terça-feira, julho 04, 2006

Como demitir um primeiro-ministro

José Medeiros Ferreira
jmedeirosfl@clix.pt
Professor universitário

Passei a observar os acontecimentos em Timor-Leste sob um prisma estranhamente técnico: como demitir um primeiro-ministro com apoio maioritário no parlamento e que tenha ganho de novo, e recentemente, o congresso do seu partido. O prisma mal se enxerga no horizonte mas são os raios refractados que me encandeiam em Lisboa.

Gostaria de ter reencontrado na minha avulsa biblioteca um livrinho primoroso de Curzio Malaparte sobre a técnica do golpe de Estado (mas deve estar perdido entre Genebra e Lisboa ou entre andares) para me certificar de que o ex-fascista e ex-comunista italiano desterrado por Mussolini não tratou deste caso próprio dos semipresidencialismos de fachada parlamentar. Na essência a técnica é a mesma: à volta de um elemento legal constrói-se o edifício da tomada de poder pelos meios que forem necessários. Não se pense que a aplicação do disfarce da legalidade só se opera na transição para regimes fortes em países fracos. O nosso constitucionalismo monárquico consolidou-se com vários cercos militares ou populares à rainha D. Maria II, de Passos Manuel ao marechal Saldanha, entre 1836 e 1851. E a rainha ora resistia ora assinava o decreto de nomeação do primeiro-ministro pretendido para governar até ganhar as eleições seguintes. É verdade que a rainha não tomava iniciativas desse género: limitava-se a ficar no Palácio das Necessidades se resolvia assinar o decreto favorável aos revoltosos, ou deslocava-se preventivamente para o Palácio de Belém, onde ficava protegida pelas forças internacionais surtas no Tejo e então resistia à "populaça" de Lisboa.

Em Timor o Presidente Xanana parece não ter tomado a iniciativa, se exceptuarmos ter legitimado a chegada de forças estrangeiras que foram tomando posições em Díli para que toda a cidade se situasse politicamente como se fosse um Palácio de Belém a céu aberto. Nessa altura apenas se analisava a coisa entre nós em Lorosaes, que já conhecíamos das festas da independência, e uns crismados de Loromores que apareceram como uns desprotegidos exaltados a clamar por justiça. Foi a fase das manifestações violentas nas ruas de Díli que criaram o tal estado de necessidade de tropas internacionais.

Já com as forças expedicionárias no terreno, a pedido simultâneo de três órgãos de soberania, começou a desenhar-se uma clivagem entre o Presidente da República e o Governo. O PR começou por perder a confiança num ou noutro ministro e dividiu o Governo entre esses maus ministros e os que beneficiavam ainda do seu misterioso silêncio: deste modo foram substituídos os titulares das pastas da Defesa e do Interior. Imagino que os estrategos da Fretilin aconselharam calma e sangue-frio ao cerebral primeiro-ministro Alkatiri perante a óbvia intromissão do PR no seu Governo. E assim começou o seu enfraquecimento público.

Quem estava a ser cercado era pois o Governo. Os revoltosos eram tratados como os antigos beligerantes, com direito de cidade e acolhimento de súplicas. Já não bastava ao primeiro-ministro tomar boa nota das exigências políticas de Xanana Gusmão. Como ainda não chegou a Timor a execução de grandes negócios em clima de liquidez monetária, o escândalo não foi o da corrupção do Governo mas chegou pela via da distribuição de armas a civis, ou a milícias, pois a tendência era para o agravamento das acusações. Em sociedades mais organizadas em termos de forças de segurança este tópico da distribuição de armas não será de reter, embora o caso não seja inédito entre nós.

Nessa técnica do afastamento do primeiro-ministro surgiu então um elemento de modernidade política descoberto na Itália mas já muito depois de Curzio Malaparte ter morrido: a Procuradoria-Geral da República entrou em acção para instruir um inquérito às actividades de Alkatiri. Esta nota de modernidade na técnica do golpe de Estado pode ser hoje em dia exportada para qualquer parte do mundo. Nesta "península da Ásia" que é a Europa o mais provável é a acusação de corrupção seguida da falta de provas...

Pelas recentes declarações de Alkatiri, este processo começa a dar resultados, e, em países ocupados, permite contar com o bom senso e quase com a colaboração do primeiro-ministro que se quer afastar. O PR inicia o processo de afastamento, a PGR dirá até onde.…

Presume-se alguma expectativa sobre o grau de colaboração do acusado para ditar a sentença.

Formar um governo para ganhar eleições está longe de ser uma novidade timorense. À atenção dos observadores internacionais...

13 comentários:

Anónimo disse...

Sera este artigo demonstrativo da qualidade dos professores universitarios portugueses? Que tristeza e falta de rigor na argumentacao.
Professor de meia tijela.
So da para rir.

Anónimo disse...

ALkatiri Sarjana Kacupa

Anónimo disse...

MAS QUE PUTA DE BLOG É ESTE?? ESTE BLOG PODIA TAR MELHOR SE FICASSE NEUTRAL E NAO INCLINAR MUITO PARA O LADO DO SENHOR BIN '' CRAZY FROG '' ALKATRAUN!! VE-SE LOGO VOCES ESTAO A TENTAR MANIPULAR PESSOAS ATRAVES DESTA COISA DE TIMOR ONLINE, DEIXEM AS PESSOAS TIREM AS SUAS PROPRIAS CONCOLUSOES!! A MAIORIA DE QUE DEIXAM O COMENTARIO AQUI N SE QUER VIVE EM TIMOR... SE N TAO A VIVER AQUI EM TIMOR COMO E PODEM SABER AQUILO QUE ESTA PASSAR AQUI EM TIMOR!!??? VOCES SAO TAO MAUS PAGADORES FODAS!! JA SE ESQUCERAM AQUILO QUE XANANA E RAMOS HORTA FIZERAM POR TIMOR?? NAO ERA O VOSSO CRAZY FROG ALKTRAUN QUEM FAZIA LOBBY NOS ESTRANGEIROS E NAO ERA ELE QUE ESTEVE NO MATO E PRISAO!! ESTE VOSSO ALKATRAUN SO SABE ROUBAR O POVO. PROJECTOS VAO TODOS PARA O SEUS IRMAOS HAMAD, E BADER ALKATIRI!! SE O ALKATIRI E UM GRANDE LIDER MESMO PORQUE É QUE NAO ENFRENTOU OS MANIFESTANTES ?? XANANA ENFRENTOU OS MANIFESTANTES PRO CRAZY FROG AI É QUE TA A DIFERENÇA!! QUERIA VER COMO É QUE ALKATIRI E LO ''PAU MANDADO'' OLO RESPONDIAM AS PERGUNTAS NUM DEBATE EM FRENTE DO POVO...

Anónimo disse...

PARA: Terça-feira, Julho 04, 2006 3:27:59 PM

E QUAL E O TEU PROBLEMA....TODO MUNDO TEM DIREITO A SUA PALAVRA...NAO SAO SO VCS OS CARALHOS....E TU NAO TAS NO CONTEXTO DO ASSUNTO...PALERMA

Anónimo disse...

Sr/sra leitora anonima de 4 /07/06 2:59.21 pm
A sua linguagem mete-me nojo. Que saiba usar um minimo de etica nos seus comentarios. Sera que os seus pais nao lhe ensinaram as regras de boa educacao?

Anónimo disse...

E o anonimo das 4:24:12 nao se sente enojado/a pelo anonimo das 4:08:52? Engracado!

Anónimo disse...

Professor universitario uma ova!! E se e mesmo nem parece pela maneira como constroi argumentos. Muito deficiente. tenho pena dos seus alunos.

Anónimo disse...

Este site foi criado pelos apoiantes do Bin Mari...., portanto me estranho. Não valem a pena discutir com os bandidos que não tem argumentos.
Viva Professor

Anónimo disse...

Viva professor? O anonimo deve ter feito uma leitura errada deste artigo. Este "professor" esta a dar razao ao Bin Mari e practicamente acusar um golpe contra o Mari e a vitimiza-lo. Leia bem.

Anónimo disse...

Cambada de estupidos! Sabem o que a Democracia? Mari Alkatiri era o primeiro ministro nomeado pela Fretelin que por sua vez ganhou um mandato do povo para governar a Nacao por cinco anos. O povo de Timor Leste nao se encontra so em Dili! Os meia duzia de gatos pingados em Dili e que manipularam a situacao e com a ajuda do Presidente Ba Na Na e a do lambe vaginas do Horta e com os desertores-ladroes do Reinado e companhia limitada fizeram esta merda toda. Se esta cambada toda quer governar Timor, terao que ser eleitos quando houver eleicoes gerais, de outro modo chama-se golpre de Estado!
Podem-me dizer por que e que o problema e so em Dili? Ninguem queimou casas e roubou no interior do pais! So a populacao de Dili e que conta? E porque e que os desertores qque tambem roubaram as armas ainda estao livres? Porque sao amigos do Ba Na Na e do corrupto assalta sentinelas?
E se o Mari e companhia sao corruptos e ladroes, podem-me dizer porque e que o Jose Alexandre Gusmao foi obrigado a pedir a exoneracao quando era funcionario dos Servicos de Administracao Civil no tempo colonial? E qual a razao porque o Horta foi parar a Mocambique com a ajuda do Alves Aldeia?

Anónimo disse...

Anónimo das 2:34:27 PM : Aquele a quem chama “Professor de meia tijela” foi um antigo ministro dos estrangeiros do então PM Mário Soares e é deputado do Parlamento Português. E sobre questões internacionais sabe do que fala.

Anónimo das 6:43:42 PM: percebe-se que é apoiante dos neo-cons, mas “bin” quer dizer “filho de” e é de nível muito rasca a insinuação que pretende lançar. Voltámos aos tempos da Inquisição ou das Cruzadas?

Anónimo disse...

Questoes internacionais? Talvez. mas o seu artigo prova que nao sabe patavina de timor!

Em relacao ao nome do Sr ex-pm e realmente interessante. "Mari" e uma palavra indonesia que signifika "vem" e se "Bin" quer dizer "filho" como a margarida diz isto significa que o nome dele e "Vem Filho de Amude Alkatiri".
A parte interessante e que a familia alkatiri tinha-se refugiado em Timor indonesio aquando da invasao japonesa toda gente com idade suficiente sabe disso. Alguns velhotes da oposicao disputaram mesmo a sua verdadeira nacionalidade em 2001 dizendo ue o Sr. Alkatiri tinha nascido em atambua mas que por razoes de falta de prova ficou esquecido. Mas o nome dele ate se enquadra muito bem nessa historia.
Engracado.

Anónimo disse...

Anónimo das 9:45:42 PM : Mari Alkatiri é o PM da RDTL.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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