sexta-feira, novembro 17, 2006

Parte dos bens doados para Timor foram parar à Caritas

Ponto Final - 16/11/06 - 16:34

Rodolfo Ascenso

Uma das entidades que tinha bens recolhidos pela Campanha de Ajuda a Timor 2006 cansou-se de esperar pelo envio do que tinha à sua guarda e anunciou ter entregue cerca de trinta sacos de arroz à Caritas Macau. Paulo Remédios, o responsável pela campanha em Macau, diz que o dinheiro necessário para o transporte, que agora admite ser por via marítima, está para chegar, mas a ministra que recebeu a verba da Fundação Macau diz que esse dinheiro nunca se destinou a transportes.

A Agência Comercial Pico, que tinha disponibilizado aos organizadores da recolha de bens alimentares para Timor-Leste um armazém para guardarem os produtos recolhidos, cansou-se de esperar e entregou à Caritas Macau os cerca de trinta sacos de arroz que tinha à sua guarda.

Em anúncio pago colocado ontem na imprensa, a Agência Pico informa que “não conseguindo contactar a pessoa responsável” pelos bens, “transportámos tudo para a Caritas, havendo um recibo para o comprovar”.

Termina assim parte da saga dos bens recolhidos em Maio e que depressa se percebeu que dificilmente chegariam ao destinatário.

A campanha de recolha de bens, onde se envolveram cidadãos de Macau com a melhor das boas vontades mas que, dadas algumas personalidades envolvidas, manteve afastadas outras que habitualmente não se furtam a estas acções, começou envolta em dúvidas, desde logo sobre quem a conduzia.

Depois, o Embaixador timorense em Pequim, Olímpio Branco, assumiu a responsabilidade pela Campanha de Ajuda a Timor 2006 (CAT2006), delegando publicamente em Paulo Remédios, um advogado timorense, a condução da acção em Macau. Numa primeira fase Remédios, efectivamente, tratou do processo, mas rapidamente desapareceu. Logo em Junho a agência Lusa noticiava as dificuldades em contactar o timorense, quando procurava saber a data do transporte. Embora inicialmente tivesse sido dada como garantida, a verdade é que ele nunca apareceu.

Uma das questões que fontes conhecedoras do processo, que pediram anonimato, disseram ao PONTO FINAL estranhar, foi a necessidade, aventada desde a primeira hora, de o transporte ser feito de avião. Sabendo-se que o transporte por via aérea é consideravelmente mais caro que o por via marítima, essas fontes questionam por que razão não se carregaram os contentores com as anunciadas 40 toneladas de bens num barco com destino a Timor.

Estranham ainda que Paulo Remédios e os restantes membros da comissão, a partir do momento em que a situação acalmou, tenham deixado de fazer diligências para enviar os bens.

Como o PONTO FINAL noticiou a 13 de Junho, “Paulo Remédios afirmou que foi contactado por um ministro de Díli no sentido de coordenar a entrega dessa ajuda, uma oferta que a CAT2006 rejeitou”, por considerar que o Governo timorense não tinha capacidade para o fazer.

Houve ainda um pedido de ajuda financeira, supostamente feito pelo embaixador de Timor-Leste em Pequim ao Executivo de Macau, para desbloquear a situação. Ao que se soube, a Fundação Macau veio a disponibilizar 100 mil dólares. Essa verba, segundo Olímpio Branco, não era suficiente para fretar os dois aviões necessários. Na altura em que a questão estava acesa, o diplomata lançou acusações ao ministério das Finanças de Timor-Leste, a quem responsabilizava pelo facto de a verba ainda estar em Macau. Na ocasião (22 de Julho), a titular da pasta, Madalena Boavida, dizia ao PONTO FINAL que o número da conta bancária do governo timorense, onde a verba deveria ser depositada, já tinha sido enviada.

Contactado ontem pelo PONTO FINAL, Paulo Remédios disse desconhecer em pormenor a situação dos bens à guarda da Agência Pico, desvalorizando, contudo, a importância do facto por se tratarem de “poucos artigos”, no conjunto das “66 toneladas angariadas”. Remédios, disse ainda ter recebido recentemente a garantia, por parte de “dois membros do Governo de Timor”, a garantia de que a verba necessária para o “transporte marítimo” dos bens seja disponibilizada muito em breve. Paulo Remédios considera que toda a situação começa a ser “uma vergonha”.

Ontem ainda, em contacto telefónico feito com Díli, Madalena Boavida informou o PONTO FINAL ter efectivamente recebido os 100 mil dólares provenientes de Macau, mas que estes foram uma “ajuda financeira” e nunca estiveram destinados a nenhum frete de aviões ou outro tipo de transporte.
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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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