Equipa do INEM salvou vida a criança timorense
Díli, 31 Dez (Lusa) - A equipa do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) estacionada em Timor-Leste, integrada no contingente militar da GNR, foi decisiva para salvar no dia de Natal a vida de uma criança timorense, disse hoje à Lusa fonte médica.
Segundo Rodrigo Gorayeb, médico da equipa do INEM, o acto assistencial em que participou foi "o caso mais complexo" que enfrentou na sua vida profissional. Em causa estava a sobrevivência do pequeno Franco, uma criança de nove anos que ficou gravemente ferida em consequência de uma pedrada na cabeça, que lhe provocou afundamento do crânio.
O incidente ocorreu na manhã do dia 25 de Dezembro, quando elementos de dois grupos de artes marciais rivais se digladiavam nas proximidades da sua casa.
Transportada para o Hospital Nacional Guido Valadares (HNGV), a criança teve a sorte de pouco depois de ter dado entrada nas urgências ali ter chegado a equipa médica do INEM, que acompanhava um marginal igualmente ferido com gravidade, depois de ter sido apanhado e quase linchado por populares. "A gravidade do estado do pequeno Franco era evidente. O afundamento do crânio estava a pressionar o cérebro e era uma questão de tempo", recordou o médico à Lusa.
Não tendo sido possível efectuar a evacuação de emergência para a Austrália, o corpo clínico do HNGV aproveitou a presença no hospital do médico do INEM, neurocirurgião desde 1999, e optou-se pela operação, apesar da falta instrumentos básicos. A operação durou cerca de três horas. Foi primeiro necessário perfurar e remover a parte do osso fracturado e em seguida o hematoma que se formou, garantir a coagulação sanguínea, suturar a veia e fechar tudo de novo", salientou.
O sucesso da operação levou a que fosse dada alta hospitalar ao Franco no passado dia 29, e a ser marcada a retirada dos pontos para o próximo dia 02 de Janeiro.
"Deve ter sido um milagre de Natal, dada a gravidade do ferimento e o perigo que a criança corria. Estávamos num grande dilema. Se não se fizesse nada, e com um prognóstico tão reservado, era muito difícil que sobrevivesse", acrescentou. Nos próximos dois meses o calo ósseo que se vai formar vai ajudar a proteger a zona afectada e o Franco vai poder fazer uma vida normal como qualquer criança", garantiu.
À distância quase uma semana do sucedido, Rodrigo Gorayeb reconhece que houve uma "conjunção feliz" de acontecimentos que possibilitaram salvar a vida da criança.
O INEM mantém desde o dia 04 de Junho uma equipa em permanência em Timor-Leste, que tem como missão principal assegurar a assistência médica aos militares da GNR, e ainda apoio à comunidade portuguesa e aos timorenses. Com missões de cinco semanas, as equipas do INEM, revezam-se em Díli, sendo a actual formada além de Rodrigo Gorayeb, pela enfermeira Isabel Costa e o técnico de emergência Álvaro Monteiro.
No total, já foram prestados 1110 actos médicos, com as escoriações e diarreias a representarem a maior parte dos casos apresentados. A equipa do INEM, que dispõe de equipamento de emergência, desde material de reanimação, de desfibrilação, um ventilador, material de trauma, material cirúrgico e medicação variada para qualquer eventualidade, garante ainda assistência a três campos de deslocados, com uma média semanal de 100 casos.
EL-Lusa/Fim
Diário de Notícias – 31 Janeiro 2006
"Timor-Leste não deve depender apenas de mim"
O Presidente de Timor-Leste, Xanana Gusmão, anunciou que não se vai candidatar à reeleição no escrutínio previsto para Abril. "Já estou velho e cansado. Timor-Leste não deve depender apenas de mim", disse o Chefe do Estado, na sexta-feira, em Díli. Xanana referiu ainda desejar fazer algo pelo país "fora do Governo", manifestando o seu desejo de ser "jornalista, fotógrafo e chefe de redacção".
Esta semana foi alcançado um consenso sobre as datas para a realização das eleições no próximo ano em Timor-Leste. As presidenciais deverão realizar-se em princípios de Abril e as legislativas em Agosto. As datas concretas serão divulgadas pelo Presidente em Janeiro. Em Abril de 2002, Xanana Gusmão tinha vencido o escrutínio com 82% dos votos expressos.
Depois da crise desencadeada em Abril com a demissão de 600 efectivos das forças armadas timorenses por alegada discriminação étnica - que acabaria com um saldo de 60 mortos -, as condições de segurança melhoraram significativamente nas últimas semanas, apenas com confrontos esporádicos de grupos rivais. A crise provocou também mais de 180 mil deslocados, que se refugiaram em campos de acolhimento por receio da violência.
Terminou ontem o prazo dado aos 28 mil timorenses que ainda viviam nestes campos em Díli para saírem, sendo que a partir de agora não contam mais com o apoio das agências da ONU nem de organizações não governamentais. Isto significa o fim da distribuição de ajuda alimentar nos campos, bem como do abastecimento de água e electricidade. O auxílio será garantido apenas aos que saírem dos campos e aceitarem o acolhimento temporário em locais preparados pelo Governo.
A urgência da saída dos refugiados, sobretudo dos campos do Hospital Nacional, em frente do Porto de Díli e da Missão da ONU, e do Aeroporto Internacional, deve-se a múltiplos incidentes que têm ocorrido nestes locais nas últimas semanas. A vida do interior destes campos piorou também com o início da época das chuvas no país.
Um responsável da ONU em Timor-Leste confirmou que a Al-Qaeda ameaçou atacar os interesses da organização no país, devido ao papel desempenhado no processo de independência. "Em 2000, 2001 e 2002 havia informações atribuídas a Ussama ben Laden ou ao seu grupo que indicavam que ele iria actuar contra a ONU por ter contribuído para a separação de Timor-Leste da Indonésia", afirmou Atul Khare, sem dar mais pormenores.
The Sydney Morning Herald - Monday, January 1, 2007
How Fearful Australia Deserted East Timor
by Tony Stephens
JUST three months after Indonesia invaded East Timor 30 years ago, the Australian government of the prime minister, Malcolm Fraser, was covertly supporting the tiny colony's complete integration into its giant neighbour, according to cabinet documents from 1976, released today.
The 1976 cabinet papers, released under the rule that keeps them secret for 30 years, show that while the foreign minister, Andrew Peacock, was saying publicly Indonesian forces should withdraw and there should be a genuine act of self-determination, Australia's defence chiefs were taking a realpolitik view.
A defence committee report of February 5 noted that although Indonesia was unlikely to take military action against Australia or Papua New Guinea, "Indonesia is a power with long-term potential for a significant assault against Australia".
The report went on: "Attempts to deny Indonesia its objective and to secure its co-operation in a military withdrawal fromEast Timor and in a genuine act of self-determination are therefore likely to meet intractable political and practical difficulties and ultimately to prove futile."
Paradoxically, more than two decades years later, in 1998, a member of that original Coalition ministry, the Prime Minister, John Howard, was a key player in ensuring East Timor gained independence in a referendum.
The 1976 committee comprised Sir Arthur Tange, the head of the Defence Department, General Sir Francis Hassett, the chief of staff of the defence forces, Alan Renouf, the head of foreign affairs, and Gordon Jockel, the director of the Joint Intelligence Organisation. They said Australia could object to the use of force, but it was in the nation's best interests to keep a low profile over the issue. And they warned against supporting Fretilin's "hard-core leadership", who had links with "radical international elements".
Privately, the government accepted East Timor's integration with Indonesia as a fait accompli. A strategic defence review in September argued: "As the alternative is an essentially weak state, open to outside interference, the defence interest is served by East Timor's incorporation in Indonesia."
Peacock had recommended to cabinet in February that the government continue to criticise the use of force, "ask for the withdrawal of Indonesian forces" and "ask (with little hope) for a genuine process of self-determination". His submissions paper said: "Indonesian forces are already well on their way to integrating East Timor into Indonesia. The tragedy is that integration might have been achieved in more peaceful ways but that is now history.
"There is no tangible Australian national interest, e.g. trade or security, directly involved in East Timor. If anything, the strategic preference would be for integration … Australia's capacity to alter the course of events in Timor was limited and is now very limited indeed."
The defence papers will not resolve debate over perhaps the most painful Australian exercise in foreign affairs since World War II, until the country's involvement in Iraq. Most of the relevant records were released in 2000, following public pressure and with the support of Gough Whitlam.
Critics claim Whitlam gave Indonesia's president Soeharto a "green light" to take over the former Portuguese colony by force. Whitlam's own records go back to correspondence between Antonio Salazar, the Portuguese dictator, and Robert Menzies, where Menzies does not appear to counter Salazar's contention that East Timor was economically and politically non-viable.
Files from meetings between Whitlam and Soeharto show Whitlam's two basic points were that Timor should become part of Indonesia but that "this should happen in accordance with the properly expressed wishes of the people …"
One question is whether Whitlam pushed hard enough for an act of self-determination. Peacock's paper criticises the Whitlam option as realpolitik. Yet the Fraser-Peacock line appears little different. Peacock rejected the option of cutting off economic and military aid and withdrawing the ambassador, arguing: "While such steps would be publicly applauded by some sections of opinion in Australia, the damage which would be caused to the relationship with Indonesia rules them out."
The Age (Melbourne) - Monday, January 1, 2007
China Intervention in Timor Feared
by Russell Skelton, Canberra
THE Fraser cabinet was warned by a powerful committee of defence chiefs that a prolonged war of independence by Fretilin rebels could lead to intervention by Vietnam or China in East Timor.
A national intelligence assessment, presented to cabinet two months after Indonesia's brutal incorporation of East Timor, urged the Government to mollify Indonesian interests, saying Timorese self-determination was an unrealistic goal.
The 26-page document, which clearly shaped Timor policy, took no account of rights abuses or the problem of 140,000 displaced Timorese.
Instead the assessment said: "It would not be in Australia's strategic interests that Indonesia be frustrated in the absorption of East Timor or that the process be complicated or delayed. "This would enhance the Fretilin group's political status and both encourage and facilitate its development of connections with countries interested in supporting it against Indonesia."
It also cautioned cabinet against becoming too closely associated with any United Nations peacekeeping force or token act of self-determination.
History shows that the assessment was well wide of the mark. On August 30, 2001, two years after voting for independence in a UN-sponsored referendum, East Timor held its first democratic elections. Despite Australia's intervention in the process, relations between Canberra and Jakarta, although strained, did not break down.
The 1976 assessment was prepared by the Defence Committee, which included the most influential figures in the defence and civilian establishment. Chaired by Sir Arthur Tange, its members included Joint Intelligence Organisation director Gordon Jockel.
Contained in the top-level analysis was a warning that China and Vietnam might come to the aid of Fretilin. The assessment said "Fretilin's hardcore leadership" had aligned itself with "national liberation" movements and was seeking aid from Beijing and Hanoi to support an armed struggle.
Concern was expressed that Indonesia could play a destabilising role in Papua New Guinea if the relationship between Canberra and Jakarta were allowed to sour over Timor.
The committee's assessment also included a document drafted by Jockel, as chairman of the National Intelligence Committee, which reveals the Australian public was kept in the dark about Indonesia's secret activities in Timor in the lead-up to the armed takeover of the former Portuguese colony. Australian intelligence knew the following:
* A year before Indonesia's 1975 invasion of East Timor, President Soeharto had approved the introduction of special forces into Timor and was planning covert options for military intervention.
* Indonesia already had 2500 troops in East Timor almost eight weeks before Fretilin's unilateral declaration of independence on November 28, 1975, which Jakarta used to justify its invasion.
* By February 1976 some 200 Indonesian troops had been killed along with 600 Fretilin resistance fighters. The fighting had displaced more than 100,000 people and created more than 40,000 refugees.
Despite these facts, the Fraser government accepted the advice that Jakarta would eventually pacify East Timor and there was little Australia could do.
In the unlikely event that a Fretilin government did emerge, the intelligence committee believed it would be "poor and weak" and would promote regional instability.
On February 9, cabinet decided to continue former prime minister Gough Whitlam's policy of bowing to Indonesian interests by not pressing for Timorese self-determination. Cabinet, fearful that Australia could become a base for a Fretilin government in exile, also ordered a crackdown on the group's activities and visits.
Cabinet decision 200 said in part: "In respect of the possible involvement in any eventual process of self-determination for the people in East Timor, the (Foreign Affairs and Defence Committee of Cabinet) agreed not to take any decisions at this stage …"
The thrust of the intelligence advice presented to cabinet concerned the need to preserve Australian interests, which meant keeping Soeharto in power and the relationship with Indonesia on a sound footing. There was concern that a hard-line group of generals could emerge to topple Soeharto, replacing him with a more "combative leader".
The Defence Committee said that from a strategic point of view it shared Indonesia's concerns about East Timor's future, but it did not accept the concerns were urgent enough to have ruled out political handling of the situation or warranted seizure of territory by force.
The Australian - Monday, January 1, 2006
E Timor takeover troubled Peacock
Patrick Walters, National security editor
THIRTY years ago the Fraser government grappled with the consequences of the Indonesian takeover of East Timor.
The 1976 cabinet papers show the new government having to reconcile itself to the fact that it could do nothing to alter the integration of East Timor into Indonesia. The government had to determine whether it would take a strong moral stance in condemning the Indonesian invasion - risking a rupture in relations with Jakarta - or adopt a more pragmatic position.
"It's a choice between what might be described as Wilsonian idealism or Kissingerian realism," Australia's ambassador to Indonesia, Richard Woolcott, cabled home in January 1976.
"The former is more proper and principled but the longer-term national interest may well be served by the latter. We do not think we can have it both ways."
In February 1976, cabinet considered a paper from foreign affairs minister Andrew Peacock, which essentially accepted the Woolcott line but tried vainly to salvage some moral rectitude.
"Australia's capacity to alter the course of events in Timor was limited and is now very limited indeed. However, the government should not connive in a forceful Indonesian takeover," Mr Peacock's submission said.
Mr Peacock said the government should voice its opposition to the use of force to resolve a problem, "especially one so close to its borders".
He noted that Australia would shortly be called upon to express a view about East Timor to the UN Security Council.
The Fraser government's position had been to criticise publicly and privately the use of force by Indonesia, call for the withdrawal of Jakarta's troops, ask for a genuine process of self-determination, and "show willingness in private to consider favourably Australia's participation in any international presence which might replace the Indonesian presence in East Timor (the possibility of any such presence being established is very slight)".
"I have applied this policy while admitting to myself that Indonesia is most unlikely to be deterred from her present course and that incorporation of East Timor into Indonesia is very likely to happen," Mr Peacock submitted. The foreign minister said he had taken due account of the "great importance" of Indonesia to Australia and had sought to limit the damage to the relationship with Jakarta. Australia quietly acquiesced in the Indonesian takeover of East Timor and soon moved to recognise de facto the incorporation.
The Australian - Monday, January 1, 2006
Visas refused for Fretilin
Patrick Walters
THE Fraser government refused visas to prominent East Timorese left-wingers forced into exile after the Indonesian invasion of the former Portuguese colony in late 1975.
The Fretilin members included Mari Alkatiri, who last year stepped down as East Timor's first prime minister, and Rogiero Lobato, who recently served as interior minister in the Alkatiri government.
Thirty years ago, the Coalition government of Malcolm Fraser was concerned about the possibility of Australia being used by the Fretilin resistance movement as the base for a government in exile.
Defence and Foreign Affairs Departments advice was not to give Fretilin, then engaged in a liberation struggle against Indonesia's armed forces, any political oxygen.
ONU: Ban Ki-moon nomeia indiano chefe de gabinete e haitiana para porta-voz
Nações Unidas, Nova Iorque, 31 Dez (Lusa) - O novo secretário-geral das Nações Unidas, o sul-coreano Ban Ki-moon, anunciou hoje ter nomeado o veterano diplomata indiano Vijay Nambiar seu chefe de gabinete e a jornalista haitiana Michelle Montas sua porta-voz.
Ki-moon, que assumirá o cargo na terça-feira, garantiu à imprensa que e stas nomeações servem como a "base sólida" da sua equipa que lhe permitirá "prosseguir o programa de reformas do secretariado para proporcionar continuidade e mudança".
Antigo embaixador indiano na ONU e vice-conselheiro da defesa nacional, Nambiar tem sido, desde Março, conselheiro especial do secretário-geral cessante, Kofi Annan, numa série de assuntos, além de servir de elo de ligação com os 1 92 embaixadores junto das Nações Unidas.
"Conheço Nambiar há muito tempo e partilhamos uma profunda confiança e respeito mútuo", sublinhou Ki-moon.
Quanto a Michelle Montas, começou a carreira de jornalista nos anos 70, denunciando, com o marido, as violações de direitos humanos, a corrupção política e a violência patrocinada pelo Estado na rádio Haiti-Inter.
Obrigada ao exílio duas vezes nos anos 80 e em 1994, Montas viu o marido ser assassinado em 2000 e o seu guarda-costas no Natal de 2002 e, perante uma série de ameaças, acabou por encerrar a rádio e fugir para Nova Iorque em Fevereiro de 2003.
Foi porta-voz da Assembleia-geral da ONU e é actualmente chefe do serviço francês da rádio das Nações Unidas.
AR-Lusa/Fim
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terça-feira, janeiro 02, 2007
Notícias de 1 e 2 de Dezembro de 2006
Por Malai Azul 2 à(s) 19:26
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
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Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
5 comentários:
Tradução:
The Sydney Morning Herald – Segunda-feira, Janeiro 1, 2007
Como a Austrália temerosa abandonou Timor-Leste
Por Tony Stephens
Somente três anos depois de da Indonésia ter invadido Timor-Leste há 30 anos atrás, o governo Australiano do primeiro-ministro, Malcolm Fraser, estava a apoiar encobertamente a total integração da pequena colónia no seu vizinho gigante, de acordo com documentos do gabinete de 1976, liberados.
Os documentos de 1976 do gabinete, liberados sob a lei que os mantém secretos durante 30 anos, mostra que ao mesmo tempo que o ministro dos estrangeiros, Andrew Peacock, dizia publicamente que as forças Indonésias se deviam retirar e que devia haver um acto genuíno de auto-determinação, os chefes de defesa da Austrália estavam a tomar uma visão de política real.
Um relatório do comité de defesa de 5 de Fevereiro anotava que apesar de ser improvável que a Indonésia desenvolvesse qualquer acção militar contra a Austrália ou a Papua Nova Guiné, "a Indonésia é um poder com potencial a longo prazo para um assalto significativo contra a Austrália".
O relatório continuava: "Tentativas para negar à Indonésia os seus objectivos e para garantir a sua co-operação numa retirada militar de Timor-Leste e num acto genuíno de auto–determinação vão por isso provavelmente encontrar dificuldades políticas e práticas intratáveis e no final vão provar que são fúteis."
Paradoxalmente, mais de duas décadas depois, em 1998, um membro desse ministério original de Coligação, o Primeiro-Ministro, John Howard, foi um autor chave em garantir que Timor-Leste ganhasse a independência num referendo.
O comité de 1976 compreendia Sir Arthur Tange, o responsável do Departamento da Defesa, General Sir Francis Hassett, o chefe de pessoal das forças de defesa, Alan Renouf, o responsável dos negócios estrangeiros, e Gordon Jockel, o director da Organização Conjunta dos Serviços de Informações. Disseram que a Austrália podia objectar o uso da força, mas que era do melhor interesse da nação manter um perfil baixo sobre o assunto. E avisaram contra o apoio à “liderança de centro duro” da Fretilin, que tinha ligações com "elementos radicais internacionais ".
Secretamente, o governo aceitou a integração de Timor-Leste na Indonésia como um facto consumado. Uma revisão da defesa estratégica em Setembro argumentava: "Dado que a alternativa é no essencial um Estado fraco, aberto à interferência do exterior, os interesses de defesa são servidos melhor pela incorporação de Timor-Leste na Indonésia."
Peacock tinha recomendado ao Gabinete, em Fevereiro, que o governo continuasse a criticar o uso da força, "peça a retirada das forças Indonésias " e "peça (com pouca esperança) um processo genuíno de auto -determinação". O seu documento de desistência dizia: "As forças Indonésias já se dirigem bem no caminho de integrar Timor-Leste na Indonésia. A tragédia é que a integração podia ter sido alcançada de modo mais pacífico mas isso já pertence à história”.
"Não há nenhum interesse nacional Australiano real, isto é de comércio ou de segurança, envolvido directamente em Timor-Leste. Se (não há) nenhum, a preferência estratégica será a integração … a capacidade da Austrália para alterar o rumo dos eventos em Timor era limitada e agora é na verdade muito limitada."
Os documentos da defesa não resolverão o debate sobre talvez o mais doloroso exercício Australiano em negócios estrangeiros desde a II Guerra Mundial, até ao envolvimento do país no Iraque. A maioria dos documentos relevantes foram liberados em 2000, no seguimento de pressão pública e com o apoio de Gough Whitlam.
Críticos afirmam que Whitlam deu ao presidente Soeharto da Indonésia uma "luz verde " para ocupar a antiga colónia Portuguesa pela força. As próprias anotações de Whitlam remontam à correspondência entre António Salazar, o ditador Português, e Robert Menzies, onde Menzies parece não reagir à contenção de Salazar de que Timor-Leste era inviável económica e politicamente.
Arquivos de encontros entre Whitlam e Soeharto mostram que os dois pontos básicos de Whitlam eram que Timor-Leste devia tornar-se parte da Indonésia mas que "isso devia acontecer de acordo com o desejo do seu povo de modo adequadamente expresso …"
Uma questão é se Whitlam fez força suficiente para um acto de auto -determinação. Os documentos de Peacock criticam a opção de Whitlam como sendo de política real. Contudo a linha Fraser-Peacock mostram poucas diferenças. Peacock rejeitou a opção de cortar a ajuda económica e militar e de retirar o embaixador, argumentando: "conquanto tais passos seriam aplaudidos publicamente por alguns sectores de opinião na Austrália, os prejuízos que podiam causar às relações com a Indonésia tornam-nos inviáveis."
The Age (Melbourne) – Segunda-feira, Janeiro 1, 2007
Receada a intervenção da China em Timor
Por Russell Skelton, Canberra
O gsabinete de Fraser foi avisado por um comité poderoso de chefes de defesa que uma guerra de independência prolongada pelos rebeldes da Fretilin podia levar à intervenção pelo Vietname ou pela China em Timor-Leste.
Uma avaliação dos serviços de informação nacionais, apresentada ao Gabinete dois meses depois da brutal incorporação de Timor-Leste, urgia o Governo a tranquilizar os interesses Indonésios, dizendo que a auto-determinação Timorense era um objectivo irrealista.
O documento de 26-páginas, que delineia claramente a política em relação a Timor, não teve em consideração os abusos dos direitos ou o problema de 140,000 Timorenses deslocados.
Em vez disso a avaliação dizia: "Não será do interesse estratégico da Austrália que a Indonésia seja frustrada da absorção de Timor-Leste ou que o processo seja complicado ou atrasado. "Isso fortalecerá o estatuto político do grupo da Fretilin e encorajará e facilitará o desenvolvimento das suas ligações com países interessados em apoiá-lo contra a Indonésia."
Acautelava também o gabinete para não se associar a qualquer força de manutenção da paz da ONU ou a qualquer acto de auto-determinação.
A história mostra que a avaliação estava bem longe do alvo. Em 30 de Agosto de 2001, dois anos depois de ter votado pela independência num referendo patrocinado pela ONU, Timor-Leste realizou as primeiras eleições democráticas. Apesar da intervenção da Austrália no processo, as relações entre Canberra e Jacarta, apesar de tensas, não se romperam.
A avaliação de 1976 foi preparada pelo Comité de Defesa, que incluía as figuras mais influentes do campo da defesa e civis. Presidido por Sir Arthur Tange, os seus membros incluíam o director da Organização Conjunta dos Serviços de Informações Gordon Jockel.
Incluída na análise de alto-nível estava um aviso de que a China e o Vietname podiam vir em socorro da Fretilin. A avaliação dizia que "o centro duro da liderança da Fretilin " tinha-se alinhado com movimentos de "libertação nacional " e procurava ajuda de Pequim e Hanói para uma luta armada.
Expressava preocupação que a Indonésia pudesse ter um papel desestabilizador na Papua Nova Guiné se as relações entre Canberra e Jacarta se azedassem por causa de Timor.
A avaliação do comité incluía ainda um documento esboçado por Jockel, enquanto presidente do Comité Nacional dos Serviços de Informações, que revela que o público Australiano estava mantido no escuro sobre as actividades secretas da Indonésia em Timor que levou à invasão armada da antiga colónia Portuguesa. Os serviços de informações Australianos sabiam o seguinte:
* Um ano antes da invasão Indonésia de 1975, o Presidente Soeharto tinha aprovado a introdução de forças especiais em Timor e estava a planear opções secretas para a intervenção militar.
* A Indonésia já tinha 2500 tropas em Timor-Leste quase oito semanas antes da declaração unilateral de independência da Fretilin em 28 de Novembro de 1975, e que Jacarta usou para justificar a sua invasão.
* Em Fevereiro de 1976 cerca de 200 tropas Indonésias já tinham morrido ao lado de 600 lutadores de resistência da Fretilin. A luta tinha deslocado mais de 100,000 pessoas e criado mais de 40,000 refugiados.
Apesar destes factos, o governo de Fraser aceitou o conselho de que eventualmente Jacarta pacificaria Timor-Leste e que havia pouco que a Austrália pudesse fazer.
Na improvável eventualidade de que um governo da Fretilin emergisse, o comité dos serviços de informações acreditava que seria "pobre e fraco " e que promoveria instabilidade regional.
Em 9 de Fevereiro, o gabinete decidiu continuar a política do antigo primeiro-ministro Gough Whitlam de se dobrar aos interesses da Indonésia não pressionando pela auto-determinação Timorense. O gabinete, temendo que a Austrália se pudesse tornar uma base do governo da Fretilin no exílio, ordenou ainda posições contra as actividades e as visitas do grupo.
A decisão 200 do gabinete diz em parte: "em relação ao possível envolvimento em qualquer eventual processo de auto-determinação do povo de Timor-Leste, os (Comité dos Assuntos Estrangeiros e de Defesa do Gabinete) concordaram em não tomar qualquer decisão nesta altura …"
O impulso do conselho dos serviços de informações apresentado ao gabinete dizia respeito à necessidade de preservar os interesses Australianos, o que significava manter Soeharto no poder e as relações com a Indonésia numas base sólida. Havia preocupações que um grupo de generais de linha dura pudesse emergir para derrubar Soeharto, substituindo-o por um “líder mais combativo”.
O Comité de Defesa disse que de um ponto de vista estratégico partilhava as preocupações da Indonésia quanto ao futuro de Timor-Leste, mas não aceitou que as preocupações eram suficientemente urgentes para ter descartado a gestão política da situação ou assegurado a tomada do território pela força.
The Australian – Segunda-feira, Janeiro 1, 2007
Tomada de Timor-Leste inquietou Peacock
Patrick Walters, editor de segurança nacional
Há trinta anos atrás o governo de Fraser lutou com as consequências da tomada da Indonésia de Timor-Leste.
Documentos do gabinete de 1976 mostram que o novo governo teve de se reconciliar com o facto que nada podia fazer para alterar a integração de Timor-Leste na Indonésia. O governo tinha de determinar se tomaria uma forte atitude moral de condenação da invasão Indonésia – arriscando romper as relações com Jacarta – ou se adoptava uma posição mais pragmática.
"É uma escolha entre o que pode ser descrito entre idealismo Wilsoniano ou realismo Kissingerniano" escreveu o embaixador da Austrália na Indonésia, Richard Woolcott, num telegrama que enviou em Janeiro de 1976.
"O primeiro é mais adequado e com mais princípios mas os interesses nacionais a longo prazo pode ser bem servidos pelo último. Não pensamos que podemos avançar nos dois caminhos."
Em Fevereiro de 1976, o gabinete considerou um documento do ministro dos estrangeiros Andrew Peacock, que na sua essência aceitava a linha de Woolcott mas que tentava em vão salvar alguma rectidão moral.
"A capacidade da Austrália para alterar o rumo dos eventos em Timor era limitada e é agora muito limitada na verdade. Contudo, o governo não deve ser conivente com uma tomada pela força Indonésia," reconheceu o Sr Peacock'.
O Sr Peacock disse que o governo deve expressar a sua oposição ao uso da força para resolver um problema, "especialmente um tão perto das suas fronteiras ".
Anotou que em breve a Austrália seria chamada para emitir a sua opinião sobre Timor-Leste no Conselho de Segurança da ONU.
A posição do governo de Fraser tinha sido criticar publicamente e em privado o uso da força pela Indonésia, pedir a retirada das tropas de Jacarta, pedir um processo genuíno de auto-determinação, e "mostrar em privado a disponibilidade para considerar favoravelmente a participação da Austrália em qualquer presença internacional que possa substituir a presença Indonésia em Timor-Leste (a possibilidade de se vir a estabelecer tal presença é muito pequena)".
"Decidi esta política ao mesmo tempo que admitia que muito provavelmente a Indonésia não se desviaria do seu rumo presente e que é muito provável que aconteça a incorporação de Timor-Leste na Indonésia," admitiu Mr Peacock. O ministro dos estrangeiros disse que tinha tomado na devida consideração a "grande importância" da Indonésia para a Austrália e que tinha procurado limitar os estragos nas relações com Jacarta. A Austrália concordou calada com a tomada de Timor-Leste pela Indonésia e em breve mexeu-se para reconhecer de facto a incorporação.
The Australian – Segunda-feira, Janeiro 1, 2006
Recusados vistos à Fretilin
Patrick Walters
O governo de Fraser recusou vistos a proeminentes membros de esquerda Timoreses forçados ao exílio depois da invasão Indonésia da antiga colónia Portuguesa nos finais de 1975.
Os membros da Fretilin incluíam Mari Alkatiri, que no ano passado se demitiu do cargo de primeiro-ministro de Timor-Leste, e Rogério Lobato, que recentemente serviu como ministro do interior no governo de Alkatiri.
Há trinta anos atrás, o governo de Coligação de Malcolm Fraser estava preocupado com a possibilidade da Austrália ser usada pelo movimento de resistência Fretilin como a base para um governo no exílio.
O conselho dos Departamentos da Defesa e dos Negócios Estrangeiros foi de não dar nenhum oxigénio político à Fretilin, então engajada numa guerra de libertação contra as forças armadas da Indonésia.
Ora então veja lá em cima: notícias de Dezembro de 2007? Saudades do futuro ou "viva a ressaca!..." :-) Saúde!
Talvez por lapso nao e 1 e 2 Dezembro de 2007
Agora ja e tarde faz parte da historia sempre apoiavam abertamente a integracao de Timor Leste durante 24 anos de luta.Nunca e nao podemos contar com eles.Trairam nos agora vem com palavras doces.
comentario sobre Diário de Notícias – 31 Janeiro 2006 "Timor-Leste não deve depender apenas de mim"
Os timorenses não dependem de Xanana. Os políticos é que dependem nele para captar a simpatia do povo e do eleitorado. Como disseram alguns "observadores", e alguns políticos (como o Ramos-Horta), "quem contra Xanana, contra o povo e não vai ter a simpatia do povo."
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