sexta-feira, abril 06, 2007

O risco de a violência aumentar é um tabuleiro de xadrez

Expresso – 6 de Abril de 2007

ONU está tranquila. O pior estará reservado para as legislativas, quando Fretilin e Xanana lutarem pelo poder

A impressão deixada nas últimas semanas ao ‘staff’ multinacional da ONU, que vai acompanhar a ida às urnas dos timorenses na próxima segunda-feira, é de que a escolha do substituto de Xanana Gusmão será relativamente tranquila, sem grandes distúrbios. Os problemas parecem adiados para as eleições seguintes, quando dentro de poucos meses Xanana defrontar Mari Alkatiri, o secretário-geral da Fretilin que resignou de chefe de Governo em plena crise no ano passado. Ao contrário das presidenciais, a corrida a primeiro-ministro será uma luta de tudo ou nada pelo poder.

Ganhar as presidenciais é como eliminar a rainha adversária num jogo de xadrez, em que ninguém se pode dar por vencido. Só à medida que o cerco ao rei se apertar e a possibilidade de um xeque-mate for maior, é que os peões, os cavalos e os bispos farão tudo para cortar os movimentos do campo inimigo, capazes de se sacrificar por isso.

Apoiada nos resultados das eleições para a Assembleia Constituinte em 2001, que lhe deram a maioria absoluta no parlamento, com mais de metade dos votos, a Fretilin está convencida de que não vai perder. Mesmo sabendo que Xanana teve mais de 80% em 2002.

Os sinais são preocupantes. A divisão interna no maior partido timorense começou gradualmente a ir para a rua. Num dos incidentes ocorridos em Baucau, dois grupos de apoiantes rivais cruzaram-se a meio caminho. Eram ambos da Fretilin. Um estava ali por ‘Lu-Olo’, o presidente do partido e candidato às eleições. O outro estava por Ramos-Horta. “Os apoiantes do dr. Ramos-Horta traziam camisolas da Fretilin vestidas e os nossos reagiram”, justificou ‘Lu-Olo’ ao Expresso. Pode o militante de um partido apoiar outro candidato às presidenciais que não seja do seu partido? Em Timor, dificilmente pode.

Como será, então, quanto aos militantes da Fretilin Mudança (a facção que apoia Ramos-Horta, Xanana e José Luís Guterres, o adversário do secretário-geral Alkatiri no último congresso interno) se juntarem os militantes do novo partido CNRT de Xanana, cuja legitimidade não é reconhecida por Alkatiri?

E, caso Alkatiri regresse ao poder, o que fará o major Reinado, o líder rebelde solto nas montanhas que declarou o ex-primeiro-ministro inimigo número um?

Os 600 desertores do exército que estiveram na origem da crise de Abril e Maio de 2006 continuam espalhados por nove distritos do interior, com o seu problema ainda por resolver. Continuarão eles a considerar Reinado seu chefe militar? E sentir-se-ão atraiçoados pelos resultados democráticos das eleições?

Como diz um conselheiro internacional militar colocado em Díli, Timor é uma terra onde as previsões, quando acabam por acontecer, acontecem de forma inesperada.

M.P.

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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