quarta-feira, novembro 22, 2006

Liderança política ainda não se reconciliou - Ex-PM da Letónia


Díli, 22 Nov (Lusa) - Os líderes políticos timorenses ainda não estão preparados para se unirem no imediato e tomarem decisões, considerou hoje à Lusa o ex-primeiro-ministro da Letónia, Valdis Birkavs.

Coordenador da participação do Clube de Madrid no processo de diálogo e reconciliação em Timor-Leste, Valdis Birkavs encontra-se pela segunda vez em Díli.

"Estou muito preocupado, porque desde a primeira visita (no início de Outubro) nada aconteceu", lamentou.

Se no plano formal, reconheceu, se realizaram encontros a nível comunitário e intermédio, que permitiram juntar grupos de jovens, partidos políticos e a sociedade civil, e a parada realizada na semana passada, juntando polícias e militares timorenses é de molde a suscitar esperanças quanto à evolução do processo de diálogo, o ex- primeiro-ministro letão questiona o que ficou dessas iniciativas.

"Estou um pouco confuso e penso que os líderes (políticos timorenses) também estão confusos", afirmou.

"Eles não estão preparados para se unirem no imediato e tomarem decisões. Compreende-se que estejam a querer ver quem é culpado e quem não é, e quais as consequências da crise", acrescentou.

A participação do Clube de Madrid, organização independente integrada por antigos chefes de Estado ou de governo de países democráticos, centrada no reforço da democracia através da experiência política dos seus membros, é feita com apoio da Comissão Europeia.

Para Valdis Birkavs, as recentes iniciativas são uma amostra do que é preciso continuar a fazer, considerando que os passos dados "dão alguma esperança, porque a crise timorense exige esforços comuns".

Valdis Birkavs reconheceu ainda que as crises políticas têm a virtude de ajudarem os países a crescer, dando como exemplo o que se passou na Letónia, que atravessou várias crises até consolidar a democracia.

"Mas a partir daqui existem duas opções: um país pode desenvolver-se ou pode ser dissolvido, pelas crises e pelos seus líderes", alertou.

Se estivesse no lugar dos líderes políticos timorenses, Valdis Birkavs apostaria no diálogo, em falar com todos, sem exclusões.

"A minha primeira preocupação seria falar. Falar com todos. E agir de imediato", disse.

"Mas este diálogo deve conduzir à acção. Acção e mais acção", frisou.

Citando Ana Pessoa, ministra da Administração Estatal timorense, que defendeu ser o trabalho muito mais importante que as palavras, o ex-primeiro-ministro letão considera que isso só não basta.

"Dizia a ministra Ana pessoa que o trabalho é muito mais importante que as palavras. Mas as palavras dão esperança e encorajam as pessoas", salientou.

Além dos próprios líderes políticos timorenses deverem falar entre si, falta ainda chegar ao cidadão comum, o que para além de ser um desafio, representa um imperativo de governação e de exercício da democracia.

"Falei com o primeiro-ministro (timorense, José Ramos Horta) e ele tem trabalhado de forma muito intensa nestes dias, mas a comunicação deve ser não só entre os líderes, mas também com as pessoas. As pessoas não querem só ouvir, também exigem ser ouvidas", defendeu.

Outro participante no processo de diálogo, o bispo emérito de Oslo, Gunnar Stalsett, disse à Lusa que a crise em curso em Timor- Leste é "uma crise de governação, de liderança e de natureza social".

"As pessoas percebem isso", vincou.

Presente em Timor-Leste em 1999, aquando da consulta popular que resultou no final da ocupação indonésia e na restauração da independência, o bispo Gunnar Stalsett é regular visitante de Timor- Leste e agora encontra-se novamente em Díli a convite do primeiro- ministro José Ramos Horta.

"É um bom sinal que as pessoas estejam a dialogar, ao nível comunitário, ao nível intermédio, envolvendo partidos políticos e organizações não-governamentais, e agora ao nível mais alto", disse.

Valdis Birkavs e Gunnar Stalsett intervieram hoje numa sessão que contou com a presença das mais altas individualidades timorenses, incluindo os comandantes das forças armadas e da Polícia Nacional, líderes de partidos políticos, religiosos, membros do governo e deputados.

"Acredito que este encontro é o primeiro de vários que vão ainda acontecer. Pensava-se inicialmente que seria apenas um, mas isso é irrealista. Têm que realizar mais encontros ao alto nível. Penso que precisam no futuro de mais dois ou três", defendeu.

Gunnar Stalsett considera que este tipo de encontros, em que está presente toda a liderança política, deve servir para "partilhar ideias e para as pessoas terem a oportunidade de falarem".

"No meu ponto de vista, talvez não se deva acentuar tanto o aspecto pessoal da questão, mas destacar as questões políticas", disse.

Em comunicado, a Presidência da República, que patrocina a iniciativa, destaca que o objectivo do encontro "é identificar as verdadeiras causas, consequências, responsabilidades e lições a retirar da crise".

As conclusões serão posteriormente divulgadas publicamente.

A crise político-militar timorense iniciou-se em Abril e desde então morreram cerca de 60 pessoas e mais de 180 mil optaram por razões de segurança, e devido à destruição das suas casas, por procurar abrigo em campos de acolhimento.

Actualmente, cerca de 90 mil pessoas continuam a viver em campos de deslocados.

EL-Lusa/Fim
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1 comentário:

Anónimo disse...

“a Presidência da República, que patrocina a iniciativa, destaca que o objectivo do encontro "é identificar as verdadeiras causas, consequências, responsabilidades e lições a retirar da crise”.
As conclusões serão posteriormente divulgadas publicamente”, lê-se e nem se acredita.

Isto é, agora que a Comissão Parlamentar está a elaborar o seu inquérito, apressa-se a Presidência também para divulgar conclusões. Faz lembrar a corrida do ICG do Gareth Evans a ver se apresentava o seu relatório antes da saída do Relatório da ONU. Aposto que os financiadores serão os mesmos ou das mesmas bandas…

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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