da mesma conspiração".
É, no entanto, em relação ao chefe de Estado que Angelita Pires tem mais ressentimento, porque diz ter sido acusada e condenada na praça pública por José Ramos-Horta.
"Quem vai responsabilizar-se pela morte do meu filho?", pergunta Angelita Pires, que afirma ter perdido uma gravidez de "um bebé planeado com Alfredo" Reinado, em Abril de 2008.
"O Presidente da República causou-me muito sofrimento mas não sou rancorosa. Tenho que entender que ele também foi vítima e que sofreu bastante e continua a sofrer", afirmou Angelita Pires à Lusa.
"Só queria era o meu nome de volta. E a verdade", frisa Angelita Pires, que vai ser "acusada de 'low level conspiracy' (sic)" (conspiração de baixo nível), segundo informações que recebeu através da embaixada da Austrália em Díli.
Angelita Pires tem dupla nacionalidade australiana e timorense. Ambos os passaportes foram apreendidos por ordem judicial. Tem também naturalidade portuguesa.
Para Angelita Pires, "chegou o tempo de rectificar". É sua convicção que "algo se passou naquela noite" que fez Alfredo Reinado descer de madrugada da aldeia de Lauala, distrito de Ermera, a duas horas de jipe a sudoeste de Díli.
Angelita Pires, nesse domingo 10 de Fevereiro, subiu a Lauala para almoçar com Reinado e encontrou o major "nervoso" e a casa movimentada com elementos da organização MUNJ.
O major terá perguntado a esses elementos "is it on or is it off?" ("há ou não há?"), aludindo a um possível encontro com o Presidente da República, cuja caravana estava imobilizada pela chuva em Maliana (oeste).
Angelita Pires diz desconhecer tudo o resto e nega ter sido "uma má influência" sobre Alfredo Reinado.
"Isso é uma forma de lavar as mãos. Eles (os líderes) viram uma mulher e decidiram usá-la como bode-expiatório. Não digo que sou bastante atraente, mas fica tudo muito 'exciting' na imprensa", acusa Angelita Pires sobre as inúmeras histórias que circulam sobre ela.
"Escreveram que eu era uma Mata-Hari. Eu nunca dormi com qualquer político. Nunca. Sou uma pessoa muito privada", afirma a ex-companheira de Reinado.
"Muita acoisa aconteceu em 2006. Muita coisa", acrescenta..
"As F-FDTL e a PNTL foram utilizadas como instrumentos para servir ambições privadas. O Alfredo também, conforme ele contou abertamente.
Foi usado ao serviço daqueles interessados em desmontar o Governo da Fretilin. Depois foi traído", disse Angelita Pires.
"Tenho convicção de que o 11 de Fevereiro (de 2008) foi consequência de 2006", conclui a mulher que tinha "planos de casamento" com Alfredo Reinado para o final de 2008.
A Lusa não obteve resposta a um pedido de entrevista ao Presidente da República sobre o 11 de Fevereiro de 2008.
Lusa/fim
segunda-feira, fevereiro 09, 2009
Companheira de Reinado diz que "Alfredo gostava muito do Presidente"
Por Malai Azul 2 à(s) 20:11
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
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Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
1 comentário:
É curioso como o PR não quer acusar aquele que disparou contra ele, apesar de ter toda a certeza de quem é, mas já não teve pejo em acusar a Angelita.
Nesta entrevista Angelita botou a boca no trombone. Entre outras coisas, confirma que Reinado "Foi usado ao serviço daqueles interessados em desmontar o Governo da Fretilin."
Portanto, está confirmado o que Reinado disse no célebre depoimento que gravou pouco tempo antes de morrer e que circulou num DVD.
A propósito (ou talvez não): a agenda do PR anda mesmo cheia...
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