Carlos Correia Santos
Ivan respirou fundo e entrou no prédio enorme cheio de chaminés e torres. Foi recebido por uma espécie de anjo transparente, um ser que parecia feito de cristal. A criatura disse com suavidade:
“Bem-vindo à Encantada Fábrica de Mães. O que desejas?”. O menino se impacientou: “Ora, o que desejo? Se isso aqui é uma fábrica de mães, uma mãe é o que eu desejo, não é?”. O anjo quis saber: “Mas o que aconteceu com a tua? Tu a perdeste? Ela se foi?”. Ivan respondeu com tristeza: “Ela nunca existiu... Sou órfão. Nunca tive mãe”. O ser de cristal sorriu e contestou: “Isso é impossível. Todos nós temos uma em algum lugar”. O garoto se aborreceu: “Sou órfão, já disse! Como é? Vou poder ver ou não essas mulheres que vocês fabricam aqui? Quero escolher uma perfeita, sem defeitos”. A transparente figura determinou: “Entre. Tente fazer a sua escolha”.
Os dois, assim, seguiram pela infinita fábrica. Ivan viu tudo. Viu como nascem as mães. O primeiro passo é o coração. Só os melhores corações são eleitos. Depois, o colo. Um colo materno tem que ser feito do material mais macio do mundo. Tudo, cada detalhe tem que ser puro, suave, iluminado. Os braços para preciosos abraços. As mãos para as melhores carícias. Os lábios para dizer as mais sábias e educativas palavras. Os olhos para transmitir amor sereno e eterno.
Ivan viu, por fim, várias mães prontas, a espera de serem adotadas. Sempre acompanhado do anjo de cristal, examinou uma por uma. Tentou ver qual levaria consigo. Aquela baixinha com riso delicado? Não... Faltava algo nela. Aquela outra mais alta com rosto afetivo? Também, não...
Faltava alguma coisa... Acabou conhecendo centenas de candidatas. De todas as raças, de todos os jeitos, de todas as alturas, modos e formas. Nenhuma, porém, o conquistou. Nenhuma era a sua...
Após andar por toda a fábrica, o jovem sentou-se num canto e chorou. O Anjo Transparente o consolou: “Não, chore, meu querido... Não chore”. O pequeno contou: “Sinto falta de minha mãe.
Ela se foi quando eu era muito pequeno. Dizem que foi para o céu. Mas eu não agüento mais de tristeza. Por isso vim até essa fábrica. Quero encontrar uma nova alma maternal. Não quero mais ser só”.
O ser cristalino revelou: “Achas que tua mãe não está mais contigo? Tu te enganas. Ela foi chamada para viver em outro plano, mas logo voltou e sempre te acompanhou. Ela sempre esteve perto de ti. Só não podias ver. Mas ela sempre esteve perto”. O menino se levantou e olhou dentro dos olhos do anjo. Quis saber: “Como assim? Ela sempre me acompanhou?”.
A doce criatura explicou: “Há um tipo de mãe que não está aqui nessa fábrica. As mães que se transformam em anjos transparentes. Como eu, meu querido. Parece que não estamos mais ao lado dos nossos filhos, mas estamos, sim! O verdadeiro amor materno nunca vai embora”. Uma lágrima de cristal caiu pelo rosto da encantada. E ela confessou: “Eu nunca te abandonei, meu menino. Sempre estive juntinho de ti. E sempre estarei”. Ivan também chorou, mas de felicidade. Emocionado, o garoto deitou-se devagar no colo de seu Anjo de Cristal. Deitou-se e dormiu no colo de sua mãe.
*CARLOS CORREIA SANTOS é poeta, contista e dramaturgo brasileiro.
Contatos: carloscorreia.santos@gmail.com / contista@amazon.com.br
segunda-feira, agosto 25, 2008
Conto - O ANJO DA FÁBRICA DE MÃES
Por Malai Azul 2 à(s) 07:59
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
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