02-12-2007 16:25:52
Pedro Rosa Mendes, da agência Lusa
Díli, 2 dez (Lusa) - Começa segunda-feira no Tribunal de Recurso, em Díli, o julgamento do major Alfredo Reinado, apesar de o ex-comandante da Polícia Militar timorense continuar foragido.
Alfredo Reinado é acusado de homicídio, rebelião e posse ilegal de armas.
O despacho de acusação do Ministério Público cita também 16 membros do grupo de Alfredo Reinado, uns indiciados apenas por posse ilegal de arma, outros também acusados de homicídio.
As acusações contra Alfredo Reinado e o seu grupo centram-se nos acontecimentos em Fatuahi, em maio de 2006, e na vila de Same, em março de 2007.
Alfredo Reinado, ex-comandante da Polícia Militar timorense (PM), foi detido em 25 de julho em Díli e evadiu-se em 30 de agosto da prisão de Becora.
O major é acusado de um crime de rebelião, quatro crimes de homicídio na forma consumada e dez crimes na forma tentada, e em co-autoria com outros acusados, em relação aos acontecimentos em Fatuahi, nos dias 23 e 24 de maio de 2006.
Nestas datas, o grupo de Alfredo Reinado emboscou e atacou, sucessivamente, duas viaturas das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL) e uma da Polícia Nacional (PNTL).
Alfredo Reinado é referido como "desertor" e todos os elementos do seu grupo são referidos como "ex-militares das F-FDTL" e "ex-agente da PNTL".
A acusação do Ministério Público é deduzida contra 17 acusados.
Todos eles são antigos elementos das F-FDTL e quase todos pertenciam à unidade da PM.
Todos fizeram parte do grupo que deixou a prisão de Becora "por ordem" de Alfredo Reinado a 30 de agosto de 2006.
Apenas um, José Soares, foi, até hoje, capturado.
O despacho acusa também Nixon da Costa "Galucho", ex-agente da PNTL, detido dois dias após o ataque das ISF a Same, ferido.
Alfredo Reinado, que deu inúmeras entrevistas e fez freqüentes declarações políticas nos últimos meses, justificou a fuga da prisão porque "todos os meios legais tentados não resultaram em nada".
"Nós tornamo-nos o pesadelo de Xanana (Gusmão) e de (José) Ramos-Horta e dos outros políticos medrosos", declarou Alfredo Reinado a um canal indonésio, após ter escapado ao ataque de Same, em março.
"Até hoje, não houve nenhuma carta que me exonerasse. Continuo a ser um soldado e continuo a ser o comandante da Polícia Militar. Os meus homens continuam a ser-me leais", acrescentou Alfredo Reinado.
O caso de Alfredo Reinado, politicamente delicado, é objeto de um longo processo de negociações, paralelo e independente do processo no qual começa hoje a ser julgado em Díli.
O Presidente da República de Timor-Leste afirmou, sobre a recorrente falta de colaboração do major, ter "uma paciência de milhares de anos" para lidar com o fugitivo.
"Eu tenho costela asiática e costela judia européia. A minha costela asiática dá-me uma paciência de milhares de anos de História e de civilização", afirmou José Ramos-Horta em julho, a propósito de um impasse que, no essencial, se prolongou até agora.
A posição do Estado timorense tem sido repetida pelo Presidente da República: "O senhor Alfredo Reinado não pode circular com armas pesadas, mas para salvar a sua face e o seu orgulho e permitir o diálogo e uma solução definitiva do caso dele, via justiça, propus que vá para Ermera, mas só com pistolas".
Todas as operações militares ou policiais contra Alfredo Reinado "estão congeladas" por ordem do Presidente da República.
"Não quero mais qualquer derramamento de sangue neste país. Que esteja ao meu alcance evitá-lo, evitarei".
A insistência na resolução judicial do caso Reinado pelo juiz do processo, o português Ivo Rosa, provocou esta semana uma resposta irada da Presidência da República, através de um comunicado que classifica a ação do magistrado de "arrogante" e "colonial" Alfredo Reinado, no mesmo dia do comunicado, escreveu uma carta ao secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, insistindo na "discriminação regional" como base do "conflito armado timorense".
"Nós representamos o descontentamento público", resume a carta, co-assinada por Alfredo Reinado como "comandante interino da Polícia Militar e comandante da Força Naval" e pelo líder dos peticionários das Forças Armadas, tenente Gastão Salsinha.
Alfredo Reinado juntou em Ermera, em 15 de novembro, centenas de peticionários numa parada militar e ameaçou descer a Díli se a sua situação não for resolvida em breve.
segunda-feira, dezembro 03, 2007
Julgamento de major timorense foragido começa amanhã
Por Malai Azul 2 à(s) 07:14
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
6 comentários:
Post de Ana Gomes no seu blog...
Tão amigos que nós somos...
Hortolices
"Durão Barroso para Nobel da Paz".
Pelo que fez pelo Iraque ?
Ou pelo que fez por Timor?
Enquanto MNE, até 1995, fez o que lhe competia por Timor. E fez bem. Fez, decerto, mais e melhor do que vários dos seus predecessores todos juntos.
Mas quem se esqueceu que Durão Barroso, líder da oposição, em 1999, no momento crucial se enganou redondamente, não querendo que se arriscasse e se fizesse o referendo de 30 de Agosto – sem o qual Timor Leste nunca teria tido a independência? Só talvez o Presidente Ramos Horta, que também não queria lá muito...
O que vale é que o Presidente Ramos Horta já várias vezes reconheceu que estava enganado. Aquele referendo ou se fazia então – ou nunca mais se faria!
Valeu Xanana Gusmão, interpretando os sentimentos da resistência de dentro, que sabia o que o povo queria. E que assumiu a responsabilidade de arriscar e de propor ao CNRT que arriscasse e pedir o mesmo a Portugal. Mesmo sabendo que se poderiam pagar pesados custos. É pelo destemor em correr certos riscos, em momentos cruciais, que se medem os líderes.
A imaginação e a versatilidade são, reconhecidamente, apanágios do Presidente Ramos Horta. Quando é que um destes dias o vamos ver a propôr também o Nobel para o Ministro Ali Alatas, que até passou a trabalhar pela paz em Timor- Leste, ao negociar e tornar possível o referendo de 1999 e sobretudo depois, ajudando a convencer os indonésios a deixar Timor Leste seguir o seu caminho e os refugiados a retornar ? .
[Publicado por AG] [27.11.07] [Permanent Link]
Timor-Leste: Homenagem à Frente Armada - mais vale cheque do que nunca
Por Pedro Rosa Mendes, da agência Lusa
Díli, 02 Dez (Lusa) - Timor-Leste homenageou hoje 205 veteranos da Frente Armada. Um deles, de uniforme, foi receber o cheque calçando chinelo num pé e bota da tropa no outro.
O pé esquerdo está doente.
É uma imagem que pode resumir o grupo a quem hoje o Estado timorense agradeceu o sacrifício da luta: velhos combatentes com um pé nas velhas Falintil e outro nas novas Forças de Defesa.
"Para a grande maioria, é a primeira vez, desde há 32 anos, que recebem uma ajuda financeira para fazer frente a profundas carências e poderem realizar desejos antigos", afirmou o primeiro-ministro, Xanana Gusmão.
Cada um dos veteranos recebeu um "reconhecimento" de 9.600 dólares americanos (cerca de 6.500 euros), sob a forma de vale a depositar num dos bancos com agências em Timor-Leste.
Chinelo e bota, em passo coxo e solene diante de um Xanana Gusmão emocionado e cansado, resumem também o país ao largo: o Timor-Leste do presente, nação inquieta entre as feridas antigas da resistência e as feridas frescas da independência.
Havia civis e militares entre os 205 veteranos, todos com mais de 15 anos na Frente Armada ou, como sintetizou um assessor das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), "são `gentlemen` que comeram muita erva e raízes".
Havia peticionários - 3, e um faltou -, excluídos das Forças Armadas em Março de 2006, incluindo o major Tara Ablai Ana, hoje em traje civil.
Havia um soldado, Armindo Silva "Maukade", condenado há apenas quatro dias no Tribunal de Recurso a 10 anos de prisão no caso do massacre de 8 polícias timorenses em Maio de 2006.
Havia, envolvido na cerimónia, um Governo que senta no Conselho de Ministros antigos resistentes e antigos integracionistas.
Havia um primeiro-ministro que também é o ex-comandante supremo da guerrilha - ou talvez o contrário para os homens que hoje choraram diante dele e as mulheres que lhe fizeram continência.
"Mais vale tarde do que nunca", declarou Xanana Gusmão, de fato e gravata, discursando perante veteranos que conhece e abraça como "Kada Fi" (sic), "Nixon", "Alende", "Maputo", "Cuitado", "Cuba" e uma lista infindável de nomes de código nas várias línguas timorenses.
"Passaram 8 anos sobre o fim da guerra e a grande maioria dos heróis e veteranos da libertação encontra-se ainda a viver na pobreza e sem um mínimo de condições de dignidade", afirmou Xanana Gusmão.
"Sem eles, muitos de nós estaríamos ainda nas prisões de Cipinang ou na diáspora em Moçambique, Lisboa ou Nova Iorque", acrescentou.
Nas bancadas do GMT, o ginásio do "campus" universitário de Díli, a assistência era quase apenas composta por alunos de várias escolas, a quem Xanana Gusmão teve de repreender o mau comportamento e a desatenção.
De resto, as escolas saíram cedo da estufa do ginásio e as bancadas ficaram vazias.
Os mais veteranos dos veteranos da Frente Armada - "que no total não são mais de 250 pessoas", segundo um elemento ligado à organização da homenagem aos 205 de hoje - assistiram à sua própria coroação largamente ignorados pelo resto do país.
Não esteve presente o Presidente da República, José Ramos-Horta.
Na pilha dos cheques dos que não compareceram à cerimónia ficou um em nome do chefe-do-Estado-Maior das F-FDTL, brigadeiro-general Taur Matan Ruak, e outro para o presidente da Fretilin e ex-presidente do Parlamento, Francisco Guterres "Lu Olo".
"Vou construir uma casa com este cheque", afirmou à Agência Lusa um dos veteranos, o septuagenário Matias Magno, que veio à homenagem vestindo a lipa tradicional, uma espécie de pano-saia.
"Timor-Leste é uma nova nação. Nós também temos que arranjar uma nova vida com este cheque", afirmou à Lusa outro veterano idoso, Frederico Araújo.
Também o major Tara pensa numa vida nova em casa nova: "Aquela onde vivo foi queimada em 1999. Arranjei-a só com umas placas de zinco. Agora posso finalmente reconstruí-la", disse à Lusa.
Outros veteranos explicaram o mesmo padrão de prioridades que Francisco da Costa Belo, ex-maqueiro da guerrilha.
"Um bocadinho para guardar. Um bocadinho para a casa. Um bocadinho para a escola do meu filho", explicou o veterano, contando pelos dedos.
"E um bocadinho para uma namorada nova", completou, rindo, outro velho de cheque na mão.
"Cerimónias semelhantes à de hoje deverão ter lugar quando estiver apurada toda a verdade e separados os verdadeiros dos falsos combatentes", explicou Xanana Gusmão aos veteranos.
O apuramento da lista de 205 veteranos "levou cerca de 50 horas de discussões", afirmou um dos seis elementos envolvidos na comissão criada para esta homenagem.
Exemplo da dificuldade, na antevéspera da cerimónia o nome de José Pereira, administrador do subdistrito de Lolotoe, distrito de Bobonaro, teve de ser retirado: esteve 24 anos na resistência, mas em 1999 foi comandante de secção de uma milícia pró-indonésia.
Em Timor-Leste, o passado fica ainda demasiado perto.
Lusa/Fim
http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?article=311114&visual=26&tema=7
Transcrição por não estar on-line:
Estação das chuvas
Diário Económico, 3/12/07
Por Pedro Rosa Mendes
1. Timor-Leste está como a sua meteorologia. Altas temperaturas e dias sufocantes adivinham borrasca.
Vai ter início hoje, 3 de Dezembro, o julgamento de Alfredo Reinado. Um dos crimes por que o major vem acusado, o mais grave, é o de rebelião. Outro, o de posse ilegal de material de guerra. Também por crime de homicídio.
Alfredo Reinado vai ser julgado segundo a legislação de um país e de um regime – a Indonésia de Suharto – que valorizava (e protegia) mais o Estado do que a vida humana. Não é apenas a ordem jurídica anterior a 1999 que sobreviveu à independência timorense. Em Timor-Leste continua hoje a “vigorar” uma ordem moral invertida, típica de um contexto de resistência, em que a dissidência é um acto patriótico e a obediência é, afinal, uma forma de cobardia.
Xanana sabe-o, porque foi essa a resiliência timorense.
Esta distopia moral representa o mesmo: uma sabotagem da cidadania e, portanto, o desprezo pela coisa pública.
A geração de Xanana insiste em mostrar um caminho à geração de Reinado. A geração de Reinado não rejeita apenas seguir por esse caminho; nem sequer aceita calçar os sapatos da geração de Xanana. Ficam-lhe, aliás, largos.
A geração da luta e a geração integrada partilham, hoje, apenas um valor forte entre si: o desafio, a insolência, a fúria fácil, em suma, a rebeldia. Um detalhe perigoso: a nova rebeldia privilegia a atitude em detrimento da causa.
Reinado sabe-o.
2. Em ditadura, a rebeldia criava heróis. Em democracia, cria foras-da-lei. Uns e outros disputam hoje, contudo, uma legitimidade única e una.
Com a parada militar de há uma semana, Alfredo Reinado fez o seu primeiro xeque-ao-rei: preencheu, em Ermera, com centenas de peticionários das Forças Armadas, o vazio criado pelo próprio Xanana Gusmão, uma semana antes, em Aileu.
O primeiro-ministro convocara os 592 peticionários para uma reunião. Apareceram apenas 20.
Como é caso de escola, o vácuo expandiu-se. Primeiro, na retórica. Esta semana, Reinado e Gastão Salsinha escreveram ao secretário-geral da ONU. Pediram-lhe que mediasse um “acantonamento” para solucionar o “conflito militar timorense”.
A “zona”, mesmo que apenas mental, cresce – no medo.
Díli, entretanto, é uma favela retalhada por 53 campos com 30 mil deslocados internos, onde a situação humanitária apodreceu ao ponto de constituir também a principal preocupação de segurança.
Em surdina – nas agências internacionais, no Governo, na população, até na Igreja -, cresce um cansaço e um ressentimento inverosímil com uma franja dos deslocados. É a impaciência com os deslocados que politizaram a sua tragédia. E com os que traficam às claras o que lhes é oferecido. Ou os que escolhem entrar nos campos para alugar as suas casas a estrangeiros. É, enfim, um ressentimento com a intolerância da desgraça.
Vários campos de deslocados multiplicam, em Díli, outras “zonas” onde se expandem bolsas de ingovernabilidade. O magnetismo dos campos sobre uma larga juventude sem emprego, numa cidade dividida pela territorialidade dos grupos de artes marciais, completa a bomba-relógio.
A tudo isto, o sistema revela uma aflitiva incapacidade de resposta. O último sinal, preocupante, veio da Presidência da República, que, a bem das “negociações” com Reinado, fez fogo sobre o juiz português que insiste na via judicial, num comunicado caceteiro e xenófobo.
Das Nações Unidas, por fim, não se esperam milagres. A delegação do Conselho de Segurança que esteve em Díli mostrou uma ignorância que irritou até as chefias da missão internacional em Díli.
3. Na primeira queixa no seio das Forças Armadas, em Janeiro de 2006, os signatários eram 159. Dias depois, na primeira manifestação, eram já 418. Depressa ficaram 592. Xanana Gusmão tem dito que “Alfredo é Alfredo, peticionários são peticionários”. Ainda é verdade. Mas é no mato, hoje como ontem, que se forjam solidariedades novas entre os homens.
Tudo isto num verdadeiro Estado de Direito é impensável.
Os criminosos, prendem-se e são levados à Justiça.
Os idosos e as crianças timorenses são os que mais sofrem e são os que mais trabalham para sobreviver.
Não merecem este TIMOR de conflitos.
"Todas as operações militares ou policiais contra Alfredo Reinado "estão congeladas"[...]"
Aqui está um grande equívoco: as operações policiais, ou outras, não são feitas "contra" ninguém. Trata-se, simplesmente, de capturar alguém que estava preso e se evadiu, a fim de levá-lo a julgamento.
Não vamos distorcer as coisas ao ponto de parecer que os polícias é que são os bandidos, e estes as vítimas.
Ha interferencia constante do PR no sistema judiciario.
Nota-se ainda conflito de interesses no caso do Reinado.O advogado de defesa do Reinado, Sr Benevides Correia faz parte do Conselho de Estado e o outro advogadodo Reinado, o Sr. Paulo Remedios e conselheiro juridico do Presidente da Republica.
Como podemos tolerar esta situacao? Sao tantos atropelos...
Como pode o Tribunal fazer justica, se os titulares dos orgaos de soberania intereferm constantemente? Se as FSI e a UNPOL nao prendem Reinado, a culpa e do PR.
Quando terminara esta farsa? Quando os nomes dos conspiradores forem revelados.
Bi Fehok
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