segunda-feira, abril 09, 2007

Presidenciais, 1.ª volta das legislativas

Público – 08 de Abril de 2007
Adelino Gomes

São três as grandes notícias desta campanha. Duas têm a ver, directamente, com o acto eleitoral. A terceira não. E no entanto, está-lhe intimamente ligada. Bem pode dizer-se, até, que condiciona, em enormíssima parte, a sua leitura.

A calma, ainda que relativa, com que decorreu a campanha surpreendeu muita gente. O mesmo quanto à capacidade mobilizadora da candidatura de Lu-Olo, que organizou, de longe, as maiores concentrações. Em contraste com uma talvez ainda mais surpreendente incapacidade do actual primeiro-ministro e Nobel da Paz, José Ramos-Horta, de atrair multidões significativas onde quer que se deslocasse em campanha.

Cedo, porém, a criação do partido CNRT e a admissão pública, por Xanana Gusmão, da disponibilidade para disputar as próximas eleições legislativas como candidato à chefia do Governo se tornaram num pólo de atenção maior.

Xanana não se recandidatou a um segundo mandato. Mas o aprofundamento das suas divergências com a Fretilin levou-o a renunciar à proclamada intenção de se reformar da política. Pelo contrário, o Presidente cessante dispõe-se a enfrentar no terreno eleitoral o partido que detém a maioria absoluta no actual Parlamento.

Mais: aquilo que começou por parecer mera especulação da imprensa australiana obteve confirmação plena durante a campanha. Xanana ambiciona tornar-se o próximo primeiro-ministro de Timor-Leste, num quadro em que o actual chefe do Governo, José Ramos-Horta, lhe suceda como Presidente da República.

A aliança Xanana/Horta mergulha raízes na luta de libertação. Um e outro abandonaram a Fretilin em finais dos anos 80; um e outro passaram a dirigir política e diplomaticamente a luta contra a ocupação indonésia (o primeiro como comandante supremo da Resistência; o segundo como seu porta-voz no exterior).

A tensão permanente que passou a marcar as relações políticas de ambos com a liderança da Fretilin resistiu, melhor ou pior, às exigências de unidade na acção e ao período de transição, liderado pela ONU.

As divergências acentuaram-se, contudo, mal o país se tornou independente.

As divisões e confrontações em que o país mergulhou, há um ano, colocaram-nos em rota de colisão com os detentores dos dois mais altos cargos do partido maioritário, Fretilin: Lu-Olo, presidente, e Mari Alkatiri, secretário-geral. O primeiro também presidente do Parlamento Nacional; o segundo também primeiro-ministro desde o período de transição até ao início do Verão passado.

Numa célebre (e infeliz, pelos termos em que exprimiu o seu pensamento) série de artigos sobre a "Teoria das Conspirações", publicada num jornal de língua portuguesa, editado em Díli, Xanana teceu há meses, sobre Alkatiri, considerações da maior crueldade; ao longo da actual campanha, este, geralmente muito contido nas suas declarações públicas, tem-se referido arrogantemente a Xanana e a Horta como se, como dizem apoiantes seus, se tratasse já de "cartas fora do baralho".

As eleições porém não se ganham nos comícios, mas nas urnas. Só o voto dos timorenses nos dirá se o tsunami Fretilin evocado por Alkatiri ainda funciona.

E se, como se começa a dizer do lado deste partido, Ramos-Horta não atingirá, sequer, a segunda posição entre os mais votados.

Se assim acontecer e as eleições, como se espera, forem consideradas livres e justas pelos observadores internacionais, estaremos perante uma estrondosa vitória da Fretilin, que verá simultaneamente consagrado o seu candidato e derrotado o candidato de Xanana. Sem falar da Igreja Católica, que se situou nos dois últimos anos, militantemente, no campo anti-Alkatiri.

Se Horta vencer, pelo contrário, a actual liderança da Fretilin sofrerá uma igualmente estrondosa derrota. Porque consagrará no plano interno a figura do Prémio Nobel cujos adversários dizem ser sobretudo apreciada no exterior. Porque funcionará, para Xanana, como excelente augúrio para os combates que se avizinham. E porque indicará, como se diz do lado da oposição, que a actual liderança desbaratou o capital histórico da Frelitin.

A eventualidade de o líder do Partido Democrático (PS), Fernando "Lasama" de Araújo, suplantar Horta agravará a derrota deste e de Xanana. Mas representará, ao mesmo tempo, também, um aviso para a geração da resistência, incapaz, até hoje, de passar o facho às gerações mais novas.

Qualquer dos cenários mostra-nos que, para lá dos oito candidatos oficiais, o acto eleitoral de amanhã se disputa, realmente, entre dois protagonistas ausentes dos boletins de voto: Xanana Gusmão e Mari Alkatiri. E como estas presidenciais constituem, na verdade, a primeira volta das legislativas de Junho.

Porque nos permite perceber, finalmente, qual o sentimento do eleitorado, após a crise, ainda não resolvida, resultante de divergências entre companheiros de estrada da luta antiocupação. E porque vai exigir a vencedores e vencidos - quaisquer que eles sejam - acrescidas provas de capacidade de governação e de maturidade democrática.

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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