Sou brasileiro.
Tenho o Timor Leste como uma segunda pátria. “Pátria, pátria, Timor Leste é nossa nação…” irmã mais nova e da qual, apesar da distância, gostamos muito.
O povo hospitaleiro, sempre com um sorriso no rosto ao cumprimentar ou ser cumprimentado me cativou desde o inicio. Conheço bem o Timor. Durante minha estada tive a grata oportunidade de conhecer de Tutuala ao Suai, da Praia do Cristo em Dili a Praia de Beacu em Viqueque, posso dizer que conheço Timor de Leste a Oeste e Norte a Sul, incluindo o belo enclave de Oecussi.
Sempre me senti seguro ao me deslocar pela Ilha. Como brasileiro, jamais pensei que alguma coisa de ruim pudesse me acontecer por aqui, me sentia tal qual um irmão mais velho visitando a casa de um irmão mais novo, sempre muito bem recebido e cordialmente tratado. Aprendi a falar Tetum “ituan” para poder conhecer melhor as pessoas com quem conversava e tentar entender tudo o que me ensinavam, pois a vida é uma grande troca de experiências, e se engana a pessoa que acha que tudo sabe e nada tem a aprender…
Aqui aprendi muito…aprendi que alegria tem mais relação com a sensação de liberdade do que com a quantidade de dinheiro que uma pessoa possui; aprendi a compreender as diferenças culturais entre os povos, e que essas diferenças se tornam irrelevantes se existe amizade; aprendi que, se não é possível levar alegria à toda a gente, posso levá-la ao menos às pessoas que estão próximas a mim; aprendi tanta coisa “que eu até perdi a conta”; mas o que eu aprendi de mais caro foi a dar valor à vida.
Quanto vale uma vida? Já pararam para refletir?
A pessoa nasce, mas mesmo antes de nascer já foi amada durante nove meses e, ao nascer, reflete a coroação do amor de seus pais; então muito carinho e dedicação é aplicado sobre aquele ser humano. Ele alimenta-se, estuda, aprende a conviver com outras pessoa, faz amigos no colégio, no trabalho, no clube, na vizinhança, casa-se e tem filhos, vive uma vida normal…Quanto vale tudo isso??
O amor dos pais, dos filhos, dos amigos, a contribuição que foi dada por ele à sociedade, a contribuição que ainda será dada por ele…
Então vem alguém e, abruptamente, tira-lhe a vida!
Trata-se de toda uma história de vida que se vai. Trata-se de pessoas que, com diferente intensidade, vão sentir sua falta pelo resto da vida! São filhos que vão perguntar a mãe por que o pai não volta pra casa. É a esposa que, contendo sua própria tristeza, terá que, a partir de então, cuidar de seus filhos sozinha. São pais a terem sua fé enfraquecida ao perguntar a Deus por que meu filho se foi primeiro que eu. São natais sem a “minima graça” daqui por diante. É o grupo de amigos que se encontra, mas agora sem o “vocalista” ou o “tocador de violão”…ou até mesmo sem “aquele cara que não sabia cantar ou tocar, mas que sempre fazia questão de estar junto dos amigos”.
Não se trata de um número…”primeiro" cidadão estrangeiro a ser vítima da violência…"Primeiro" não é nome de gente. "Primeiro" não tem irmão, irmã, pai, mãe, esposa, filho, filha, avô, avó, amigos, colegas, alunos, professores…Se é pra falar em números…que tal dezenas, centenas, e em alguns casos, milhares de pessoas a sentirem falta do "Primeiro".
Pessoas são seres únicos! Cada vida conta!
Tenho certeza que, depois de anos de luta, muitas famílias timorenses se enquadram nesta história de vida. Todos, com quase toda certeza, têm saudade de algum parente ou amigo que se foi antes da hora por força de alguma intolerância ocorrida no passado. Por isto não consigo entender o porquê de, agora que obtiveram a tão sonhada independência, não conseguirem se manter unidos no propósito da paz e reconstrução de seu país.
Não conheço o cidadão brasileiro Edgar. Não sei se serão dezenas, centenas ou milhares de pessoas a sentir sua falta, mas quem quer que seja, ou quantas sejam, recebam meu sentimento de solidariedade e de pesar.
Aos amigos que continuam a trabalhar em Timor, desejo força e coragem para continuar a ajudar, com espírito isento de qualquer mágoa, esse povo irmão que tem um futuro tão magnífico pela frente.
Ao povo timorense, desejo força e coragem para deixar de lado as desavenças e olhar para o futuro... futuro esse, com já disse, tão magnífico e promissor.
Obrigadu Barak.
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terça-feira, novembro 21, 2006
De um leitor
Por Malai Azul 2 à(s) 16:37
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
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