Maputo, 23 Nov (Lusa) - O ex-primeiro-ministro de Timor-Leste Mari Alkatiri disse hoje em Maputo que não ocupou o cargo "com a cabeça noutra capital", defendendo as suas posições nas negociações com a Austrália sobre delimitação das fronteiras marítimas.
"O meu papel resumiu-se a defender os interesses do povo timorense e não a criar inimigos", disse, sobre a suposta hostilidade com o governo da Austrália, com o qual Díli assinou um acordo para a exploração dos recursos de petróleo e gás natural no Mar de Timor, adiando por 50 anos a delimitação da sua fronteira marítima.
"Não podia ser primeiro-ministro em Timor-Leste, com a cabeça numa outra capital", declarou Alkatiri, sustentando a alegada recusa em submeter-se a Camberra.
Em Maputo, onde se encontra desde quarta-feira "para visitar amigos e camaradas", Mari Alkatiri foi hoje recebido pelo presidente moçambicano, Armando Guebuza, a quem deu, segundo disse, "um informe detalhado sobre os acontecimentos ocorridos em Timor-Leste".
Após o encontro, numa entrevista à Agência Lusa, Alkatiri classificou como "puro oportunismo" a ligação entre o seu perfil e a experiência de monopartidarismo em Moçambique, dizendo-se magoado com o presidente timorense, Xanana Gusmão, pelos "falsos argumentos" usados contra si.
O facto de ter vivido em Moçambique, um país que durante quase 20 anos foi governado pelo regime monopartidário da FRELIMO, tem sido usado para o acusar de comportamento autocrático, na governação e na gestão do conflito que eclodiu em Timor-Leste em Abril deste ano.
"A associação que se faz entre o suposto grupo de Maputo e as causas do conflito timorense é puro oportunismo. Moçambique foi um exemplo de engajamento no apoio à causa timorense, ajudando quando ninguém ou poucos acreditavam nos propósitos do povo de Timor-Leste", disse Alkatiri à Agência Lusa.
O ex-primeiro-ministro acrescentou que "o grupo de Maputo é responsabil izado pelo que se passa em Timor-Leste, como podia ter sido acusado um outro grupo".
"Agora falam dos mestiços, por causa da ascendência portuguesa do actual primeiro-ministro", José Ramos-Horta, exemplificou.
Mari Alkatiri confessou-se "magoado" com Xanana Gusmão por supostamente ter usado "falsos argumentos" para defender a sua demissão.
"Não tenho nenhum relacionamento tenso com o Presidente Xanana, mas ficou a mágoa por ele ter usado falsos argumentos contra a minha pessoa", disse.
Mari Alkatiri demitiu-se do cargo de primeiro-ministro a 26 de Junho, dias depois de Xanana Gusmão ter anunciado que tinha perdido a confiança no chefe do governo depois de denúncias sobre o seu alegado envolvimento na distribuição de armas a civis.
Posteriormente, Alkatiri foi constituído arguido num processo sobre distribuição de armas a civis em que o seu ex-ministro do Interior Rogério Lobato figura como acusado.
Alkatiri, que já foi ouvido pelo Ministério Público em Díli, tem repetidamente negado essas acusações, insistindo ao mesmo tempo na rápida resolução da investigação em curso.
Nas declarações à Lusa em Maputo, Mari Alkatiri, que é secretário-geral da FRETILIN, referiu-se às críticas de Xanana Gusmão ao seu partido, maioritário em Timor-Leste.
"Não é papel do Presidente imiscuir-se na vida interna dos partidos", enfatizou, numa referência ao facto de Xanana Gusmão ter apontado uma alegada falta de democracia na FRETELIN, cuja liderança, saída do congresso de Maio passado , foi eleita por braço no ar e não por voto secreto.
O ex-primeiro-ministro timorense sublinhou também que a persistência da violência em Timor-Leste é uma evidência de que ele nunca foi a causa da crise, imputando a fonte da perturbação a "grupos que não querem respeitar os poderes legitimamemnte eleitos".
Mari Alkatiri acrescentou que a missão das Nações Unidas destacada para normalizar a situação em Timor-Leste está a enfrentar dificuldades, porque "não há uma conflitualidade aberta no país, mas sim o imperativo da imposição da lei e ordem".
"As missões das Nações Unidas estão orientadas para intervir em casos de conflitualidade aberta e não para neutralizar bandos de crime, porque isto é já um problema de lei e ordem", frisou Alkatiri.
Sobre pretensas divisões étnicas entre "loromonu" (dos distritos ociden tais de Timor-Leste) e "lorosae" (da parte oriental do país), Alkatiri considerou essa opinião "superficial".
"Se fosse verdade haveria uma guerra civil no país. As escaramuças têm sido entre bairros ou alguns bandos, mas não são numa escalada de um conflito étnico, que, a existir, levaria a uma guerra civil", frisou.
Alkatiri pronunciou-se igualmente sobre o seu futuro político, mais concretamente em relação à sua participação nas eleições legislativas de Março do próximo ano.
"Nunca me candidatei a eleições, assumi sempre as tarefas que o meu partido me incumbiu, será assim também no futuro, estarei pronto para as tarefas do meu partido", sublinhou, deixando em aberto a hipótese de uma recandidatura à chefia do Governo timorense.
PMA-Lusa/Fim
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sexta-feira, novembro 24, 2006
Mari Alkatiri defende a sua actuação nas negociações com Austrália
Por Malai Azul 2 à(s) 06:11
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
11 comentários:
A LUSA mente descaradamente quando afirma que: “Posteriormente, Alkatiri foi constituído arguido num processo sobre distribuição de armas a civis em que o seu ex-ministro do Interior Rogério Lobato figura como acusado.”
Como qualquer leitor minimamente informado sabe Alkatiri SÓ foi chamado à Procuradoria da República para dar informações e Rogério Lobato é considerado arguido e não culpado. Nem podia, pois que ainda nem julgado foi.
Só posso lamentar e denunciar a falta de profissionalismo do jornalista da Lusa e a sua leviandade e irresponsabilidade. Assim, não!
Mari Alkatiri foi constituído arguido no processo. Não queira a Maragirda reescrever a história. Se não sabe informe-se.
Dê então s.f.f. a fonte onde está tal informação porque Alkatiri NÂO foi constituído arguido em processo algum.
Que e que esperam da Margarida. Para ela O Mari e o seu ai Jesus.
De facto Mari Alkatiri NÃO foi constituído arguido e foi irresponsável e leviano este relato da LUSA. É desejável que os seus jornalistas senham mais profissionais.
A fonte é o próprio blogue, ou melhor ainda os advogados de Alkatiri. Margarida, deixe de ser facciosa e consulte o que saiu nos dias 11 e 17 de Julho.
No dia 11 foi o procurador Longuinhos Monteiro a anunciar e no dia 17 um dos advogados de Alkatiri a confirma-lo. Trata-se do advogado Arnaldo Matos.
Se ainda tiver dúvidas avance um pouco, e leia o que este blogue publicou a 20 de Julho, citando as notícias da Lusa, que cita, por sua vez, os advogados José António Barreiros e, novamente, Arnaldo Matos.
Quer ver, parafraseando-a, que era desejável que os advogados de Alkatiri fossem mais profissionais?
Mari Alkatiri foi constituido arguido.
...e a Margarida não deve um pedido de desculpas ao jornalista da Lusa que entrevistou Mari Alkatiri?
Obviamente que deve!
Obviamente que não as dará, porque é demasiado orgulhosa para admitir que continua a errar.
É pena. Não é assim que se defende Timor-Leste.
BRAVO MALAI AZUL!!!!!!!!!!
FINALMENTE.QUE ALIVIO.
Relendo o Timor-online de 20 de Julho está lá dito que Mário Alkatiri foi constituído arguido pelo Ministério-Público.
E sobre a decisão do Ministério Público de constituir Rogério Lobato arguido esta foi posteriormente aceite pelo Tribunal de Dili.
Quanto ao caso de Mário Alkatiri ainda não foi sequer levado a Tribunal. É esta a diferença - a enorme diferença.
Parece que o Ministério Público ainda nem sequer enviou o processo a tribunal porque não só não tem provas como até nem tem testemunhas. Aliás, a "testemunha" que teria e que é o Railos, anda fugida da justiça. Mas estas explicações nunca a Lusa as deu. Prefere fazer a amálgama e insinuar.
Foi constituído arguido mas não foi acusado de nada. O inquérito ainda não terminou. Este termina ou com a acusação do arguido e então o processo segue para julgamento (onde pode haver condenação ou absolvição do arguido), ou com o arquivamento do inquérito.
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