segunda-feira, setembro 22, 2008

O CONTO SOBRE A SOMBRA

Carlos Correia Santos

Foi numa certa manhã que a história de Inácio se iniciou. O menino percebeu que, ao contrário do que sempre acontecia, a luz do sol matinal não estava entrando pela janela de seu quarto.

Sempre deixava aquela janela aberta para que a luz do dia banhasse seu aposento. Pois alguma coisa tinha mudado. No lugar da luminosidade amiga, havia uma estranha e perturbadora sombra. Inácio se angustiou. O que significaria aquilo? Um gelado medo subiu por sua espinha.

Sombras são sempre sinais de coisa ruim, acreditava o garoto. Deveria ir até a janela para ver do que se tratava? Deveria? Ah, não! Não tinha coragem... Sentou-se numa cadeira no fundo do quarto e começou a pensar e pensar. Será que alguma coisa de mal aconteceria com sua vida?

Lembrou-se de seus pais. Amava seus pais. E se eles adoecessem? Santo Deus... E se um deles partisse?!

A angústia aumentou e aumentou. Percebeu naquele instante que nunca tinha mostrado a seus pais o quanto os amava. Tomou uma decisão. Não deixaria mais passar nenhum dia sem dizer para eles: amo vocês. De repente, lembrou-se de sua irmã. Será que aquela sombra significava algum problema que aconteceria com ela? Estava brigado com sua irmã havia dois dias. Tudo por causa de uma bobagem. Ela tinha quebrado um brinquedo seu. Que bobagem, disse para si mesmo! Que grande bobagem. Terrível é quando o bem-querer se quebra. Não podia deixar que se quebrasse o bem-querer que sentia por ela. Não podia. Faria as pazes com sua irmã. Isso!

Faria as pazes o mais rápido possível. Olhou para a sombra e se inquietou ainda mais. O que ela significava? Recordou-se de seus amigos. De cada um deles.

Chegou à conclusão de que não os tratava como eles mereciam. Só procurava por eles quando precisava de algum favor. Não os procurava apenas para saber como eles estavam. E pior: sempre que um amigo mostrava estar agoniado com algo, dava um jeito de se afastar. Não tinha paciência para escutar seus problemas. Aquela sombra... Será que alguma coisa de muito sinistra estava para se passar com algum de seus amigos? Procuraria por eles. Por todos eles. Faria questão de mostrar que estava disposto a ajudá-los no que fosse preciso. Ai, ai, ai... aquela sombra. Estava muito, muito assustado com aquela sombra... O que ela significava, afinal? O que ela significava?

Depois de muito temer e tremer... Inácio atinou: só havia uma maneira de entender o que estava se passando. Precisava ir até a janela. Precisava enfrentar aquela sombra. Fosse o que fosse.

Puxou o ar pelas narinas, reuniu toda a coragem que era possível, levantou-se e caminhou até o parapeito de olhos fechados. Posicionado entre as persianas, foi abrindo o olhar devagar... Bem devagar... Quando por fim teve a visão do que estava diante de sua janela, Inácio entendeu uma das maiores lições da vida. Sempre que as sombras aparecem, elas trazem consigo um convite...

Um convite para pensarmos sobre as nossas dificuldades... Um convite para refletirmos sobre o que na vida fazemos de bom ou de mau. Nem sempre as sombras são sinais de perigo. Elas podem ser apenas um alerta para que passemos a dar conta das coisas que são realmente valiosas...

Quando Inácio abriu os olhos, ele viu que a sombra que cobria sua janela vinha de uma linda árvore que havia nascido em seu quintal. Uma protetora e majestosa árvore que ali estava apenas para lhe oferecer beleza, tranqüilidade e suculentos frutos.

*CARLOS CORREIA SANTOS é poeta, contista e dramaturgo brasileiro.
Contatos: carloscorreia.santos@gmail.com / contista@amazon.com.br

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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