Eduardo Lobão, da Agência Lusa Díli, 27 Nov (Lusa) - Timor-Leste comemora terça-feira o 31º aniversário da declaração unilateral de independência, em pleno período marcado pelos efeitos da crise político-militar iniciada em Abril e que ameaça transformar 2006 no ano de todos os perigos.
O ano em curso evidencia as contradições por que Timor-Leste passou desde que em 1975, pressionados interna e externamente, os dirigentes da FRETILIN - partido que reclama a legitimidade histórica da luta pela soberania -, optaram pela declaração unilateral de independência.
Em 2006, são diversos os desafios que se colocam ao país, cuja independência foi restaurada em Maio de 2002, após 24 anos de ocupação indonésia a que se seguiram três de administração das Nações Unidas.
Se esses desafios não forem resolvidos com sucesso, o perigo dos timorenses hipotecarem o desenvolvimento e colocarem em risco os sonhos de há 31 anos é grande e, em última análise, dará razão aos que reclamam que Timor-Leste é um Estado falhado.
Os principais desafios que se colocam actualmente são a reabilitação da justiça, a organização da economia e a pacificação do tecido social.
Interligados entre si, o insucesso de qualquer um deles resultará irremediavelmente no falhanço de todos.
O mundo mudou nestes 31 anos e Timor-Leste já não é apenas uma das peças do quebra-cabeças jogado na década de 70, em plena guerra- fria entre Washington e Moscovo.
Comparativamente a 1975, o inimigo já não está do outro lado da fronteira, mas sim na cada vez mais difícil coabitação de dois conceitos, interpretados por actores internos, a FRETILIN e o Presidente Xanana Gusmão, que ao longo da história estiveram conjunturalmente do mesmo lado da barricada e que agora se revelam adversários, julgando que a vitória de um só será possível com a derrota do outro.
Na verdade, a derrota de um lado é também a derrota do outro, porque essa divisão representará, paradoxalmente, que têm razão os que recusam a Timor-Leste a capacidade e a prerrogativa de gerir os seus destinos e recursos.
Passados 31 anos e devido à crise desencadeada em Abril passado, que provocou mais de 60 mortos e levou 18 por cento do cerca de um milhão de habitantes a abandonar as respectivas áreas de residência, quase tudo está por fazer.
Ora são os desafios à justiça, protagonizados por foragidos que se fazem fotografar, em pose de desafio, de armas na mão, ora é a economia, que titubeia na paralisia em que o país se afundou, ou são as dezenas de milhar de deslocados, que receiam abandonar os campos provisórios de acolhimento por falta de segurança.
Embora sejam apenas três os principais desafios que os líderes políticos timorenses enfrentam, mas não são muitas as alternativas de que dispõem.
No caso da justiça foi a palavra mais ouvida desde o início do ano, quando centenas de militares expuseram na praça pública as contradições acumuladas durante a luta de resistência ao ocupante indonésio e oportunamente foram o motor para a contestação que se seguiu.
Todos reclamam mais justiça, mesmo os que tendo cometido crimes de sangue, como o cabecilha dos militares rebeldes, major Alfredo Reinado, fugiram da prisão e fizeram-se fotografar armados, recusando submeter-se à justiça enquanto essa mesma justiça não for aplicada a terceiros.
Reféns da marcha lenta imprimida à justiça, os timorenses debatem-se com a falta de perspectivas de futuro, sobretudos os cerca de 15 mil jovens que anualmente atingem a idade para entrar no mercado de trabalho.
Paralisado desde Abril, o país afundou-se ainda mais nas mãos da ajuda internacional e na dependência externa.
A assistirem a esta realidade estão os agora cerca de 90 mil deslocados, 20 mil dos quais espalhados por campos de acolhimento na capital.
Os restantes 70 mil vivem nos distritos do interior.
Todos eles são actores involuntários de um dia-a-dia que se arrasta e a que a aproximação da época das chuvas confere o toque dramático previsível, justificado pelo perigo da proliferação de doenças e a manifesta impossibilidade de manter a situação a que foram conduzidos.
Se os líderes políticos não resolverem a contento estes desafios, Timor-Leste terá sido apenas uma boa ideia. Todavia, mal executada.
Lusa/Fim
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Comentário: Parabéns por este artigo.
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terça-feira, novembro 28, 2006
31º aniversário da independência comemorado em tempo de crise
Por Malai Azul 2 à(s) 12:41
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
1 comentário:
Sim senhora, estou de acordo. É um belíssimo artigo. Toca nas partes essenciais e sintetiza o todo.
A Lusa volta ao seu melhor.
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