terça-feira, novembro 28, 2006

Direcção da FRETILIN hipotecou soberania nacional - PR Xanana

Díli, 27 Nov (Lusa) - A direcção da FRETILIN, partido no poder em Timor-Leste, hipotecou a soberania nacional, acusou hoje em Díli o Presidente da República timorense, Xanana Gusmão.

A acusação está contida na última de quatro partes do texto "As Teorias da Conspiração", em que Xanana Gusmão rebate o conteúdo de um documento recentemente divulgado pelo Comité Central daquele partido (CCF), denominado "Análise da Situação e Perspectivas".

Mantendo o tom irónico utilizado nos anteriores textos, publicados na imprensa escrita timorense nas duas línguas oficiais, português e tétum, Xanana insiste no ataque directo à FRETILIN e à direcção eleita no II Congresso, realizado em Maio passado, questionando novamente a sua legitimidade.

Mas, reportando-se à crise político-militar iniciada em Abril, objecto de interpretação no documento do CCF, Xanana acusa o secretário-geral, Mari Alkatiri, o presidente, Francisco Guterres "Lu- Olo", o vice-presidente, Rogério Lobato, e o militante histórico Roque Rodrigues "de terem hipotecado a soberania do país".

"Quem hipotecou a soberania? Só os ilustres doutores do CCF é que devem responder a esta pergunta! E eu posso ajudar. Foi o vosso camarada Presidente, senhor Lu-Olo, foi o vosso camarada secretário-geral do partido, Dr. Mari Alkatiri, foi o vosso camarada vice- presidente do partido, Sr. Rogério e o vosso camarada Dr. Roque Rodrigues. Eles hipotecaram a soberania do país"", destaca.

Roque Rodrigues e Rogério Lobato, ministros da Defesa e do Interior, respectivamente, pediram a demissão dos cargos a 01 de Junho na sequência de uma exigência feita nesse sentido por Xanana Gusmão.

Mari Alkatiri demitiu-se da chefia do governo a 26 de Junho, enquanto Francisco Guterres "Lu-Olo" é o presidente do Parlamento Nacional.

À semelhança dos anteriores três textos, publicados nos passados dias 06, 13 e 20, Xanana Gusmão utiliza uma argumentação que, embora fundada na ironia, revela um verdadeiro ajuste de contas com a FRETILIN e a direcção saída do II Congresso que, repete, continua a considerar "ilegítima", porquanto foi eleita de braço no ar, ao arrepio dos estatutos partidários.

Vincando a diferença entre os que fizeram a luta de resistência no mato e os que se mantiveram no exterior, Xanana reclama que "os senhores doutores do CCF" esquecem-se dos outros, dos que viveram em ainda vivem em Timor desde 1974.

"E os senhores doutores, uns já estavam fora a estudar ainda, outros foram uns dias antes do 7 de Dezembro de 1975 [data formalmente aceite como a da invasão indonésia]! E só voltaram em fins de 1999", numa referência aos que alegadamente regressaram somente depois dos indonésios saírem, o que sucedeu em Setembro de 1999.

"O povo timorense não é o povo deixastes em 1975", acusa.

E mesmo a alguns dos que ficaram, e resistiram no mato, Xanana Gusmão não poupa nas críticas.

Sem que nomeie expressamente a quem se refere, embora classifique como "desolador, Xanana lamenta que "muitos veteranos e históricos que andaram a resistir durante 24 anos, em Timor-Leste, tivessem pura e simplesmente esquecido os sofrimentos e os sacrifícios de todo o Povo".

"Ficaram encantados com o poder", explica.

A FRETILIN garantiu a cada um destes "a migalha do poder", prossegue, sublinhando que apesar de se terem mantido no interior do território têm a sua trajectória política acompanhada pelo povo.

"E é incrível: esses que sempre estiveram cá dentro, não têm ideia de que o povo acompanha os seus passos, o povo analisa a sua trajectória política (que faz saltos impressionantes), o povo percebe os seus sonhos e segure as suas ambições, tanto individuais como colectivas em termos do partido", salienta.

Mais à frente, e retomando sinais que tinha já dado nos anteriores textos, Xanana Gusmão reafirma que não concorrerá a um segundo mandato presidencial, mantendo, todavia o tom irónico sempre que se refere ao CCF.

"As lições que estou a aprender dos ilustres doutores do CCF não me valerão muito, na medida em que só tenho uns parcos sete meses de mandato! Mas o próximo Presidente da República terá que ser capaz de responder às exigências do 'partido no poder'", escreve.

Personalizando nalgumas partes as críticas, Xanana refere-se a Mari Alkatiri, considerando que o líder da FRETILIN e anterior primeiro-ministro "continua a deter os cordelinhos do processo".

"Liderança do governo... Oh! Sim, aqui está a chave do problema! Mas o secretário-geral do partido devia estar mais satisfeito, porque apesar de estar em descanso temporário até Maio de 2007, recebe todos os dias os seus ministros, que vão em consulta, pelo que continua a deter os cordelinhos do processo", destaca.

No documento que suscitou a resposta de Xanana Gusmão, a FRETILIN considera que a actual crise no país conduzirá a um "Plano B", que prevê o recurso a "actos terroristas mais selectivos", pensado por "actores internos e externos" com o objectivo de destruir a ordem constitucional.

Nesse documento, de seis páginas, a FRETILIN evidencia uma tomada de posição extremamente crítica, considerando que a crise assenta "essencialmente num conflito de natureza política onde o desrespeito pela ordem constitucional democrática e os meios e formas de agir reflectem o carácter profundamente antidemocrático e golpista".

Segundo esta tese, este plano conspirativo terá começado logo em 2002, com "a tentativa de forçar a criação de um Governo de Unidade Nacional", tendo assumido, ainda segundo a FRETILIN, diversas formas até à crise actual.

"Durante estes quatro anos, um plano bem traçado de contra- inteligência foi sendo implementado" e dele fizeram parte a exploração de alegadas rivalidades e de um "clima de suspeição mútua" entre as forças armadas e a polícia nacional, segundo o CCF.

Após a divulgação do primeiro texto do presidente timorense, a 06 de Novembro, Mari Alkatiri remeteu para mais tarde uma resposta da FRETILIN, mas numa entrevista posterior à Lusa, em Lisboa, considerou "chocante" que Xanana Gusmão tenha criticado aqueles que partiram de Timor-Leste, como foi o seu caso, poucos dias antes da invasão indonésia.

EL-Lusa/Fim

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4 comentários:

Anónimo disse...

"E é incrível: esses que sempre estiveram cá dentro, não têm ideia de que o povo acompanha os seus passos, o povo analisa a sua trajectória política (que faz saltos impressionantes), o povo percebe os seus sonhos e segure as suas ambições, tanto individuais como colectivas em termos do partido", salienta.

E mesmo incrível, Xanana, que voce proprio esqueceu os que sacrificam no lado de Povo. Os como o nosso verdadeiro patriotas Camarada Nicolau Lobato, Camarada Sahe, Camarada Mahudo, Camarada Konis Santana, e ouros membros do CCF homens e mulheres que sacrificam tudo para o Timor. Conheces bem o CCF Xanana? quantos de 1975 que hoje estao vivo para ver a sua brincadeira sujas?

Para nos de FRETILIN tu es ja, NADA, nao representa ninguem, so os que invejam. O nos de FRETILIN temos, o que perdemos e mais de um Xanana. Temos historia, temos sacrificios, temos martires do nossa patria.

Nao sozinho Xanana que ficava lado do nosso povo em tempos mais dificies, ja esquece os nossos camaradas no mato em 1975 ate 1999.

FRETILIN e um so, sommos um grande familia dentro ou fora do nosso terra.

Nao e mais um symbolo de unidade Xanana mas um symbolo de odio e de disunidade. Ontem foi o lorosae loromonu hoje falas de os que ficavam e os que sairam mas continuem trabalhar e lutar para o nosso pais.

Eu acho que tu Xanana mereces nem um resposta,ja perdeu o respeito.

Anónimo disse...

...."continua a considerar "ilegítima", porquanto foi eleita de braço no ar, ao arrepio dos estatutos partidários."

Pois e Xanana, e melhor deixa a justica para o novo juis Alexandre " Xanana" Gusmao.

Primeiro ensinou divisao agora encinas todo povo nao respeitar o deliberasaun de Tribunal de recurso.

Xanana tu es mesmo um palhaco.

Anónimo disse...

E não se pode impugná-lo?
Vasconceeeeeelllooooos!...

Anónimo disse...

Ao que "isto" chegou!... Eu já sabia que o grande problema dele era esse, o da inveja pura e simples! Qual "doutores", qual "comunismo", qual quê!... Inveja, pura inveja!... E não é só ele!
O mal é o sentimento de "propriedade" da luta pelos de "dentro" contra os "estrangeirados". Venham eles de Maputo, de Lisboa ou de Melbourne!... Isso é indiferente!...
Que fim triste para um homem que julgávamos Grande! É o canto do cisne!...
E, de facto, uma vergonha para Timor ter um tal presidente. Helas!...
Quem pode levar a sério um homem que tanto faz iniciativas de "reconciliação" como escreve artigos como os que ele tem escrito?!... Que tristeza!... E logo num dia que deveria ser de festa!...

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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