quarta-feira, novembro 22, 2006

Mestiços and Mozambique

No blog Living Timorously:

20 November 2006

When you're trying to discredit your opponents, you tend to apply labels to them to try and undermine them and their legitimacy, and the more you repeat them, the more they are accepted as gospel.

In the case of East Timor, this is nothing new. Back in 1975, the label applied to independence leaders was mestiço or mixed race, suggesting that they were unrepresentative of the East Timorese people as a whole. Australian Prime Minister Gough Whitlam did this, saying that "political parties... were led by mestizos [sic].. who seemed desperate to succeed the Portuguese as rulers of the rest of the population." True, there were leaders like José Ramos Horta (then in Fretilin) and Mário Carrascalão (then in UDT) but they were as much a minority in politics as they were in society at large. Xanana Gusmão is not a mestiço, although his first wife was.

The mestiço label is no longer used by East Timor's critics nowadays, as José Ramos Horta and his ex-wife Ana Pessoa (now minister of justice) are about the only such people in government who are. However unpopular the use of Portuguese as an official language may be, the decision to use it cannot be blamed on mestiços alone.

The current epithet of choice for critics of East Timor's leaders, or, more specifically, of Mari Alkatiri, is "Mozambique" or "Maputo", usually followed by "clique" or "mafia". Of course, Fretilin sounds similar to Frelimo, the name of Mozambique's ruling party, although the latter has long since ditched a command economy and a one-party state for the market and multiparty democracy, and the fact that Mozambique was also a former Portuguese colony is grist to the mill for those with a penchant for Lusophobia or Portugal-bashing.

However, there is a very good reason why Fretilin's leaders were in exile in Mozambique: there were precious few alternatives. They were refused entry to Australia and New Zealand, and they would have been even less welcome in ASEAN countries like the Philippines or Thailand, which saw the East Timor issue as an internal affair of Indonesia, in which they should not interfere. At the UN in New York, it was Mozambique's Permanent Mission that employed José Ramos Horta and José Luís Guterres (who challenged Mari Alkatiri for Fretilin's leadership, and is now foreign minister). However, they are not tarred with the 'Mozambique' brush, as Alkatiri has been.

Given the way that they were cold-shouldered by neighbouring countries, it is hardly surprising that, like other exiled nationalists, East Timor's independence leaders sought refuge and support where they could. Spending long periods of time in exile is often par for the course; Iraq's new leaders being an example, not to mention ANC leaders in South Africa, like president Thabo Mbeki, who spent time in Eastern Europe as well as the UK. After majority rule, there were divisions in the ANC between those who had returned from exile and those who had been imprisoned by the apartheid regime.

It was said that some some ANC leaders "had a map of the London Underground in their minds", while some of their children, who grew up in London, still sound impeccably English. And lest we forget, the ANC is still in an alliance with the South African Communist Party, just as it was in exile, but this has been forgotten by those branding Fretilin or Alkatiri as "Marxist". Australia supported the ANC, just as it did Robert Mugabe's ZANU in Zimbabwe.

Of course, such frictions in resentments also exist in post-independence East Timor, with accusations that those who studied at universities in Indonesia lose out to those who were factory workers from Portugal. However, while proficiency in Portuguese should be of secondary importance to the ability to do the job, there are many Indonesian-educated people who think that they should get jobs in the public service because of who they know, not what they know, à la Suharto's Indonesia. Hardly a meritocracy, is it?

The other epithet used by critics of East Timor's leaders is "aging", suggesting that the government is a creaking gerontocracy. Yet by whose standards - China or India, where many octogenarians are still in high office? In fact, the relative youth of East Timor's leaders in 1975 should be a warning against having such young and inexperienced people in positions of authority. Mari Alkatiri and José Ramos Horta are the same age as Australia's prime minister John Howard was when he came to power in 1996, not to mention Gough Whitlam, when he came to power in 1972. (Whitlam was, of course, revered, or reviled, as a radical, despite his age.)

Many of the people expressing concern for the "disenfranchisement" of younger people in East Timor are the same ones who, ten to fifteen years before, were brushing them off as trouble-makers, when they took part in demonstrations against Indonesian rule. Yet now they can do no wrong, not least if they express dislike of their elders, the Portuguese language, or whatever other bugbears that the Australian commentariat may have about East Timor. It is reminiscent of the way that Mao in China manipulated the youth in the Red Guard to attack and discredit his opponents, even though they were often younger than him.

Is Mari Alkatiri above criticism? No. Is he above the law? Emphatically not. But before commentators start using labels like "Mozambique clique", "Marxist" or "aged", it's best to look at other leaders in East Timor, and indeed, ones in other countries that they supported while in exile. East Timor deserves better than a Marxist 'dictatorship of the proletariat', but it does not deserve to be subjected to a Murdoch press 'dictatorship of the commentariat' either.

Of course, Dili has four daily newspapers, whereas the average Australian city only has one. So which is the one-party state? Another case of Australia having more to learn from East Timor than to teach it, but that's for another day.

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3 comentários:

Anónimo disse...

Have you visited this site yet?
http://timorcartoon.blogspot.com

Anónimo disse...

Mais um excelente artigo, que mostra o outro lado da questão.

Efectivamente, Ramos Horta nunca foi etiquetado de "clique de Moçambique" pela imprensa murdochiana, ao contrário de Alkatiri. Isto apesar de ambos terem residido em Moçambique e recebido apoio da Frelimo. Ainda recentemente RH se referiu a esses tempos, tendo agradecido a Moçambique e particularmente a Samora Machel o apoio que deram nessa altura tão difícil. Tal como Alkatiri, também RH não é católico e ambos são lusófonos e sempre defendenderam a adopção do Português como língua oficial.

Porquê então a diferença de tratamento pela imprensa murdochiana? Acho que a resposta é óbvia.

Anónimo disse...

Tradução:
Mestiços e Moçambique
No blog Living Timorously:

20 Novembro 2006

Quando tentas desacreditar os teus opositores, tendes a colocar-lhes rótulos para os minar e à sua legitimidade, e quanto mais os repetires quanto mais eles são aceites como evangelhos.

No caso de Timor-Leste, isto não é nenhuma novidade. De volta a 1975, o rótulo aplicado aos líderes da independência era mestiço ou raça misturada, sugerindo que não eram representantes dos Timorenses no seu conjunto. O Primeiro-Ministro Australiano Gough Whitlam fez isso, dizendo que "partidos políticos... eram liderados por mestizos [sic].. que pareciam desesperados por suceder aos Portugueses como governantes do resto da população." Verdade, há líderes como José Ramos Horta (então na Fretilin) e Mário Carrascalão (então na UDT) mas eram uma minoria tanto na política como eram no conjunto da sociedade. Xanana Gusmão não é um mestiço, apesar da sua primeira mulher ser.

O rótulo de mestiço já não é nos dias de hoje usado pelos críticos de Timor-Leste, visto que José Ramos Horta e a sua ex-mulher Ana Pessoa (agora ministra da justiça) são praticamente os dois únicos no governo que o são. Conquanto impopular possa ser o uso do Português como língua oficial, a decisão para a usar não pode ser atribuída somente aos mestiços.

O corrente rótulo de escolha dos críticos dos líderes de Timor-Leste, ou, mais especificamente, de Mari Alkatiri, é "Moçambique" ou "Maputo", geralmente seguido por "clique" ou "mafia". Obviamente, Fretilin soa semelhante a Frelimo, o nome do partido no poder em Moçambique, apesar do último já há muito ter trocado o comando directo da economia e um Estado de partido único pela economia de mercado e a democracia multipartidária, mas o facto de Moçambique ser também uma antiga colónia Portuguesa são grãos para o moinho dos que têm uma atracção pela Lusofobia ou por envergonharem Portugal.

Contudo, há uma muito boa razão para os líderes de Fretilin terem estado no exílio em Moçambique: havia pouquíssimas alternativas. Foi-lhes recusada a entrada na Austrália e na Nova Zelândia, e teriam sido ainda menos bem acolhidos nos países ASEAN como as Filipinas e a Tailândia, que viam a questão de Timor-Leste como um assunto interno da Indonésia, no qual não deviam interferir. Na ONU em Nova Iorque, foi a Missão Permanente de Moçambique quem empregou José Ramos Horta e José Luís Guterres (que desafiou Mari Alkatiri na liderança à Fretilin, e é agora ministro dos estrangeiros). Contudo, não foram sombreados com o pincel de 'Moçambique', como Alkatiri tem sido.

Dado o modo como foram afastados a frio pelos países vizinhos, não admira que, como outros nacionalistas exilados, os líderes da independência de Timor-Leste procurassem refúgio e apoio onde pudessem. Passar largos períodos de tempo no exílio muitas vez faz parte da corrida; os novos líderes do Iraque são um exemplo, para não mencionar os líderes do ANC na África do Sul, como o presidente Thabo Mbeki, que passou períodos na Europa do Leste bem como no Reino Unido. Depois do governo da maioria, houve divisões no ANC entre os que regressaram do exílio e os que estiveram presos pelo regime do apartheid.

Foi dito que alguns líderes do ANC "tinham um mapa do Metropolitano de Londres na sua cabeça ", enquanto que alguns dos seus filhos, que tinham crescido em Londres, ainda soavam impecavelmente a ingleses. E para que não esqueçamos, o ANC é ainda uma aliança com o Partido Comunista da África do Sul, tal como era no exílio, mas isto tem sido esquecido pelos que carimbam a Fretilin ou Alkatiri como "Marxistas". A Austrália apoiou o ANC, tal como apoiou o ZANU de Robert Mugabe no Zimbabwe.

Obviamente, tais fricções e ressentimentos também existiram em Timor-Leste na pós-independência, com acusações de que aqueles que estudaram em universidades na Indonésia perderam para os que foram trabalhadores fabris de Portugal. Contudo, enquanto que a proficiência em Português deva ser de importância secundária para a capacidade de fazer o trabalho, há muita gente educada na Indonésia que pensam que deviam ter empregos no serviço público por causa de quem conhecem e não do que sabem, à la Indonésia de Suharto. Dificilmente uma meritocracia, não é verdade?

O outro rótulo usado por críticos de líderes de Timor-Leste é "idoso", sugerindo que o governo é uma gerontocracia em ruínas. Contudo por estes padrões - China ou Índia, onde muitos octogenários ainda estão em altos postos? De facto, a juventude relativa dos líderes de Timor-Leste em 1975 devia ser um aviso contra ter tal gente jovem e inexperiente em posições de autoridade. Mari Alkatiri e José Ramos Horta têm a mesma idade que o primeiro-ministro da Austrália John Howard tinha quando chegou ao poder em 1996, para não mencionar Gough Whitlam, quando chegou ao poder em 1972. (Whitlam foi, obviamente, reverenciado, ou demonizado, como um radical, apesar da sua idade.)

Muitas das pessoas expressando a sua preocupação pela "desenfranchisação" da gente mais nova em Timor-Leste são os mesmos que, há dez ou quinze anos antes, os enxotavam como criadores de problemas, quando participavam em manifestações contra a governação Indonésia. Contudo agora eles não podem fazer coisas erradas, muito menos se expressarem que não gostam dos seus mais velhos, da língua Portuguesa, ou quaisquer outros papões que os dos comentadoriados Australianos possam ter acerca de Timor-Leste. Isto lembra o modo como Mao na China manipulava os jovens na Guarda Vermelha para atacarem e desacreditarem os seus opositores, mesmo apesar de serem muitas vezes mais jovens do que eles.

Está Mari Alkatiri acima das críticas? Não. Está acima da lei? Enfaticamente não. Mas antes dos comentadores começarem a usar rótulos como "clique de Moçambique ", "Marxista" ou "idoso", é melhor olharem os outros líderes em Timor-Leste, e na verdade, os de outros países que apoiaram enquanto (estiveram) no exílio. Timor-Leste merece mais que uma ‘ditadura do proletariado’ Marxista, mas não merece também estar sujeita a uma ‘ditadura do comentadoriado’ da imprensa de Murdoch.

Obviamente, Dili tem quatro jornais diários, quando uma cidade média Australiana somente tem um. Assim, qual é o Estado de um partido? Um outro caso da Austrália ter mais para aprender de Timor-Leste do que para ensinar, mas isso é para um outro dia.

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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