quarta-feira, abril 25, 2007

Incidentes que causaram crise política começaram há um ano



Lisboa, 24 Abr (Lusa) - Os incidentes que estiveram na origem da persistente crise político-militar em Timor-Leste, mesmo apesar do processo eleitoral em curso, começaram há um ano, quando um grupo de militares se sublevou em protesto contra alegadas discriminações nas Forças Armadas.

A 24 de Abril de 2006, cerca de duas mil pessoas, na maioria militares, deram início a cinco dias de protesto na sequência de uma petição subscrita por 591 militares e entregue ao Presidente timorense, Xanana Gusmão, na qual denunciavam actos discriminatórios de natureza étnica no meio castrense.

A crise saíra pela primeira vez à rua a 08 de Fevereiro do mesmo ano, quando centenas de militares se concentraram, desarmados, junto da Presidência da República, para que Xanana Gusmão, na qualidade de comandante supremo das Forças Armadas, pusesse cobro aos "actos de injustiça" que alegavam ser sujeitos nas suas unidades.

O protesto dos soldados assentava em práticas discriminatórias nas unidades, por serem maioritariamente "loromonu", ou provenientes dos 10 distritos mais ocidentais de Timor-Leste - Aileu, Ainaro, Bobonaro, Covalima, Díli, Ermera, Liquiçá, Manatuto, Manufahi e Oecussi. Os restantes três distritos - Lautém, Viqueque e Baucau - são designados por "lorosae".

Como o abandono das unidades continuou, o brigadeiro-general Taur Matan Ruak, apoiado numa nota elaborada pela Presidência do Conselho de Ministros, considerou que os militares se tinham colocado à margem da instituição, sendo considerados civis a partir de 01 de Março.
Na petição entregue em Díli, os manifestantes rejeitaram a decisão do brigadeiro-general Taur Matan Ruak, que os considerou auto-excluídos da instituição militar, e também a comissão criada pelo Estado-Maior para averiguar a justeza das reivindicações dos peticionários, que acusam de não ser imparcial.

A crise entretanto desencadeada ganhou contornos políticos e as negociações então encetadas envolveriam os, na altura, primeiro-ministro Mari Alkatiri e ministro dos negócios estrangeiros José Ramos-Horta, mas não impediu que se registassem diversos incidentes, que causaram pelo menos mais de duas dezenas de mortos e quase uma centena de feridos.

A crise agudizou-se quando o antigo chefe da Polícia Militar, major Alfredo Reinado, acusou Mari Alkatiri de ter ordenado directamente às Forças Armadas para substituírem a polícia nos confrontos em Díli, sem dar conhecimento ao Presidente da República, decisão que considerou "inconstitucional".

Já com Reinado detido, um novo agravamento da crise leva, a 26 de Junho, Mari Alkatiri a demitir-se de primeiro-ministro, sendo substituído por José Ramos-Horta, cujo governo, o II Constitucional, é empossado a 10 de Julho.

A 30 de Agosto, Reinado, bem como 57 outros reclusos, evade-se da prisão de Díli, cinco dias depois de o Conselho de Segurança da ONU ter aprovado a criação da Missão Integrada das Nações Unidas para Timor-Leste (UNMIT), composta por 1.600 polícias.

Estala então nova crise política e militar, com divisões a todos os níveis, numa altura em que começam a perspectivar-se as eleições presidenciais de 09 deste mês, com várias perseguições ao major Reinado, que continua a monte.

Já este ano, a campanha eleitoral das presidenciais de 09 deste mês arranca, tendo como pano de fundo mais uma tentativa, frustrada, de captura de Reinado, uma operação conjunta das forças australianas e neo-zelandesas que, juntas, mantêm no território timorense mais de um milhar de homens.

A operação decorreu no início de Março em Same, sul, mas Reinado consegue novamente escapar e é com o antigo chefe da Polícia Militar timorense em fuga que os oito candidatos presidenciais se apresentam às urnas, numa votação em que Francisco Guterres "Lu Olo", apoiado pela Fretilin, e José Ramos-Horta, independente, passam à segunda volta.

Apesar das negociações actualmente em curso visando a rendição de Reinado, a segunda volta das presidenciais está marcada para 09 de Maio e, independentemente dos resultados, perfila-se também já a realização das legislativas, fixadas para 30 de Junho próximo.
JSD-Lusa/Fim

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Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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