quarta-feira, abril 25, 2007

Dos Leitores

H. Correia deixou um novo comentário na sua mensagem "UNMIT – MEDIA MONITORING - Tuesday 24 April 2007":

Comentário a "East Timor drowns in language soup", do Sr. Pathoni:

Este "artigo" é uma repetição de tantos outros já publicados, com diferenças mínimas.

A que propósito publica a Reuters um "artigo" que desanca mais uma vez na língua portuguesa, numa altura em que a notícia principal é a eleição para Presidente da República?

Quem é esse senhor Ahmad Pathoni? É timorense? Claro que não. Porque uma agência tão conceituada como a Reuters lhe dá guarida? Que interesses estão por trás desta campanha?

Durante a ocupação indonésia, o Português não foi só proibido. Quem fosse apanhado a falar esta língua arriscava-se a ser MORTO. E muitos milhares foram mesmo. Vários jovens professores foram fuzilados na ponte-cais de Dili logo no primeiro dia da invasão aero-naval indonésia. Porque ninguém diz a verdade?

Nas ruas de Timor ouve-se falar Português, sim. Nem que seja pelos milhares de palavras desta língua que foram incorporadas no vocabulário do Tétum.

Mas não é só em Timor que se fala Português. Na Indonésia, ainda hoje há centenas de palavras portuguesas que andam na boca dos indonésios. E em certas regiões onde houve mais influência portuguesa, como as Malucas ou Flores, são milhares de palavras. Em Goa, Damão e Diu, ainda hoje se fala Português. Em Macau, região admnistrativa especial da China, o Português é língua oficial. Macau tem um PIB per capita superior ao de Portugal. É pobre?

Se o negócio é só falar língua de rico, então em Timor ninguém pode falar as línguas autóctones, começando pelo Tétum. E é preferível falar Luxemburguês ou Chinês (versão de Singapura) do que Inglês. A Libéria, falante de Inglês, é um país rico? Nos EUA não há pobres? Os aborígenes da Austrália são ricos?

É preciso explicar mais para mostrar o ridículo destas afirmações, ainda por cima camufladas de pretensas entrevistas a pretensos timorenses, sendo um deles um tal de "Thomas"?

O Português já chegou ao ensino secundário. Este ano, o equivalente ao 10º ano de escolaridade já é leccionado em língua portuguesa. Mas falta denunciar a falácia do "artigo": o ensino não é obrigatório até ao secundário. E o ensino universitário ainda menos. Portanto, a esmagadora maioria dos estudantes já fala Português. Só os universitários, uma elite minoritária, não o fala.

O ensino universitário é ainda a excepção, porque o Português tem progredido um ano de escolaridade em cada ano lectivo. Lá chegará. Mas o facto de os professores formados na Indonésia poderem ainda leccionar na universidade de Timor-Leste é a prova da mentira mais uma vez veiculada neste "artigo", segundo o qual quem não souber Português não consegue emprego na função pública. Isso é mais uma grande mentira que vem sendo repetida até à exaustão.

Para se ver até que ponto vai a parcialidade do Sr. Pathoni, ele omite que a Faculdade de Direito timorense só utiliza o Português e o Tétum como línguas veiculares. Para além disso, o edifício que é hoje a faculdade de Gestão não é o tal "seminário durante os tempos coloniais". Nesses tempos (é curioso como o tempo indonésio nunca é apelidado de "colonial"), o seminário ficava em Dare e foi destruído pelos indonésios.

Mas o cerne da questão linguística é curiosamente omitido nestes "artigos": se não tivesse havido invasão indonésia de Timor, não estaríamos agora a debater esta questão, pois antes ninguém sabia falar Malaio-Indonésio, excepto meia-dúzia de pessoas. Mas quando a Indonésia impôs brutalmente a sua língua como única em Timor-Leste, não me lembro de ler nenhum artigo deste senhor Pathoni nem de qualquer outro escrevinhador da Reuters, dizendo que se tratava de uma língua estranha, estrangeira e que só era falada por 0,0001% da população.

As línguas oficiais timorenses estão consagradas na Constituição e não resultam, como é afirmado no "artigo", de uma decisão de qualquer Governo - outra mentira repetida dezenas de vezes.

O Presidente da República, seja ele qual for, não tem poderes para alterar a Constituição. Pelo contrário, segundo esta, tem que "cumprir e fazer cumprir" a Lei Fundamental (cf. Artº 77). Talvez por isso, o tal candidato que queria acabar com o Português tenha tido só 2% de votos.

Quanto às críticas pelo uso desta ou daquela língua oficial, todos têm o direito de escolher a língua em que se expressam, seja o Português ou o Tétum. Ninguém pode obrigar ninguém a optar por uma delas contra sua vontade. Assim, se o Governo fala mais em Português, é um direito inalienável seu. Da mesma maneira, qualquer pessoa pode usar o Tétum e ninguém a pode obrigar a preferir o Português.

Sem comentários:

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
This is my blogchalk: Timor, Timor-Leste, East Timor, Dili, Portuguese, English, Malai Azul, politica, situação, Xanana, Ramos-Horta, Alkatiri, Conflito, Crise, ISF, GNR, UNPOL, UNMIT, ONU, UN.