segunda-feira, outubro 27, 2008

O LAGO QUE QUERIA SER RIO

Carlos Correia Santos

Um lago triste. Ele era um lago triste. Sentia-se isolado de tudo. Sentia-se preso, constantemente contido, não conseguia se espalhar pelo mundo. Sua maior vontade? Ser um rio. Os rios, sim, são felizes. Os rios riem. Afinal, eles correm por todos os cantos, conhecem as mais diferentes margens, passeiam por cidades das mais diversas. Os rios se renovam e ainda mergulham no mar e viram infinito. O lago queria ser um rio.

Um dia... na verdade, numa certa tarde... uma chuva mansinha veio visitá-lo. E cada gota daquela garoa começou a cair sobre o lago trazendo diálogo. As primeiras gotas quiseram saber: “Por que pareces assim tão melancólico?”. O lago respondeu com a transparência de suas águas sinceras: “Não suporto mais ficar parado aqui eternamente. Queria circular. Viajar. Eu queria ser correnteza. Tenho inveja dos rios”. As novas gotas que caíram prosseguiram com a conversa: “Mas os rios não riem mais. Não sabias disso, não?”.

O lago ficou raso de surpresa. Quis entender: “E o que se passa?”. Novas gotas caíram e contaram: “Os rios choram mares de agonia. Eles sofrem com os maus tratos que andam recebendo. As pessoas têm despejado neles muita coisa ruim”. Um novo grupo de gotas, já furiosas, completou: “O Amazonas me disse que vive com vontade de dar as mãos para as Iaras e fugir. Ele está mergulhado na mágoa. Lixo, desrespeito, imprudência. Tudo isso tem navegado por ele”. Mais e mais pingos chegando e relatando: “O São Francisco? O grande Velho Chico?... Ele está exausto!... Já não é mais tão robusto como antes. E sabes por quê? Poluição! Ele foi tão poluído que está se afogando na melancolia... Fala-se que ele até pensa em pedir para que Padre Cícero o esconda no céu”.

Uma rajada mais intensa de chuva segredou: “E o Tietê? Aquele pobre rio que passa em Soa Paulo? Esse daí está para dormir de vez. O tadinho está tão sujo, mas tão sujo que até perdeu a memória. Ele nem sabe mais que é um rio”. O lago chorou. Chorou rios de infelicidade. Percebeu que tinha sorte. Muita sorte de ainda estar ali, quieto e saudável. A chuva passou. Os pingos se calaram. O lago olhou para o sol que começou a brilhar fortemente e perguntou: “E agora, caro amigo Astro-Rei? O que pode ser feito para curar as dores dos rios?”.

Lançando raios e mais raios de esperança, o sol sentenciou: “Isso só mudará quando os seres humanos se banharem em amor e consciência. Quando cada ser humano lembrar que não é um lago isolado... Quando cada ser humano lembrar que suas ações são como rios que correm e inundam tudo em volta... Quando o ser humano lembrar que precisa ser um mar de boa conduta... Só então não mais choverá tantas tristezas”.


*Carlos Correia Santos é poeta, contista e dramaturgo, autor selecionado no Edital Curta Criança do Ministério da Cultura e premiado pela Funarte na categoria teatro infanto-juvenil. Contatos: carloscorreia.santos@gmail.com/ contista@amazon.com.br

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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