quinta-feira, outubro 12, 2006

Timor-Leste: Chapéu verde, Chapéu azul

Tradução da Margarida.


New Matilda
Por: Maryann Keady
Quarta-feira 11 Outubro 2006


A ONU adiou uma decisão até 25 de Outubro sobre se Timor-Leste terá uma missão da ONU totalmente integrada com a componente militar incluída, ou uma em que a Austrália tem a liderança do papel militar, separado da missão da ONU, com a sua própria estrutura de comando nacional.

A decisão tem sido assunto de acaloradas discussões nas Nações Unidas, com os representantes dos Australianos a travarem uma campanha concertada para a última. A Austrália tem o apoio dos USA, Reino Unido e Japão, e tem conseguido trazer Timor-Leste para o seu lado, mas outros mantém-se não convencidos — com o Brasil a ir tão longe quanto a chamar ao novo papel que Austrália quer desempenhar em Timor-Leste de um ‘neo-protectorismo.’

Contudo, apesar das preocupações do Brasil, Malásia, Portugal e Nova Zelândia, parece mais do que provável que a Austrália terá sucesso em levar a água ao seu moinho.

Relatos da ONG Timorense Lao Hamutuk de que o Primeiro-Ministro Timorense José Ramos Horta recuou do seu apoio duma missão da ONU completamente integrada depois de pressão do Japão (Director do grupo central da ONU sobre Timor-Leste) contribuíram para opiniões de que a Austrália e os seus aliados estão a tentar reduzir o papel da ONU em Timor-Leste.

Um funcionário da missão Japonesa em New York declarou a posição do Japão muito claramente. Disse-me que Timor-Leste precisa de um tipo de força ‘por cima do horizonte’ — disponível somente em emergências — e que é somente lógico que seja a Austrália o jogador líder em Timor-Leste, com as suas tropas já no terreno. Porque a situação de segurança em Timor-Leste é relativamente estável, disse, não há necessidade de uma presença militar da ONU.

O Japão argumenta que os recursos de manutenção da paz são limitados, e a moda de combinar a ONU com outros actores regionais é uma muito boa estratégica — uma que reflecte o futuro das operações da ONU em todo o mundo, de acordo com o funcionário. Acrescentou que o Japão vê a Austrália, os USA e o Reino Unido como parceiros de ‘mentes iguais’. (o Japão, obviamente, não é somente um bom aliado dos USA e da Austrália, mas é também um dos que está envolvido numa luta por um lugar permanente no Conselho de Segurança — agravando o seu vizinho, a China — e é este mês o Presidente rotativo do Conselho de Segurança.)

A realidade é que Ramos Horta provavelmente não tem opção a não ser concordar com a posição Australiana/Japonesa, quanto ao futuro de Timor-Leste estar obviamente mais alinhado para acomodações com a posição Australiana do que não. É difícil argumentar contra estando as tropas Australianas a liderar os militares no país que está decididamente na nossa esfera de influência.

As políticas por detrás desta decisão reflectem mais provavelmente o braço de ferro entre as aspirações dos USA e dos Chineses na Ásia Pacifio do que qualquer desacordo real entre as outras nações membros. Muitas questões, de Darfur ao Irão, têm dividido os países membros da ONU entre os que apoiam os USA e os seus aliados e os que apoiam o poder emergente. Um perfil interessante do Embaixador de Pequim na ONU, Wang Guangya, no New York Times Magazine do mês passado detalhava a luta no seio da organização com muita candura, citando Darfur e o Líbano como apenas duas questões que viram a China a tentar e a flexionar os seus músculos.

Timor-Leste não é diferente, é simplesmente um exemplo mais pequeno da luta maior no palco diplomático do mundo. A China cultivou relações de negócios e de ajudas com Timor-Leste, como tem feito com muitos Estados do Pacífico, e pode suspeitar dum papel maior para a Austrália lá.

Mas geopolíticas e racionalidades de defesa á parte, a questão mais importante está no perigo de a Austrália ser vista a ignorar a luta dos Timorenses. A pergunta que precisa ser feita é o que é que beneficia Timor-Leste da Austrália ter tomado a posição de liderar militarmente?

A Austrália encabeçou uma missão internacional que não tem sido capaz de parar a violência num pequeno e pobre país. O líder amotinado Alfredo Reinado e a sua banda de alegres seguidores (que são mais de 50) fugiram duma prisão e as tropas Australianas não os conseguem encontrar. Há políticas cínicas em jogo quando as tropas Australianas, polícias internacionais e políticos locais não conseguem encontrar 50 criminosos fugitivos num país do tamanho de Timor-Leste — enquanto os jornalistas podem.

A presença dos Australianos e da polícia internacional pouco tem feito para garantir aos Timorenses que a sua segurança é uma prioridade. Milhares vivem ainda em campos de deslocados e têm medo de regressar a casa por causa da violência em curso. É necessário perguntar como é que o orçamento da polícia da ONU (que é para ser gasto no treino dos polícias locais) e os salários das tropas Australianas podem ser justificados quando o pessoal de segurança é visto — como pessoalmente testemunhei — sentado preguiçosamente ao mesmo tempo que pequenas bolsas de indivíduos criam mais distúrbios.

A reputação das tropas Australianas em Timor-Leste está em perigo. Se as tropas não estão lá para ‘proteger’ os Timorenses, então a desconfiança vai crescer com certeza — não entre as elites políticas de cada país, que sabem da necessidade da relação, mas entre os Timorenses comuns e os soldados Australianos. Uma questão óbvia é se este é o modelo desejado para o nosso novo relacionamento com a região.

Vários incidentes envolvendo pessoal Australiano em Timor-Leste não têm ajudado a situação no terreno. Rui Manuel, u funcionário do Banco Mundial, escreveu ao comandante Australiano Brigadeiro Mick Slater em 10 de Julho a queixar-se sobre duas ocasiões em que foi rudemente abusado — primeiro, ao tentar entregar comida a um primo no aeroporto, e depois simplesmente a guiar para sua casa uma noite. Indignaso sobre queixas doutros Timorenses escreveu:

Escrrevo-lhe para lhe expressar a minha profunda preocupação com soldados Australianos que sse comportam sem profissionalismo e que está longe do que está escrito nos panfletos distribuídos na comunidade de os Australianos serem ‘guardiãos de segurança amigáveis’ em Timor Leste … gostaria de lhe chamar a atenção … para que a Força Australiana seja capaz de ganhar o respeito do nosso povo de ser um guarda seguro no nosso país que foi humilhado e oprimido na sua dignidade durante 24 anos.

Isto aconteceu em cima de um incidente que causou muita fúria em Timor — o strip-search de um polícia Timorense por um polícia Federal Australiano uma acção que o Presidente do Parlamento de Timor-Leste Francisco Guterres chamou ‘um abuso do direito de Timor-Leste como um país independente’ Requer-se liderança em Timor-Leste que reflicta a importância de relações entre vizinhos — não atitudes coloniais remanescentes de eras anteriores.

Por outro lado, o que é que a ONU tem feito para garantir a segurança dos Timorenses comuns? O mandato da ONU ainda mantém que é a protecção da propriedade da ONU — não a protecção dos Timoreses — que é a sua preocupação principal em tempos de crises. O Rwanda mostrou quanto ineficaz a ONU é em tempos de violência dura. Em Timor-Leste, em 1999, o pessoal internacional e da ONU partiram de Dili em aviões ao mesmo tempo que os locais se abrigavam nos montes com as milícias a correrem nas ruas.

A discussão sobre se deve ser a ONU ou a Austrália a liderar a componente militar é académica: a Austrália quer claramente Timor-Leste como um parceiro militarmente e provavelmente atingirá os seus objectivos. Mas é isto uma protecção regional Australiana ou uma projecção regional Australiana? Que uma missão militar liderada pelos Australianos é do melhor interesse a longo prazo para os Timorenses é um argumento convincente e racional. Mas a retórica tem que estar fundamentada numa realidade que inspire confiança.

Para ganhar o apoio do Timorense comum, o Governo Australiano precisa de os convencer que a Austrália se preocupa muito com eles. Esta é a mensagem que as pessoas entendem, mesmo quando a geopolítica é a cama desconfortável onde são feitas muitas nações.



Sobre a autora

Maryann Keadyé uma jornalista de rádio e repórter por conta própria que tem feito a cobertura de Timor-Leste para a ABC e a SBS. Está correntemente no Weatherhead Institute da Columbia University a estudar a Política Estrangeira dos USA e da China. O seu primeiro livro de entrevistas, China Conversations,será publicado em 2007.

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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