sexta-feira, outubro 13, 2006

Paula Pinto responde ao relatório do ICG

Tradução da Margarida.

No Asia Report N°120 emitido em 10 Outubro de 2006

Para Ms. Sydney Jones
ICG South East Asia Project Director
Jakarta, Indonesia
sjones@crisisgroup.org

CC: Robert Templer
ICG Director of Asia Program
New York NY, U.S.
rtempler@icg.org

Cara Ms Jones,

O meu nome é Paula Pinto e falámos algumas vezes ao telefone, em 1999, quando eu trabalhava para Xanana Gusmão em Jakarta e, mais tarde, em Darwin e Dili nos escritórios da CNRT. As nossas conversas então foram na sua maioria sobre alguns dos casos de membros da resistência desaparecidos que estava a investigar na altura, nomeadamente de Mau Hodu.

A razão porque lhe escrevo reside nas más interpretações e informação errónea que deu no relatório da ICG (Resolving Timor-Leste’s Crisis, Asia Report N°120, 10 Outubro 2006), nomeadamente em duas questões específicas relacionadas com a minha vida privada.

Acabei de ler o relatório e fiquei espantada ao ler alguns dos comentários que fez para argumentar a manipulação do antigo Primeiro-Ministro Mari Alkatiri e da Fretilin (citação) para fazer a sua influência sentir-se no seio das F-FDTL (fim de citação) nomeadamente, conforme é mencionado na nota de rodapé # 36, (citação) que Alkatiri estava a tentar inserir um associado próximo para trazer Matan Ruak para o seu lado (fim de citação) referindo o facto que (citação) Roque Rodrigues, viveu em casa de Taur durante dois anos (fim de citação).

Não tenho nenhuma ideia de quem podem ser as fontes das 'Crisis Group interviews in Dili, September 2006' (fonte citada na nota de rodapé #36). Contudo, visto que sou casada com Roque Rodrigues e também vivi em casa de Taur Matan Ruak, tenho o dever de clarificar, de revelar a verdade sobre uma coisa que está a ser usada como um argumento no Relatório, que é total e chocantemente falsa e requerer que isso seja corrigido.

Nos finais de 1999, a UNTAET decidiu distribuir uma casa em Dili para o então Presidente da CNRT Xanana Gusmão - na altura a viver numa casa em Lecidere, quase ao lado do Turismo Hotel. O Presidente decidiu entregar a casa a Taur Matan Ruak. Na altura, Taur Matan Ruak era solteiro e sentiu que a casa era demasiado grande para lá viver sozinho e que seria muito injusto tal casa ser ocupada por uma pessoa solteira.

Perguntou-me se Roque e eu gostaríamos de mudar e partilhar a casa com ele. Gostaria de chamar a sua atenção para o facto de, na altura desta conversa entre Taur Matan Ruak e eu própria, Roque Rodrigues, Mari Alkatiri e Ramos-Horta nem sequer ainda estavam no país!

Mudamo-nos para a casa em Novembro de 2000 (demorou algum tempo reconstruir as instalações destruídas) e ficámos lá até 24 de Maio deste ano, quando a casa foi atacada. Assim, não foi durante 2 anos como é mencionado no relatório (mas antes quase 6 anos!) numa tentativa para levantar a impressão de que a nossa mudança para partilhar a casa foi uma acção política planeada pelo antigo Primeiro-Ministro Mari Alkatiri.

Isto é um total disparate pois é o uso de uma relação puramente pessoal para argumentar manipulação política e um ataque a uma terceira parte, como a que faz neste caso, contra o antigo Primeiro-Ministro Mari Alkatiri.

A segunda questão diz respeito a Isabel Ferreira (não 'Pereira' como mencionou no relatório) e, seguindo o acima mencionado raciocínio erróneo, (citação) Então Alkatiri fez uma jogada sem sucesso para ter a mulher de Matan Ruak, Isabel Pereira, nomeada como provedora (ombudsman) (fim de citação).

Sim, é verdade que o antigo Primeiro-Ministro Mari Alkatiri endossou totalmente e apoiou a nomeação de Isabel Ferreira e a eleição pelo Parlamento para ser a Provedora dos Direitos Humanos e Justiça.

Devo argumentar, contudo, que a competência da Senhora Ferreira e as suas capacidades para desenvolver o seu trabalho como activista de Direitos Humanos durante mais de uma década e como Conselheira dos Direitos Humanos do Primeiro-Ministro são alargadamente conhecidas por contrapartes através do mundo e pela comunidade internacional em Dili. Durante a Assembleia Constituinte, a Senhora Isabel Ferreira foi uma deputada eleita que focou o exercício do seu cargo na escrita dos artigos Constitucionais sobre os Direitos Humanos.

Se o ICG tivesse consultado o pessoal do antigo UNTAET e o pessoal da Unidade dos Direitos Humanos da UNMISET sobre quem foi a pessoa quem mais se focou em Timor-Leste e quem mais trabalhou para o país se tornar um Estado com leis humanitárias que Timor-Leste subscreveu em 10 de Dezembro de 2002, o nome que seria permanentemente citado seria o da Senhora Isabel Ferreira. A sua experiência cobre muitas outras áreas como bem sabe, nomeadamente o trabalho de reconciliação com a Indonésia.

O modo como o Relatório se refere a esta escolha como candidata ao posto de Provedor está a desvalorizar a sua capacidade, habilitações e competência num trabalho de tão longa permanência e constância durante a ocupação Indonésia, durante a transição, e depois em Timor-Leste independente.

A Senhora Isabel Ferreira tem uma longa experiência dela própria e de muito tempo antes de estar casada com Taur Matan Ruak.

Ela distingue-se pelo seu próprio mérito e capacidade, não porque está casada com A, B, ou C.

A ideia de lançar mão a um nome para provar seu ponto de vista para atacar o antigo Primeiro-Ministro Mari Alkatiri como foi intenção com o uso do nome da Senhora Isabel Ferreira no Relatório é uma forma desonesta de argumentar e é uma maneira desagradável de tentar dar credibilidade ao argumento no Relatório.

A Senhora Isabel Ferreira merece muito mais do que a referência mesquinha e pequenina feita neste Relatório.

Quando um argumento ou raciocínio é baseado em factos erróneos e distorcidos como são estes uma pessoa pergunta a si própria se outras teses e argumentações no Relatório são na verdade baseados em ‘factos’ confirmados e investigados adequada e metodicamente.

Detectam-se claramente outros erros no texto, nomeadamente em eventos específicos e em datas. Contudo como os eventos relatados não me dizem directamente respeito, privo-me de mais comentários.

Apesar do Relatório já ter sido emitido, o ICG como uma organização conhecida credível no mundo devia fazer uma correcção porque as duas referências acima apontadas são feitas com base em informação incorrecta e distorcida que visa exclusivamente desenvolver um raciocínio malicioso e desonesto.

Sinceramente,

Paula Pinto

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Sem comentários:

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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