sexta-feira, junho 23, 2006

Líder do Partido Kota critica Xanana Gusmão. E bem.

Povo vai levantar-se para apoiar Xanana - Mário Carrascalão

Lisboa, 22 Jun (Lusa) - O líder do PSD timorense, Mário Carrascalão, admitiu hoje um "levantamento popular" de apoio ao Presidente da República, mas discordou da decisão de Xanana Gusmão de se demitir se Mari Alkatiri recusar deixar a chefia do governo.

"Isto não pode ficar assim. Não concordo com a decisão de Xanana Gusmão. Não é ele que tem de se demitir, mas demitir o primeiro- ministro imediatamente. Já o devia ter feito há mais tempo", afirmou Mário Carrascalão, contactado telefonicamente pela Lusa em Díli.

O líder do PSD, partido que conta com seis deputados ao Parlamento Nacional (88 lugares, 55 dos quais da FRETILIN), disse que "o povo vai levantar-se para apoiar o Presidente da República contra o primeiro-ministro e a FRETILIN".

"Se Xanana sair, Francisco Guterres 'Lu-Olo' [presidente do Parlamento] sobe a Presidente da República e isto fica a ferro e fogo.

Pode ser muito complicado", alertou o antigo governador de Timor-Leste durante a ocupação indonésia.

Numa comunicação ao país, Xanana Gusmão anunciou hoje que apresentará sexta-feira, em carta a enviar ao Parlamento Nacional, a sua demissão do cargo de Presidente da República, se Mari Alkatiri persistir em manter-se à frente do governo.

Xanana Gusmão tinha exigido a demissão do primeiro-ministro, mas a FRETILIN manteve o apoio ao seu líder na chefia do governo e Mari Alkatiri já reiterou que se manterá no cargo.

Contactado também por telefone pela Lusa, o presidente do KOTA (dois deputados), Manuel Tilman, considerou que a ameaça de Xanana Gusmão de se demitir é uma "táctica perigosa".

Para Manuel Tilman, Xanana Gusmão "tem o sentimento de que o povo e a comunidade internacional estão do lado dele", mas optou por atacar a FRETILIN, o que considerou "perigoso".

"É mais lógico responsabilizar política e administrativamente o primeiro-ministro do que mexer na FRETILIN. É muito perigoso pôr partidos contra partidos, ou povo contra a FRETILIN. Por isso, não concordo muito com a declaração do Presidente da República", afirmou.

"Pode haver questões internas entre Xanana (Gusmão) e o Mari (Alkatiri) e outros fundadores da FRETILIN. Eles que resolvam isso entre si, mas evitando pôr povo contra povo, povo contra FRETILIN.

Isso pode causar a guerra civil", alertou.

Manuel Tilman criticou Xanana Gusmão por ter acusado a direcção da FRETILIN de ter comprado os delegados ao recente congresso do partido e sido eleita por votação de braço no ar, violando a lei dos partidos políticos.

Para Tilman, ainda que "se reconheça uma ilegalidade no congresso da FRETILIN", qualquer queixa deve partir apenas dos delegados do partido.

"Os delegados da FRETILIN podem questionar o que se passou no congresso, mas eu ou o senhor Presidente da República ou outros não podem, nem devem fazer isso. A lei dos partidos diz que pode ter havido alguma ilegalidade, mas cabe aos delegados contestar isso nos tribunais", afirmou.

O líder do KOTA considera, igualmente, que Xanana Gusmão, "não tem razão nenhuma para se demitir", devendo antes olhar para os artigos 74º e 82º da Constituição, que, "tendo em conta a calamidade que o país atravessa e o anormal funcionamento das instituições democráticas", lhe permitem "demitir o primeiro-ministro".

"O que vejo nisto é uma táctica do senhor Presidente da República de dramatizar a situação e ao mesmo tempo, e como está a chegar muita gente a Díli para apoiar o senhor Presidente da República, penso que amanhã [sexta-feira] ele vai demitir o primeiro- ministro", disse.

Tilman considera que há amplos argumentos para justificar que Mari Alkatiri "falhou politicamente e administrativamente", já que o chefe do governo não está a conseguir preservar a lei e ordem ou a garantir o gozo da liberdade dos cidadãos, com a administração "totalmente paralisada".

Independentemente do que possa acontecer, Tilman manifesta-se "apreensivo" sobre o futuro imediato, nomeadamente a reacção da FRETILIN, incluindo da facção mais moderada que pode sentir-se "englobada" nos ataques e críticas de Xanana Gusmão ao partido.

"Se começa a haver caça às bruxas, ataques e perseguições individualizadas, será muito grave. Por isso não percebo muito bem esta estratégia do senhor Presidente da República. Não importa esquecer que há uma facção moderada da FRETILIN que agora é posta no mesmo saco", acrescentou.

PNG/ASP.

3 comentários:

Anónimo disse...

E se o governo cair e Alkatiri for eleito novamente?

Já pensaram nisso?

Que vão inventar a seguir?

Anónimo disse...

Esta postura descabida do PR me faz lembrar a estratégia do golpe de 1964, no Brasil.
Na época o PR Janio Quadros, reconhecido alcoolatra, ganhou a eleiçao com uma grande número de votos. Seis meses apos a eleiçao Janio renuncia alegando ^forças ocultas^. Com isso o vice que estava numa visita oficial a China. Até o vice voltar ao Brasil os militares financiados pelos EUA e empresários arrivistas, anti-comunistas, parte da Igreja e apátrias colocaram o golpe em marcha.
Resultado= 25 anos de ditadura, descalabro econômico, Estado corrompido e uma populaçao sem horizontes.
Lutem pela democracia!

Anónimo disse...

Esqueceu-se que distribuiram armas para ameçar/matar as populações e opositores apenas por poder. Ganham porque ameaçam o povo....

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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