Carlos Correia Santos*
Há meses, muitos meses, Deco não conseguia mais sonhar. O menino caía na cama, fechava os olhos e acordava no dia seguinte com a certeza de que não vivera nenhuma aventura durante o sono. As coisas ficaram ainda mais esquisitas quando percebeu algo curioso: tinha parado de sonhar exatamente no dia em que ganhara um especial presente: a gaiola com o bonito passarinho que enfeitava seu quarto. O bichinho parecia triste. Não cantava. Vivia mofino.
Esquisito. Muito esquisito. Veio outra noite e lá estava Deco sem conseguir pregar os olhos e descansar. Desolado, começou a falar sozinho: "Que chato isso! O que está acontecendo, afinal? Por que não consigo mais ter sonhos? Nem um sonhinho! Nada!".
De repente, para a sua total surpresa, a ave presa na gaiola se pronunciou: "Se tu conhecesses o segredo dos passarinhos, saberias por qual razão paraste de sonhar...". Nosso amigo pulou da cama, assustado. Santa Maria, estava tendo pesadelo, era isso?! O pequeno ser trancado na gaiola voltou a se manifestar: "Quando nossas asas são presas, os sonhos param de voar". O garoto tremia. Não conseguia reagir. Tremia e tremia. Estava ouvindo um animal falando!!! Tremia e tremia. Cheio de suavidade, o pássaro achou graça e fez um sereno pedido: "Tire-me daqui... Tire-me daqui e eu explico tudo". Deco foi, voltou. Olhou para o ser falante, afastou-se. No final, bastante nervoso, abriu a portinhola e trouxe para fora a criaturinha com todo cuidado.
Apertada entre os dedos de seu suposto dono, a ave fez novo pedido: "Deixe-me solto. Vais entender o que esta se passando. Deixe-me solto". O jovem atendeu a solicitação. Abriu as mãos. Viu seu companheiro atravessar a janela e partir no rumo do céu noturno. Mas o passarinho não foi embora. Não. A incrível criatura parou no ar e fez um inesperado convite para Deco: "Venha enxergar o que quase ninguém enxerga. Venha conhecer o nosso segredo". O outro se aproximou das persianas escancaradas e descobriu uma cena belíssima. No silencio da madruga, milhões de pássaros indo de lá para cá. Eles entravam nos quartos das casas e prédios, paravam sobre as camas de todo mundo, ouviam os desejos de cada um e zarpavam em direção às nuvens, levando todas aquelas informações.
Quando chegavam no ponto mais distante de todas as alturas, encontravam os anjos e para eles entregavam as vontades e mistérios que haviam coletado. Sentados em torno da lua, os anjinhos transformavam tudo aquilo em imagens cheias de fantasia. As aves, então, voltavam para a terra e plantavam todos aqueles sonhos nos corações dos adormecidos. Deco estava emocionado com aquele espetáculo. O antigo prisioneiro que morava em seu quarto falou: "Esse é o segredo dos passarinhos. É, sim. Temos a missão de transportar o sonhar de todo mundo. As pessoas que nos prendem perdem a capacidade de fazer a imaginação bater asas por aí".
O bichinho voltou para perto do menino. Pousando em seus dedos, continuou a conversa: "Agora a escolha é tua. Vais me colocar de novo na gaiola ou vais me deixar livre?". O rapazinho suspirou profundamente, sorriu e respondeu: "Quero que meus sonhos nunca parem de voar. É claro que eu te liberto. Para sempre!". Assim, como quem espalha poesia pelo universo, o passarinho se foi.
Seu canto encantado ecoou por todos os lugares, por todas as dimensões. Deco fechou a janela, deitou-se em sua cama e adormeceu tranqüilamente.
Carlos Correia Santos é poeta, contista e dramaturgo premiado pela Funarte na categoria infanto-juvenil em 2003 e 2005 e no Edital Curta Criança do Ministério da Cultura. Contatos: carloscorreia.santos@gmail.com
Ilustração: Wendell Pimenta. Contato: wendellpimenta@gmail.com
terça-feira, agosto 19, 2008
Conto: O SEGREDO DOS PASSARINHOS
Por Malai Azul 2 à(s) 19:48
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
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