Tradução da Margarida.
Aqui está um resumo e algumas observações sobre o relatório da ONU sobre a crise de 2006 em Timor-Leste.
Resumo:
O relatório da ONU focou -se nos eventos de Abril-Maio de 2006 que contribuíram para a crise. As suas conclusões particulares tiveram principalmente a ver com o motim militar, assassinatos durante a crise e a armação pelo governo de civis para ajudar a polícia. Os tribunais de Timor-Leste liderados por juízes internacionais foram sugeridos como os meios para lidar com os processos criminais e procedimentos disciplinares. O relatório não entrou muito nas políticas por detrás da crise, ou os apoiantes do golpe de Estado. Fez algumas críticas a Mari Alkatiri e Xanana Gusmão mas não sugeriu processos contra esses dois.
O relatório da ONU tirou algumas conclusões significativas que sustentaram os debates mais alargados:
1. “não ocorreu nenhum massacre” em Taci Tolu (p.29) - tinha havido rumores que as forças armadas mataram 60 pessoas em 29 de Abril.
2. Encontrou “nenhuma evidência” que Xanana autorizou Reinado e outros a fazerem ataques armados (p.30)
3. a Comissão “não aceita” que Mari Alkatiri “deu instruções” ao grupo de Railos para “eliminar” os seus opositores políticos (p.40).
4. Enquanto seis oficiais das forças armadas são “razoavelmente suspeitos de assassínio”, o General Taur Matan Ruak “não pode ser responsabilizado” por disparos por oficiais das forças armadas “párias” depois de ter sido estabelecido um cessar-fogo (p.49)
5. contudo processos por movimento e posse de armas foram recomendados contra o antigo Ministro da Defesa Roque Rodrigues, o chefe das Forças Armadas Taur Matan Ruak e o Ministro do Interior Rogério Lobato (já acusado) – bem como o grupo de Rai Los (p.51-52).
6. o Ministro e o Comandante Geral da Polícia (Rogério Lobato e Paulo Martins) e os Chefes das forças armadas (Roque Rodrigues e Taur Matan Ruak) sofreram responsabilidades principais por falhanços de segurança durante a crise (pp.59-60).
7. A Comissão não aceitou o argumento do governo que “o apoio civil à PNTL era legítima sob os termos do Acto de Segurança Interna” (p.40).
8. ‘Mais investigações’ foram recomendadas contra Mari Alkatiri, sobre o possível conhecimento de distribuição de armas a civis (p.40).
9. Ao intervir pessoalmente com Alfredo Reinado, Xanana Gusmao “não consultou nem cooperou” com o comando das forças armadas, deste modo “aumentando as tensões pessoais entre o Presidente e as forças armadas” (p.63)
O relatório detalha os eventos de Abril-Maio. Focaram em particular recomendações sobre os que tinham participado em ataques armados e mortes. Foi indicado um grande número de pessoas para terem processos por mortes e actos violentos, incluindo os líderes do golpe Alfredo Reinado e o seu grupo, os do grupo de Rai Los, e um grupo de polícias e de oficiais das forças armadas.
A resposta dos media Australianos
Os media de massas Australianos tiveram uma vaga de títulos bastante similares depois do relatório da ONU ter sido publicado. A primeira resposta em 17 de Outubro foi focar em supostas conclusões contra o antigo PM Alkatiri. Os títulos das notícias correram como se segue:
ONU recomenda que ex-PM de Timor-Leste seja investigado sobre o desassossego – Radio Australia
Relatório da ONU recomenda a investigação de Alkatiri – ABC online
PM acusado pela violência em Timor – The Age
O relatório da ONU sobre Timor aponta para o topo – Sydney Morning Herald
ONU apela a investigação sobre antigo PM de Timor-Leste – Melbourne Herald-Sun
ONU recomenda investigação de Alkatiri – NineMSN
ONU diz que Alkatiri deve enfrentar investigação criminal – The Australian
Em contraste, algumas fontes internacionais correram isto de maneira diferente:
ONU: Não há evidência para levar Alkatiri a Tribunal – Tempo Interaktif (Indonesia)
Uma reportagem deu um tratamento similar ao Presidente Xanana Gusmão:
ONU acusa Gusmão da violência em Dili – The Daily Telegraph
Depois disto, foi dada atenção aos comentários do líder do golpe Alfredo Reinado:
Líder amotinado de Timor-Leste em conversações para manter a paz – Radio Australia
O relatório da ONU é uma anedota, diz o amotinado de Timor – The Age
Libertem os tribunais de parcialidade: Reinado – The Australian
Desisto se o PM for, diz Reinado – The Australian
Algumas observações:
As questões principais deixadas em aberto pelas reportagens parecem ser:
1. Que conhecimento prévio e apoio à tentativa de golpe houve dos maiores opositores conhecidos do Governo Alkatiri (i.e. a hierarquia da Igreja Católica, o Governo Howard e a ADF, os grupos da oposição de TL)?
2. Haverá mais investigação ás ligações directas de Xanana Gusmão com Reinado?
3. Os tribunais apoiarão o argumento dos ministros do governo que tinham justificação em armar civis de apoio à polícia durante a tentativa de golpe?
4. Irá a equipa Four Corners da ABC pedir desculpa e ser responsabilizada pela sua história falsa acerca do ‘esquadrão de ataque’ de Railos, durante o golpe, uma história que forneceu o pretexto final para a forçada resignação do Primeiro-Ministro?
5. Com as maiores corporações dos media Australianos (eg. The Australian) e o Governo Howard opondo-se fortemente à renovação do governo liderado pela Fretilin, com o falhanço dos soldados Australianos em conterem o gang de Reinado e murmurando pró-golpe slogans sectários como “fuckin lorosae”, como influenciarão os partidários Australianos nas eleições de Maio 2007 serão contidos?
Tim Anderson
19 Outubro
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sexta-feira, outubro 20, 2006
O relatório da ONU sobre a crise em Timor-Leste e a resposta dos media
Por Malai Azul 2 à(s) 11:11
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
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