sexta-feira, abril 20, 2007

Notícias - Traduzidas pela Margarida

Timor-Leste: Democracia dividida
Quarta-feira, Abril 18, 2007
John Martinkus

Já se contaram os votos da primeira volta das eleições Presidenciais de 9 de Abril em Timor-Leste. Neste estágio só estão disponíveis resultados preliminares, mas estes indicam que será necessária uma segunda volta em 8 de Maio entre o vencedor da primeira volta Francisco ‘Lu Olo’ Guterres (o candidato da FRETILIN, o partido que actualmente controla o Parlamento), e o que ficou em segundo lugar o corrente Primeiro-Ministro, José Ramos Horta, que conquistaram respectivamente 28.8 por cento e 22.5 por cento dos votos.

Destes resultados podemos deduzir que a FRETILIN foi a vencedora clara numas eleições que em Timor-Leste muitos vêem como um indicador crucial se o Presidente, Xanana Gusmão, que agora se retira, tem a força eleitoral para assegurar o controlo do Parlamento e tornar-se Primeiro-Ministro nas eleições parlamentares de 30 de Junho.

As divisões políticas que levaram à crise do ano passado estão a ficar cada vez mais claras. É um conflito entre os que se mantém leais ao antigo Primeiro-Ministro Mari Alkatiri e ao seu partido FRETILIN, que lutou pela independência de Timor-Lesta da Indonésia, e os que acreditam que o futuro está com Xanana, Ramos Horta e o nascente Partido Democrático (PD).
A visão de Xanana para o futuro é simples. Tem afirmado repetidas vezes que como Primeiro-Ministro aprovará a saída dos fundos guardados no ‘Fundo do Petróleo’ do Governo de Timor-Leste — que foi criado em 2005 para gerir os rendimentos petróleo e gás das enormes reservas no Mar de Timor.

Alkatiri e a FRETILIN mantêm que já estão a gastar o dinheiro e que a crise do ano passado (que agora dizem com sinceridade que foi causada por Xanana) os preveniu de gastar o dinheiro já distribuído no Orçamento.

A outra questão principal nesta eleição era se Xanana estava por detrás do movimento para desalojar Alkatiri do posto de Primeiro-Ministro no ano passado. As opiniões aqui estão agudamente polarizadas entre os que acreditam que Xanana, apoiado pela comunidade internacional, foi a força motora por detrás dos eventos violentos do ano passado, e os que acreditam que ele só veio a terreiro contra a FRETILIN para prevenir mais desordens.

A maioria dos analistas na Austrália falharam na apreciação da profundidade do apoio que a FRETILIN retém no leste do país. Tendo sido o único partido político que nunca fez concessões aos Indonésios e que nunca deixou de lutar pela independência, a FRETILIN tem uma enorme carga simbólica nas mentes de muitos que perderam famílias e que sofreram lutando por eles.
A muito pública oposição agora de Xanana à FRETILIN enfureceu muitos que outrora reverenciaram o líder carismático. Como disse um membro de topo da FRETILIN, Harold Moucho, ‘Estas são as pessoas que morreram por Xanana e agora ele traiu-as.’

Esta divisão entre apoiantes de Xanana e leais à FRETILIN atravessa a sociedade Timorense e criou problemas durante estas eleições. A FRETILIN queixou-se amargamente quando Xanana participou num comício do seu candidato Presidencial preferido Ramos Horta, dizendo que não era adequado um Presidente no exercício de funções ser politicamente activo.

A Missão de Observação Eleitoral da União Europeia, o grupo de observação mais experiente e credível em Timor-Leste, anotou no seu relatório preliminar que ‘durante a campanha, algumas personalidades públicas assumiram posições políticas — de chefes de aldeia até às máximas autoridades nacionais.’ O relatório prosseguiu identificando o porta-vos da CNE (Comissão Nacional de Eleições) Martinho Gusmão e as suas declarações públicas de apoio ao candidato do Partido Democrático Fernando ‘Lasama’ Araujo.

Durante toda a semana passada, sendo a pessoa responsável pelo anúncio dos resultados, Martinho Gusmão, um padre católico, foi o centro das atenções. Baseado nos resultados na capital, Dili, basicamente anunciou que o vencedor das eleições fora Ramos Horta, com Araújo em segundo lugar. A maioria dos resultados só foram disponibilizados na última Quarta-feira — causando um choque quando a FRETILIN passou da terceira para a primeira posição, depois da inclusão dos resultados dos distritos de Baucau e Lautem do leste do país.

O grande apoio à FRETILIN no leste espelha as divisões tromboteadas por líderes no ano passado que resultaram na violência este/oeste durante a crise. Mas no passado Sábado, Martinho Gusmão revelou numa outra conferência de imprensa que a contagem em áreas chave de apoio à FRETILIN no leste — Lautem, Viqueque e Ossu, a cidade natal do candidato da FRETILIN Lu Olo — não tinha sido completada. Prosseguiu contando à imprensa que o total de votos na maior cidade do leste, Baucau era em 200,000 superior aos eleitores registados.

Num eleitorado de apenas 520,000, esta foi uma afirmação extraordinária. Contudo, observadores da União Europeia, dizem que nunca houve qualquer ‘excesso de eleitores’ e que Martinho Gusmão estava a destacar uma erro matemático que já tinha sido resolvido.

Porque é que ele fez isto? Como confessado apoiante do candidato Araujo colocado em terceiro lugar, o porta-voz da CNE podia estar a tentar ajudar o apelo deste para que as eleições fossem declaradas inválidas. A FRETILIN apelou repetidamente à remoção do porta-voz, emitindo esta semana uma outra declaração onde diz, ‘A CNE falhou em removê-lo e desde então ele tem feito declarações prejudiciais à FRETILIN e à independência e neutralidade da CNE.’
Quando lhe pediram para responder às acusações sobre a sua própria parcialidade Martinho Gusmão apenas disse, ‘Isso acontece comigo todos os dias. Não responderei a essa questão.’

A erupção de alegações de irregularidade eleitorais de todos os candidatos perdedores — incluindo Ramos Horta — contribuem para uma situação muito delicada onde já há apelos para a recontagem dos votos. É preciso anotar que estes gritos de jogo sujo apenas começaram depois de serem conhecidos os votos da maioria da FRETILIN.

Se irromper qualquer violência em Timor-Leste como consequência desta vitória da FRETILIN será começada não pela FRETILIN mas pelos que já estão a contestar o resultado. A mesma gente que, no ano passado, recorreu à violência para remover Alkatiri do poder.

Acerca do autor
John Martinkus cobriu o conflito em Timor-Leste de 1995 até 2000. Foi correspondente residente em Dili para a Associated Press e Australian Associated Press, de 1998 até 2000.
É autor de A Dirty Little War (Random House, 2001), acerca da passagem violenta do país para a independência. E no ano passado, co-produziu a reportagem ‘Timor-Leste: Queda de um Primeiro-Ministro’ para a Dateline da SBS TV.


Assim se compram votos...
The Jakarta Post
18.04.2007

"Ramos-Horta,ao enfrentar o desertor Major Alfredo Reinado, fez um erro ao usar tecnologia de visão nocturna, franco-atiradores , infra-vermelhos e (helicópteros) Black Hawks, matando com à vontade cinco dos soldados de Reinado, coisa que não lhe conquistarão qualquer simpatia do povo de Same e dos Timorenses em geral."

Público
18.04.2007

“O primeiro-ministro de Timor-Leste, José Ramos-Horta, candidato a Presidente nas eleições que terão uma segunda volta em Maio, declarou ontem que vai dar uma oportunidade à Igreja Católica de persuadir o major rebelde Alfredo Reinado a reatar o diálogo com o Governo, na certeza de que serão interrompidas as operações militares para o capturar.


Alguns analistas, citados pela Reuters, afirmam que, ao desistir de mandar prender Reinado, que tem partidários entre as camadas mais pobres, Ramos-Horta procura fortalecer as suas hipóteses de vencer o presidente da Fretilin, Francisco Guterres, Lu Olo. Este foi o mais votado na primeira volta, apesar de ainda não terem sido divulgados os resultados oficiais, o que se espera possa acontecer no fim desta semana.”


Vale tudo, contra a FRETILIN e Lu-Olo...


Timor-Leste pronto para a segunda-volta
ABC – Transcrição Programa PM – Quarta-feira, 18 Abril , 2007 18:42
Repórter: Anne Barker

PETER CAVE: A Comissão Eleitoral de Timor-Leste está prestes a confirmar que haverá uma segunda volta nas eleições presidenciais entre o Primeiro-Ministro, José Ramos Horta, e o candidato da Fretilin, Francisco Guterres.

A Comissão dará uma conferência de imprensa esta noite em Dili com os resultados finais da eleição da semana passada.

Por causa de nenhum dos candidatos ter conquistado uma maioria absoluta, haverá uma segunda volta das eleições em 9 de Maio. Steven Wagenseil é o funcionário da ONU Chefe Eleitoral em Dili – falou há pouco com Anne Barker.

STEVEN WAGENSEIL: Segundo o que entendi, os resultados confirmarão as notícias divulgadas esta semana dos totais preliminares acumulados de todo o país, de que haverá uma segunda volta entre os dois candidatos da frente, isto é, Francisco Guterres Luolo e José Ramos Horta.

ANNE BARKER: Porque é que tivemos de esperar até agora para saber o que já sabíamos?

STEVEN WAGENSEIL: Bem, a lei requer, e penso que o bom senso manda que se examine cuidadosamente os resultados apurados para ter a certeza que estão certos. Foram apurados em estações de voto de todo o país, algumas vezes os impressos estavam preenchidos incorrectamente. É importante verificar todos os números para se ter a certeza que nenhum votação foi perdida.

ANNE BARKER: Quando se consideram as muitas alegações feitas acerca de fraudes ou manipulação, acerca de irregularidades na contagem, acerca do número de votos inválidos e etc., qual a correcção do resultado que ouvimos agora?

STEVEN WAGENSEIL: Acredito que o resultado que ouvirá hoje é extremamente correcto. A comissão central de eleições trabalhou bastante, montaram turnos rotativos de 24 horas desde a semana passada para verificarem os números, a contagem... verificando os votos inválidos á mão, e acredito absolutamente que este é o melhor resultado, o mais correcto que pode ser produzido.

ANNE BARKER: O que vai acontecer às queixas dos cinco candidatos de há uma semana, que afirmaram que houve um tipo de manipulação dos votos extensiva, que houve intimidação dos eleitores, etc.?

STEVEN WAGENSEIL: Bem, a Comissão Central de Eleições, a Comissão Nacional de Eleições, respondeu á carta desses cinco candidatos dizendo basicamente, como percebi, que a carta não contém nenhuns dados específicos. Se têm dados específicos, por favor avancem com eles, em relação á hora, data, local, quem esteve envolvido, e então podem ser considerados e referidos para procedimento. Houve uma queixa similar feita por um outro candidato em dias recentes que foi examinada pela comissão de eleições com uma resposta similar: se têm factos concretos, por favor avancem, e serão examinados.

ANNE BARKER: E se as suas queixas forem substanciadas mais tarde, iso abre o caminho para contestar o resultado das eleições?

STEVEN WAGENSEIL: Não conheço nada em nenhuma das queixas que contestaria o resultado global das eleições. Poderia ter havido num ou em dois casos, talvez mais, onde os resultados de uma ou duas ou de mais estações de voto podiam ser afectados. Mas não acredito de maneira alguma que fosse o suficiente para virar o resultado, o resultado global à escala da nação das 704 estações de voto.

ANNE BARKER: Acredita que deve haver mudanças no modo de conduzir as eleições da segunda volta no próximo mês?

STEVEN WAGENSEIL: Primeiro de tudo, penso que será muito difícil implementar quaisquer mudanças agora dado que os regulamentos e as leis foram basicamente adoptadas e é difícil mudar de políticas a meio de uma eleição. Houve certas coisas que nós e o Governo aprendemos que com certeza levarão a mudanças antes das eleições parlamentares no fim de Junho.

As questões do processo por meio do qual os votos são contados e difundidos das estações de voto a nível nacional, mais questões sobre como treinar as pessoas para preencherem a papelada, este tipo de coisas.

PETER CAVE: Steven Wagenseil, o funcionário da ONU Chefe Eleitoral em Dili, a falar com Anne Barker.

Sem comentários:

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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