terça-feira, abril 22, 2008

Marines da América com "amigos australianos" no Mundo Perdido

** Pedro Rosa Mendes, da Agência Lusa, em Díli **

Díli, 20 Abr (Lusa) - Fatulia, perto de Venilale, a sul de Baucau, Timor-Leste, recebeu durante uma semana uma centena de "marines" dos Estados Unidos, que reconstruíram uma escola e prestaram consultas médicas.

A obra foi, em primeiro lugar, dos fuzileiros norte-americanos, mas teve a contribuição directa das Forças de Estabilização Internacionais (ISF), estacionadas em Timor-Leste, sob comando australiano.

"Amigos americanos" dos "amigos australianos" de Timor-Leste apresentaram-se sábado de manhã à população de Uaitubonu, uma das quatro aldeias que integram o suco [freguesia] de Fatulia.

Dezenas de crianças esperavam os dois helicópteros que, de Díli, levaram as delegações das ISF e da Embaixada dos EUA.

Os "marines" dos EUA fazem parte de uma unidade estacionada em Okinawa, no Japão.

"Assim que chegaram aqui, apesar de terem trazido armas, os 'marines' viram que estavam entre amigos", afirmou o número dois da embaixada dos EUA em Díli, Henry M. Rector.

"Estamos especialmente felizes por ajudar a reconstruir esta escola porque educar os vossos filhos é algo importante para o futuro deste país", acrescentou o diplomata dos EUA perante uma multidão onde predominavam as crianças, os velhos e as mulheres.

Fatulia, entre as montanhas do Mundo Perdido e de Matebian, fica no coração de uma região muito atingida durante a ocupação indonésia.

"Timor-Leste independente é um país muito jovem, mas esperamos que o que fizemos hoje vos tenha mostrado que este país tem amigos longe, por todo o mundo, que vão estar ao vosso lado agora e no futuro", disse ainda Henry M. Rector.

Um grupo de seis violas, dois cavaquinhos de fabrico modesto e um velho violino receberam os convidados com hinos e canções nostálgicas.

Okinawa, no Japão tropical, "é uma espécie de Porto Rico" onde a vida é mais distendida, explicava um "marine".

"Os japoneses são os alemães do Oriente", acrescentou o mesmo oficial, explicando a distância entre o Japão organizado e moderno e quase tudo o que conhece no Sudeste Asiático: Cambodja, Indonésia, Filipinas.

Timor-Leste, "sim, é capaz de ser o sítio mais remoto onde já estivemos", contaram alguns "marines" e marinheiros do Batalhão de Logística de Combate 31 da 31ª Unidade Expedicionária de Fuzileiros à Agência Lusa.

Em Uaitubonu, onde a equipa médica do "31rst MEU" assistiu largas centenas de pessoas, havia uma mulher idosa que estava cega de uma vista "porque o olho estava tapado pela inflamação do rosto por causa de uma cárie", contou a soldado Ayessa Toler, responsável da equipa clínica.

Havia também um homem com um cancro da bexiga, "em estado terminal, que nunca foi assistido", "muitos problemas dentários", gangrenas com origem em feridas sem importância que não foram limpas, e "também um caso de tuberculose".

Os responsáveis civis e militares pela obra dos "marines" desfilaram perante a aldeia.

"Espero que tenham visto a forma como os nossos 'marines' americanos trabalham de perto com os nossos grandes amigos australianos. É o género de amizade que queremos também ter convosco", concluiu o diplomata dos EUA.

Fatulia é um das dezenas de locais que, em todo o país, são abrangidos pelo Programa de Cooperação de Defesa australiano, posto em prática para que as ISF (forças de estabilização internacionais) transmitam capacidade específica às Forças de Defesa timorenses em áreas como a engenharia ou a logística.

Um projecto semelhante é entregue em Hera, próximo de Díli, na próxima terça-feira.

A presença dos "marines" em Fatulia "partiu do desejo dos EUA de conseguir usar as suas forças de defesa e de se envolver em países de maneira positiva, dando a assistência possível para desenvolver a capacidade da nação anfitriã", explicou à Lusa o adido-militar norte-americano em Díli, Ron Sargeant.

"Em última análise, estas acções contribuem para um ambiente seguro e esse é o objectivo principal", acrescentou o oficial dos "Rangers" norte-americanos.

Actualmente, os EUA não têm tropas estacionadas em Timor-Leste, mas entre 2000 e 2002 esteve no país a Equipa de Apoio Americana a Timor-Leste.

A escola de Uaitubonu estava degradada pelas chuvas.

Luís Aparício, administrador distrital de Baucau, anfitrião da cerimónia de entrega da escola, tem um poema sobre a natureza pacífica da região.

"Se não sabem, venham até cá para conhecer a terra de Baucau/ Não pensar só mal de nós/ Pois aqui há água/ Não só fogo", traduz Luís Aparício para a Lusa, do original em tétum.

Atrás dele e do poema, levanta-se a voz mais alta de um helicóptero "Iroquois" que devolve a Díli o comandante das ISF, brigadeiro-general James Baker.

"Este é o futuro de Timor-Leste: as ISF trabalhando com o povo timorense, ajudando a construir infra-estruturas, boas instituições infantis e juvenis, para que Timor prospere", disse o comandante australiano.

"As pessoas são as mesmas, sejam timorenses, australianos ou americanos", disse o responsável da unidade norte-americana em Fatulia, tenente-coronel Stuart Lockhart.

"A escola fica aqui, lembrando o que nós, os EUA, e os nossos amigos australianos podemos dar-vos e que vocês recordarão", explicou o oficial, que ofereceu dois caixotes de material escolar e algumas bolas de futebol.

Depois do helicóptero com James Baker e Henry Rector ter desaparecido para oeste, as crianças e as violas tocaram um tema a que o maestro chamou "Ó Querida":

"Era a hora do combate/ A mochila nas costas/ E as armas nos meus ombros/ Combatendo lado a lado…"

Os "marines" de Okinawa estarão, em breve, num exercício militar regional anual, com forças de vários países, na Tailândia.

Luís Aparício recorda, ainda, quando a Força Aérea Indonésia bombardeava o Matebian, em 1978, com aviões de fabrico americano: "Aviões supersónicos/ Voam sobre nós/ E os pilotos cómicos/ Riem de nós".

Lusa/fim

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Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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