segunda-feira, maio 14, 2007

Timor- Leste: o Golpe Continua

Tradução da Margarida:

Em [forum-loriku] - Maio 13, 2007
Estimativa assentos dos partidos no Parlamento e analise por BB


Uma reflexão de Dili, sobre o resultado das eleições Presidencisais das semanas passadas.

A estratégia de mudança de regime continua, sob alvo, conforme tem estado desde Abril de 2006.

A seguir à vitória na segunda volta de JRH, usei os números das votações na primeira volta para prever a distribuição dos lugares no Parlamento nas eleições de 30 de Junho, usando o método de Hondt, adoptado no ano passado. Deu isto:

FRETILIN 19; coligação PSD/ASDT 16; CNRT 15: PD 13; KOTA 2.

A presença doutros candidatos de partidos menores podem alterar ligeiramente isto, mas a não ser que haja uma mudança significativa de regresso à FRETILIN, as forças anti-FRETILIN podem ganhar dois terços dos lugares. Trabalhando juntas, podem então alterar a Constituição, quando chegar o período de seis anos para a revisão em 20 de Maio de 2008.

Kingsbury e outros andam por aí a enfatizar que a FRETILIN terá a maioria dos lugares – mais propaganda falsa para tapar a história real. JRH diz mesmo que foi uma vitória para a FRETILIN. Talvez JRH tente mediar uma aliança entre a FRETILIN e o CNRT, sabendo como sabe que apenas a FRETILIN tem a experiência e a capacidade para governar

A nova coligação PSD/ASDT é uma surpresa para mim – baterá o CNRT, mesmo se o CNRT segurar todos os votos em JRH na primeira volta. Significa isto o regresso dos pró-integracionistas?

A FRETILIN foi batida eleitoralmente na corrida Presidencial por uma convergência de estratégia global e de interesses petrolíferos com os interesses de uma nova classe média em ascensão, os educados, os funcionários públicos, a gente dos pequenos negócios, a ONU e os trabalhadores das ONG’s. Esta nova classe média está ansiosa para ter acesso aos benefícios do ocidente e da economia global. Não quer esperar que os 80% que trabalham na agricultura de subsistência recebam primeiro os benefícios pelo seu apoio determinado à independência, através de maior apoio a programas para a saúde, educação, infra-estruturas e segurança alimentar que a FRETILIN tinha em linha de lançamento antes do golpe. Está também seduzida pela promessa de JRH de acabar a violência. Culpa a FRETILIN pela violência em vez de culpar os verdadeiros perpetradores.

JRH oferece a esta nova classe média o mundo, em bolsas de estudo, via cafés de internet, através de investidores internacionais e peritos em governação que virão ajudá-los (a eles próprios!).

A constante conversa de redução da pobreza e de desenvolvimento rural pelo UNDP, Banco Mundial e todo o tipo de benfeitores liberais dá a quem quer o dinheiro fácil do petróleo uma cobertura por detrás da qual persigam os seus próprios interesses de classe. A igreja, entretanto, santifica tais aspirações em nome do anti-comunismo e do uso selectivo das palavras paz e justiça.

Não admira que John e Alexander estejam felizes

A luta continua.

BB

7 comentários:

Anónimo disse...

Timor-Leste: CNE terminou apuramento da segunda volta

A Comissão Nacional de Eleições de Timor-Leste terminou hoje, às 02:50 (18:50 de sábado em Lisboa), o apuramento nacional da segunda volta das presidenciais, que confirma a vitória de Ramos-Horta, anunciou um dos porta-vozes e comissários, padre Martinho Gusmão.
A CNE recebeu 125 queixas relacionadas com o escrutínio presidencial que estão ainda em apreciação, acrescentou Martinho Gusmão.
«Já podemos, no entanto, anunciar que estas queixas não vão alterar o resultado já estabelecido», com a vitória do primeiro-ministro José Ramos-Horta sobre o presidente do Parlamento e candidado da Fretilin, Francisco Guterres «Lu Olo».
Os números finais do apuramento colocam a vitória de José Ramos-Horta nos 69,18 por cento e o resultado de «Lu Olo» nos 30,82 por cento, afirmou à Lusa uma fonte oficial da CNE.
Estes números serão anunciados pela CNE segunda-feira.
O apuramento nacional fixou também a percentagem de votos válidos em 97,34.
José Ramos-Horta deve resignar do cargo de primeiro-ministro após o Conselho de Ministros de quarta-feira, antes de tomar posse como chefe de Estado, no dia 20 de Maio.
O primeiro-ministro, o governo e o Parlamento, em contacto com o partido maioritário Fretilin, procuram chegar a um «acordo político» que impeça a queda do Executivo e a formação do III Governo Constituccional por um período «de apenas sete semanas», explicou à Lusa José Ramos-Horta.
A solução proposta por José Ramos-Horta é a continuação do II Governo Constitucional sob a gestão do primeiro vice-primeiro-ministro, Estanislau da Silva.
Diário Digital / Lusa
13-05-2007 13:36:00
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=10&id_news=275924

Anónimo disse...

Prezada Margarida.
Falar em golpe após as eleições reconhecida por todos como válida é demais. A Fretilin que rearume a casa, troque alguns "móveis" para que possa recuperar a credibilidade perdida. A Fretilin foi batida, Margarida, mais pelos seus erros do que por uma trama internacional.
Esta classe média ansiosa de bens materiais, não esqueça, tbm está na Fretilin e no seu apego as tetas do Estado. Desa forma, prezada amiga, Timor vai repetir a história das ex-colônias portuguesas.
Alfredo
Brasil

Anónimo disse...

Meu Caro Alfredo

ao longo de quase um ano fui gostando de alguns dos seus comentários, tanto mais que reflectiam uma visão de quem está longe ('mas perto em solidariedade') de Timor.....

no entanto, não posso deixar de estar contra este seu comentário por dois motivos:

>>> dizer que a Fretilin foi batida 'mais' pelos seus erros do que por trama internacional, é sinónimo que esteve muito distraído quanto a Timor desde 2002 (para já não falar dos tempos da famigerada UNTAET)... pois, ao longo deste último ano, fomos vendo o desenvolvimento de (com propriedade) um golpe....
quanto aos erros da Fretilin, parece-me que são inquestionáveis.. quem os não cometeria nas circunstâncias e condições em que a Fretilin tomou as rédeas do governo há 5 anos??? como bem sabemos (eu com propriedade pois estava lá nessa altura) as NU deixaram um país por organizar e ainda só com 'alguns' alicerces... e burocracia qb (até sobrar)...

>>> por outro lado, tentar deitar o ónus do conteúdo para a nossa Margarida só pode ser uma pura distração (poderia ser má fé, o que em si me custa a acreditar!!), pois como se constata estamos perante mais uma (e só)tradução da Margarida de um texto de um(a) BB publicado em inglês num 'forum-loriku' (ver post abaixo neste blog)

termino, enviando-lhe as minhas saudações e, já agora, um meu comentário ao referido texto:

>>> é uma reflexão que não é descabida de todo.... pode-se contrariar a metodologia pela utilização dos valores de abril.2007, mas não deixou de ser uma forma de tentar prever o resultado das legislativas, quanto mais não seja para contradizer o defendido pelo Kingsbury quando afirma num seu artigo de que a Fretilin vai ganhar com facilidade... penso que a BB tenta alertar os mais incautos de que vão-se confirmar quatro forças com dimensão eleitoral e que portanto o próximo governo pode vir a ser uma coligação de interesses e não baseado na força mais votada....

Anónimo disse...

caro alfredo,
o amargo destas eleições não é a derrota da Fretilin, mas sim o facto de que o seu resultado, legitimado por via democrática sem dúvida, é no fundo o desenlace do golpe iniciado no ano passado. para quem vive no seu dia-a-dia a realidade de timor tem sido evidente de que tal, infelizmente para todos os timorenses, não se trata de teorias de conspiração....
a nova classe média em ascensão é efectivamente transversal a todas as vertentes políticas, e a sede de desenvolvimento
e de riqueza palpável imediata é uma "praga" que sagra por todas as classes sociais. se digo "praga" é porque se sente no ar a tensão do velho ditado ameaçador de que "os fins justificam os meios".... neste momento não há um timorense, daqueles em contacto diário com o capitalismo liberal ocidentalizado, que não se ache merecedor de recompensa imediata pelo seu esforço que ainda não foi devidamente reconhecido, e os outros, sejam os seus pares, sejam os menos capazes de reinvindicação, sejam mesmo até as gerações futuras, que se desenrasquem porque a hora é sua, e só sua.....
este é o amargo que trago, de um novo país que se devora a si mesmo, sôfrego de compensações privadas....

Anónimo disse...

Lê e pensa no que o Alfredo escreveu, Margarida.
A Fretilin não é um partido divino. O RH não é o demónio. São todos humanos, todos erram.
Esperemos que o Alfredo esteja errado. A maioria das ex-colónias portuguesas iniciou o processo de independência através de guerras civis. Algumas duraram décadas.

Anónimo disse...

O Alfredo nem reparou que eu me limitei a fazer a tradução deste texto? E já agora, seja mais positivo em relação às ex-colónias portuguesas, tente entender o contexto geo-estratégico de cada uma e repare que Cabo Verde, sendo uma das mais pobres, nunca teve os problemas que tiveram outras, particularmente as que têm petróleo. Há que estudar um poucachinho mais e olhar melhor para a realidade que nos cerca.

Anónimo disse...

Margarida, fizeste a tradução de um texto em que acreditas piamente. Chega de falar de golpes. Vamos trabalhar. Quem ler este blogue vai ficar com a sensação que todos os timorenses são políticos. Falam muito e fazem pouco. Criticam à boca cheia mas não aceitam ser criticados. Os outros são todos maus, nós somos todos bons.
E se a Margarida não fosse tão pró-Fretilin continuaria a ser a nossa Margarida?

Foste a única a mencionar Cabo Verde. Cabo Verde e São Tomé e Príncipe são excepções. E São Tomé só teve problemas quando descobriram petróleo nas suas águas. Todas as outras ex-colónias passaram pelos momentos mais difíceis da sua curta história. Contexto geo-estratégico? Muito bem dito. Faço minhas as tuas palavras. O contexto geo-estratégico será porventura mais complicado no caso de Timor que no caso da Guiné. O petróleo, a ameaça comunista e os 2 gigantes estados vizinhos complicam a história futura de médio/curto prazo.
Não estudo nem tenho a pretensão de ser 'estudioso'. Apenas estou atento, informo-me (através deste blogue por exemplo) sobre o estado actual e as tendências socio-económicas do país.
Existe muita gente interessada na guerra e nos conflitos regionais. E para vocês estas pessoas estão todas atrás de RH e XG - as figuras do golpe.
Margarida, tenta ser mais positiva em relação a Timor. Existem incompetentes em todo o lado. Mas poucos têm cauda e forquilha. Até na Fretilin...
Vamos aceitar a decisão do povo apoiando quem deve ser apoiado. Sendo que no fim quem deve vencer é o povo.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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