terça-feira, maio 08, 2007

Timor-Leste: Wiranto admite envolvimento de alguns militares na violência 1999



Lisboa, 07 Mai (Lusa) - O antigo chefe das Forças Armadas indonésio, general Wiranto, admitiu que "alguns" dos seus homens "podem ter estado envolvidos" nos sangrentos incidentes que se registaram em Timor-Leste antes e depois do referendo de autodeterminação de 1999.

Citado hoje pelo diário The Jakarta Post, Wiranto, que expôs sábado a sua versão dos acontecimentos de 1999 na Comissão da Verdade e Amizade, negou, nesse sentido, que os militares presentes na ocasião em Timor-Leste tenham cometido "violações graves aos Direitos Humanos".

Pelo contrário, afirmou, a "carnificina" então ocorrida naquela antiga portuguesa foi provocada pelo "longo conflito interno" no território que foi ocupado pela Indonésia desde 1975.
"Estas foram as únicas acções dos militares. Mas não foram baseadas em ordens. Isso não foi planeado e foi apenas o comportamento de alguns soldados. É uma responsabilidade individual, uma vez que o Exército indonésio não tomou partido por nenhuma das partes", afirmou Wiranto na Comissão.

O general na reserva, já condenado por um tribunal de Díli por crimes contra a humanidade, na sequência de um julgamento que decorreu na sua ausência e que concorreu às eleições presidenciais indonésias de 2004, insistiu várias vezes que as tropas de Jacarta tiveram "um trabalho difícil" em Timor-Leste.

Esse "trabalho difícil" deveu-se, sustentou, ao "conflito horizontal" que existia há décadas em Timor-Leste, defendendo ainda que o referendo, ganho pelo "sim à independência", foi "um êxito" e que a violência após a votação só aconteceu porque a parte perdedora só se preocupou com a legitimidade do escrutínio.

Wiranto adiantou que, a 05 de Setembro de 1999, após a derrota do "não", as milícias pró-indonésias lhe disseram que pretendiam destruir e queimar todo o país, sublinhando que só não o fizeram porque ele os impediu.

"Eles disseram-me: «general Wiranto, perdemos e temos de destruir todas as instalações e edifícios construídos pela Indonésia». Mas eu respondi: «Não. Não o façam. A população precisa disso»", afirmou o então chefe das Forças Armadas indonésias.

Wiranto adiantou ter dito ainda às milícias pró-indonésias que seriam "desmanteladas" se tentassem erguer a bandeira indonésia e continuar com os confrontos, uma vez que tal situação era contrária ao desejo da comunidade internacional e das decisões tomadas pelo governo de Jacarta.

"Não houve quaisquer instruções, nenhum plano, nenhum apoio à destruição", sublinhou Wiranto, que negou ter controlo sobre as milícias e mesmo "um controlo efectivo dos subordinados que possam ter estado envolvidos em actos de violência".

"Será que um comandante sabe verdadeiramente o que os seus subordinados directos podem fazer"?, questionou, insistindo em que os incidentes e a violência eram "crimes comuns".

"Eram crimes comuns e não violações graves aos Direitos Humanos, porque não havia qualquer ordem superior ou sequer um plano por trás dos incidentes", justificou, lembrando, porém, que se demitiu do cargo de ministro da Defesa, que também então ocupava, "apenas por ser o responsável moral" pela violência.

Wiranto foi uma das 16 testemunhas ouvidas sábado em Jacarta na terceira sessão de audições da comissão conjunta indonésio- timorense criada para investigar os incidentes que provocaram mais de 1.500 mortos, na sua maioria timorenses pró-independência.

Previsto para depor na sessão, que terminou o terceiro ciclo de testemunhos, estava também o antigo chefe da missão da ONU em Timor-Leste, o britânico Ian Martin, que "declinou o convite" devido a compromissos inerentes às suas actuais funções, pois chefia idêntica missão das Nações Unidas no Nepal.

Os dois primeiros ciclos de audição de testemunhos sobre a violência registada em Timor-Leste em 1999, que provocou mais de 1.500 mortos e milhares de refugiados, decorreram em Janeiro, em Bali, e em Março, na capital indonésia.

O testemunho de Wiranto foi pedido por si próprio quando, no início deste mês, afirmou ao portal de notícias indonésio "detik.com" ter "solicitado para ser ouvido" na comissão.

"Ao longo de todo este tempo tem havido manipulação da informação relacionada com o que (os militares indonésios) fizeram durante o referendo. Essa será uma oportunidade para mim para falar sobre o que verdadeiramente se passou", afirmou então Wiranto.

A Comissão da Verdade e Amizade foi criada pelos presidentes da Indonésia e de Timor-Leste para impulsionar um clima de boas relações entre os dois Estados, que passa pelo apuramento da verdade sobre os acontecimentos de 1999.

A comissão, porém, tem sido alvo de duras críticas de várias organizações de defesa dos Direitos Humanos, sobretudo por tentar promover uma série de medidas de amnistia aos responsáveis pelos actos de violência registados no país em troca de "total cooperação" no apuramento da verdade.
JSD-Lusa/Fim

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Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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