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Quarta-feira, Novembro 15, 2006
Por AMY GOODMAN
Colunista convidada
As tropas marcharam devagar, com as suas M-16s fabricadas nos USA levantadas. Foi em 12 de Novembro de 1991, um dia que ficará para sempre gravado na minha memória e na história. Estava a fazer reportagem em Timor-Leste, uma pequena ilha nação a 300 milhas a norte da Austrália, brutalmente ocupada pela Indonésia desde 1975. Um terço da população -- 200,000 Timorenses -- tinham sido mortos num dos piores genocídios do 20º século.
Milhares marcharam essa manhã para o cemitério de Santa Cruz para lembrar Sebastião Gomes, ainda um outro jovem Timorense morto por soldados Indonésios. Estava a fazer um documentário para a Rádio Pacifica. O meu colega Allan Nairn estava a escrever para o The New Yorker magazine. Numa terra onde não havia liberdade de expressão, de imprensa ou de reunião, perguntámos às pessoas: "Porque é que estão a arriscar as vossas vidas, ao (estarem nesta) marcha?"
"Faço-o pela minha mãe," respondeu um. "Faço-o pelo meu pai," disse um outro. "Faço-o pela liberdade."
No cemitério, vimos centenas de tropas Indonésias a virem pela estrada, 12 a 15 por fila. Os militares indonésios tinham cometido muitos massacres no passado, mas nunca na presença de jornalistas Ocidentais. Caminhámos para a frente da multidão, com a esperança de a nossa presença poder parar o ataque. Crianças murmuravam por detrás de nós. Pus o meus auriculares, peguei no meu gravador e empunhei p meu microfone como uma bandeira. Queríamos alertar as tropas que desta vez estavam a ser vistos pelo mundo.
Os Timorenses não podiam escapar. Estavam numa ratoeira (formada) pelos muros do cemitério que ladeavam ambos os lados da estrada. Sem qualquer aviso, provocação ou hesitação, os soldados passaram por nós e abriram fogo.
As pessoas foram destroçadas. As tropas continuaram simplesmente a disparar, matando qualquer um que ainda estivesse de pé. Um grupo de soldados cercou-me. Começaram por me sacudir o meu microfone na minha cara. Então com os canos das suas espingardas deitaram-me ao chão e pontapearam-me com as suas botas. Eu tentava respirar. O Allan atirou-se para cima de mim para me proteger de mais agressões.
Os soldados empunhavam as suas espingardas como se fossem tacos de baseball, batendo contra a sua cabeça até lhe facturarem o crânio. Ficou deitado na estrada com espasmos, coberto de sangue, incapaz de se mexer. De repente, cerca de uma dúzia de soldados alinharam-se como num pelotão de fuzilamento. Encostaram as suas armas contra as nossas cabeças e gritaram, "Política! Política!" Acusavam-nos de estarmos envolvidos na política, um crime claramente punido com a pena de morte. Perguntavam, "Austrália? Austrália?" Os Indonésios executaram seis jornalistas Australianos durante a invasão de 1975.
Gritávamos, "Não, somos da América!" Atirei-lhes o meu passaporte. Quando reganhei a respiração, disse outra vez: "Somos da América! América!" Finalmente, os soldados baixaram as suas armas. Pensamos que foi por sermos do mesmo país donde vieram as armas. Se nos matassem teriam que pagar por nós um preço que nunca tiveram de pagar por matarem Timorenses.
Pelo menos 271 Timorenses morreram nesse dia, no que ficou conhecido como o massacre de Santa Cruz. As tropas Indonésias continuaram a matar durante dias. Este nem sequer foi um dos maiores massacres em Timor-Leste, e não seria o último. Foi simplesmente o primeiro que foi testemunhado por estrangeiros.
Escrevo sobre o massacre esta semana não só para lembrar o 15º aniversário desse evento e todos os que morreram nesse dia. O Presidente Bush vai em direcção à Indonésia na Segunda-feira. Isto dará ao presidente e ao Congresso uma oportunidade para mostrar que são sérios quando falam em responsabilizar os terroristas. Se cortassem toda a ajuda militar à Indonésia até os responsáveis pelo massacre e pela política de genocídio serem responsabilizados, estariam a mostrar ao mundo que os USA estão ao lado da justiça. O Congresso dos USA tem de ouvir o pedido da Comissão de Timor-Leste para o Acolhimento, Verdade e Reconciliação para (haver) um tribunal internacional de direitos humanos e para reparações de países e corporações que apoiaram a ocupação brutal.
A definição de terrorismo é a mesma em todas as línguas, seja praticada por indivíduos ou por Estados, pela al-Qaida ou, em nosso nome, por governos apoiados pelos USA que abusam dos direitos humanos. É triste dizer, até agora, a administração Bush e o Congresso ignoraram o pedido de justiça. O que nós testemunhámos e sobrevivemos há 15 anos atrás foi a terrorismo, puro e simples -- o assassínio de civis inocentes.
Amy Goodman tem o programa noticioso de rádio "Democracy Now!" Distribuido King Features Syndicate.
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quarta-feira, novembro 15, 2006
Bush tem uma oportunidade para responsabilizar terroristas
Por Malai Azul 2 à(s) 21:32
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
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