terça-feira, setembro 09, 2008

Macau reforça autonomia ao servir de plataforma entre China e lusofonia - Moisés Fernandes

Macau, China, 08 Set (Lusa) - O papel de plataforma de Macau na ligação entre a China e os países de língua portuguesa contribui para o “reforço da autonomia” do território dentro da grande China, considerou o académico português Moisés Fernandes.

Em declarações à Agência Lusa, Moisés Fernandes, presidente do Instituto Confúcio e que hoje proferiu em Macau uma conferência sobre o papel do território como plataforma de ligação económica e comercial entre a China e a lusofonia, considerou que o trabalho do território lhe confere um maior peso na política chinesa.

“Este papel de ligação, que Macau já desempenhou no passado e que desapareceu com o fim do império português, permite ao território assumir um papel na política externa da China, centrada nos países de língua portuguesa”, disse.

E é nesse papel de ligação ao mercado externo, que Moisés Fernandes recordou não ser uma competência local, já que a diplomacia e a defesa estão a cargo do Governo Central, que está o reforço da autonomia “através da conquista de uma posição internacional”.

“Não sendo Macau uma praça financeira com a dimensão internacional de Hong Kong, ao desempenhar este papel de plataforma entre a China e os países de língua portuguesa, através do fórum, reforça o seu peso político quer interna quer externamente”, disse.

O académico considerou também que o fórum de Macau pode “ajudar a levar São Tomé e Príncipe para uma relação política com a China” já que aquele país africano, que mantém relações diplomáticas com Taiwan, é um observador do fórum de Macau e não está excluído da componente comercial da estratégia chinesa.

“Além de Angola, não podemos descurar que São Tomé e Príncipe e a Guiné-Bissau são também países onde existe petróleo”, afirmou.

Com um crescimento económico que Moisés Fernandes classificou de “avassalador”, a China precisa de recursos naturais que possui mas que “não são suficientes para o seu desenvolvimento”.

“Então compra ao exterior, aproveita Macau para a sua ligação com a lusofonia - principalmente o Brasil e África - e proporciona pacotes de ajuda excelentes como empréstimos a juros mais baixos e investimentos em infra-estruturas que em África são muito necessários”, explicou.

Sem estruturas no país que proporcionem a formação dos quadros necessários a dominarem o português e o chinês, a China recorre a Macau e dá à cidade a oportunidade de reassumir o seu papel de ponte.

“Ao contrário do espanhol, que é ensinado em 68 departamentos na China, o português só é ensinado em quatro universidades, o que não dá resposta às necessidades do Estado”, disse.

Moisés Fernandes considerou que “enquanto a China mantiver taxas de crescimentos elevados, o papel de Macau continuará a ser reforço enquanto plataforma”, mas haverá, na lusofonia, outras alianças que podem originar ganhos maiores.

“Em Angola, a China vai buscar petróleo, mas Angola é longe e os riscos de segurança do transporte do petróleo e a instabilidade política no percurso até à China são elevados e por isso Timor-Leste pode ser uma alternativa”, referiu.

O investigador acrescentou que está a ser trabalhada “uma convergência de agenda política entre Portugal, Indonésia, Malásia e a China para mitigar a hegemonia australiana em Timor-Leste, abrindo caminho a Pequim para aceder aos recursos naturais do país”.

“Não haverá nenhum acordo escrito mas uma convergência de agendas centrada nas questões económicas”, disse, salientando que este será um “trabalho de paciência” e que é feito com pequenos passos, como a abertura de escolas onde se pode aprender mandarim, como hoje acontece em Díli, e outros investimentos chineses que estão a ser realizados no país.

“Depois não nos podemos esquecer que a todos estes países interessa diminuir o peso australiano em Timor-Leste”, concluiu.



JCS.

Lusa/fim

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