domingo, março 09, 2008

Konis Santana - 10 anos depois da sua morte

Dez anos se passam hoje, 10 de Março, sobre o prematuro desaparecimento de Konis Santana.

Esta figura da Resistência Timorense, é abordada pelo professor José Mattoso no seu livro “A Dignidade – Konis Santana e a Resistência Timorense”.

Deixo aqui, algumas passagens desta obra, para que reflictamos um pouco sobre esse povo que tanta tinta em feito correr...

“...o respeito timorense não envolve subserviência, nem implica adulação. Inversamente, o respeito não exclui a amizade, o carinho, o afecto ou a familiaridade. Pelo contrário: percebi que pouco e pouco que o afecto cresce, até, na mesma medida que o respeito. Também não exclui a rudeza nem sequer agressão ou a violência, se alguém pensa que não está a ser tratado como devia. (...) De qualquer maneira, o sentido da dignidade, no seu aspecto de independência e de pouca consideração pela hierarquia europeia, foi considerado por um bom observador do fim do século XIX como uma característica peculiar dos Timorenses”.(pág.10)

“O sentido da dignidade é, pois, um dado fundamental da mentalidade timorense” (pág. 12).

“ Os Timorenses podiam suportar tudo, menos o desprezo. Nesse sentido, a resistência não podia ter nenhum desfecho senão a independência.”(...) “ Pátria ou morte,” (...) (pág.13)

Um povo pobre, sem dinheiro, em armas, sem poder, convenceu o mundo inteiro acerca da justiça que lhe assistia, e obrigou os poderosos que o oprimiam a aceitar a sua libertação.”(pág.14)

“Mas não foi pelas armas que venceram. Foi pela determinação, a persistência, a persuasão”. (pág. 15).

Fítun Taci

2 comentários:

Anónimo disse...

O importante para o país Timor Leste é que a elite política e mais esclarecida que se revela ao povo eleitor para obter legitimidade para exercer a governação seja digna dos seus heróis... claro, dentro das regras préviamente acordadas...não é digno de exercer o poder quem manipula as regras ... é básico para haver Estado - senão fica a imagem do feiteceiro, do mágico que consegue a arte de obter o coelho da cartola.
Diz-se que a verdade é como o azeite que vem sempre à tona da água - a dignidade também está na tona da pele do verdadeiro e bom timorense e esta vencerá os feiticeiros e os mágicos.
A dignidade é um valor que une o povo, homens e mulheres de Timor Leste.
Foi esse mencionado valor que trouxe a independência, que se traduziu na capacidade de resistir a todo o custo e sem olhar a sacrifícios - pela dignidade tudo ou nada - vida ou morte.
Malai X

Anónimo disse...

Ainda sobre Konis Santana


Gostava de deixar ainda aqui, um pouco mais do livro do professor Mattoso sobre a figura de Konis Santana. Nas págs 298 e 299, diz: (...)"Por isso Konis defenderia sempre uma política de defesa e de salvaguarda das tradições e cultura próprias de cada etnia, das suas línguas e dos seus valores.
E depois de apresentar a sua opinião sobre o uso do tétum-praça ou do tetum-terik, fala também da língua indonésia. Qualquer que seja o partido que venha a governar em Timor, não deve ignorar que milhares de jovens o falam. É importante para fomentar as relações comerciais e diplomáticas da futura nação timorense com o país vizinho (DRT 6237.104). Quanto ao português (...) foi por meio dele que a Resistência deu a conhecer ao mundo a sua luta. Além disso, é fundamental para a preservação da identidade timorense, porque é dele que depende a herança histórica e cultural que exprime o seu carácter como nação independente.(...) Para evitar que o português se torne uma língua 'em vias de extinção', Konis defende que se adopte como língua oficial da futura nação independente, e que, por meio dela, Timor se venha a integrar na comunidade do mundo lusófono. Espera que Portugal contribua para o ensino da língua portuguesa e a introdução de livros e material didáctico, e colabore na formação de professores (DRT 6225.148, p. 27; 5010.050, pergunta 8).
O que importa, porém, é o valor que Konis atribui ao factor cultural na formação da identidade timorense, e a sua convicção de que sem ele, o povo não pode defender a sua própria dignidade como povo. Três meses antes da sua morte, numa carta em tétum aos estudantes da UNITIM, apresenta as suas ideias acerca do papel que a formação universitária deve representar para o futuro da nação. A sua principal ideia é a de que os intelectuais estão ao serviço do povo. Devem interpretar as aspirações dos Timorenses e formar os técnicos e especialistas necessários à pátria.Não devem querer ser doutores ou engenheiros para ganharem mais dinheiro (...) 'Imi buka matenek atu servi ita nia Rai, atu harii Rai Timor Loro Sa’e, ita nia Pátria' ('Procurai o saber para servir a vossa terra, para construir Timor Lorosa’e, para construir a vossa Pátria') (DRT 6237.055). Poucos meses antes da sua morte, ao reflectir sobre o que deseja para o povo maubere, Konis não sonha com uma economia próspera, nem com o potencial militar, nem com instituições políticas exemplares, mas apenas com uma cultura própria, ao serviço do povo, que preserve os valores tradicionais, que seja um factor de unidade e que leve os outros povos a respeitar a sua independência. Os lorikus devem querer usar a sua própria língua para cantar o hino da liberdade no cume das montanhas azuis.”
Konis não morreu, porque os heróis não morrem, prolongam-se na vida enquanto a memória estiver viva e “houver alguém capaz de consagrar a sua vida à justiça e à liberdade do povo de Timor. Mas a justiça e a liberdade nunca chegam ao fim, nunca se realizam plenamente. Tem de haver sempre alguém capaz de lutar por elas. (...) Talvez seja esse o sentido profundo da frase que Konis escreveu em grandes letras num dos baús em que guardava os seus documentos “Hau hanoin katak funu ka teru sei nafatin”(“Creio que a luta e o sofrimento nunca acabam”). ( pág 303 ).
Talvez seja tempo de reflectimos sobre o pensamento de Konis Santana, que apesar de um guerrilheiro simples, sempre se interessou por aprender mais e nos deixou um legado de profunda reflexão sobre os seus desejos e ambições para o seu Povo Maubere!
Fitun Taci

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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