sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Sucessor de Reinado afirma que não se rende sem luta

Lisboa, 15 Fev (Lusa) - O antigo tenente das forças armadas de Timor-Leste Gastão Salsinha, autoproclamado novo líder dos rebeldes timorenses, afirma numa entrevista hoje divulgada que está fortemente armado numa casa em Díli e que não se renderá sem luta.

Em declarações à estação de televisão australiana Channel Nine, Salsinha diz também que Alfredo Reinado foi abatido cerca de 25 minutos antes do presidente José Ramos-Horta ter sido ferido a tiro no ataque à sua residência, na segunda-feira.

"O meu comandante Alfredo Reinado foi a Metiaut (onde se situa a casa de Ramos-Horta). Foi primeiro morto pelas F-FDTL (Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste) e cerca de 25 minutos depois o presidente foi baleado", afirmou.

O tenente Salsinha afirma ter assumido o comando dos rebeldes depois da morte de Alfredo Reinado.

"Ele (Alfredo) era o meu comandante e eu era o seu adjunto. Como foi morto, claro que o substituirei", declarou.

"O meu objectivo é lutar por justiça", frisou.

"Se o exército timorense quiser capturar-me, defender-me-ei", disse ao Channel Nine, citado pela agência noticiosa australiana AAP.

"Também sou um soldado e por isso tenho dignidade como soldado, se um soldado me atacar, ripostarei", referiu.

Admitiu no entanto que se renderia se os seus adeptos lho pedissem.

"Se os meus adeptos quiserem que eu me entregue ao governo, estarei pronto a fazê-lo" - declarou.

Disse ainda que não é "inimigo da Austrália" e que apoia a presença de forças estrangeiras no país, afirmando: "eles estão aqui para ajudar o povo de Timor".

Sobre os ataques de segunda-feira - em que o presidente Ramos-Horta ficou gravemente ferido e o primeiro-ministro Xanana Gusmão escapou ileso a uma emboscada - Salsinha disse que eram parte de um plano "muito complicado", mas escusou-se a dar pormenores ou a dizer se pretendiam matar os dois dirigentes.

"Não vos direi qual era o plano desse ataque, só o farei quando for a tribunal", afirmou, mas acrescentou: "se quiséssemos tínhamos matado (Ramos-Horta) directamente".

Gastão Salsinha referiu ainda que Reinado concebeu o plano porque "alguma coisa não estava a correr bem", mas não elaborou.

"Queremos que toda a gente em Timor-Leste viva pacificamente sem medo, com justiça. É isso que esperamos", salientou.

Gastão Salsinha é um dos nomes que constam na lista de cinco novos mandados de captura assinados na noite de quinta-feira pelo juiz do processo, disse hoje à Lusa fonte ligada à investigação.

"Sim, Gastão Salsinha é um dos nomes que consta da lista de cinco novos mandados", disse a fonte escusando-se, contudo, a dar mais pormenores sobre o caso.

Os outros quatro mandados emitidos pelo juiz na sequência dos ataques a Ramos-Horta e Xanana Gusmão referem-se a membros das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste e da Polícia Nacional.

Três dos mandados de captura estão relacionados com o ataque à residência de José Ramos-Horta e os outros dois são para suspeitos de envolvimento no ataque à caravana de Xanana Gusmão, como explicou à Lusa uma fonte judicial.

Continuam válidos, ainda segundo a mesma fonte, os mandados de captura dos co-arguidos no processo em que o major Alfredo Reinado era acusado de homicídio, rebelião contra o Estado e posse ilegal de material de guerra.

Trata-se de 13 mandados de captura emitidos em 2007, de um conjunto de 17 suspeitos iniciais, entre os quais o próprio Alfredo Reinado.

Gastão Salsinha fazia para dos cerca de 600 peticionários das forças armadas que se amotinaram e foram despedidos pelo governo em 2006, num acto que desencadeou uma onda de violência que provocou pelo menos 37 mortos e mais de 150.000 desalojados, além de ter levado à queda do governo liderado por Mari Alkatiri, secretário-geral da Fretilin.


CM/JCS/PRM
Lusa/fim

3 comentários:

Anónimo disse...

"Continuam válidos, ainda segundo a mesma fonte, os mandados de captura dos co-arguidos no processo em que o major Alfredo Reinado era acusado de homicídio, rebelião contra o Estado e posse ilegal de material de guerra."

É no mínimo anedótico que esses mesmos mandados durante ano e meio não eram para cumprir, mas agora já são - segundo disse Xanana em conferência de imprensa.

Aliás Xanana até vai mais longe: fala em matar e ferir. Que é feito do "diálogo"? Passou do oito para o oitenta.

Isto mostra bem porque é que numa democracia o poder não pode estar todo nas mãos de uma só pessoa, seja ela Xanana ou o Santo António.

Anónimo disse...

Se Salsinha quer revelar o plano no tribunal, primeiro é preciso que chegue lá vivo.

O melhor que tem a fazer é entregar-se à GNR. É que Xanana já disse mais ou menos que é para apanhar vivo ou morto.

Anónimo disse...

parece que afinal só o governo portugues, os australianos e os timorenses corruptos e os cegos acreditam que reinado era um terrorista e o inimigo do jovem timor. ou nos dois primeiros casos tambem ha outro tipo de envolvimento, ou estes senhores querem dar gato por lebre. carlos santos

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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