segunda-feira, novembro 20, 2006

Ramos-Horta triste e indignado com "trágica morte" de cidadão brasileiro

Díli, 20 Nov (Lusa) - O primeiro-ministro timorense, José Ramos-Horta, man ifestou-se hoje "triste e indignado" com a morte de um cidadão brasileiro, a primeira de um estrangeiro, ocorrida domingo à noite em Díli.

"Foi com grande tristeza e indignação que tomei conhecimento do falecimento do cidadão brasileiro Edgar Gonçalves Brito, de 32 anos, ocorrido domingo à noite em Dili, vítima de crime", lê-se no comunicado enviado pelo gabinete de Ramos-Horta à Lusa.

Depois de salientar que contactou o embaixador do Brasil em Díli, António de Souza e Silva, para lhe transmitir "sinceras condolências", extensíveis à família do cidadão brasileiro, um pastor evangélico, Ramos-Horta anunciou que tenciona visitar hoje à tarde (hora local) a irmã da vítima.

"As autoridades policiais iniciaram de imediato investigações no sentido de encontrar os responsáveis de tão horrendo crime. Gonçalves Brito, cuja vida foi tragicamente tirada, era um missionário Protestante da Assembleia de Deus, uma pessoa unanimemente respeitada e cujo trabalho em Timor-Leste, ensinando Português e prestando assistência social em (distrito de) Viqueque, era um forte símbolo da amizade existente entre o Brasil e Timor-Leste", vincou.

Entretanto, ao contrário das primeiras informações, Edgar Gonçalves Brito terá sido morto em consequência dos ferimentos recebidos com uma lâmina, e não por ter sido baleado, como foi inicialmente anunciado.

A morte de Edgar Gonçalves, pastor missionário evangélico, ocorreu cerca das 21:30 de domingo (12:30 de Lisboa), quando regressava a casa, acompanhado da irmã, enfermeira, proveniente de um culto religioso, revelou o pastor Durval Barbosa, em declarações à Agência Lusa.

"Trata-se de uma notícia trágica. A morte de uma pessoa querida que trabalhava muito, que veio para este país para ajudar a trazer a paz para este povo e que foi vítima de pessoas que têm muito ódio dentro de si", lamentou.

Cidadãos brasileiros que contactaram a irmã da vítima, que testemunhou o incidente, disseram à Lusa que os dois irmãos regressavam a casa, provenientes de um culto, quando foram surpreendidos por um grupo de jovens armados.

"Ele tentou dizer que não era timorense, que não era daqui, mas eles não quiseram ouvir e atacaram-no. Faleceu pouco depois", acrescentou Durval Barbosa.

Josué Vieira Santos, outro cidadão brasileiro, referiu que a morte de Edgar Gonçalves apanhou de surpresa a comunidade brasileira, sobretudo por ocorrer dias depois das diversas iniciativas em prol da paz realizadas ao longo da semana passada na capital timorense.

"Depois de todas as passeatas de paz estávamos esperançados que a situação já estaria resolvida a nível de segurança pública", afirmou.

A morte de Edgar Gonçalves, a primeira de um cidadão estrangeiro em Timor- Leste relacionada com a crise político-militar desencadeada em Abril passado, verificou-se quando grupos de jovens surpreenderam a viatura em que seguiam os dois irmãos na zona entre os bairros de Akadiro Hun e Bidau, onde se situa o Hospital Nacional Guido Valadares.

Depois de ter sido ferido, Edgar Gonçalves ainda conseguiu conduzir a viatura até uma casa em que residem outros brasileiros, que o tentaram transportar até ao Hospital Nacional, mas que foram impedidos de o fazer devido à confusão nessa parte da cidade e a barreiras formadas por pneus, levantadas por grupos de jovens.

Transportado para a Clínica do Bairro Pité, o corpo chegou já sem vida.

EL-Lusa/Fim
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1 comentário:

Anónimo disse...

Sou brasileira, e estive em Timor Leste durante dois anos trabalhando. Trabalhei com afinco e estive presente, como muitos brasileiros, quando dos acontecimentos de abril e maio deste ano, quando vi nosso trabalho - de malaes e timorenses - serem arrastados ao chao. Mas, mesmo com dor, medo e lagrimas, seguimos em frente... nao poderia ser diferente, nessa terra do sol nascente, porque diferente nao e o exemplo desse povo timorense.
Quando, mesmo contra minha vontade, tive que voltar ao Brasil, senti-me "abandonando o barco" em plena tempestade que assolava esse pais, roubando o riso e a esperanca desse povo ja tao sofrido.
Mas essa e a historia deles que eu respeito, compreendo e aceito que escrevam com suas proprias maos.
A nos, malaes, so nos e permitido o papel de co-participantes na medida em que somos chamados a colaborar. Nao nos cumpre transformar ou mudar o curso e a direcao. Mas eu me pergunto, temos feito a nossa parte??
Quantos timorenses ja morreram ate agora? E quantos mais serao necessarios morrer para que possamos entender a mensagem?
Desta vez foi um brasileiro... brasileiros sao povos irmaos dos timorenses, amados por eles, desde o braco armado que ai estiveram ensinando capoeira, samba e futebol, aos professores que ensinaram portugues com musica e que ainda insistem em ensinar em plena crise, quando todos ja se foram ate aos missionarios que de tanta humildade, sem o limite da lingua (falam tetum e ate outros dialetos) ja nao sao malaes, e sim verdadeiros timorenses.
Por isso, e provavel que hoje sintam em Timor que morreu um quase-timorense e nao realmente um internacional...
E eu me pergunto, numa escala de importancia, as autoridades internacionais agiriam diferente se, ao inves de um brasileiro tivesse morrido um australiano ou um americano em Timor Leste?
Quantos mais precisaram morrer para que se de um BASTA a essa situacao??

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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