quinta-feira, outubro 19, 2006

Não é necessário investigar mais o comandante Taur Matan Ruak

Público, 19 Out 2006
Por Adelino Gomes

O primeiro-ministro timorense defende que a prisão do major rebelde Reinado não deve ser feita a qualquer preço. E acha que não há razão para mais investigações à actuação do comandante das Forças de Defesa e do ex-ministro da Defesa Roque Rodrigues, como recomenda a ONU.

Por Adelino Gomes

José Ramos-Horta, o chefe do Governo e ministro da Defesa de Timor-Leste, deu esta entrevista ao PÚBLICO por correio electrónico, poucas horas depois da divulgação de um relatório das Nações Unidas sobre os incidentes violentos de Abril e Maio. O documento, entregue na terça-feira ao Parlamento de Díli, pede processos judiciais contra 90 pessoas.

PÚBLICO - O relatório da ONU recomenda investigações judiciais contra, entre outros, o antigo ministro do Interior Rogério Lobato, o antigo ministro da Defesa Roque Rodrigues e o actual comandante das F-FDTL, (Falintil/Forças de Defesa de Timor-Leste) brigadeiro Taur Matan Ruak (TMR). Pede também mais investigações sobre eventuais responsabilidades do seu antecessor. Ficou surpreendido?

JOSÉ RAMOS-HORTA - Não. Não estou surpreendido. É natural que a Comissão tenha recomendado mais investigação em relação a algumas entidades. Mas cabe ao procurador-geral determinar se há necessidade de uma nova investigação.

PÚBLICO - Enquanto primeiro-ministro e ministro da Defesa, mantém a sua confiança institucional no brigadeiro Ruak?

JOSÉ RAMOS-HORTA - Tenho. Total confiança. Há duas pessoas neste país em relação às quais continuo a ter total confiança. O meu Presidente, Xanana Gusmão, e o brigadeiro-general TMR [Taur Matan Ruak]. Quer um quer outro são figuras incontornáveis para a democracia, a paz e estabilidade em Timor-Leste. No que toca à recomendação da Comissão de que deveria prosseguir-se com mais investigação sobre o papel do ex-ministro da Defesa Roque Rodrigues e do brigadeiro TMR, obviamente a decisão cabe ao procurador-geral da República mas não me parece que haja aí novidades. Nunca foi segredo - pois o comando das F-FDTL não andou a escamotear os factos - que o comando das F-FDTL distribuiu armas a veteranos da luta. Mas logo a seguir, quando receberam orientações para as recolher, assim o fizeram sem hesitação. Todas as armas foram recolhidas e verificadas por uma Comisssão Internacional composta de observadores de Portugal, EUA, Austrália, Nova Zelândia e Malásia. Por isso, não me parece que haja necessidade de maiores investigações. O meu predecessor, Roque Rodrigues, e Taur Matan Ruak são duas figuras pelas quais mantenho o maior respeito.

PÚBLICO - Para além das questões concretas que levam a Comissão a propor processos judiciais ou mais investigações contra dezenas de pessoas, o relatório [da ONU] nota que o Governo (de que fazia parte enquanto ministro de Estado, da Defesa e dos Negócios Estrangeiros) "foi insuficientemente pró-activo"; que o Presidente "devia ter mostrado maior contenção e respeito pelos canais institucionais"; e que a UNOTIL demonstrou "insuficiências no preparo e na abordagem" a este problema. Está de acordo com esta graduação de responsabilidades?

JOSÉ RAMOS-HORTA - Estou de acordo de uma maneira geral. Que o Governo devia ter sido mais pró-activo na busca de uma solução para o problema dos "peticionários" e para os problemas em geral na Defesa, na Polícia, Ministério do Interior, etc., é óbvio que sim. No tocante à questão dos ditos "peticionários" o governo de que fiz parte falhou rotundamente, e aceito a minha quota-parte nessa falha. Não vale a pena passar a responsabilidade para outros.

PÚBLICO - As autoridades (Procuradoria-Geral, ONU e forças australianas) têm negociado com o major [rebelde] Reinado a sua entrega. Depois deste relatório, o Estado timorense e as forças militares que o apoiam vão continuar a negociar com este oficial ou vão proceder à sua prisão?

JOSÉ RAMOS-HORTA - Todos os meios pacíficos devem ser usados para a entrega do sr. Alfredo Reinado. Enquanto houver uma chance de se evitar o uso de meios coercivos essa chance deve ser explorada.

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3 comentários:

Anónimo disse...

Até o próprio Dr Ramos Horta designa o Reinado por sr. Alfredo Reinado e não por major Reinado tornando assim implícito o estatuto e posição actual deste.

Anónimo disse...

O laureado agora confunde o relatório da ONU com menú de restaurante rico e dá-se ao luxo de escolher á la carte as recomendações? Extraordinário!

Anónimo disse...

O laureado o que sabe fazer e laurear o queijo ppelo mundo. E dos que pensa que consegue pintar um peido de amarelo. Recolher as armas nao iliba TMR do crime de distribuicao de armas a civis. Distribuiu-as para que? Para irem a caca ao veado? Resultado do acto irresponsavel, mais de 3o policias feridos e nove mortos? Se o laureado detem maxima confianca e porque talvez esteja tambem implicado. Um Brigadeiro General fazer isso? Nem de um soldado se admite. E o Ministro Roque tambem, coitado, aprovou a distribuicao para os meninos brincarem aos cowboys, nao eh? Os dois para a pildra, juntamente com os Mausocos, Alfredos e companhia.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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