(II parte)
A teoria das conspirações
(continuação)
Hoje, vou abordar os pontos elaborados no n.º 3 do documento de ‘Análise da Situação e Perspectivas, do Comité Central da Fretilin, de 29 de Outubro de 2006’:
‘Durante estes 4 anos, um plano bem traçado de contra-inteligência foi sendo implementado que incluía:
i) criar rivalidade e clima de suspeição mútua entre F-FDTL e PNTL;
ii) usar a média e o boato para manchar a imagem do Governo e, em particular, do Primeiro Ministro;
iii) aprofundar as diferenças de postura entre o Presidente da República e o Primeiro Ministro, minando as relações institucionais entre ambos;
iv) dividir a Fretilin e enfraquecer a sua liderança;
v) organizar grupos para manifestações frequentes;
vi) criar um clima de caos e de ingovernabilidade;
vii) aliciar as Forças para a necessidade de intervir a favor de um golpe para derrubar, pretensamente, para ‘salvar o país’ de um ‘governo impopular’.
Um plano bem traçado de contra-inteligência foi sendo implementado!!! Fui professor de português, em 1963, e insisto que o verbo traçar pede também um sujeito... objectivo! Traçado por quem? Quem é esse fantasma que anda a brincar a traçar planos contra o I Governo Constitucional, eleito democraticamente, na eleições para a Assembleia Constituinte, em 30 de Agosto de 2001?
Um plano bem traçado de contra-inteligência... não será de certeza produto de algo impalpável, tem que vir de cérebros. E isto pressupõe que tenhamos inteligência! Ninguém nega que, individualmente, os senhores doutores do CCF, possuem inteligência! Mas será que o Estado tinha serviços de inteligência? Eu tenho a absoluta certeza de que os senhores doutores do CCF ouviram, antes de se pronunciarem, em termos inteligentes, os serviços de informação, encabeçado pelo Sr. Eng. Ricardo Ribeiro, os serviços de inteligência da PNTL e os serviços de informação militar, da FFDTL. Porque só dessa nossa inteligência, podemos perceber a contra-inteligência.
Ou será que o CCF tem os seus próprios serviços de inteligência? Serviços de segurança, isso sim, todo o Povo sabe, que o grupo de arte marcial, o Korka é quem dá a segurança política nas reuniões do Partido. Eu digo ‘segurança política’ porque são membros do Partido, um partido político. Mas o Povo não sabe se também o CCF tem serviços de inteligência.
Indiquem-nos, por favor, essas maldosas pessoas!!! O Povo unido até pode ajudar o CCF a apanhá-las e metê-las em Becora, para aprenderem a perceber que a nossa democracia não permite manifestações... contra o Governo! Eu creio que o povo ficará contente e descansado por, finalmente, castigarmos esses ‘profundamente anti-democráticos e golpistas!!! Mas, revelem-nos os nomes por favor!
i) criar rivalidade e clima de suspeição mútua entre F-FDTL e PNTL
Alguém, esse fantasma, criou ‘rivalidade e clima de suspeição mútua entre FFDT e PNTL’! Ou um grupo bem organizado criou... ou... um conjunto de organizações criou!
O Senhor Paulo Martins, que metia os seus colegas ex-agentes da polícia indonésia? É possível! Falando em ‘rivalidade e clima de suspeição mútua’... terá sido um plano do Senhor Paulo Martins, armar uma polícia pro-autonomia para combater as F-FDTL?
O Senhor David Ximenes, que todos sabiam, tinha uma enorme antipatia para com o Senhor Paulo Martins? Falando em ‘rivalidade e clima de suspeição mútua’, terá sido plano do Senhor David Ximenes, recrutar os veteranos da resistência clandestina para a Polícia, para contrabalançar com as F-FDTL?
Terão sido os veteranos?
Ao exigir um maior respeito às suas pessoas, como veteranos, estavam a ‘criar rivalidade e clima de suspeição mútua entre F-FDTL e PNTL’, porque eles eram antigos guerrilheiros?
Terá sido a Polícia Nacionalista?
Tenho o documento de averiguações, do Gabinete de Inspecção da PNTL, de 7 de Março de 2006, sobre o assunto da Polícia Nacionalista, em que muitos declaram terem reunido, colectivamente, com o membro do CCF, deputado do Parlamento Nacional, Senhor Elisário, o membro do CCF e Secretário-Geral Adjunto da Fretilin e Secretário de Estado da Juventude e Desporto, Senhor Dr. José Manuel Fernandes, o Director dos Serviços de Informação Nacional e Assessor do Primeiro-Ministro, Senhor Eng. Ricardo Ribeiro (não sei se é membro do CCF) e mais outros indivíduos fora da PNTL, para formarem o grupo da Polícia Nacionalista! Houve encontros em Aituri Laran, em Becora e na Universidade Continental.
E é interessante transcrever parte das declarações do Secretário-Geral Adjunto da Fretilin, Sr. Dr. José Manuel Fernandes: ‘Ha’u dehan ami nain tolu (ha’u, Senhor Ricardo, Sr. Liurai Tasi) né diretamente promotor ba grupo né, i ami mos hein ikus mai Unaqmartil nebé mak mosu finaliza Timor ninian mos, sei bele dait tan, katak ami nain tolu mos sei sai promotor ba loron ikus’. (Eu disse, nós os três (eu, Senhor Ricardo, Senhor Liurai Tasi) somos directamente promotores deste grupo, e nós também estamos à espera de virmos a ser também promotores da Unaqmartil, que já existe, depois de eles finalizarem o processo).
E, como que a corroborar comigo, o Senhor Dr. José Manuel Fernandes, Secretário-Geral Adjunto da Fretilin, acrescentou: ‘Labele kaer deit ba abaixo assinado hanesan causa ba problema, maibé abaixo assinado sira halo né, ha’u bele interpreta katak hanesan efeito husi caso ida nebé mak mai antes kedas’. (Não se pode pegar no abaixo assinado como a causa do problema, e, na minha interpretação, o abaixo assinado é um efeito de algo que apareceu antes).
Senhor Secretário-Geral Adjunto, diga isso aos seus camaradas (subordinados) do CCF: ‘nunca tomem o efeito pela causa’!
Se os dois são membros do Comité Central da Fretilin e membros do Governo, porque não encontraram uma forma de comunicar o problema ao Secretário-Geral do Partido e Primeiro Ministro? Se são todos membros do Comité Central da Fretilin, uns deputados e outros membros do Governo, porque não encontraram uma forma de comunicação com outro membro do Comité Central da Fretilin e Ministro do Interior, Senhor Rogério Lobato? Se são todos membros do Comité Central da Fretilin, uns deputados e outros membros do Governo, será que é permitido fazerem estas coisas, que depois aparecem ao público como ‘culpa dos agentes da polícia’?
Outra questão interessantíssima é o compromisso que o Secretário-Geral Adjunto, Senhor Dr. José Manuel Fernandes, fez, na investigação, quanto à UNAQMARTIL! O público sempre pensou que Unaqmartil era um grupo anti-Governo, porque um dos líderes da Unaqmartil era o Senhor Reis Kadalak, tantas vezes apelidado pelos seus camaradas no Parlamento e no Governo como o ‘frustrado’, o ‘cabelos compridos’ que não tinha lugar na Fretilin!
Agora, sim, estamos a perceber as ‘inteligências’ e ‘contra-inteligências’! Devo reconhecer, finalmente, que isto tudo é... muito inteligente!
Terá sido a PNTL, no seu todo, a criar a rivalidade e suspeição mútua?
Os tantos problemas, pequenos na maioria, surgidos entre agentes da Polícia e membros das F-FDTL, terão sido propositadamente ‘implementados’ para ‘criar rivalidade e clima de suspeição mútua entre F-FDTL e PNTL’?
Terão sido as F-FDTL, a criar a rivalidade e suspeição mútua?
Depois da ‘tentativa de manipulação política dos problemas dos veteranos com a organização de uma manifestação com o ex-comandante L-7 e outros veteranos em 2004’, houve um diálogo (que muitos distintos doutores não gostaram) entre membros do Governo, membros do Parlamento e Veteranos e membros da Polícia Nacionalista.
Lembro-me que, no decurso do diálogo, uma pergunta surgiu de membros da F-FDTL: ‘porquê a criação da Unidade Especial da Polícia? Será que a F-FDTL não chega?’
No Relatório da Comissão de Investigação, de 2004, sobre o caso de Lospalos, onde os militares controlaram o posto da polícia, a pergunta aparecia em todas as bocas: Porquê e para quê uma Unidade Especial da Polícia? Mas havia mais: Porquê havia maior atenção à Polícia e ‘quase nenhuma atenção’ às F-FDTL? Porquê, para a alimentação, a Polícia recebia mais do que as Forças? Porquê, não havia também ‘per diem’ para os militares, quando chamados a dar segurança, nas deslocações das entidades do Governo, e só a Polícia recebia? Porquê a PNTL, sendo em maior número, tinha fardamento igual e as F-FDTL pareciam mais umas Forças das Nações Unidas, com fardamentos da China, de Portugal, de Moçambique?
Enfim, acabo aqui a lista dos porquês, mas os anteriores podem denunciar já, a todo o povo, quem pode ser os actores internos e externos que, durante estes 4 anos, tentaram ‘criar rivalidade e clima de mútua suspeição entre F-FDTL e PNTL’!!!
Terão sido, esses actores internos, os Partidos Políticos da oposição? O ASDT? O PD? O PSD? Os outros Partidos?
Os intelectuais? O Senhor Dr. Lucas da Costa? O Senhor Dr. Vital dos Santos? O Senhor Pe. Martinho Gusmão? O Senhor Pe. Domingos Maubere?
Quem serão os actores externos? Os conselheiros militares internacionais a trabalhar com as F-FDTL? Os americanos, os australianos e o malasiano que está no Ministério da Defesa? Os Embaixadores?
Os conselheiros da UNMISET a trabalhar com a PNTL? Os Embaixadores?
Ouve-se muito dizer que conselheiros (americanos ou australianos) abordaram oficiais superiores das F-FDTL sobre ‘golpes’ (não sei se ‘golpes de mão’ ou ‘golpes de pés’). Se o CCF possuir esses dados, divulgue os nomes deles.
Somos um País democrático e SOBERANO! A nossa SOBERANIA tem que ser defendida!!! O Parlamento Nacional pode, depois da divulgação minuciosa de dados pelo CCF, passar uma Resolução definindo essas pessoas de ‘personas non gratas’. O actual Primeiro Ministro do Governo inconstitucional pode apresentar um protesto diplomático ao Governo que tiver mandado o/s seu/s cidadão/s para fazer este trabalho de ‘carácter profundamente anti-democrático e golpista’, no nosso país, demonstrando um total ‘desrespeito pela ordem constitucional democrática’.
Todo o Povo se lembra de que, quem chamou o Governo Australiano de ladrão, fui eu! Numa Mensagem à Nação! Senhores Doutores do CCF, só tenho 7 meses para terminar o meu mandato e não tenho nada a perder! Dêem-me os nomes e denunciarei essa conspiração internacional, seja junto do Presidente Bush seja junto do Primeiro Ministro John Howard! Mas venham os factos, com os respectivos nomes!
QUEM? Quem está no cérebro deste ‘PLANO BEM TRAÇADO’?
ii) usar a média e o boato para manchar a imagem do Governo e, em particular, do Primeiro Ministro
Senhores doutores do CCF, (democrática e transparentemente eleito no Congresso de Maio de 2006!!!) com todo o respeito, que devo a dirigentes históricos do Partido histórico!
Quanto à média, todos em Timor, sabemos das explosivas declarações do Primeiro-Ministro do I Governo Constitucional, eleito democraticamente nas eleições para a Assembleia Constituinte, em 30 de Agosto de 2001. Eu tentei, sempre que podia, alertar o Primeiro-Ministro para evitar utilizar linguagem confrontativa.
Em Janeiro de 2004, falei assim: ‘Primeiro-Ministro, não estou a dirigir-me a si como Presidente da República, porque eu sei que não me ouve! Falo para si, como um antigo companheiro da luta, como um amigo dos tempos da juventude, e peço que não responder imediatamente às palavras e notícias que saem nos jornais. Deixe passar dois ou três dias e vai reparar que não vale a pena responder ou comentar’. O Primeiro-Ministro aceitou o ‘conselho’ e congratulei-o posteriormente pelo esforço de refrear o desejo de ir, imediatamente, ao contra-ataque... até que a paciência se lhe esgotou ou a própria personalidade lhe não permitiu ficar à mercê das críticas e... recomeçou-se a guerra de palavras, que nunca mais podia augurar um fim amistoso!
Como Presidente da República, estou arrependido de ter VETADO o Código Penal! Vou já pedir ao actual Governo inconstitucional, para endurecerem as disposições punitivas quanto à difamação e boatos e criar um novo artigo sobre ‘Crimes por manchar a imagem do Chefe do Governo’! Realmente, não se pode tolerar tanta falta de respeito a um Primeiro-Ministro de um Governo legítimo e democraticamente eleito!
Eu sei que o Povo, simples, humilde e sofredor, vai compreender com clara noção dos seus deveres e obrigações de cidadania, esta IMPOSIÇÃO DE RESPEITO AOS SEUS LEGITIMOS GOVERNANTES!
Vou também recomendar ao Primeiro-Ministro, do actual Governo inconstitucional, para apressar com a Lei da Liberdade da Imprensa. Senhores doutores do CCF! Contem comigo, porque enviarei de volta a Lei, para ser corrigida no título que deverá ser: Lei da Censura!
Assim, esses jornaizecos que temos, no nosso Estado de direito democrático, não vão brincar mais a ofender os governantes deste país! Mas que ousadia! Num Estado de direito democrático, ofenderem (= mancharem a imagem) dos governantes, legítimos e democraticamente eleitos, com uma maioria de dois terços! É, o que se pode dizer, um grave insulto aos valores democráticos!
O mais importante, senhores doutores do CCF, é tirar as melhores lições, porque segundo os ‘experts’ dos primeiros 4 anos, ‘governar era aprender’! Aprendamos a governar com firmeza e nada mais confortável que... governar sem o receio de nenhuma crítica e, obviamente, sem oposição!!!
iii) aprofundar as diferenças de postura entre o Presidente da República e o Primeiro Ministro, minando as relações institucionais entre ambos
É muito vaga a expressão: ‘diferenças de postura’! As pessoas podem pensar que se relaciona apenas aos problemas recentes da crise!
Nunca quis ser Presidente da República e, por isso, durante a UNTAET, não passei por algum programa de ‘capacity building’! Como não sou formado em Direito, a Constituição que estava a ser redigida, discutida e aprovada pela Assembleia Constituinte, eleita em 30 de Agosto de 2001, foi para mim um documento de estudo, para eu compreender, as funções de Presidente da República, já depois de ser Presidente.
Vim a compreender a diferença entre o sistema presidencial e o nosso de semi-presidencial.
O presidencial definiria que o Presidente da República seria do Partido que ganhou as eleições, democráticas. Se a Constituição tivesse definido o sistema presidencial, todos pensam como eu, o Presidente da Fretilin teria sido o Presidente da República e não teria havido eleições presidenciais em Abril de 2002. (E... diga-se de passagem... não teria havido ‘golpe constitucional’ por parte do Xanana, como o Senhor Dr. Vasconcelos (não sei se é membro do CCF), e Director do BPA, gostava de utilizar nos seus ‘SMS’ a toda a gente!)
Mas o semi-presidencial teria um Presidente, que deveria ‘aparecer’ como não vinculado ao Partido no poder, mesmo que seja membro desse Partido. Sendo que eu deixei a Fretilin, muitos anos atrás, eu não fugiria muito à ‘figura’ que se estava a exigir desse Presidente.
Compreendi a independência que se garantia a este Órgão de Soberania e compreendi também os vínculos institucionais, chamados de ‘solidariedade institucional’, que permitem abordar muitos problemas... à porta fechada... e todas as semanas.
Desde 20 de Maio de 2002, houve muitas ‘diferenças de postura’! Para ir apenas a algumas ‘diferenças de postura’, de que todo o público timorense se lembra, pode-se ir à de Novembro de 2002, com o pedido público de demissão de um Ministro. ‘Diferenças de postura’ na escolha de um primeiro embaixador para a Austrália. ‘Diferenças de postura’ na lei de revisão do sistema de impostos. ‘Diferença de postura’, na Lei de imigração! ‘Diferença de postura’ no Código Penal! ‘Diferença de postura’, nas eleições de chefes comunitários! ‘Diferença de postura’ na ‘contratação política’ do Korka, pela Fretilin! ‘Diferenças de postura’ no assunto de corrupção nos concursos públicos, nas minhas intervenções para as Conferências com os Parceiros de Desenvolvimento!
Apesar dessas ‘diferenças de postura’, importantíssimas quanto a mim, as relações mantiveram-se, penso eu, guiadas pela ‘solidariedade institucional’.
‘Aprofundar as diferenças de postura... minando as relações institucionais’, é grave! O verbo aprofundar só pode ter dois sujeitos, porque o terceiro sujeito é vítima desse complô de ‘carácter profundamente anti-democrático e golpista’, por ‘desrespeito à ordem constitucional democrática’.
O primeiro sujeito só pode ser o Presidente da República! Este, é claro, toda a gente sabe o seu nome, a sua idade, onde é que mora e tem o cartão de eleitor para 2007.
O segundo sujeito, desde que o Presidente da República seja orgulhoso demais para não admitir as suas próprias culpas, só pode ser esse tal ‘fantasma’ ou ‘fantasmas’, porque podem ser actores internos e externos.
Aqui, já é mais complicado, porque só o CCF, democrática, legitima e transparentemente eleito no Congresso de Maio de 2006, pode responder. Queria dizer apontar os nomes, divulgar esses nomes!
Mas, como disse atrás, pode ser que o CCF considerou apenas o tempo da crise!
Mas, podemos ir para estas análises! Como, depois de terminado o meu mandato, a partir de 20 de Maio de 2007, serei apenas um cidadão ordinário, cujo voto não afecta em nada o exercício democrático dos partidos políticos, não tenho nada a perder, se vamos todos dissecar os pequenos segmentos da crise, onde as relações institucionais foram profundamente abaladas!
Logo depois do problema dos peticionários, embora houvesse, eu creio, ‘diferenças de postura’, sempre houve troca de informações e dava-se a conhecer um ao outro de qualquer plano ou ideia que se pensava poder ajudar a encontrar uma solução.
Havia, tanto quanto possível, um esforço de cooperação entre os dois Órgãos, respeitando-se a independência de actuação e de competências. E em todas as anteriores situações de ‘diferenças de postura’, não me lembro ter havido uma postura de irreconciliabilidade nos actos das duas instituições. Sempre que necessário, critiquei actuações do Governo, em mensagens dirigidas à Nação, adoptando sempre o princípio de ‘defender’ o Governo nas minhas intervenções no interior do país ou fora do país.
Bem, vamos à actual crise! Eu tenho que descrever alguns factos relevantes para percebermos a objectividade da análise do CCF quanto ao ‘aprofundar as diferenças de postura... minando as relações institucionais.’
Apesar das ‘diferenças de postura’, em relação à expulsão dos quase 600 militares, os 2 órgãos de soberania sempre discutiram o problema, sem pré-conceitos rigidamente estabelecidos.
1 - O Primeiro Ministro planeou ter um encontro com os Oficiais das F-FDTL. Eu pedi-lhe para deixar para mim e que o informaria do resultado. Após o encontro, na noite de 8 de Abril, com os oficiais das F-FDTL, informei ao Primeiro Ministro do que aconteceu e disse-lhe que teríamos de encarar o problema já sob outra perspectiva, a de promover e assistir a reinserção dos ex-militares na vida civil. Tentou-se cooperar para encontrarmos a solução mais apropriada.
2 – No dia 28 de Abril, logo pela manhã, o Primeiro Ministro falou comigo ao telefone e pôs-me ao corrente do ambiente frágil e tenso que envolvia os manifestantes. Informou-me do seu encontro, na véspera, com o Gastão Salsinha e pediu-me para também falar com ele. Chamei o Gastão Salsinha e, depois de lhe dizer, que eram totalmente inaceitáveis as exigências que fizeram, ele aceitou as condições que eu dei e estava disposto a seguir, se os jovens o tivessem ouvido.
Fui imediatamente ao Hotel Timor, para o encerramento do Fórum dos Empresários e transmiti ao Primeiro Ministro o resultado a que se chegou, no encontro com o Gastão Salsinha:
- que ele aceitou era inaceitável a exigência para suspender o Brigadeiro-General Taur Matan Ruak e outros oficiais
- que ele aceitou trabalhar com a Comissão dos Notáveis
- que todos quantos assinaram a petição deveriam permanecer em Díli, para facilitar os trabalhos da Comissão
- que os restantes membros do grupo deveriam voltar aos distritos
E o Primeiro Ministro comunicou-me também da sua apreensão quanto à capacidade do Gastão Salsinha de controlar os jovens e, nesse aspecto,
- que ele concordou tentar, como pudesse, persuadir os jovens a manterem-se calmos e esperarem que um membro do Governo fosse falar com eles.
Ainda durante a cerimónia, dos empresários, o Primeiro Ministro chamou o Ministro Horta que aceitou a incumbência de ir falar com os peticionários mas, sobretudo, aos jovens apoiantes que estavam exaltados.
Acabada a cerimónia, também por chamada do Primeiro Ministro, apareceu o Ministro Rogério e fomos encaminhados a uma sala. Abordámos a fragilidade da situação, no tocante aos jovens, apoiantes ou participantes da manifestação, informando da perspectiva da ida do Ministro Horta. O Ministro Rogério ofereceu-se para chamar o ex-comandante Dudu para ir acalmar os jovens, até à chegada do Ministro Horta.
Pedi apenas para o Ministro considerar a segurança no seu trajecto, de regresso ao local onde se concentravam e o próprio Ministro garantiu a possibilidade de serem transportados em camiões da polícia, para evitar confrontos físicos com a população, moradora do mercado de Comoro.
Terminado este encontro, que só abordou a questão da manifestação e como dar a devida assistência para terminar em bem, saímos da sala, enquanto os jovens, já na rua, estavam a fazer os estragos que todos conhecem. Disse ao Primeiro Ministro que regressava a Caicoli, para acompanhar a situação. Só depois das 6 e meia da tarde, é que voltei a casa, e porque não recebera nenhuma informação, de quem quer que fosse, pensei que a violência se tivesse reduzido apenas ao que aconteceu no Palácio do Governo.
3 – No dia seguinte, 29 de Abril, à saída de casa para o trabalho, a minha segurança informou apenas que, a partir da meia-noite, houve muita troca de tiros em Rai Kotu e que se prolongou até às 7 daquela manhã.
Fiquei assustado com a notícia, já que a segurança não podia dar mais informações. Chegado a Caicoli, pedi para que chamassem o Senhor Comandante-Geral Paulo Martins a fim de me dar o ponto de situação da casa do Primeiro Ministro, pelas 4 horas da tarde do dia anterior, do Gabinete de crise da situação.
O Senhor Paulo Martins informou-me então da reunião havida e em que a decisão que fora tomada foi de dividir as áreas de actuação das F-FDTL e da PNTL.
Não quis acreditar! Pedi ao próprio Comandante-Geral da Polícia para ligar ao Primeiro Ministro. Perguntei ao Primeiro Ministro sobre o que estava a acontecer. O Primeiro Ministro informou-me acerca da decisão tomada de aplicar as F-FDTL. À minha pergunta de porquê eu não fora informado, atempadamente, o Primeiro Ministro respondeu que tentou chamar-me pelo telefone, mas que o Telecom não funcionava. Fiquei surpreendido, porque de Farol a Caicoli, a distância não é a mesma de Balibar a Caicoli e eu estava no meu gabinete até para além das 6 e meia da tarde.
Pus, simplesmente, de lado o problema de falta de coordenação institucional ou, no mínimo, de informação entre instituições. Disse então ao Primeiro Ministro que iria imediatamente sair para ver a situação ‘in loco’ e pedi ao Primeiro Ministro para ordenar que, até às 2 horas da tarde, as Forças deveriam retirar-se para os quartéis. O Primeiro Ministro respondeu-me que sim e que iria dar instruções nesse sentido.
Pelas 3 da tarde, encontrava-me em frente da Embaixada Americana, na Praia dos Coqueiros, a tentar resolver o problema do ajuntamento das pessoas que buscavam o refúgio naquela embaixada. Apareceu o Secretário de Estado, Senhor David Ximenes, que me facilitou ligar ao Ministro de Defesa, Dr. Roque Rodrigues. Falei com ele, dizendo ‘Senhor Ministro, por favor, lembre ao Primeiro Ministro que me prometeu, hoje de manhã, retirar as Forças para os quartéis e já são 3 horas e ainda estou a ver alguns militares postados perto daqui’.
Às 4 da tarde, estando já em Motael a contactar com o Pároco para receber, no complexo da Igreja as pessoas que estavam a tentar buscar refúgio na embaixada americana, o mesmo Senhor David Ximenes passou-me o seu telefone. Aí, o Primeiro Ministro disse-me que só à noite, iria ter uma reunião para decidirem sobre o assunto.
No dia 30, no meu gabinete, tive um encontro com o Primeiro Ministro, o Ministro Ramos-Horta e o Brigadeiro Taur. Foi-me apresentado um plano de retirada, que continha 3 fases e que só no dia seguinte (1 de Maio), iriam definir a sequência no terreno e a coordenação com a PNTL. (Entretanto o Senhor Presidente do Partido telefona ao Brigadeiro, pedindo-lhe para fechar imediatamente o aeroporto, para não deixar sair ninguém, sobretudo os líderes da oposição!!!, ao que o Primeiro Ministro prometeu depois falar com o Senhor Lú Olo).
O Presidente da República preferiu aceitar as fases, porque o objectivo era o recuo gradual das Forças, cuja presença estava a criar ‘animosidade’ no seio da população.
Nos dias subsequentes, nunca o Presidente da República levantou, como matéria de facto, a falta de melhor percepção de todas as instituições sobre os problemas da população. Respeitei sempre as decisões do Primeiro Ministro, respeitei sempre os planos do Gabinete da Crise, num esforço de contribuir positivamente para a solução do problema maior – o que dizia respeito à população.
3 – Li em jornais que o Presidente da República estava a receber amiudadas vezes o Ministro Horta e que custava imenso ao Primeiro Ministro ser recebido.
Em Caicoli, no Palácio das Cinzas, os encontros foram sempre com o Primeiro Ministro, às vezes acompanhado pelo Ministro Horta. Das poucas vezes que o Ministro Horta veio sozinho a Caicoli, o Primeiro Ministro era imediatamente chamado a seguir.
As relações institucionais, que eu me lembre, não se deterioraram, antes pelo contrário, houve sempre ensejo de mostrar que havia a vontade de cooperar, entre as duas instituições.
4 – Em 23 de Abril, teve lugar o combate de Fatu Ahi, de que eu só fui informado pelo próprio Primeiro Ministro, em 24, no meio de outros dados sobre outro combate, o de Tasi Tolu.
Da minha parte, nunca saiu nenhuma palavra que colocasse o Primeiro Ministro a pensar que as duas instituições estavam definitivamente em lados opostos.
Mesmo que quisesse, o Presidente da República não podia pensar para além do limitado horizonte de informações que o Primeiro Ministro ia dando. Decidi, a dada altura, proibir no Palácio da Cinzas, toda a entrada de rumores e informações desconexas.
O Presidente da República, como Órgão de Soberania, não possui serviços de inteligência! É o Governo e o Governo deve admitir que tinha um serviço de informação nacional, incapaz e ineficiente. Pelo menos, era o que transparecia antes, durante e depois do período difícil da crise, porque os rumores, propositadamente fabricados ou não, eram a substância das informações.
5 – No dia 24 de Maio, em Caicoli, recebo o Presidente do Parlamento Nacional, o Primeiro Ministro, o Ministro do Negócios Estrangeiros, a que depois se juntaram o Ministro de Defesa e o Ministro do Interior. Fui então informado acerca dos últimos acontecimentos e colocou-se a questão de ser já a altura de pedir a intervenção estrangeira.
Mantive a mesma posição de recusar a intervenção estrangeira, porque em minha opinião, como Estado, mesmo com os problemas surgidos, deveríamos ser nós os timorenses a resolver os nossos próprios problemas. Os ilustres Senhores insistiram, considerando que o Alfredo Reinado estava a monte com armas, assim como os peticionários e a polícia, que atacaram o Quartel-General das F-FDTL, em Tasi Tolu, já que poderíamos passar a uma situação mais confrontativa.
Perante as minhas reticências, o Ministro Horta perguntou ao Ministro de Defesa, Dr. Roque Rodrigues, quais seriam as probabilidades de sucesso, se as F-FDTL desencadeassem uma operação sobre o Reinado e sobre os peticionários. O Senhor Ministro de Defesa, Dr. Roque Rodrigues respondeu, mais ou menos, nestes termos: ‘As F-FDTL estão preparadas e podem encurralar tanto o Alfredo como os peticionários! Mas só posso garantir esse sucesso, com uma condição, que a PNTL não se envolva a favor do outro lado!’ Ao acabar, o Senhor Dr. Roque Rodrigues olhou, de propósito, para o Ministro Rogério que se manteve impávido e sereno, como que a não querer responder à provocação.
Concordei, então, com a decisão de pedir a intervenção das Forças Internacionais!
Logo a seguir, convocou-se o Corpo Diplomático, para se dar a saber da decisão. Já no início da reunião com o Corpo Diplomático, lembrei-me de uma informação que me chegou aos ouvidos e, enquanto o Ministro Horta estava a explicar a decisão, em inglês, sussurrei ao Primeiro Ministro: ‘Ouvi dizer que o L-7 vem aí com muitos civis para se apresentarem às F-FDTL. È isto verdade?’ E o Primeiro Ministro confirmou dizendo ‘É o Ruak que está a chamar os reservistas’. E eu disse: ‘Por favor, diga ao Ruak para não fazer isso, evitemos armar civis’. E eu sei que o Senhor Dr. Mari Alkatiri se lembra desta conversa, em sussurros, que tivemos à frente de todo o corpo diplomático e a imprensa.
6 - Houve, sim, uma reacção minha a toda esta situação, quando fui informado do combate no Quartel-General da Polícia e da situação da morte de alguns agentes, no dia 25 de Abril, que era feriado e eu estava em casa. E eu disse: ‘Já chega! Com o que está a acontecer, o Governo está a provar que não tem capacidade de controlar a situação! Assumo, a partir de agora, a defesa e segurança!”
Nisto, concordo que as ‘relações institucionais’ tivessem sido bastante danificadas! Mas, quando o Primeiro Ministro teve a amabilidade de ir à minha casa, em Balibar, expliquei o porquê da minha reacção! E o Primeiro Ministro sabia que eu não tinha mexido um dedo para deter o comando nem sobre as F-FDTL nem sobre a PNTL! Se o Senhor Paulo Martins ia à minha casa, o actual Ministro do Interior também esteve lá, por mais de uma vez e, todas as conversas que eu tive com eles, foi apenas de pedir para eles controlarem devidamente a polícia e, sobretudo, as armas!
Recebi o Primeiro Ministro com o mesmo respeito que sempre lhe demonstrei, apesar de muitas ‘diferenças de postura’, durante 4 anos!
E foi com esse mesmo respeito, que lhe pedi para transmitir à Senhora Dra. Ana Pessoa, que se ela pensou que me magoava com o seu ‘Sms’, em que dizia ‘Viva a imundície da democracia da república de bananas/Xanana’, o efeito fora precisamente o contrário, porque só pude exclamar assim: ‘Pobre Ana!’.
As ‘diferenças de postura’, até aí, não creio ter melindrado as ‘relações institucionais’.
Mas se o CCF pensar diferentemente (estamos numa República Democrática), enumere por favor algumas ‘diferenças de postura’ que se ‘aprofundaram’ e ‘minaram as relações institucionais’ entre o Presidente da República e o Primeiro Ministro.
Em 4 de Dezembro de 2002, eu dei o corpo, como sempre fiz, em fins de 1999 e em todo o ano de 2000, seja durante as várias cenas de violência nas comunidades, seja em casos de estragos e manifestações. Muitos senhores que hoje afirmam que qualquer acto de violência e a manifestação são um ‘desrespeito pela ordem constitucional democrática’ com ‘carácter profundamente anti-democrático e golpista’, não apareceram, ainda e naquela altura, na cena política do país! Não havia ainda a Assembleia Constituinte!
Na manifestação promovida pela hierarquia da Igreja, o Primeiro Ministro manifestou o desejo de ir falar aos manifestantes e eu disse ‘não’ e garanti-lhe que eu iria para lá... defender os interesses de todo o Estado!
Abordei as ‘diferenças de postura’ entre o Presidente da República e o Primeiro Ministro (e devo acrescentar, também com alguns ilustres membros do CCF e membros do I Governo constitucional, eleito democraticamente, nas eleições para a Assembleia Constituinte, em Agosto de 2001) e nunca utilizei essas diferenças para estabelecer distâncias entre nós.
Por hoje, fiquemos com essas diferenças até... o 25 de Maio de 2006! As outras virão na próxima edição...
iv) dividir a Fretilin e enfraquecer a sua liderança
É interessante esta análise!!! Todos em Timor, sabem que os problemas dentro da Fretilin existiam, mesmo antes da ‘expulsão’ do Senhor Victor da Costa, do Governo.
Depois da sua saída, ele mais uns seus camaradas, foram insistindo para a uma reunião comigo e mandei dizer-lhes que eu não podia intrometer-me nos assuntos internos do Partido. Inclusive, informei ao Secretário-Geral do Partido e Primeiro Ministro da posição tomada por mim.
Por aquela altura, em encontros com a bancada da Fretilin no Parlamento, solicitei ao Presidente do Partido e aos seus camaradas que deviam tentar resolver os diferendos e o próprio Presidente do Partido me informou, uma vez, que iriam fazer isso mesmo. Congratulei o Presidente e o Partido por essa vontade , já que sendo um grande Partido, problemas assim danificam a imagem do Partido.
Mas continua interessante! Dividir a Fretilin! Há duas componentes possíveis – uma interna, no interior do Partido e outra, externa, de fora do Partido!
A componente interna, hoje apresenta-se como o grupo da ‘Mudança’ e reforçou (relativamente embora) as suas fileiras, antes do Congresso do Partido. Antes ou, melhor dito, no início dos problemas, eles eram conhecidos por ‘grupo dos frustrados’ que não conseguiram obter um lugar no Governo! Havia o Senhor Vicente Mau Boci, havia o Senhor Reis Kadalak, que ficou alcunhado de ‘cabelos compridos e despenteados, que não mereciam ser membros do Partido’.
Esse grupo é que foi apresentando ao público, ao longo dos anos, os problemas internos organizacionais do Partido e o mundo ficou a saber que, segundo ‘os frustrados’, ‘o partido estava controlado pelo grupo de Maputo, porque são formados e falam só em português’ e que ‘os outros camaradas só sabiam dizer sim para defender a cadeira’, que o ‘Presidente Lu Olo só dava ouvidos ao grupo de Maputo, porque ele percebe português, e desconsiderou totalmente os elementos da Resistência, que ele tinha dirigido, durante anos difíceis’, que o ‘partido não funcionava, porque todos se encontravam no Governo e no Parlamento’, etc., etc. ...
O acesso aos problemas internos do Partido, foram os próprios ‘frustrados’ que passaram para o público, através das suas entrevistas. O ‘grupo de Maputo’ é obra, é criação, é produto interno bruto da própria Fretilin! A expressão pegou rapidamente, como hoje em dia, os rumores, que têm maior capacidade de mobilização das pessoas, que o próprio Estado!
Se, por cada hora que falavam contra o seu próprio Partido, alguém pagava 25 dólares americanos, como se ouve dizer quanto à violência organizada em Díli, nos últimos tempos, só eles sabem e só Deus sabe! O problema é que Deus não pode ir testemunhar perante o Tribunal Distrital de Díli. No outro Tribunal (o Juízo Final), talvez sim, mas eu penso que Deus, como o Juiz desse Tribunal, vai perdoar muita coisa!
Os ‘actores internos’, aqui, devem ser compreendidos ‘de dentro da Fretilin’, serão: Vicente Mau Boci, Reis Kadalak, que formou a Unaqmartil para actividades que ‘desrespeitam a ordem constitucional democrática’ com ‘caracter profundamente anti-democrático’ (e agora já sabemos os promotores, que até são membros superiores do CCF) e o Senhor Victor da Costa! Juntaram-se, recentemente, aos frustrados: o Senhor José Luís Guterres, o Senhor Igídio, o Senhor Theme, o Senhor César... e não conheço outros.
Os ‘actores externos’, no sentido de que são de fora do Partido! Podemos indicar alguns alvos: P.e Martinho Gusmão, P.e Domingos Maubere, os partidos da oposição, o ‘STL’, o Presidente da República, para se falar de ‘peixes graúdos’.
Mas é ainda muito interessante a análise! Havia forças reaccionárias que queriam ‘dividir a Fretilin e enfraquecer a liderança’. Num PLANO BEM TRAÇADO! Isto não é brincadeira de estudantes de Direito da UNDIL ou UNPAZ ou UNICOM ou UNIMAR! E que FOI SENDO IMPLEMENTADO... desde fins de 1999 ou desde Agosto de 2000 ou desde Agosto de 2001 ou desde 20 de Maio de 2002!!!
Já em Junho de 2006, aparece o santinho do Presidente da República, com a sua última Mensagem... a tentar ‘dividir a Fretilin e a enfraquecer a liderança’! Porque o documento do CCF é longo, vou deixar para a próxima edição... essa minha responsabilidade de ‘dividir a Fretilin e enfraquecer a sua liderança’! Os leitores que tenham calma e paciência!
v) organizar grupos para manifestações frequentes
Não vou acrescentar mais nada, para além de dizer que compreendo, agora, que num Estado de direito democrático, como a República Democrática de Timor-Leste, as manifestações só podem ser permitidas se falarem de HIV/AIDS, de Direitos das Crianças, de Direitos das Mulheres, da Fome no Mundo, da Paz na Terra, etc., etc..
vi) criar um clima de caos e de ingovernabilidade
Nunca esqueçamos, ao ler cada ponto da análise, que havia já um ‘plano bem traçado... que vinha sendo implementado’... para ‘criar um clima de caos e de ingovernabilidade’.
E para fundamentar isso, o ilustre Comité Central da Fretilin (eleito transparentemente no Congresso de Maio de 2006), juntou os diversos acontecimentos, desde 2001, fazendo-os suceder-se em fases e etapas que levaram ao ‘clima de caos e de ingovernabilidade’.
O caso de 4 de Dezembro de 2002, não provocou, deve-se dizer com honestidade, um ‘clima de caos e de ingovernabilidade’. Se, dalguns ministérios, os ministros saíram para evitar ofensas corporais na sua dignidade, foi só um dia. Se alguns ou todos os distintos deputados do Parlamento escolheram, com os pés, a melhor forma de segurança pessoal, foi também apenas uma questão de um dia.
Na manifestação em que se utilizou o ex-comandante L-7, a situação não levou ‘ao caos e à ingovernabilidade’. Os gases lacrimogéneos puseram fim à tentativa de vigílias, a que os mobilizadores se propunham. Eu digo ‘mobilizadores’, como possíveis actores internos, o Senhor Manuel Carrascalão, a Senhora Deputada Maria Paixão, que foram vistos fornecer água e alimentação aos manifestantes e a Senhorita Ângela Freitas que gritou muito na manifestação e recebeu como prémio, o caixão de volta à sua casa.
Na manifestação promovida pela hierarquia da Igreja, foram longos 18 dias, que embora incomodasse, não me lembro terem criado ‘um clima de caos e de ingovernabilidade’. Eu sei que se pensava ‘arrumar’ o assunto, pelo uso da força, e acredito que Deus não permitiu.
Contudo, eu também não devo esquecer que dentro do ‘plano bem traçado... e que foi sendo implementado’, aquelas manifestações eram apenas fases ou etapas... na magnífica análise política conspirativa do ilustre Comité Central da Fretilin.
Agora, podemos perceber, segundo o fio de pensamento da análise do CCF, a fase final ou etapa final do ‘plano bem traçado... que foi sendo implementado’, foi a manifestação dos peticionários.
O timorense comete sempre o erro de acordar tarde e, às vezes, tarde demais! E, com isso, quero dizer, os membros do CCF, são timorenses! Podemos ser mais brancos ou mais pretos, mais altos ou mais baixos, o carácter é o mesmo!
Por este aspecto de acordar-se tarde, agora posso ventilar a hipótese de que o CCF não estava a acompanhar a situação, não sabia de nenhum plano. Só depois da crise, fez uma retrospectiva analítica e chegou à conclusão da existência de fases, que bem descritas por doutores, licenciados em psicologia política e em direito, revela a existência de um ‘plano bem traçado... que foi sendo implementado’.
Afirmo assim, porque, o contrário seria o CCF, cujos membros estavam distribuídos no Governo e no Parlamento, na Polícia e nas F-FDTL, teria feito gorar pura e simplesmente os objectivos daquele ‘plano bem traçado’... de ‘criar um clima de caos e de ingovernabilidade’, suponho, em Abril e Maio de 2006. Ainda ressoa nos ouvidos das pessoas: ‘Só a Fretilin pode criar estabilidade e instabilidade!’
O CCF reconhece, agora (implicitamente) que o refrão era vazio, produto de arrogância política apenas, porque o CCF não conseguiu evitar que outras pessoas pudessem levar a cabo, durante 4 anos, ‘um plano bem traçado e que foi sendo implementado’ para ‘criar um clima de caos e de ingovernabilidade’. Demos a mão à palmatória, Senhores Doutores do CCF!
Eu lembro-me que, porque as ‘relações institucionais’ entre o Presidente da República e o Primeiro Ministro não estavam minadas ainda, em princípios de Maio, o Primeiro Ministro diz-me que ‘desconfiava que tudo o que aconteceu em 28 de Abril, fora obra do Rogério... porque não cumpriu as ordens que ele, Primeiro Ministro, tinha dado, logo pelas 8 horas da manhã, para reforçar a segurança, porque já se sabia que os peticionários iriam atacar o Palácio do Governo e porque o sistema de rádio e comunicação, que fora comprada muito recentemente na China, não funcionou, porque houve sabotagem ’.
Apesar do meu pedido para o Rogério ser demitido, em 28 de Novembro de 2002, também nunca lhe faltei ao respeito e, nessa ocasião, discordei imediatamente com a sua opinião. Mas, depois de ouvir mais argumentos do Primeiro Ministro, aceitei essa possibilidade.
Agora, fica-me praticamente difícil apontar o dedo a uns, sem apontar a outros. Os actores internos seriam os membros do PSD, como o Senhor João Gonçalves, que levavam água e comer para a ‘quarentina’ (onde os peticionários se concentravam), pessoas da embaixada americana, como a Senhora Lurdes Bessa, que foram vistas a levar também água e comer, membros da igreja que cometeram o pecado de dar de comer aos que têm fome e água aos que têm sede!
Mas não posso tirar da minha pobre cabeça, a acusação do Secretário-Geral do Partido e Primeiro Ministro, a um seu camarada e Ministro do Interior. Fiquei com enxaqueca, quando soube que, depois, o Senhor Rogério foi eleito Vice-Presidente da Fretilin! A acusação, afinal das contas, era falsa! Não brinquemos a acusar levianamente as pessoas!
vii) aliciar as Forças para a necessidade de intervir a favor de um golpe para derrubar o Governo, pretensamente, para ‘salvar o país, de um ‘governo impopular’
O ponto mais alarmante da análise está aqui: ‘Aliciar as Forças para a necessidade de intervir a favor de um golpe para derrubar o Governo, pretensamente, para ‘salvar o país, de um ‘governo impopular’.
Nas manifestações de Maio de 2005, tive um encontro com os dois Reverendos Bispos e, virando-me, para D. Basílio do Nascimento, disse: ‘Não repara, Senhor Bispo, que é irónico estarem aqui as pessoas a exigir a demissão do Primeiro Ministro, porque o governo é impopular, e, nas recentes eleições em Baucau para líderes comunitários, a Fretilin ganhou as eleições, em todas as aldeias e sucos’!
Ouvem-se contar muitas histórias!
Numa reunião, possivelmente em Outubro de 2005, do Conselho Superior de Defesa e Segurança, o então Ministro Rogério informou que os serviços de inteligência da Polícia estavam na posse de dados sobre possível fornecimento de armas, do outro lado da ilha, mencionando o nome de um Coronel indonésio e o envolvimento de dois padres, um de Atambua e um em Timor-Leste! E que a rede estava já cercada pela nossa inteligência e que, em tempos muito próximos, daria a saber do resultado.
De Conselheiros Militares (Americanos ou Australianos) que se aproximaram do Tenente-Coronel Falur para um golpe!
Do Senhor Pe. Filomeno Jacob e da Senhora Fernanda Borges, junto do Brigadeiro-General Taur Matan Ruak, para um golpe!
Do Senhor César Vital Moreira, do grupo da Mudança, junto do Brigadeiro-General Ruak, para um golpe! E, possivelmente, o Senhor Mau Boci e outros mais!
Do Alfredo Reinado, junto do Major Mau Buti, para um golpe!
Deve haver mais histórias, que o Povo desconhece! Peço, imploro e rogo ao Comité Central da Fretilin para dar instrução partidária à bancada da maioria para se formar uma Comissão de Notáveis para investigar, o mais cedo possível, esta questão, a fim de pormos fim de uma vez a especulações que surgiram... da análise do Comité Central da Fretilin, de 28 de Outubro de 2006.
Fico por aqui, e na terceira edição, vou abordar os pontos relacionados a ‘Dada a firmeza da posição do Comando das F-FDTL na defesa da Constituição e das instituições democraticamente eleitas’.
Dili, 11 de Novembro de 2006.
O Presidente da República,
Kay Rala Xanana Gusmão
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segunda-feira, novembro 20, 2006
ARTIGO DE XANANA GUSMÃO - 2ª Parte
Por Malai Azul 2 à(s) 07:09
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
5 comentários:
The Southeast Asian Times
NEWS FOR NORTHERN AUSTRALIA AND SOUTHEAST ASIA
East Timore's commander seeks parliamentary inquiry
East Timor’s commander army chief, Taur Matan Ruak
By John Loizou
Dili, November 20: The legendary role Brigadier General Taur Matan Ruak, 50, played in the 24-year struggle to end Indonesia’s occupation of his country — his commitment, integrity, organisational skills and leadership — means that although a Protestant, he commands the respect of most of the Republic’s about one million mostly Roman Catholic citizens.
It means also that if the speech of the diminutive man whose name in his native Tatum means “to look at the world with both eyes” and commands the 1,100 men and women of East Timor’s army is gracious and low, his words have the resonance of thunder.
And when I met him at his barracks just outside Dili, where he and his well-disciplined army retreated to their barracks in accordance with instructions after the
violence of April and May- including fighting between soldiers and police - that prompted the reintroduction of an Australian-led force of soldiers and police to re-establish the rule of law in the newly-independent country, he was determined that the world should hear his message.
He was not anti-Australian.
“I fought Indonesia for 24 years without being anti-Indonesian,” he said.
“So why would I now be anti-Australian?
“I have never seen a people more generous than the Australians.
“When in 1975 — after the Indonesian invasion — our people ran away to Australia it was the Australian people who supported them as refugees.
“It was Australians who lobbied to help ensure East Timor got its share of the resources from the Timor Sea.”
But the Brigadier General, who was responding to media reports that some East Timorese had complained about the behaviour of the Australian soldiers and his belief that international troops could not settle the crisis, was less sanguine about the behaviour of the Australian government. Only the Australian government had recognised Indonesia’s annexation of East Timor, he said. Now that same government has to deal with an East Timor that has been independent for just four years.
“It is for the Australian Government a new experience: Dealing with a new people and a new nation and it would have to learn how it is done.
“But we recognize that both Indonesia and Australia are our neighbours and you can choose your friends but you have to live with your neighbours,” he said.
The Brigadier General had other views to emphatically express. He wants East Timor’s Parliament to make a thorough investigation of the midyear violence that destabilised his country to “determine the political objectives and strategies” of those responsible - the intellectuals who were its direct and indirect authors.
Would he name them?
That was for the Parliament, he said. “But I still want it to be done. It’s a clear objective and we will push for it even if it takes another 20 years and I’m 70.” Nor was he satisfied with the work done by the three-man commission appointed by United Nations Secretary General Kofi Annan to investigate the violence. The commission’s task had been to determine the facts and circumstances of the eruption but it had failed to do so. Their report had failed to take into consideration the political context of the crisis and that is why he is calling for a parliamentary investigation that would consider these facts when assessing the events that took place during the crisis.
“An example was May 25 when nine policemen were killed and more than 20 injured, some by my soldiers,” he said. The Commissioners had identified the soldiers but had failed to apportion any blame to the United Nations officials who had put the police at risk. And although all the arms held by the army had been accounted more than 200 weapons issued to the police, including pistols and long-range rifles, were still missing.
Yet the three UN commissioners had not recommended any investigation of the police — with the exception of former Interior Minister Rogario Lobato — while they had proposed investigation of former Defence Minister Roque Rodrigues, himself and almost the entire army leadership.
They had also failed to state clearly that an allegation regarding the existence of three containers with supposedly illegally imported weapons was false. “It sometimes makes me think that the UN wants to break up our army” he said.
Had it been difficult for him and his army not to declare martial law as the violence unfolded, I asked. After all it was not the first time his soldiers had been forced to watch their capital being destroyed?
“We returned to our barracks because we were requested to do so,” he said.
“We are the gentlest army in the world. There are no other forces in the world that would have done what we did.
“They fired at my house and looted it and put my two children at risk.
“Yet we obeyed our orders.
“When New York was attacked on September 11 two countries - Afghanistan and Iraq - were invaded.
“When two Israeli soldiers were captured, Lebanon was destroyed.”
“What was more hurtful was the effort to dishonour us. Some of the accusations by foreigners, some by our own countrymen.”
So what of the future?
“The armed forces are always ready to act in accordance with our laws,” he said.
“It’s a small army and some consider it not to be a regular army but it had fought a 24-year of war against one of the most professional forces in the world - the Indonesian army.
East Timor’s caretaker Prime Minister, Jose Ramos-Horta has warned deserters Major Alfredo Reinado Alves and Vicente “Railos” da Conceicao, who are suspected of still holding weapons to surrender them or face dire consequences. The arrest of “Railos” was for the police, Brigadier General Taur Matan Ruak said. He believed that the Australian-trained Major Reinado who deserted on May 4 2006 and later escaped from prison on August 30 was dangerous.
“He is in possession of illegal weapons, he said.
“But Major Reinado understands that the use of violence will also cost him dearly. It’s essential that the rule of law and order is implemented in this country.”
So was it possible that Brigadier General Taur Matan Ruak would seek election as President of East Timor next year?
“I’ve devoted 31 years of my life to my country,” he replied.
“I’m prepared to do whatever it demands of me.”
The Southeast Asian Times
VIVA TAUR MATAN RUAK!!!!
A quem escreveu aqui não é um presidente da republica..mas um porcaria no estrada......fala muito quando situação está calmo, mas fica calado como GUGULAI...em momentos deficil. Que grande porcaria...!!!!
VIVA FRETILIN
VIVA TAUR MATAN RUAK..!!(The next nacionalist president)
O quê? Vai haver "terceira edição"? Deus nos livre e guarde?!...
Se for preciso uma quarta edicao para os papagaios da Fretilin aprenderem a dizer a verdade. vergonha deveriam ter os que aqui vem defender o que e indefensivel.
Na parte I esqueceu-se que foi ele quem informou a nação e os dadores de que a Assembleia Constituinte depois de aprovada a Constituição se transformaria em Parlamento Nacional e que o Governo sairia da composição desse mesmíssimo Parlamento.
Agora, esquece-se que a Constituição foi aprovada no mês antes dele ter sido eleito Presidente e displicentemente diz que a Constituição “foi para mim um documento de estudo, para eu compreender, as funções de Presidente da República, já depois de ser Presidente”. Não seriam necessárias as mais de 81 mil palavras (parte I e II) para percebermos que o rei afinal está nu.
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