segunda-feira, janeiro 28, 2008

DOIS MILHÕES DE MORTES NÃO SE PODEM BRANQUEAR

Segunda-feira, 28 de Janeiro de 2008
Blog TIMOR LOROSAE NAÇÃO

Suharto morreu. O respeito por alguém na hora da morte depende de se em vida o mereceu. Suharto não o merece. Falamos do maior criminoso da História Contemporânea depois da 2ª Guerra Mundial. Não faltarão tentativas de branqueamento e de falsos humanitarismos. E de esquecimento dos dois milhões de vidas que ceifou sem piedade.

Mesmo antes da sua morte é difícil explicar a iniciativa pretensamente humanitária de Ramos Horta e Xanana Gusmão em lhe atenuar a gravidade dos crimes monstruosos de que foi autor.Nenhumas das boas almas que suspiram por tribunais penais internacionais algum dia se lembraram de o incriminar.Com apoio dos EUA, como a história contemporânea conseguiu documentar sem hipótese de qualquer contraditório sustentado em factos, Suharto foi o executor de dois milhões de pessoas, primeiro na matança da Indonésia em 1965 e depois mais de 250 mil em Timor em 1975.

UMA BIOGRAFIA QUE FALA POR SI

Nascido em Java, Suharto alistou-se, aos 19 anos, no exército colonial holandês que lhe confiou responsabilidades. A invasão japonesa deu-lhe a possibilidade de entrar para a força policial de ocupação e comandar um batalhão da milícia dos ocupantes.

Após a independência, em 1950, as primeiras eleições democráticas deram ao partido de Sukarno a maioria relativa. O PKI (Partido Comunista Indonésio) era então o maior partido comunista do mundo que não estava no poder. Os militares ligados ao regime feudal desencadeando revoltas e o crescimento de um movimento islâmico punham em risco a coesão do país. Sukarno decretou a lei marcial e apoiou-se na esquerda para realizar transformações democráticas.

Suharto já então usava a chefia militar para realizar grandes negócios. Quando em 1957 Sukarno se aliou aos comunistas, numa dinâmica nacionalista, a Holanda viu partir a Shell e uma grande empresa de navegação, que foram nacionalizadas.

Na sequência disso, em 1958 os EUA apoiaram uma revolta militar e islâmica que viria a ser derrotada.

A conduta nos seus negócios levaram ao seu afastamento para uma posição de retaguarda mas ganhou força rapidamente para recuperar a carreira de chefia militar.

Em 1960, nova Assembleia é eleita. Presidida por um dirigente do PKI, passa a ter entre os seus membros representantes do partido militar Golkar. Suharto já ocupava altos lugares no Estado-Maior. O Golkar torna-se numa ameaça e Sukarno e os comunistas defendem a organização de nova força militar composta por trabalhadores e camponeses.

Em 1965, o Golkar monta um assalto ao poder militar a pretexto de um rapto e execução de militares que se oporiam a Sukarno. Vencedor do golpe, acaba por receber de Sukarno, derrotado, o comando do Exército que o Presidente chamara a si, quando da declaração da lei marcial. Suharto institucionaliza a “Nova Ordem”. O PKI é banido e expulso do Parlamento. O mesmo acontece com os sindicatos e a imprensa que passa a ter uma censura férrea. São cortadas relações com a R. P. da China e restabelecidos contactos com outras ditaduras da região que iriam mais tarde dar lugar à ASEAN estimulada pelos EUA.

Numa das fotos, estão Suharto (de camuflado e bengalim) e outros militares do Golkar.Suharto arranca então com a liquidação física do PKI.

O MAIOR MASSACRE DE 1965 E A CORRUPÇÃO ENDÉMICA

Cifraram-se então em perto de dois milhões os assassinatos de militantes do PKI e, particularmente de imigrantes chineses e de militares patriotas.

Sem poderes, de facto, e isolado, Sukarno transfere para Suharto a autoridade suprema.Ficam 200 mil pessoas na prisão.

São executados os pretensos cabecilhas do “golpe”.

Os assassinatos e novas prisões prosseguiram durante 25 anos!

Para além da repressão a corrupção generaliza-se ao exército e aos grupos económicos dominantes. Os EUA estão agradecidos (noutra foto, Suharto recebe o presidente Ford e Henry Kissinger, cérebros da operação).

Timor: O OUTRO MASSACRE

Com o 25 de Abril de 1974, em Portugal, desenvolveram-se movimentos internos em Timor-Leste, um dos quais, a FRETILIN, se batia pela independência, enquanto a UDT defendia uma associação com o colonizador e a APODETI a integração na Indonésia.

Também sob orientações de Ford e Kissinger, e para conjurar a influência crescente da Fretilin, a Indonésia invadiu o território em 7 de Dezembro de 1975, colocando no poder um governo fantoche da UDT e da APODETI.

Tendo-se encontrado na véspera com Kissinger, Suharto revelaria depois, como se a iniciativa tivesse sido sua, as seguintes conversas:"I would like to speak to you, Mr. President, about another problem, Timor. ... Fretilin is infected the same as is the Portuguese Army with communism ... We want your understanding if we deem it necessary to take rapid or drastic action," Suharto tells the visitors.

Ford replies, "We will understand and will not press you on this issue. We understand the problem you have and the intentions you have.

"Kissinger says, "You appreciate that the use of US-made arms could create problems. ... It depends on how we construe it; whether it is in self-defence or is a foreign operation. It is important that whatever you do succeeds quickly. We would be able to influence the reaction in America if whatever happens, happens after we return.

"Na invasão e ocupação, morreram mais de 250 mil habitantes de Timor-Leste.

REJEITADO ATÉ AO SEU AFASTAMENTO POLÍTICO EM 1998

O crescimento económico, brandido como desenvolvimento, teve desde então dois traços significativos: ser movido pela corrupção e provocando grandes assimetrias sociais com legiões de pobres.

Mas a resistência popular não parou desde 1970.

Em 1985 centenas e apoiantes do PKI são afastados da administração pública e há um surto de execuções de comunistas que estavam presos… há 20 anos.

Até à sua demissão em 1998 a corrupção e os negócios familiares são dominantes no país. Diz-se que 73 biliões de dólares passaram pelas mãos da família durante os 32 anos de vigência de Suharto. A família de Marcos nas Filipinas não lhe chegava aos calcanhares.

O poder e a impunidade de Suharto e sua família, os golpes, assassinatos, desvios de fundos públicos para instituições da família, a corrupção e nepotismo marcam a vida de Suharto que, depois da sétima eleição em 1998 acabou por abdicar.

Em 2001, Mark Mansfeld, porta-voz da CIA justificou a apreensão de um livro de história editado pelo Departamento de Estado como um “acidente”. Com tal justificação, a administração norte-americana pretendeu fazer desaparecer um escrito em que o envolvimento dos EUA no golpe de 1965 ficou documentado, incluindo com a lista dos dirigentes comunistas a abater, os apoios a grupos e milícias anticomunistas, ou depoimentos como este da embaixada americana em Jacarta “Francamente, nós não sabemos se o número real (de comunistas que foram mortos) é mais próximo de 100 mil ou 1 milhão, mas acreditamos que é melhor errarmos por baixo, especialmente se interrogados por jornalistas”…

Levado a tribunal, em 2002, com outros familiares, o seu julgamento foi suspenso por razões de saúde.

1 comentário:

Anónimo disse...

Biografia muito completa, faltando apenas referência ao envolvimento de Suharto na anexação da Papua Ocidental e no conflito com a Malásia, em Bornéu.

Só um pequeno reparo: Em 1975 a UDT não "defendia uma associação com o colonizador", mas uma independência a longo prazo "à sombra da bandeira portuguesa".

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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