quarta-feira, setembro 27, 2006

Estamos mesmo e cada vez mais “arasca”!

In Timor, um blog do Publico.pt:

A propósito de determinado assunto, lia-se, ontem, num jornal diário que o Primeiro-Ministro estava “arasca”. Numa missa de defunto, o padre, ao falar dos últimos dias de vida da velha senhora de quase 100 anos, dizia sobre o seu sofrimento que a avó Aurora, embora “arasca”, ainda teve tempo para transmitir os seus últimos desejos. Numa e noutra oportunidade, o resto do discurso era feito em tétum, a língua nacional e oficial, a par do português. Estar “arasca” nada mais representa senão a adaptação do popular termo “à rasca”, sem conotação negativa e tendo perdido por completo o cariz calão que está na sua origem. Faz parte da língua tétum e o seu uso está absolutamente normalizado.

A propósito da Justiça, um advogado diz de sua justiça o que entende ser o uso “colonialista” da língua portuguesa. Mas, num parêntesis, se o uso desta é colonialista, que se diria caso tivesse sido escolhido o bahasa indonésio ou o inglês para idioma oficial?

Em anúncios de emprego para cargos a serem exercidos em organizações, embaixadas ou agências internacionais requer-se ao candidato o uso fluente do inglês, tétum, bahasa e só no fim, português.

Simples curiosidades, questões de pormenor?... Talvez mais do que isso. É a língua, pilar da identidade de uma Nação, que continua como um dos pontos de divergência em Timor-Leste. Se se assiste por um lado, a um maior conhecimento e aprofundamento do português, também é e em paralelo visível a constatação da resistência à escolha do português como língua oficial.

Preparava-me para escrever sobre a introdução de vocábulos portugueses na língua tétum, quando ouvi na rádio que o ex-presidente cabo-verdiano António Mascarenhas Monteiro recusou o cargo para representante do secretário-geral da ONU para Timor-Leste, devido a forças de bloqueio. Quais? Quem? Um país?

A maioria da população timorense – classe política incluída - concorda com a posição do governo chefiado por Ramos Horta, de que seria prestigiante para Timor-Leste a nomeação de Mascarenhas Monteiro que o Primeiro-Ministro considera ser "um estadista, de muito prestígio internacional, de um país democrático… de um dos países mais bem geridos em África, e que será alguém que ouvirá todas as sensibilidades". Sendo reconhecido o sucesso cabo-verdiano, talvez dele nos pudesse ser dada a receita…

Do outro lado, os que não querem Monteiro, para além de umas - poucas, aliás - personalidades e organizações timorenses, devem estar todos os estrangeiros de cultura anglo-saxónica.

Soa a pouco, muito pouco, inconsistente até, o receio de João Gonçalves, em afirmações difundidas pela Lusa, de que Mascarenhas Monteiro pudesse não ser “aceite entre os timorenses por o identificarem com o tradicional apoio histórico dos movimentos de libertação africanos à FRETILIN”, para além de que "podia criar a sensação de que as suas decisões não seriam imparciais e isso podia ser evitado se fosse nomeado alguém que não provocasse mal-estar entre a população”.

Não resisto e terei de dizer: pelo amor de Deus!

Mais do que o apoio à FRETILIN, Mascarenhas Monteiro, tal como a maioria dos africanos de língua oficial portuguesa, pode e deve ser identificado com todos quantos foram solidários com a Resistência timorense na sua luta pela independência. Isso é que deveria ter sido considerado e esse é, não tenhamos dúvidas, um ponto a favor de Mascarenhas Monteiro. Mau seria que fosse escolhida uma personalidade que nunca tivesse gostado da ideia de Timor independente!

Os timorenses conhecem bem o povo cabo-verdiano desde os tempos em que Timor e Cabo Verde constituíam possessões portuguesas. Muitos cidadãos desse país escolheram Timor para trabalhar e grande parte dele aqui constituiu família e por aqui se deixou ficar. Basta uma voltinha pela cidade e observar os traços fisionómicos de muitos timorenses ou ouvir o que aqui se canta.

Não me parece que os dois últimos representantes do secretário-geral da ONU tenham desenvolvido um trabalho tão profícuo como pretendem os que defendem, por exemplo, a continuação de Hasegawa por “considerarem que tem um conhecimento mais completo da actual situação no país”. Se conhecia, não utilizou bem esses conhecimentos. Ou mal se deu por isso, tal a distância e a inacessibilidade do senhor relativamente à população. Mas esforçou-se seriamente para robustecer o uso do inglês, lá isso é verdade!

Se uma personalidade do espaço lusófono do qual, aliás, fazemos parte e com a capacidade e o prestígio de António Mascarenhas Monteiro não nos serve, quem sucederá a Hasegawa? Quem será aceite sem que lhe seja apontado de imediato este ou aquele impedimento? Será demais perguntar se deverá ter a confiança de outros países em vez do nosso, timorense?

Em nome de quê, porquê e para quê se desbarata de ânimo tão leve, tão pouco sólido, em ligeira, insensata e apressada reacção, alguém com quem seria mais fácil dialogar, até porque Cabo Verde e Timor-Leste têm um passado comum, falam a mesma língua e, nunca é demais frisar, existem tantos timorenses com sangue cabo-verdiano?

Não entendo a razoabilidade nem o porquê da rejeição. Entendo, sim, que, desta forma, sempre agarrando-nos ou confundindo as questões, não é Mascarenhas Monteiro que sai mal, somos nós, timorenses, que ficamos mal! Ao ajuizarmos mal e superficialmente o que quer que seja, ao pensarmos apenas no interesse momentâneo que serve uns mas não serve o país nem agora e menos ainda no futuro; e mesmo ao esquecermos que, tão efémera como a vida, é o proveito individual, com idêntico e bem delimitado prazo de validade. Ficamos muito mal quando transmitimos os nossos constantes e caprichosos descontentamento e insatisfação! E ficamos pior quando vamos a reboque de interesses que não são os nossos. Mesmo que não queiramos ver ou aceitar que estamos a ser levados…

Cada dia que passa, a propósito de tudo ou de coisa nenhuma, surgem sempre motivos de desconfiança e de críticas, a todos atribuímos um determinado papel, bom, mau, mas necessariamente conforme o interesse particular ou de grupo. Agimos como se fôssemos superiores em tudo. Como se ninguém nos servisse. Malbaratando apoios, boas vontades, criando novos focos de descontentamento. Projectamos noutros a nossa imperfeição, os nossos males, os nossos defeitos, sobredimensionados por quem disso tira proveito próprio. Porque somos manobráveis. E deixamos que haja quem se aproveite de nós e das nossas fraquezas, pondo-nos a defender ideias contrárias às nossas fazendo-nos acreditar que são mesmo nossas, levando-nos a dizer e a fazer o que, em boa verdade, não serve os timorenses. Ganham sempre. Como agora. Nós é que seremos sempre perdedores!

Por tudo isso, atrevo-me a dizer como o jornalista e o padre: “arasca!”, estamos mesmo e cada vez mais “arasca”!

Angela Carrascalão Terça-feira, Setembro 26, 2006

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5 comentários:

Anónimo disse...

Timor e um pais Lusofóna e não Anglo-Saxónica. Falamos Tetum e não Ingles, vamos a frente com a lingua Portugues e deixa atras o Bahasa.

Anónimo disse...

Lamento muito pela Angela, pois tem escrito e como bem ela escreve, bons artigos e que o Timor online depois vem pulica-los assumo sem devida autorizacao . Tem havido varios ataques cobardes a Angela e outros , e digo covardes pois nao se indentificam . Eh altura do Timor online so permitir comentarios das pessoas propriamente identificadas e pedir desculpas a Angela e outros por este acto de desrespeito e "nao-jornalistico"

Anónimo disse...

Esquece, nao comecem com esta lenga lenga

Anónimo disse...

Agora so resta nomear o Almeida Santos.Ele chegara com um motor de 555 cavalos e o "trasatlantico imovel" sera guiado a bom porto.
E porque nao o Mario Soares? Dili passara a Dilifarros irma gemea de Nafarros.

Anónimo disse...

Os Cobardes nao dormem

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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