sexta-feira, novembro 17, 2006

Verdade, Papua Oeste e Indonésia: 2 + 2 podem ser = 5

Tradução da Margarida.

OnlineOpinion.com
Por Adam Henry - postado Quinta-feira, 16 de Novembro 2006

O enigmático Lobby de Jakarta é “… um grupo informal de gente com ideias semelhantes que pensam que a Indonésia é um caso especial”. Não é uma conspiração clandestina, mas uma aliança de elites apesar de algumas negarem a própria existência do grupo.

O Lobby de Jakarta opera numa posição de privilégio dentro da elite Australiana. Defensores pró-Jakarta já há muito reconheceram o potencial perigoso das violações dos direitos humanos na Papua Oeste poder tornar-se uma questão diplomática maior. Receosos de serem colocados em recuos éticos, como foram com Timor-Leste, tais defensores têm emergido em intervalos regulares no seio da instituição diplomática a emitir a sua mensagem.



O passado recente - um apelo às armas

Em o de Março de 2006 o Embaixador Richardson que é um antigo director–geral da ASIO, fez um discurso dirigido à US-Indonesia Society: um grupo fundado em 1994 para contrariar percepções negativas depois de repetidas violações de direitos humanos pelas TNI (Forças de Defesa Nacional Indonésias) em Timor-Leste.

Os poderosamente conectados lobbyistas da US-Indonesia Society têm sido descritos como “… a segunda Embaixada da Indonésia em Washington”. O antigo director-geral da ASIO ridicularizava a existência de qualquer lobby de Jakarta Australiano. Disse que somente “alguns comentadores Australianos” mantinham a existência de um Lobby de Jakarta “… que conspira junto para perverter os interesses nacionais da Austrália (isto inclui) todos os funcionários do governo que ou serviram na Indonésia, ou que trabalharam para a Indonésia em Canberra.”



Na audiência estava o Embaixador da Indonésia nos USA, Sudjadnan Parnohadin-Ingrat, que antes fora o Embaixador na Austrália. Sudjadnan foi o secretário da Indonesian Task Force durante a votação para a independência em Timor-Leste em 1999 (organizada) pela ONU.

Os apelos de Richardson para apoio sem interrogações à Indonésia são essenciais dado o modo como as elites Indonésias, como Sudjadnan fazem uso do silêncio (de) críticas da Austrália.

Questionado pelo The Washington Diplomat sobre os direitos humanos da Indonésia, Sudjadnan respondeu que numa estimativa os TNI “… podem ter morto cerca de 200,000 Timorenses durante a governação Indonésia”. Sudjadun não fez qualquer esforço para contrariar esse número vendo-os como simples baixas duma luta de separação. Como disse “… Se (somente) cerca de 200,000 em 220 milhões de pessoas (quiseram separar-se) não penso que isto é muito sério”.

Acredito que Timor-Leste sob governação Indonésia (1975-1999) é comparável aos Campos de Morte do Cambdja. Não pode haver dúvida que homens inteligentes como Richardson desconhecem as estatísticas. Depois da independência em 1999 um relatório da ONU concluíu “… as violações dos direitos humanos foram massivas, sistemáticas e alargadas … a fome, as execuções arbitrárias, as torturas horrorosas infligidas rotineiramente, e a escravidão sexual organizada e as torturas sexuais das mulheres Timorenses foram os sinais de marca das autoridades Indonésias e 183,000 Timorenses morreram à fome ou por doença como consequência das acções das TNI-Kopassus durante a governação Indonésia.”

Quando um homem poderoso como Richardson defende que nada deve impedir o sonho Indonésio, os da estirpe de Sudjadnan, conhecem suficientemente bem a língua Inglesa para compreender o significado que está por debaixo i.e. questões como corrupção e direitos humanos são meras distracções.

O estilo de compromisso de Richardson com a Indonésia ignora a validade das preocupações dos direitos humanos com as acções das TNI. Em vez de usar o seu discurso para se distanciar ele próprio do problema Timor-Leste 2 + 2 = 5 de Sudjadnan, acredito que, talvez inconscientemente, Richardson apela sem se questionar e apoia sem princípios as políticas do Lobby de Jakarta. Fazem-se agora muitos esforços para desenvolver esta sua direcção.

O presente - os ataques do lobby de Jakarta

Paul Kelly escreveu uma peça de opinião caracteristicamente de perito no The Australian (ver “Uma nova diplomacia sobre a Papua”, Outubro 7, 2006). Kelly apoiou entusiasticamente o Relatório do Lowy Institute, As Armadilhas de Papua, como a última palavra virtual na devastação da Papua Oeste.



Kelly com razão aponta que há diferenças entre Timor-Leste e a Papua Oeste que merecem análise, mas mais uma vez falha em analisar correctamente as suas conclusões.

Devido à presença da Freeport Mine e dos interesses dos negócios no sector florestal a escala da corrupção das TNI é muito maior do que em Timor-Leste. Os dois movimentos nacionalistas também diferem na estrutura, unidade e coesão. A diversidade étnica e linguística dos Papuanos é um factor. Em comum têm a realidade das violações dos direitos humanos. Esta associação não é devida aos críticos que falam alto e que não antipáticos, mas na minha opinião devem-se à incapacidade das TNI a não matarem em largo número cidadãos Indonésios relutantes.

Reescrevendo o passado - a necessidade de esquecer

O Lobby de Jakarta argumentou durante 25 anos sobre os benefícios sem fim de um Timor-Leste Indonésio.

As preocupações de direitos humanos eram descartadas como exageros ou simplesmente ignoradas. Quando Paul Keating visitou Jakarta em 1991 louvou a subida (ao poder) do governo da “Nova Ordem” de Suharto como o evento mais benéfico para a segurança Australiana desde a II Guerra Mundial. Os massacres de 1965 que estabeleceram a Nova Ordem foram então presumidamente benéficos do mesmo modo como em Kokoda.

Em 1965 funcionários da Embaixada Americana, com a ajuda da CIA, compilaram listas de suspeitos comunistas de alto-nível no interior da Indonésia que foram entregues às forças militares Indonésias. De acordo com a CIA, 1965 foi um dos maiores massacres e um dos eventos mais significativos da segunda metade do século 20, comparável às purgas de Estaline, os assassínios de massas praticados pelos Nazis durante a II Guerra Mundial e pelos Maoistas nos princípios dos anos 1950’s.

Foi tal a carnificina que a Embaixada dos USA avisou Washington que “… não sabia se o número real era mais perto dos 100,000 ou de 1 milhão (de mortos) mas que acreditava ser mais sensato errar pelo lado das estimativas mais baixas, especialmente quando questionados pela imprensa”.

A atitude dos USA em relação aos assassínios em massa foi indiferente. Howard Federspiel anteriormente do Bureau of Intelligence & Research (Departamento de Estado dos USA) lembrou que: “Ninguém se importava, desde que fossem comunistas … Ninguém ligou muito a isso”.



No fim do banho de sangue, o Primeiro-Ministro Australiano Harold Holt declarou “Com 500,000 a um milhão de simpatizantes Comunistas despachados … penso que é seguro assumir que houve uma re-orientação.” Pelo menos isto expressou com verdade a escala de mortes requerida para criar o clima de estabilidade política preferido pelo ocidente na Indonésia.

O discurso de Keating não fez qualquer referência às realidades históricas de 1965, mas pode-se especular que Suharto compreendeu perfeitamente. O jornalista Glen Milne (The Australian, Abril 25, 1992) viu que “… Keating passou o primeiro teste da sua liderança, levando com sucesso as relações Australianas-Indonésias para além da política de colete de forças de Timor-Leste”.

Jornalistas Australianos continuaram a apoiar o regime mas um ano depois Suharto foi derrubado por um movimento alargado de cidadãos (pela) reforma.

A linguagem política – é lógico Jim, mas não como sabemos

Os críticos do Lobby de Jakarta foram rotulados anti-Indonésios, ignorantes ou simplesmente racistas. Tal é a mentalidade do grupo do Lobby que ONG’s, activistas de direitos humanos, a Igreja Católica, reportagens críticas dos media e mesmo Portugal foram violentamente condenados pelo grupo pela violência perpetrada pelos militares Indonésios nos anos 80’s e 90’s em Timor.

Dois massacres em Dili ocorridos em Novembro de 1991 e os comentários dos defensores Pró-Jakarta só demonstram a sua linguagem e mentalidade política extrema.

O número de mortes foi activamente minimizado ao mesmo tempo que o segundo massacre foi ignorado. Greg Sheridan e Richard Woolcott, um antigo Embaixador na Indonésia, de facto acusou Portugal de ter provocado a atrocidade.

O antigo Professor de Economia da ANU Heinz Arndt lamentou no The Australian, “… que o massacre foi uma tragédia, não por causa da perda de vidas mas porque inflamou campanhas de ódio anti-Indonésias na Austrália”.

Tais comentários aparentemente implicam que os mortos desarmados foram um último truque anti-Indonésio dos Timorenses, que egoisticamente se colocaram eles próprios no caminho do fogo das inocentes armas automáticas Indonésias. E o evento inteiro obviamente foi encenado somente para benefícios doméstico desses intrometidos fazedores de bem Australianos que simpatizavam com a luta dos Timorenses.

Em relação a 1965, em Aceh, Timor-Leste e agora a Papua Oeste, o Lobby de Jakarta não tem coragem moral nas suas posições éticas para reconhecer que deve aceitar assassinatos e atrocidades desde que isso traga um clima potencial de relações diplomáticas vantajosas com Jakarta.

Não se questionar o mérito da abordagem do Lobby de Jakarta à Indonésia é suspender a crença na lógica e obscurecer o sofrimento humano. Ser-se crítico dos militares Indonésios pela sua história documentada e aterradora de (violações) dos direitos humanos não é ser-se anti-Indonésio. Requer-se a sua reforma urgente tanto para os cidadãos comuns Indonésios, e a sua jovem democracia, como para o futuro dos direitos humanos nas ilhas do leste da Indonésia.

Quando George Orwell anotou que “a linguagem política … destina-se a fazer das mentiras verdades e de um assassino uma pessoa respeitável, e a dar uma aparência de solidez a simples vento” ilustrou o buraco negro ético da chamada necessidade de mentiras nobres para alcançar ganhos políticos de curto prazo.

As pessoas que apoiam tais tácticas demonstram a sabedoria em curso da visão filosófica de Orwell.

Ver o artigo completo aqui.
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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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