quarta-feira, outubro 15, 2008

"Descartes não se aplica aqui" - bispo Baucau

14 de Outubro de 2008, 12:17

Díli, 14 Out (Lusa) - O bispo de Baucau, Basílio do Nascimento, costuma dizer aos colegas europeus em Timor-Leste que "os princípios de Descartes não se aplicam aqui".

"Os pensamentos lógicos cartesianos não são inteiramente aplicados", explicou o bispo de Baucau à Agência Lusa este fim-de-semana, em Soibada, distrito de Manatuto (centro).

Abordar a concordata entre Timor-Leste e o Vaticano, que está a ser finalizada em Díli, implica falar da influência da Igreja no Estado e também questionar a experiência religiosa de José Ramos-Horta no seu desempenho como chefe de Estado.

"A afirmação da fé do líder aproxima o povo da liderança", responde Basílio do Nascimento.

Basílio do Nascimento ressalva que não pretende arriscar um "processo de intenção" e que "a caminhada espiritual de Ramos-Horta é uma coisa pessoal".

"No entanto, como todos os fenómenos, é observável do exterior" e, portanto, passível de análise, que o bispo de Baucau admitiu fazer para a Lusa.

"Se ler a constituição de países europeus, como Portugal ou França, é claro que os políticos não têm o direito de afirmar a sua religião. Mas aqui na Ásia é diferente", nota Basílio do Nascimento.

"Na Ásia, a dimensão religiosa do líder é muito apreciada e é muito importante para o seu currículo", diz.

O Presidente da República, que foi aluno no Colégio de Soibada, foi este ano o peregrino "de honra" na peregrinação anual de Nossa Senhora de Aitara, um santuário sobranceiro à aldeia.

"Não sei qual é a influência da fé no trabalho de Ramos-Horta como Presidente. Mas como homem, sim, tem uma influência nele e, indirectamente, pode actuar no seu trabalho", admite.

"É muito possível que Ramos-Horta não tenha recebido uma formação muito estruturada sobre o conhecimento de Jesus Cristo mas penso que é alguém que, ao longo da sua vida, fez perguntas sobre isso mesmo", acrescenta.

"Há uma busca muito profunda do lado religioso e de Cristo na vida de Ramos-Horta. Penso que passa a dimensão cultural apenas para entrar na dimensão do sentido da vida", afirmou ainda Basílio do Nascimento.

"O que o levou a isso? Tenho a certeza que a experiência do 11 de Fevereiro ajudou Ramos-Horta a aprofundar um bocado mais ou a sentir-se correspondido na sua busca", responde o bispo.

"Ele próprio usa as imagens e sensações que ele teve como sendo intervenção divina na sua vida. São muito pessoais", conclui Basílio do Nascimento.

José Ramos-Horta, na sequência de um ataque pelo grupo do major Alfredo Reinado à sua residência em Díli, foi atingido a tiro e transferido para Darwin, Austrália, em coma profundo.

O próprio chefe de Estado afirmou que a sua sobrevivência é algo que "só os bispos ou o Vaticano podem explicar".

"A vida é curta e a vida é bela", disse José Ramos-Horta à Lusa em Soibada sobre o que mudou nele depois de Fevereiro.

"Deus deu-me uma segunda oportunidade para nenhum outro objectivo que ajudar o meu povo e o meu país", explicou.

José Ramos-Horta manifestou o seu total apoio à concordata com a Santa Sé e adiantou que "os valores do Vaticano são os valores de Timor-Leste".

"Não há timorenses que não sejam religiosos", frisou também o chefe de Estado sobre reacções adversas à assinatura da concordata.

"A sociedade timorense reage (à experiência de fé do Presidente) partilhando e admirando", resumiu o bispo Basílio do Nascimento antes da missa vespertina, sábado passado, em Soibada - a que o Presidente decidiu não ir porque, "com a missa de domingo, seriam missas a mais".

PRM.
Lusa/fim


Quer o Bispo queira, quer não, a Terra continua a andar à volta do Sol e Timor-Leste não vive na Idade Média...

Patético.

1 comentário:

Anónimo disse...

Tão todos xonés!... :-)

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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