quarta-feira, junho 21, 2006

Dos leitores

CARTA AOS MEUS AMIGOS DE TIMOR

Tenho vivido nestes ultimos tempos, pelo desassossego, com uma preocupação enorme, pelos amigos que estão em Timor e pelo retrocesso no desenvolvimento e na construção do Estado.
É uma desgraça para o povo, começar tudo ou quase tudo de novo.
Começar o que por ventura custa mais que é olharem uns para os outros como verdadeiros irmãos, que partilham o mesmo espaço... é uma tarefa muito difícil e agora com mais obstáculos.
Normalmente as organizações preocupam-se com as performances e com os targets, mas dão pouca, importância ao poder da cultura, dos valores humanos (mesmos os mais básicos, como é o respeito pela vida, pela palavra!...).
Nos ultimos anos tentou-se, em Timor, num àpice formar tudo desde da tropa, polícia, políticos, gestores - com elevados padrões operacionais e com muitos planos de acção, visões futuras etc.. -- mas em minha opinião (aliás foi o diagnóstico que fiz quando me aprecebi da realidade e da fragilidade das pessoas e instituições), em paralelo com as acções de gestão, é preciso investir numa verdadeira e consistente mudança cultural, das mentes, do pensamento, dos comportamentos e atitudes. Todos os Países deram dinheiro e recursos humanos - mas o que Timor Leste precisa são de verdadeiros laços humanos, onde os valores da sociedade e das pessoas sejam o ponto fulcral ao nível do estado, das empresas e do cidaddão. Como o fazer? Neste momento, pelo que vi não sei... Qual é o papel da UN e dos parceiros na criação de um melhor clima de valores para todas as partes a par do investimento , para o desenvolvimento sustentado e harmonioso, nomeadamente na estruturação organizacional do estado e das empresas? Qual o caminho a desenvolver para a capacitação e para inculcar os valores base da sociedade, nos governantes, empresários e pessoas? Qual é o papel da igreja, na formação das pessoas e das suas mentes?
Como é possível tanto ódio e violência, quando a pobreza e a debilidade do País exige o contrário!...
Se sentia realmente dificuldades, quanto ao melhor caminho a propor, agora estou mais confuso depois desta desgraça e do esforço dispendido... sinto que é preciso passar algum tempo para degerir tudo o que se tem passado e esperar que as forças de paz internacionais ponha um ponto de ordem no terreno - mas julgo que não poderá ser uma repetição de modelos, terá que haver uma verdadeira revolução (desígneo nacional?!...) e uma adequada terapia nos comportamentos, nas mentalidades e processos.Pelos próprios intervenientes! Claro. Como?! Está aberta a discussão.

Que Deus vos abençoe e ajude ... apurados os pontos fracos e os erros, para os colmatar e corrigir, tenho só uma certeza, só o futuro é que interessa ... a reconciliação torna a ser o ponto fulcral - para restaurar a confiança e a credibilidade nas pessoas, empresas e no estado -- e o dinheiro e a mão estendida não é o mais importante, mas sim os valores que enformam as atitudes e os comportamentos dos cidadãos, sejam governantes, opositores, partidários, empregados, profissionais, povo - com esta ideia se o comportamento cívico for bom, aceitável os resultados do governo, da assembleia, das empresas e em suma dos processos serão razoáveis, bons ou excelentes.

Tenho a convição que os parceiros falaram muito do dinheiro, do dólar dos milagres - mas, muito pouco na mudança cultural, fundamental para sustentar o desenvolvimento e se obter os resultados que todos esperavavam e não esta desgraceira... no fundo no fundo todos falhámos.
Não se consumam, nem caçem bruxas...
Termino com um abraço.

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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