quarta-feira, maio 09, 2007

Ex-PM australiano nega conhecimento prévio da invasão indonésia

Notícias Lusófonas
8.05.07

Um antigo primeiro-ministro australiano negou hoje que tivesse tido conhecimento prévio dos planos da invasão indonésia de Timor-Leste, em 1975, reiterando que só soube da morte de cinco jornalistas dias depois dos incidentes em Balibó.

Gough Whitlam, primeiro-ministro entre 1972 e 1975, falava no Tribunal de Glebe, em Sidney, no âmbito das investigações sobre a morte de Brian Peters, um dos cinco jornalistas abatidos a tiro em Balibó (oeste de Timor-Leste e próximo da fronteira com a parte indonésia da ilha) no início da invasão das tropas de Jacarta.

O antigo primeiro-ministro trabalhista indicou, porém, que não se recordava se viu ou não as informações da embaixada australiana em Jacarta, que advertiam para o início iminente da operação militar indonésia em Timor-Leste, que envolviam mais de 4.000 soldados.

Whitlam, hoje com 90 anos, insistiu que só teve conhecimento da morte dos cinco jornalistas - dois australianos, dois britânicos e um neo-zelandês - a 21 de Outubro de 1975, cinco dias após os incidentes de Balibó.

A informação, acrescentou, foi-lhe transmitida numa reunião com representantes dos ministérios da Defesa e dos Negócios Estrangeiros australianos, depois de os serviços secretos terem interceptado uma mensagem rádio indonésia em que era mencionada a existência de "quatro corpos de brancos" em Balibó.

"Lembro-me perfeitamente do relatório oral que me foi transmitido porque era muito raro conseguirmos interceptar mensagens rádio indonésias em Timor-Leste, e isso foi considerado quase um feito", afirmou Whitlam.

A Indonésia tem apresentado como versão oficial o facto de os jornalistas terem estado no local errado à hora errada e que foram atingidos por fogo cruzado, responsabilizando os independentistas timorenses pelos tiros disparados em Balibó.

Um relatório independente das Nações Unidas, elaborado em 2006, concluiu que, "provavelmente", os cinco jornalistas foram mortos pelos soldados indonésios, o mesmo defendendo o único jornalista português que com eles privou antes de morrerem, Adelino Gomes.

O antigo chefe de governo australiano, que de vez em quando afirmava que não se recordava de nomes e de datas e recorria com frequência a apontamentos escritos, adiantou que, um mês antes da morte dos cinco jornalistas, advertiu pessoalmente um deles, lembrando-lhe que, uma vez em Timor-Leste, o executivo de Camberra não os poderia proteger.

Os australianos Greg Shackleton e Tony Stewart, os britânicos Brian Peters e Malcolm Rennie e o neo-zelandês Gary Cunningham foram, além do português Adelino Gomes, os únicos jornalistas que permaneceram em Timor-Leste após a invasão indonésia.

Num pequeno sumário das declarações de Whitlam feitas numa sessão à porta fechada, o magistrado provincial do tribunal Dorelle Pinch, indicou que o antigo primeiro-ministro foi informado pelos seus departamentos que a mensagem só foi interceptada porque os acontecimentos se precipitaram.

"Assumimos que só interceptámos a mensagem porque um militar indonésio entrou em pânico e quebrou o silêncio rádio para a enviar", afirmou Whitlam, citado por Pinch, sublinhando não ter visto qualquer sinal dos serviços secretos que apontasse para que os indonésios estariam no trilho dos cinco jornalistas.

Fora do tribunal, Shirley Shackleton, viúva de Greg Shackleton, considerou "bizarras" as declarações de Whitlam, sublinhando que não poderão ser tomadas em conta nas investigações uma vez que o antigo primeiro-ministro repetiu frequentemente não se lembrar de pormenores vitais.

"Penso que é desprezível. Totalmente desprezível. Os mortos não têm histórias para contar, por isso, cabe às pobres viúvas contá- las", afirmou Shirley, que disse também não acreditar que Whitlam só tivesse sabido da morte dos jornalistas cinco dias depois e que tivesse advertido um deles para os perigos de se deslocarem a Timor- Leste.

"Não faz qualquer sentido. Se fosse ele, teria demitido todos os responsáveis (de então) pelos Serviços Secretos", acrescentou, numa alusão ao afastamento, no mesmo dia em que Whitlam disse ter tido conhecimento da morte dos jornalistas, do então chefe deste departamento, Bill Morrison.

No entanto, Whitlam negou também que Robertson tivesse sido afastado devido aos acontecimentos em Timor-Leste, sublinhando que a exoneração se deveu ao facto de o então chefe dos Serviços Secretos australianos ter "dado informações erradas" sobre o que então se passou no Chile.

"Robertson foi afastado por me ter dado informações erradas sobre o Chile. Não me disse que havia gente nossa na embaixada em Santiago", disse Whitlam, aludindo ao papel desempenhado pela secreta australiana no processo que levou ao derrube do regime de Salvador Allende, em 1973.
FIM


Vigaristas do costume...

1 comentário:

Anónimo disse...

"O antigo primeiro-ministro trabalhista [Gough Whitlam] indicou, porém, que não se recordava se viu ou não as informações da embaixada australiana em Jacarta, que advertiam para o início iminente da operação militar indonésia em Timor-Leste(...)"

Quem é que, em posse das suas capacidades mentais, é informado da invasão de um país e 30 anos depois afirma não se lembrar? É nestas alturas que eu gostava de ser um mosquito. Com dengue, de preferência.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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